* Julho-Agosto de 1998 * I - 2 * Reflexões *


A SUBLIME CANÇÃO

"Disse Arjuna a Krishna:

As tuas palavras contraditórias, encheram-me de confusão a mente. Pelo que, dize-me claramente: qual dos dois caminhos é melhor para mim?

Responde Krishna a Arjuna:

Já te disse ó príncipe: dois caminhos de libertação se abrem diante de ti: o caminho da sabedoria, para os que estão dispostos para meditar - e o caminho da ação, para os que preferem agir sem apego.

Entretanto, esses dois caminhos são um só: ninguém se liberta da escravidão do seu agir pelo fato de não agir - e ninguém atinge a perfeição interior só por desistir da atividade externa.

Ninguém pode existir um só momento sem agir; a própria natureza o compele a agir, mesmo sem querer; pensar também é agir, no mundo mental."

Fala Arjuna:-

54 - Explica-me, ó Mestre, quais as características de um homem que tenha atingido perfeita sabedoria por experiência espiritual absoluta(samadhi); como fala um homem auto-realizado? como é que ele vive e age?

Fala Krishna:-

55 - Quando o homem é perfeitamente liberto de todos os desejos do ego finito e alcançou a paz da alma pela realização do Eu divino, então é um homem de perfeita sabedoria.

56 - Quando alguém permanece calmo e sereno no meio de sofrimentos, quando não espera receber do mundo objetivo permanente felicidade e quando é livre de apego, medo e ódio - então é ele um homem de perfeita sabedoria.

57 - Quando não é apegado a um e indiferente a outro; enquanto não se alegra em excesso com o que é agradável, nem se entristece excessivamente com o que é desagradável - então é ele um homem de perfeita sabedoria.

58 - Quando o yogui é capaz de retrair totalmente os seus sentidos dos objetos sensórios, assim como a tartaruga retrai para dentro de si os seus membros - então está firmemente estabelecido na sabedoria.

59 - Pela prática da abstenção pode alguém amorteceros seus sentidos e torná-los insensíveis aos prazeres sensitivos; mas não se torna necessariamente insensível aos desejos dos mesmos;o desejo dos prazeres sensitivos cessa somente quando o homem entra em contato com o Espírito Supremo dentro dele.

60 - Ó Arjuna! os sentidos descontrolados arrebatam com violência amente, até do homem sábio em demanda da perfeição, se não tiver a devida compreensão.

61 - Por isto, o yogui domina os seus sentidos, dirigindo-os a mim, e assim se torna ele firmemente estabelecido emmim, o Ser Supremo. O homem que tem perfeito domínio sobre os seus sentidos é um sábio.

62 - Quem pensa sempre em objetos sensórios apega-se a eles; desse apego nasce o prazer e o prazer gera inquietação.

63 - A inquietação produz ilusão; a ilusão destrói a nitidez da discriminação; e,uma vez destruída a discriminação, esquece-se o homem da sua natureza espiritual -e com isto vai rumo ao abismo

64 - Mas o homem que possui domínio sobre o mundo dos sentidos e da mente, sem odiar nada nem se apegar a nada, orientado pelo Eu central, esse encontra a paz.

65 - Essa paz neutraliza todas as inquietações, e o homem que goza de paz goza verdadeira beatitude - e acaba por superar também os males externos.

66 - Impossível a aquisição da sabedoria pela mente descontrolada; impossível a meditação para o homem inquieto! E, se o homem não encontrar a paz dentro de si, como pode ser feliz?

67 - O homem sem domínio sobre a sua mente e seus sentidos é como um navio levado à mercê das ondas.

68 - Homem de perfeita sabedoria é aquele que possui perfeito domínio sobre seus sentidos com relação aos objetos sensórios.

69 - Onde, para outros, reina escuridão,lá enxerga ele claridade; e onde o profano fala em dia cheio de luz, lá o vidente espiritual não vê senão a noite tenebrosa da ignorância.

70 - Todos os rios deságuam no oceano, mas o oceano não transborda e em suas profundezas reina impertubável tranqüilidade - assim é o homem iluminado pelo conhecimento de si mesmo: de todas as partes o invadem as impressões dos sentidos - e submergem todas no seu Eu imóvel e impertubável.

71 - Livre de todos os desejos, é o homem senhor, e não servo dos prazeres; livre de propriedade, une-se ele com o Todo e encontra a paz verdadeira.

72 - Isto se chama viver na consciência de Brahman . Quem atingiu esse estado, nuncamais pode recair na ilusão antiga; e, vivendo nesse estado de consciência, o yogui alcança, finalmente, libertação absoluta, na experiência da sua união com Brahman (nirvana).

In: Bhagavad Gita, tradução de Huberto Rohden, caps.: Yoga da Açao e Revelação da Verdade, São Paulo: Alvorada, 1984)

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