NOITADAS
Está
visto. Dieta e caldos de galinha, água das "pedras" e
chá de tília, bolachinha de água e sal e horários
monásticos. Nada de noitadas, de vapores dançantes, gargalhadas,
discussão a alta hora, FUM, FUM, FUM, CÁ, CÁ, CÁ!
! !
Um tipo depois não prega olho, vira-se e revira-se,
está com os fígados acelerados e a gemer, o cérebro
exercitando czardas, as horas a passar, os passarinhos PIU-PIU cá
fora, a cabeça a inchar como a passarola de Bartolomeu de Gusmão.
Erguer-se, não da cama, mas da tumba, a luz da
manhã a deixar-nos como acontecia ao Drácula quando se esquecia
da capa, preta por fora, rosa por dentro, a consciência da grande
aldrabice do bi-substancialismo cartesiano, a matéria vil mais o
espírito incorrupto. Ora, nada de mais falso. Se "Res Cogitans"
e "Res Extensa" não se deitam a horas, os turbilhões
atómicos começam a girar de fora para dentro, assim criando
um vento subtil que, subindo pelo nervo óptico, agita os espíritos
animais, os quais, como está implícito na noção
de "Animal", uma vez à solta, fora da mão férrea
da Vontade, se repoltreiam com grande alarido cada um para seu lado! Recomenda-se
purgante.
17. 07. 92