"EPPUR SI
MUOVE "
--- Sobre uma biografia de
Galileu.
Nota: este texto está baseado, no
que diz respeito à maioria das citações de Galileu, na obra de Arthur Koestler,
"The Sleepwalkers. A History of Man's changing view of the Universe" (Arkana,
London, 1989, 1ª edição. Hutchinson, London, 1959). A tradução é da responsabilidade
do autor e encontram-se publicadas na separata da Revista da F.L.U.P., série de
Filosofia, (2ª série), nº 11, Porto, 1995.
" Acordo. Que disseram os outros?
Aurora que, cada manhã, reconstróis o mundo; integral nos braços nús que conténs o
universo; juventude, aurora do homem. Que me importa o que os outros disseram, o que
pensaram, o que acreditaram. Sou Febo del Poggio, um bobo. Os que falam de mim dizem que
sou pobre de espírito; talvez nem tenha espírito. Existo como um fruto, como um copo de
vinho, como uma árvore. Quando vem o Inverno, as pessoas afastam-se da árvore que não
dá sombra; comido o fruto, deitam fora o caroço; vazio o copo, vão buscar outro. Eu
aceito. Verão, água lustral da manhã sobre membros ágeis; ó alegria, orvalho do
coração. . .
Acordo. Tenho diante, atrás de mim, a noite eterna. Eu
dormi milhões de idades; milhões de idades eu vou dormir. . . Só tenho uma hora. Havia
de estragá-la com explicações e com máximas? Estendo-me ao Sol, sobre o travesseiro do
prazer, numa manhã que não voltará mais. "
MARGUERITE
YOURCENAR, " Febo del Poggio "
1 - A ALEGRIA DE OLHAR
Quando, em 1642, Galileu morre, com 78 anos, apesar
da condenação que pesava sobre o grande tratado " Diálogo sobre os dois Grandes
Sistemas do Mundo ", os seus trabalhos não entraram num longo interregno de
apagamento e silêncio, como seria usual esperar por comparação com casos semelhantes,
designadamente Giordano Bruno, cuja vida e obra foram devoradas durante séculos nas
cinzas da fogueira acesa no "Campo das Flores", em Roma, quando se anunciava a
Primavera do ano da graça de 1600.
Após a sentença que o obrigou a abjurar das convicções
copernicianas e lhe ter sido confiscada a obra em que se confrontavam as teses
cosmológicas de " antigos " e " modernos " , Galileu, com quase 70
anos, ainda tem lucidez para publicar a Ciência da Dinâmica, mantendo prestígio e
amigos, alimentando até ao fim a capacidade de provocar afectos excessivos, flutuando
entre o rancor e a admiração, numa biografia pessoal e científica que marcou a alvorada
da Ciência Moderna. Não nos devemos espantar, portanto, que após a sua morte, os amigos
pretendam erguer-lhe de imediato um monumento e que o livro proibido em 1633, circule
clandestinamente na Europa culta, dois anos depois do decreto que o pretendia banir da
face da Terra.
Esta trajectória de controvérsia e paixão, que acompanhou
toda a sua vida e se mantém na tona da história há quase quatrocentos anos, tem dado
origem a um dos mais estimulantes debates que atravessaram as ideias filosóficas e
científicas, isto é, a conhecida polémica da Razão e da Fé! Galileu tem sido
esgrimido pelas partes em polémica com uma paradoxal virulência, oscilando entre uma
angélica inocência e um heterónimo sulfuroso de Belzebú em pessoa. . .
O que acontece é que estes estereótipos radicais não dão
uma justa ponderação aos factos pois, apoiando-se em pormenores autênticos, esquecem
deliberadamente outras dimensões tão reais como essas, susceptíveis de serem esgrimidas
em sentido contrário. Portanto, nem mártir nem santo, mas homem complexo, temperamental,
habitado por um extraordinário " daimon " que leva à coexistência das
grandezas e misérias que, às vezes, devastam certas vidas!
O seu primeiro livro, "O Mensageiro das Estrelas",
vem a público quando Galileu tem 46 anos, numa altura em que o essencial da sua
personalidade está formada, os projectos se encontram numa fase avançada, as grandes
intuições tomam forma. E se bem que a validade duma obra não deva ser julgada pelo
quotidiano de quem a fez, assim como a veracidade duma lei científica não impede que o
seu autor seja assaltante de caminhos, nada impede que relacionemos Galileu com o seu
tempo, deixando ao leitor o critério da ponderação destes elementos.
Filho de Vincenzo Galilei, homem culto originário da baixa
nobreza empobrecida, Galileu Galilei nasce em Pisa, em 1564, numa família com vagos
investimentos comerciais, bem diferente da desvairada e louca constelação de afectos do
seu admirador e contemporâneo, J. Kepler. Sobre o pai de Galileu, afirma Arthur
Koestler: " (...) foi um homem de notável cultura, com consideráveis sucessos
como escritor e compositor de música, um desprezo pela autoridade e tendências radicais.
Escreveu, por exemplo, (num estudo sobre o contraponto) : «Parece-me que aqueles que
tentam provar uma afirmação confiando simplesmente no peso da autoridade, agem muito
absurdamente» . (...) ".
Frequentou a escola jesuíta do Mosteiro de Vallombrosa,
perto de Florença, mas acabou por voltar a casa, a fim de se dedicar a assuntos
comerciais, como era desejo do pai. Diga-se que a Companhia de Jesus vai exercer uma forte
influência no destino de Galileu, quer no sentido positivo, quer no negativo, pois guarda
inúmeros amigos nesta ordem religiosa, cujo espírito aberto e disponível para os temas
culturais e científicos manifesta uma das mais curiosas vertentes do movimento da
Contra-Reforma. As dificuldades económicas crescentes da família levam-no a abandonar a
Universidade de Pisa, para onde tinha entrado aos 17 anos, após lhe ter sido recusada uma
bolsa para prosseguir os estudos.
Este facto deve explicar-se mais pelo temperamento pessoal
de Galileu, pela tendência polemista que tinha como alvo preferencial os professores de
formação aristotélica, a quem devia fazer a vida num inferno, do que a qualquer falta
de capacidades intelectuais pois, com 20 anos, já tinha inventado o
"pulsilogium" e intuído as leis do pêndulo.
Regressado a casa, mantém um espírito autodidacta e
potencia as suas notáveis aptidões experimentais no campo da mecânica aplicada e na
produção de instrumentos especializados, entre os quais uma balança hidrostática, que
dá origem à publicação dum tratado que circula particularmente entre personalidades
amadoras destas áreas. Não tarda a ser recomendado a Fernando de Médicis, Duque da
Toscânia, através dos bons ofícios do Cardeal del Monte, e a ser nomeado Professor de
Matemática em Pisa, na mesma Universidade que, há quatro anos, através de manobras mil,
tinha julgado lançá-lo para o anonimato eterno!
Com 25 anos, Galileu entra pela porta grande do meio
universitário, sob patrocínio real e em 1592, com 28 anos, é promovido a
"titular" da cadeira de Matemática em Pádua, onde se manterá durante quase
vinte anos. Podemos facilmente imaginar a alegria dos seus colegas docentes ao verem a
fulgurante carreira de Galileu, ainda por cima sob os auspícios e o alto patrocínio de
cardeais e príncipes. Galileu tem uma particular sensibilidade para ponderar a
correlação de forças e não deixará de utilizar estes factores favoráveis para alguns
ajustes de contas, que pacientemente irão alimentar o caldeirão de sentimentos em que a
sua vida se move.
Este longo período em Pádua é o mais fértil da sua
existência, do ponto de vista da estruturação das descobertas e princípios que, a
partir de 1610 e da publicação do "Mensageiro das Estrelas", irão dar
origem a uma sucessão de obras-chave para a Ciência Moderna. Enquanto isto não
acontece, o seu prestígio aumenta, os negócios correm razoavelmente, pois mantém uma
oficina de produção de equipamentos sofisticados e começa a ser conhecido
além-fronteiras, se atendermos a que Kepler se dá ao trabalho de lhe oferecer uma cópia
do seu "Mistério Cosmográfico", vindo a público em 1597.
Apesar de sabermos das suas convicções íntimas em defesa
de Copérnico, nesta altura, nas suas aulas, continuava prudentemente a não sustentar
essa posição, preferindo divulgar as ideias astronómicas e cosmológicas
aristotélico-ptolomeicas. É isso que se expressa numa carta de Agosto de 1597, dirigida
a Kepler, em agradecimento ao livro que este lhe enviou: " (...) Resta-me
acrescentar que lerei o seu livro com tranquilidade, certo de nele encontrar as mais
admiráveis coisas, e farei isso com a maior alegria já que adoptei a mensagem de
Copérnico há muitos anos, e o seu ponto de vista permite-me explicar muitos fenómenos
da natureza que certamente ficariam inexplicáveis, de acordo com as hipóteses mais
correntes. Escrevi muitos argumentos a favor dele e em refutação da perspectiva oposta
--- que, todavia, até agora não me atrevi aa trazer a público, assustado pelo próprio
destino de Copérnico, nosso professor que, apesar de ter adquirido fama imortal junto de
alguns, é ainda para uma multidão infinita de outros ( pois tal é o número dos loucos
), objecto ridículo e desprezível. Certamente, atrever-me-ia a publicar de imediato as
minhas reflexões se existissem mais pessoas iguais a si; como não há, suster-me-ei de
tal fazer. (...) ".
Este receio de Galileu não tem ainda suficiente
justificação pois, por enquanto, a Igreja católica, designadamente a sua hierarquia
mais esclarecida, apoia e discute Copérnico, mantendo a política que tinha seguido ao
estimular, durante longos anos, a publicação desse texto que será causa remota de tanta
controvérsia. O motivo fundamental da prudência de Galileu deve procurar-se mais
do lado das reacções oriundas dos meios aristotélicos universitários, que aguardavam o
mínimo deslize para desferirem ataques, do que dos círculos afectos à Igreja. "
(...) Até ao ano fatal de 1616, a discussão do sistema de Copérnico era não só
permitida, mas estimulada por eles --- sob a única limitação, que consistia em
confiná-la à linguagem da ciência, e não tergivesar para assuntos teológicos. A
situação foi claramente sintetizada numa carta do Cardeal Dini para Galileu, em 1615:
«Pode escrever-se livremente enquanto nos mantivermos fora da Sacristia. ». (...) ".
Nos próximos dez anos, até à altura da publicação do
primeiro livro, Galileu continua as investigações de física, prossegue a docência e
desenvolve o telescópio que está na origem das extraordinárias observações
relatadas nesse texto.
Após a vinda a público do "Mensageiro das Estrelas"
e da abundante argumentação de natureza experimental sobre os factos astronómicos, onde
se destaca, sem dúvida, a descoberta dos quatro Satélites de Júpiter, as discussões
vão aumentar de intensidade, pois não faltaram aqueles que negavam a existência dessas
"monstruosidades" celestiais. Galileu está no seu terreno favorito, convencido
da razão que lhe assiste e detendo uma vantagem estratégica face aos seus adversários,
não perde nenhuma oportunidade para fazer vingar as suas teses e ajustar contas com um
mundo académico que jamais o tinha aceite de boa vontade!
Eram então levadas a efeito demonstrações da Luneta que
abrilhantavam serões de convívio e debate sobre assuntos filosóficos e astronómicos.
Era frequente que nenhum dos convidados conseguisse ver coisa alguma através de tão
estranho "tubo", quer devido à falta de treino de observação, quer pelo facto
da sua construção ser ainda relativamente rudimentar. Claro que havia sempre duas
atitudes possíveis: a primeira, a daqueles que se consideravam "modernos" e de
espírito aberto às novidades da Ciência, sempre haveriam de murmurar um comentário
laudatório, mesmo que só tivessem visto umas vagas luzes nos céus; a segunda, situada
no campo oposto, vociferava aos sete ventos o infame logro, atribuindo-o a motivos de
ilusão de óptica e aberrações oriundas de tão ordinário instrumento!
Foi o que aconteceu num convívio-demonstração que teve
lugar em Bolonha, por fins de Abril de 1610, poucas semanas após a publicação do livro,
onde ocorre o famoso episódio atribuido a Cremonini e Libri, professores de Filosofia em
Pádua, que se recusaram a olhar pela Luneta, pois tal facto seria por si mesmo uma forma
de admitir que "alguma coisa de novo" pudesse ser visto através dela...
Ora, dado que uma das facetas do temperamento de Galileu o
leva a entender que a vingança é um prato que se serve frio, não é de admirar que,
aproveitando-se do facto da morte do Professor Libri, tenha feito constar a seguinte
opinião: " (...) Libri não optou pela observação das minhas ninharias
celestiais enquanto estava na Terra; talvez neste instante o faça, agora que foi para os
Céus. (...) ".
A controvérsia arrasta-se durante meses e o único apoio
recebido vem-lhe de Kepler, com quem mantinha uma vaga correspondência que remontava a
1597 e que, na altura, era um matemático e astrónomo de grande prestígio. Publicou uma
"carta aberta" em defesa de Galileu, intitulada "Conversa com o
Mensageiro das Estrelas", na qual faz boa fé nas afirmações por todos
contestadas e onde traça espantosos planos para o futuro, bem típicos da sua alma
agitada e genialmente paradoxal. " (...) Não haverá falta de pioneiros humanos
quando dominarmos a arte de voar. Quem teria pensado que a navegação através do vasto
oceano era menos perigosa e mais calma do que nos apertados e ameaçadores golfos do
Adriático, ou do Báltico, ou dos estreitos Britânicos ? Vamos criar navios e velas
ajustados ao éter celestial, e haverá muitas pessoas sem medo das vastidões vazias.
Entretanto, preparemos para os bravos viajantes dos céus, mapas dos corpos celestiais. Eu
fá-lo-ei para a Lua e tu, Galileu, para Júpiter. (...) ".
Aproveita também Kepler para, pouco depois, em Agosto de
1610, pedir a Galileu que lhe ceda uma luneta análoga à que este usou, de forma a que
possa testemunhar de viva alma essas extraordinárias novidades, pelo que ficamos a saber
que o seu depoimento na "carta aberta" não se apoia na observação, mas na
convicção dos afectos, atitude bem pouco científica, no presente contexto. "
(...) Despertaste em mim um grande desejo de ver o vosso instrumento de forma a que,
finalmente, eu possa usufruir como tu do espectáculo dos céus. Pois entre os
instrumentos aqui à nossa disposição, o melhor amplia só dez vezes (...) Não quero
esconder que cartas de vários Italianos chegaram a Praga negando que esses planetas
possam ser vistos através do teu telescópio. (...) ".
Galileu aproveita para divulgar este providencial apoio,
apesar de nunca enviar a Kepler a luneta que ele tanto desejava, com a desculpa de ter
oferecido a melhor que possuia ao Grão-Duque da Toscânia e de, entretanto, estar a
fabricar outras novas!
Finalmente, por alturas de Setembro, Kepler recebe,
emprestado por alguns dias, um telescópio pertencente ao Duque da Bavária que se
encontrava de visita a Praga, conseguindo então testemunhar pessoalmente a veracidade das
afirmações de Galileu. Também astrónomos Jesuítas, entre os quais o prestigiado Padre
Clavius de Roma, confirmam os factos, assim contribuindo para o crescente triunfo de
Galileu nos meios intelectuais italianos, reforçado depois pelas observações das fases
de Vénus e de duas luas em Saturno.
2 - OS OVOS DOS BABILÓNIOS
Galileu sente que os
tempos lhe são favoráveis e a hora do triunfo público se aproxima. A convite dos
Médicis, instala-se em Florença na qualidade de "Filósofo e Matemático
Principal", é recebido em audiência pelo Papa Paulo V, eleito para a "Academia
dos Linces" e publicamente homenageado pelo poderoso Colégio Jesuíta de Roma.
" (...) passou em Roma a Primavera seguinte
1611 . A visita foi um triunfo. O Cardeal del Monte escreveu numa carta: «Se ainda
estivessemos a viver sob a antiga República Romana, creio firmemente que teria havido um
obelisco erigido na capital em homenagem a Galileu.». A selecta «Academia dos Linces»,
presidida pelo Príncipe Federico Cesi, elegeu-o como seu membro e ofereceu-lhe um
banquete; foi neste banquete que a palavra «telescópio» foi pela primeira vez aplicada
à nova invenção. O Papa Paulo V recebeu-o em audiência amigável, e o Colégio
Jesuíta de Roma honrou-o com várias cerimónias que duraram um dia inteiro. O astrónomo
e matemático principal do Colégio, o venerável Padre Clavius, principal autor da
reforma gregoriana do calendário, que de início se tinha rido do "Mensageiro das
Estrelas", estava agora inteiramente convencido; assim acontecia com os outros
astrónomos do Colégio, os Padres Grienberger, Van Maelcote e Lembo. Não só aceitaram
as descobertas de Galileu, mas melhoraram as suas observações, particularmente sobre
Saturno e as fases de Vénus. Quando o director do Colégio, Cardeal Belarmino, os
interrogou sobre as suas opiniões oficiais a propósito das novas descobertas, eles
unanimemente confirmaram-nas.(...)".
Até 1623, altura em que o Cardeal Barberini é eleito Papa,
sob o nome de Urbano VIII, Galileu mantém uma actividade frenética e uma popularidade
crescente, entremeada de polémicas, debates com os aristotélicos, bem como dos primeiros
problemas com a Inquisição que terminam com o Decreto de 1616, que resultou duma
denúncia feita pelos Dominicanos do Convento de S. Marcos.
Nesse decreto o nome de Galileu nunca é mencionado,
certamente devido à interferência favorável dos seus inúmeros admiradores situados nos
mais altos escalões da hierarquia eclesiástica, sendo a principal vítima o pobre
Copérnico, cuja imediata prisão foi sugerida pelo Bispo de Fiesole, que bem espantado
ficou ao ser informado que o relapso astrónomo tinha cometido a inconveniência de morrer
há quase setenta anos! !
O episódio que está subjacente a este incidente, conta-se
em poucas palavras. Houve um jantar na Corte dos Médicis onde, para além de inúmeras
personalidades, estava presente a mãe do Grão-Duque, Cristina de Lorraine, que era
conhecida pelo seu temperamento fogoso, teimosia e gosto pela oratória. Presentes também
vários professores, entre os quais o Padre Castelli, matemático em Pisa e o Doutor
Boscaglia, mestre de Filosofia. Foram estes os interlocutores duma conversa de salão
liderada pela Grã-Duquesa Cristina, desejosa de investigar a fundo o estranho caso dos
"Planetas Mediceus", a fim de saber se eram algo de real ou uma obscura burla
visando fins
inconfessáveis. . .
Acalmada a Duquesa com as considerações dos Professores
Castelli e Boscaglia, favoráveis à realidade desses astros, mesmo assim parece que o
Doutor Boscaglia teria deixado cair alguns comentários venenosos ao ouvido dessa singular
senhora, sugerindo que apesar dos Satélites lá deverem andar pelos céus, certo seria
que grossa asneira era sustentar que a Terra se movia em torno do Sol, contra o que
constava das Santas Escrituras.
Galileu, que não estava presente no jantar, sabe das
novidades por uma carta de Castelli. " (...) em primeiro lugar deve saber que,
enquanto estávamos à mesa, o Doutor Boscaglia teve a atenção de Madame por algum
tempo; e, concedendo como verdadeiras todas as novas coisas que descobriu nos céus, disse
que só o movimento da Terra tinha em si algo de inacreditável, e não podia ter lugar,
em particular porque a Santa Escritura era obviamente contrária a esta perspectiva. (...)
".
Ciente do seu prestígio e com contas por ajustar face à
turbamulta que contra ele conspirava na sombra, resolve contra-atacar na forma duma
carta-aberta, primeiro dirigida a Castelli e, mais tarde, numa versão final intitulada
"Carta à Grã-Duquesa Cristina". É esta carta que motiva a denúncia ao
Santo Ofício, feita pelos Dominicanos de Florença. A 7 de Fevereiro de 1615, o Padre
Lorini faz chegar ao Cardeal Sfondrati a seguinte queixa: " (...) Todos os nossos
Padres deste devoto convento de S. Marcos são de opinião que a carta contém muitas
proposições que parecem ser suspeitas ou presunçosas, como quando afirma que a
linguagem da Santa Escritura não significa o que parece significar; que em discussões
sobre fenómenos naturais, o último e mais baixo lugar deve ser dado à autoridade do
texto sagrado; que os seus comentadores erraram muito frequentemente na sua
interpretação; que as Santas Escrituras não devem ser associadas com nada, excepto com
assuntos de religião. (...) que falam em termos desdenhosos dos antigos Padres e de S.
Tomás de Aquino; que estavam a espezinhar toda a filosofia de Aristóteles que tem sido
de tão grande importância para a Teologia escolástica; (...) quando, digo, me tornei
consciente de tudo isto, decidi dar conhecimento a Vossa Senhoria do estado das coisas, de
forma a que o Senhor, no seu Santo zelo pela Fé possa, em conjunto com os seus muito
ilustres colegas, providenciar soluções, conforme pareça aconselhável. Eu, que entendo
que aqueles que se auto-proclamam Galileicos são todos homens tranquilos e bons
Cristãos, mas um pouco arrogantes e presunçosos nas suas opiniões, declaro que não sou
movido por nada neste assunto, a não ser por zelo da sagrada causa. (...) ".
A "Carta à Grã-Duquesa Cristina"
manifesta o brilhante estilo literário de Galileu, a sua vertente irónica, argumentativa
e polemista, defendendo os postulados do "saber Moderno", ao mesmo tempo que
entra no terreno perigoso do confronto da Ciência com a Bíblia, afirmando que esta não
deve ser interpretada literalmente e que, antes de se condenar uma proposição da
física, deve-se demonstrar que não está rigorosamente fundamentada, tarefa que cabe
àqueles que entendem serem essas afirmações falsas. Isto é, numa manobra táctica de
grande sagacidade, transporta o "ónus da prova" não para quem afirma, mas para
quem nega!
" (...) Há alguns anos, como Vossa Serena Alteza
sabe, descobri nos céus muitas coisas que não tinham sido vistas antes da nossa época.
A novidade dessas coisas, assim como algumas consequências que delas se seguiram,
contrariaram noções físicas usualmente aceites entre filósofos académicos e atiçaram
contra mim um não pequeno número de professores --- como se eu tivesse colocado nos
céus essas coisas com as minhas próprias mãos, a fim de aborrecer a natureza e derrubar
as ciências.
Manifestando um apreço maior pelas suas próprias opiniões
que pela verdade, pensaram negar e desaprovar as novas coisas que, se cuidassem de
observar por eles mesmos, os próprios sentidos lhes teriam demonstrado. Para tal fim
divulgaram várias acusações e publicaram numerosos escritos cheios de vãos argumentos,
e cometeram o grave erro de os misturarem com passagens tiradas de locais da Bíblia que
não conseguiram compreender apropriadamente. (...) Não só contradições e
proposições distantes da verdade podem aparecer na Bíblia, mas também graves heresias
e loucuras. Porventura seria necessário atribuir a Deus pés, mãos e olhos, assim como
outros afectos corpóreos e humanos, como a ira, o arrependimento, o ódio, e até por
vezes o esquecimento das coisas passadas e a ignorância das futuras. Por essa razão,
parece que nada de físico que os sentidos e a experiência apresentem diante dos nossos
olhos ou que demonstrações necessárias nos provem, deve ser posto em questão (muito
menos condenado) a partir do testemunho de passagens bíblicas que podem ter diferentes
sentidos por trás das palavras. (...) Se conclusões físicas verdadeiramente
demonstradas não precisam de ser subordinadas a passagens bíblicas, (...) então, antes
que uma proposição física seja condenada, deve ser provado que não está rigorosamente
demonstrada --- e isso deve ser feito não por aqueles que sustentam ser verdadeira a
proposição, mas por aqueles que a julgam falsa. Isto parece muito razoável e natural,
pois aqueles que entendem que um argumento é falso podem muito mais facilmente nele
encontrar falácias que os homens que o consideram como verdadeiro e conclusivo. (...)
".
Apesar de Galileu ter saído incólume e aparentemente
triunfante deste primeiro embate com a Inquisição, a verdade é que tinha entrado numa
área de debate onde os seus adversários o pretendiam colocar, empurrando-o para uma
escorregadia disputa teológica, a prazo responsável por um processo que manifestamente
desagradou a significativos sectores da hierarquia da Igreja que muito o admiravam.
Entre 1616 e 1623, altura em que chega ao papado Urbano
VIII, Galileu trabalha com um objectivo determinado, no sentido de provar a veracidade do
sistema coperniciano e a sua superioridade teórica e prática face ao modelo de Ptolomeu.
Tal prova apoiar-se-ia numa "teoria das marés" e seria um argumento objectivo
que visava demonstrar o movimento da Terra, quer em torno do seu eixo, quer em torno
do Sol, assim garantindo a consistência do heliocentrismo de Copérnico.
Apoiava-se na ideia segundo a qual, durante a noite, a
combinação dos movimentos de rotação e translacção levaria a que a "terra
firme" se movesse mais rapidamente que durante o dia. À noite, as duas velocidades
(rotação e translacção) "somar-se-iam", pois tinham o mesmo sentido,
enquanto que, de dia, "subtrair-se-iam", dado terem sentidos diferentes.
Resultado: à noite, a água do mar ficava "para
trás", explicando-se a maré-baixa e, de dia, avançava a água face à terra,
resultando na maré-alta. Ideia engenhosa, mas falsa que, para além do mais, não
explicava o motivo que levava à existência de duas marés cheias diárias e destas
variarem na hora em que atingem a sua máxima plenitude!
Galileu, consciente desta questão, explicava a segunda
maré-cheia por causas secundárias, desvalorizando-a no conjunto da teoria, com a
argúcia que lhe é usual. A incongruência desta linha de pensamento em alguém que é o
grande teorizador das Leis do movimento é um facto que nos deixa perplexos, e só pode
entender-se no contexto duma militância coperniciana que, por vezes, lhe tolda a lucidez
necessária. E talvez também por uma desvalorização dos seus adversários a quem, com
algum excessivo auto-convencimento, trata como se fossem sócios permanentes duma
confraria de imbecis. . .
Nesta ordem de ideias, é muito certeiro o comentário de
Arthur Koestler: " (...) a falácia do argumento reside no seguinte. O movimento
só pode ser definido relativamente a algum ponto de referência. Se o movimento é
referido ao eixo da Terra, então, qualquer parte da sua superfície, terra ou água,
move-se dia e noite com velocidade uniforme, e não haveriam marés. Se o movimento é
referido às estrelas fixas, então encontraremos as modificações periódicas do
diagrama, que são as mesmas para a terra e o mar, e não podem produzir diferença de
«momento» entre a terra e o mar. Uma diferença no «momento» , que provoque um
«avanço do mar» só poderia acontecer se a Terra recebesse um impacto duma força
externa --- digamos, colidindo com outro corpo. Mas quer a rotação da Terra, quer a sua
revolução anual são inerciais, isto é, auto-perpetuam-se e, desta forma, produzem
idêntico «momento» no mar e na terra; e uma combinação dos dois movimentos continua a
resultar no mesmo «momento». A falácia do raciocínio de Galileu consiste em ele
referenciar o movimento do mar ao eixo da Terra e o movimento da Terra às estrelas fixas.
(...) ".
Nos anos subsequentes, Galileu não abandonou esta
demonstração viciada e continuou a atribuir-lhe uma importância estratégica decisiva,
de tal forma que o seu famoso "Diálogo" esteve para chamar-se "Diálogo
sobre o Fluxo e Refluxo das Marés" !
Mas antes da publicação desta obra, em preparação desde
há longo tempo, vem a público, em 1623, "O Experimentador" ("Il
Saggiatore"). É um ano de percas e ganhos, do ponto de vista da correlação de
forças favoráveis e desfavoráveis. Do lado negativo, a morte de Cosme II e do Cardeal
Belarmino, lider espiritual dos Jesuítas; do lado positivo, a substituição de Paulo V
por Urbano VIII, a quem Galileu dedica o seu novo e polémico texto.
"O Experimentador" foi, em última
estância, resposta a uma conferência publicada pelo Jesuíta Padre Horatio Grassi, sobre
a natureza dos cometas, onde eram ditas coisas bem acertadas, mas na qual nunca era citado
o nome de Galileu. Este prepara de imediato uma apropriada retaliação, presente no
"Discurso sobre os Cometas", formalmente da autoria de Mario Guiducci, um
antigo aluno, por trás de quem, na sombra, se sente a mão de Galileu. O Padre
Grassi, ciente da origem do ataque, melifluamente responde ao livro de Guiducci com
"Balanço Filosófico e Astronómico" (1619) onde, ignorando o autor
formal do "Discurso sobre os Cometas", diz de Galileu o que Maomé não
disse do toucinho!
Desta feita, "O Experimentador" não
perdoa, desfazendo com requintes de ironia e malvadez, tudo aquilo que Grassi sustentava
sobre cometas, projécteis ou alternativas às teses de Copérnico, designadamente o
modelo cosmológico de Tycho Brahe. É, aliás, a propósito da "teoria dos
projécteis" que se cita uma magistral passagem, que referiremos sem mais
comentários. O motivo da disputa radicava numa afirmação do Padre Grassi que sustentava
que os projécteis eram submetidos, quando voavam, à fricção do ar, ficando a sua
temperatura mais elevada. Para argumentar a favor desta tese, citou um Grego do séc.X, um
tal Suidas, que dizia serem os Babilónios capazes de cozer ovos, fazendo-os rodar no ar
muito rapidamente numa funda!
Naturalmente, Galileu defendia exactamente o contrário.
" (...) Se Sarsi deseja que acredite, de acordo com Suidas, que os Babilónios
cozem os seus ovos fazendo-os girar em fundas, assim o farei; mas devo declarar que a
causa deste efeito é muito diferente daquilo que sugere. Para descobrir a verdadeira
causa, raciocino da forma que se segue: «Se não atingimos um resultado que outros
efectivamente conseguem, então deve acontecer que nas nossas operações nos falta alguma
coisa que produz tais resultados. E se só houver uma única coisa que nos falta, então
essa coisa pode ser a verdadeira causa. Neste momento não nos faltam ovos, nem fundas,
nem gente robusta para os fazer rodar no ar; todavia, os nossos ovos não ficam cozidos,
mas simplesmente arrefecem ainda mais depressa se acontece que estejam quentes. E uma vez
que nada nos falta a não ser sermos Babilónios, então, ser Babilónio, é a causa da
cozedura dos ovos e não a fricção do ar. » (...) ".
3 - FORÇA DAS MARÉS
Naturalmente, com tudo
isto, as relações com os Jesuítas estão a atingir o seu ponto mais baixo e a
instituição que o teve como antigo aluno e onde mantinha inúmeros admiradores,
dificilmente esquecerá este vendaval oriundo duma inteligência agressiva e brilhante.
Mais uma razão para Galileu receber com dupla alegria uma carta em que lhe é sugerido
que o novo Papa gostaria de o receber pessoalmente. " (...) Juro-lhe que nada
agrada mais a Sua Santidade que a menção do seu nome. Depois de falar a seu respeito
durante algum tempo, disse-lhe que você, Estimado senhor, tinha um ardente desejo de o
visitar e de lhe beijar o pé, se Sua Santidade o permitisse, ao que o Papa respondeu que
isso lhe daria grande prazer, se não fosse inconveniente para si. . . pois grandes homens
como você devem poupar-se, a fim de que possam viver o maior tempo possível. (...) "
.
Em 1624, Galileu é recebido em sucessivas audiências por
Urbano VIII, onde é carregado de elogios, presentes, medalhas, terminando com uma
"carta de recomendação" que o deixa numa situação favorável perante as
crescentes ameaças decorrentes de antigas e velhas polémicas. Parece ter sido no decurso
desta convivência que Galileu obtém o consentimento para levar a bom termo o projecto do
"Diálogo sobre os dois grandes Sistemas do Mundo", onde se poriam em
confronto as duas teses cosmológicas e se sustentaria a defesa de Copérnico.
Lembre-se que o seu pensamento e obra estavam em posição
muito difícil desde a deliberação da Inquisição expressa no "Decreto de
1616", mas tudo leva a crer que entre o Papa e Galileu se tenha estabelecido um
"acordo de cavalheiros", sendo-lhe permitido sustentar as teses de Copérnico,
desde que estas fossem abordadas como uma "hipótese matemática" que interpreta
certos factos, mas sem lhes dar um perfil de verdade indiscutível, pois a omnipotência
de Deus pode ter subjacente ao mundo leis e princípios jamais acessíveis à mente
humana!
Diga-se que as relações entre estes dois homens têm muito
de adulação mútua e gerarão equívocos entre personalidades tão singulares, que
atingirão um ponto de conflito dentro de alguns anos. São, a este propósito,
interessantes as observações de Arthur Koestler: " (...) Maffeo Barberini
Urbano VIII era uma espécie de anacronismo: um Papa Renascentista transplantado
para a época da Guerra dos Trinta Anos; um homem de letras que traduziu passagens da
Bíblia para hexâmetros; cínico, arrogante, desejoso de poder secular. Conspirou com
Gustavus Adolphus, o herético protestante, contra o Sacro Império Romano; e ao saber da
morte de Richelieu, observou: «Se existir um Deus, o Cardeal Richelieu terá muito por
que responder; se não existir, fez muitíssimo bem. ». Fortificou o Castelo de S.
Angeli, e fundiu canhões a partir dos tectos de bronze do Panteão --- que deram origem
ao epigrama: «O que os bárbaros não fizeram, Barberini fez. ». Fundou o «Gabinete da
Propaganda» (para missionários), construiu o Palácio Barberini, e foi o primeiro Papa a
consentir que um monumento a si próprio fosse erigido durante a vida. (...) A sua famosa
declaração de que «sabia mais que os Cardeais todos juntos» só era igualada por
Galileu ao dizer que, por si mesmo, tinha descoberto tudo o que há de novo no céu. (...)
Em 1620, tinha escrito uma ode em honra de Galileu, intitulada «Adulatio Perniciosa»
(...) Tinha ido ao ponto de prestar homenagem à memória de Copérnico --- numa
audiência com o Cardeal Hohenzollern em 1634, após ter-se tornado Papa --- e acrescentou
a observação que «a Igreja nem condenou, nem nunca condenará a sua doutrina como
herética, mas somente como negligente» . (...) .
Sentindo-se apoiado ao mais alto nível, Galileu dedica-se
afanosamente ao trabalho, que fica concluído em Janeiro de 1630, um pouco antes de
completar 66 anos. São inúmeras as peripécias subjacentes à autorização de
publicação, o indispensável "Imprimatur", a que todas as obras estavam
sujeitas.
Os trabalhos tipográficos deviam ocorrer em Roma e, na
Primavera de 1630, é novamente recebido pelo Papa, que lhe confirma não haver problemas
em abordar Copérnico, desde que a argumentação se mantenha num plano estritamente
hipotético, coisa de Filósofos e Astrónomos, tratada com a devida elevação!
A obra passa para as mãos do Censor Principal, o Padre
Niccolo Riccardi, a quem o Rei de Espanha chamava "Padre Monstro" devido à sua
enorme barriga. . . Era um homem que guardava afecto por Galileu, ainda que, no fundo do
coração, achasse que essas disputas cosmológicas eram coisa de loucos que não tinham
mais que fazer, arrumando na mesma prateleira Aristóteles, Ptolomeu e Copérnico,
confraria nebulosa cuja cegueira metafísica os impedia de ver que " (...) a
derradeira verdade era que as estrelas são movidas por anjos. (...) ".
Leu o livro e achou que lá havia estranhos e bizarros
argumentos. Apesar de consciente dos beneplácitos papais, tudo aquilo lhe parecia uma
tortuosa e obstinada defesa de Copérnico. Para se defender, resolveu pedir parecer ao seu
assistente, Padre Visconti, insistindo em que passasse a obra a pente fino e se fizessem
alterações, de forma a cumprir-se o disposto no "Decreto de 1616". Por sua
vez, o Padre Visconti deve ter-se apercebido do grande imbróglio em que estava metido e,
fazendo uma ou outra nota de menor importância, devolve, qual objecto pestífero, o livro
à procedência!
O Padre Riccardi decide então meter mãos à tarefa e pede
uma prorrogação do prazo para análise do texto, mas começa a ser pressionado por
Galileu e os amigos, alegando a urgência da publicação. A partir deste momento e até
Fevereiro de 1632 , altura em que estão prontas as primeiras cópias impressas do "Diálogo",
os factos são uma magistral operação de prestidigitação.
Diz Arthur Koestler: " (...) O resultado desta
pressão foi que Riccardi consentiu num estranho acordo: para poupar tempo, concedeu
provisoriamente o " Imprimatur " ao livro, na condição de que ele próprio
faria a revisão, passando depois cada página revista ao tipógrafo. Devia ser assistido
nesta tarefa pelo universalmente respeitado Príncipe Cesi, Presidente da Academia dos
Linces.
Mal este acordo foi concluído, Galileu regressou a
Florença para escapar ao calor de Roma, na convicção de que regressaria no Outono.
Pouco depois da sua partida, o Príncipe Cesi morreu. Algumas semanas mais tarde, irrompeu
a peste, e uma estreita quarentena tornou difíceis as comunicações entre Roma e
Florença. Isto providenciou uma óptima oportunidade para Galileu baralhar as condições
sob as quais tinha sido concedido o "Imprimatur": pediu que o livro fosse
impresso em Florença, fora do controlo de Riccardi. (...) A princípio Riccardi recusou
permitir a impressão do livro em Florença sem o rever; pediu que Galileu lhe enviasse,
para tal fim, o manuscrito até Roma. Galileu respondeu que os regulamentos da quarentena
tornavam impossível o envio em segurança do manuscrito, e insistiu para que a revisão
final fosse feita por um censor Florentino. Referiu o apoio do Grão-Duque (a quem
Riccardi, como Florentino, devia obediência) . O Embaixador da Toscânia, Niccolini e o
Secretário do Papa, Ciampoli, também insistiram na pressão. O Padre " Monstro
" era um convidado permanente em casa de Niccolini; finalmente, foi a sua bela prima
Catarina que o fez ceder, à mesa de jantar e após uma garrafa de Chianti. Concordou que
o trabalho fosse impresso e revisto em Florença, excepto no prefácio e parágrafos
conclusivos, que lhe deviam ser submetidos.
A revisão era para ser feita pelo Inquisidor Florentino,
Padre Clemente Egidii. Mas isto não era do agrado de Galileu, que propõe o Padre Stefani
em vez de Egidii. Riccardi concordou uma vez mais. Evidentemente, o Padre Stefani estava
inteiramente sob a influência de Galileu, uma vez que «foi às lágrimas» durante
muitas passagens do livro, devido à sua «humildade e reverente obediência». Stefani
fez poucas correcções, para salvar as aparências, e a impressão começou em 1631.
(...) ".
Esta esclarecedora passagem revela que, no fundo, o livro
escapou às malhas da Inquisição, apesar de, formalmente, se terem cumprido os
requesitos legais!
Como se sabe, o texto desenvolve-se em forma dum diálogo
que dura quatro dias, entre três personagens, Salviati, Sagredo e Simplicius,
tendo como tema central, como o próprio título explicita, um debate em torno dos dois
grandes Sistemas do Mundo, o Ptolomeico e o Coperniciano. Salviati é o "duplo"
de Galileu e Sagredo aparece como o bom interlocutor, aquele que levanta dúvidas
sensatas, mas que responde positivamente aos argumentos de Salviati. Quanto a Simplicius,
está-lhe reservado o papel de defensor das concepções clássicas e é sucessivamente
ultrapassado pela brilhante mente de Salviati que, uma a uma, desmonta as suas teses, para
maior honra e glória de Copérnico. O primeiro e segundo dias são dedicados à
refutação de Aristóteles, na generalidade e na especialidade, respectivamente. O
terceiro e quarto dias vivem do debate de Copérnico e, fundamentalmente, duma prova
empírica da sua validade, a famosa "Teoria das Marés", guardada como arma
final, para fechar o quarto dia e derrotar os derradeiros alentos do pobre Simplicius.
Apesar da argumentação brilhante e correcta de Salviati,
particularmente nas concepções da relatividade do movimento, é verdade que Kepler
continua a ser ignorado e a "teoria das Marés" mantém-se inconsistente como
prova do movimento da Terra em torno do Sol.
Aqui reside o ponto central da questão que vai desencadear
um vendaval! Não só Galileu, sub-repticiamente, deixa de tratar o sistema de Copérnico
como uma hipótese, pois dá-lhe uma "prova" (Teoria das Marés), torneando o
acordo com Urbano VIII, como este se julga ver retratado, em parte, nas posições de
Simplicius, cuja figura é uma espécie de antepassado do "Bei de Túnis", de
que nos falava Eça de Queiroz. . .
4 - " VAE VICTIS "
Em Agosto o livro é
confiscado e Galileu convocado para se apresentar à Inquisição de Roma, sendo
nomeada uma Comissão para elaborar um relatório sobre o assunto, que faz uma listagem
das prevaricações, mas não propõe nenhuma medida concreta. O primeiro interrogatório
formal tem lugar a 12 de Abril de 1633 e, sem lhe ser revelada a acusação, melifluamente
perguntam-lhe se sabe por que motivo ali se encontra. Galileu admite que tudo se deve
relacionar com os seus "Diálogos" e, perante o decorrer da conversa, vai
declarando que não era sua intenção defender Copérnico em termos absolutos. Perante
esta evasiva, são nomeados três peritos, que fazem um 2º relatório de tonalidade muito
perigosa para Galileu, insistindo detalhada e fundamentadamente nas linhas de acusação
já referidas.
Galileu, com quase setenta anos, sente-se vulnerável e
abandonado! Já não são possíveis evasões retóricas ou habilidades palacianas. Os
seus adversários estão ao mais alto nível do Poder e, desta feita, não lhe deixarão
margem para recuar. Pretendem a confissão pública e completa. O seu objectivo não é
matar, ou o pão e água duma enxovia sórdida, mas a humilhação pura e simples.
Entre a primeira e segunda audiência, que tem lugar a 30 de
Abril, há uma iniciativa privada dum Comissário da Inquisição, Frei Vicenzo da
Firenzuola, que vai junto de Galileu, aconselhando-o a mudar de estratégia, para seu
próprio bem. . .
" (...) Finalmente, sugeri uma diligência,
nomeadamente que a Santa Congregação me concedesse autorização para lidar com Galileu
extra-judicialmente, de forma a torná-lo sensível do seu erro e a levá-lo, se ele o
reconhecer, a uma confissão do mesmo. (...) Para que nenhum tempo fosse perdido, ontem à
tarde entrei em contacto com Galileu, e após muitos e muitos argumentos e objecções
terem sido trocados entre nós, pela graça de Deus, atingi o meu objectivo, pois trouxe-o
à plena consciência do seu erro, de tal forma que ele claramente reconheceu que tinha
errado e tinha ido longe de mais no seu livro. E de tudo isto deu testemunho com palavras
muito sentidas, como alguém que experimenta uma grande consolação com o reconhecimento
do seu erro, e estando também com vontade de o confessar judicialmente. Solicitou,
contudo, um pouco de tempo de forma a ponderar o processo segundo o qual poderia mais
adequadamente fazer a confissão que, no que diz respeito à sua substância, deve, espero
eu, seguir-se da maneira indicada. (...) ".
Na segunda audiência, Galileu lê a declaração entretanto
redigida, temperando as palavras com a argúcia que lhe resta nestas difíceis
circunstâncias, indo ao encontro das pressões dos Inquisidores. Aí admite que o seu
livro pode ter ambiguidades que parecem contradizer as interdições à publicitação e
defesa de Copérnico, mas não era a sua intenção, mas sim o contrário. Todo o clima é
de alguém que está francamente assustado com o decurso dos acontecimentos e tem a sua
margem de manobra reduzida ao mínimo.
" (...) No decurso de alguns dias de contínua e
atenta reflexão sobre os interrogatórios que me foram feitos no dia doze do presente
mês, e particularmente se, há dezasseis anos, uma ordem me tinha sido dirigida por
determinação do Santo Ofício, proibindo-me de sustentar, defender, ou ensinar por
qualquer forma a opinião que tinha acabado de ser condenada --- do movimento da Terra e
da estabilidade do Sol --- ocorreu-me reler o meu " Diálogo " já publicado,
que há três anos não via, de forma a cuidadosamente verificar se, contrariamente à
minha muito sincera intenção, teria, por inadvertência, saído da minha pena, alguma
coisa sobre a qual o leitor, ou as autoridades, pudessem inferir não só algum vestígio
de desobediência da minha parte, mas também outros pormenores que pudessem induzir a
convicção que eu tinha desobedecido às ordens da Santa Igreja. (...) E devido a não o
ter visto desde há muito tempo, apresentou-se-me, tal como estava, como um novo texto dum
outro autor. Confesso livremente que em vários locais pareceu-me desenvolver-se de tal
forma que um leitor ignorante da minha autêntica intenção, poderia ter razão para
supôr que os argumentos aduzidos para o lado falso, e que era minha intenção refutar,
eram expressos de forma a serem calculados, mais para recolher convicção pela força
lógica do que pela facilidade de solução. (...) O meu erro foi --- e confesso-o --- de
ambição desmedida e de pura ignorância e inadvertência. (...)".
No final desse depoimento, Galileu sugere a possibilidade de
acrescentar mais um ou dois dias aos "Diálogos" a fim de que a sua
posição fique bem clara e todos se apercebam da bondade subjacente às suas
explicações. Se este desejo era sincero ou mais um estratagema, nunca o saberemos. O
Santo Ofício resolveu não dar seguimento a esta piedosa solicitação, pois quando a
esmola é grande . . .
" (...) E em confirmação da minha afirmação de
que não mantive nem mantenho como verdadeira a opinião que foi condenada, do movimento
da Terra e estabilidade do Sol --- se me forem concedidos, como desejo, tempo e meios para
fazer uma demonstração mais clara, estou pronto a fazê-lo; e há uma oportunidade muito
favorável para isso, dado que na obra já publicada os interlocutores concordam em
encontrar-se de novo após algum tempo, para discutirem vários outros problemas da
Natureza, não relacionados com o assunto debatido nos seus encontros.
Como isto me dá oportunidade de acrescentar um ou dois
dias, prometo retomar os argumentos já expostos em favor da dita opinião, que é falsa e
foi condenada, e refutá-los da maneira mais eficiente que me seja concedida pela graça
de Deus. Por conseguinte, peço a este anto Tribunal que me ajude nesta boa decisão e que
me possibilite pô-la em prática....) ".
Abatido e humilhado com este doloroso processo, Galileu, com
setenta anos, apresenta a defesa numa audiência intercalar que tem lugar a 10 de Maio,
apelando à magnanimidade do Tribunal, solicitando atenuantes decorrentes da sua
particular situação pessoal. " (...) Por último, resta-me pedir-vos para
levarem em consideração o meu triste estado de mal estar físico, ao qual, com 70 anos,
fui reduzido por dez meses de constante ansiedade mental. (...) para além da perca de
grande parte dos anos que esperava usufruir, tendo em atenção a minha anterior
condição de saúde. Estou persuadido e encorajado a assim fazer, pela fé na clemência
e bondade dos muito Eminentes Senhores, meus juízes. (...) ".
Diga-se que a Inquisição não tinha usado com Galileu,
para seu bem, dos aberrantes procedimentos que desencadeava para situações análogas.
Mesmo nesta posição de elevado risco, Galileu é tratado com relativa consideração,
pois " (...) não foi confinado às masmorras da Inquisição, mas permitem-lhe
permanecer como convidado da Embaixada da Toscânia na Villa Médicis, até depois do seu
primeiro interrogatório. Depois, teve de entregar-se formalmente à Inquisição, mas em
vez de ser colocado numa cela, foi-lhe destinada uma zona com cinco quartos no próprio
Santo Ofício, virada para S. Pedro e os jardins do Vaticano, com o seu criado pessoal
(...) Aqui permaneceu de 12 de Abril até ao segundo interrogatório, em 10 de Maio.
Então, antes que o seu julgamento terminasse, foi autorizado a regressar à Embaixada da
Toscânia --- um procedimento muito invulgar, não só nos anais da Inquisição, mas de
qualquer outro sistema judiciário. Contrariamente à lenda, Galileu nunca passou um dia
de vida numa cela de prisão. (...) ".
Os dados estão lançados. Após um terceiro
interrogatório, poucos dias depois, em finais de Junho, é-lhe lida a sentença que
" (...) estava assinada somente por sete dos dez juízes. Entre os três que se
abstiveram estava o Cardeal Francesco Barberini, irmão de Urbano. O «Diálogo» foi
proibido; Galileu devia abjurar a opinião Coperniciana e foi sentenciado a «prisão
formal enquanto o Santo Ofício entendesse» ; e nos três anos seguintes, devia repetir
uma vez por semana os sete salmos penitenciais. (...) ".
Após fazer uma síntese do historial do processo, a
sentença conclui, afirmando:
"(...) Invocando (...) o muito Santo nome de Nosso
Senhor Jesus Cristo e da Sua Gloriosa Mãe, sempre Virgem Maria (...) com o conselho e
parecer dos Reverendos Mestres da Sagrada Teologia e Doutores de ambas as Leis, nossos
assessores (...) Dizemos, pronunciamos, sentenciamos e declaramos que tu, o dito Galileu,
em função dos assuntos aduzidos em julgamento e por ti confessados, chegaste ao
julgamento deste Santo Ofício veementemente suspeito de heresia, nomeadamente, de ter
sustentado e acreditado na doutrina --- que é falsa e contrária às sagradas e divinas
Escrituras --- segundo a qual o Sol é o centro do mundo e não se move de Este para Oeste
e a Terra se move e não é o centro do mundo; e que consequentemente incorreste em todas
as censuras e penalidades impostas e promulgadas nos sagrados cânones e outras
constituições, gerais e particulares, contra tais delinquências. Das quais entendemos
que sejas absolvido, desde que, primeiro, com coração sincero e inabalável fé,
abjures, maldigas e detestes diante de nós as ditas heresias e erros e qualquer outro
erro e heresia contrária à Igreja Católica Apostólica Romana, na forma por nós
prescrita.
E, para que este teu grave e pernicioso erro e
transgressão não fiquem impunes e para que sejas mais cauteloso no futuro e um exemplo
para que outros se abstenham de delinquências similares, determinamos que o livro
«Diálogo de Galileu Galilei» seja proibido por édito público.
Condenamos-te à prisão formal deste Santo Ofício durante
o tempo que entendermos, e para fins de salutar penitência, determinamos que durante os
três anos que se seguem, repitas uma vez por semana os sete salmos penitenciais.
Reservamo-nos a liberdade de moderar, comutar, ou retirar,
no todo ou em parte, as ditas punições e penitência. (...) ".
Terminada a leitura da sentença, é apresentado a
Galileu o documento de abjuração, que deve ser lido por ele próprio em tribunal, antes
de se encerrar definitivamente o processo: " (...) Eu, Galileu, filho do falecido
Vicenzo Galilei, Florentino, setenta anos de idade, arrolado pessoalmente diante deste
tribunal e ajoelhando-me diante de vós, Muito Eminentes e Reverentes Senhores Cardeais
Inquisidores-Gerais contra a desordem herética em toda a comunidade Cristã, tendo diante
dos olhos e tocando com as minhas mãos as Sagradas Escrituras, juro que sempre acreditei
em tudo que é defendido, pregado e ensinado pela Santa Igreja Católica e Apostólica.
Mas, (...) após uma ordem me ter sido judicialmente dada por este Santo Ofício a fim de
que abandonasse simultaneamente a falsa opinião de que o Sol é o centro do Mundo e
inamovível e que a Terra não é o centro do mundo e se move e que não devo sustentar,
defender ou ensinar por qualquer forma, verbalmente ou por escrito, a dita falsa opinião,
e após ter sido notificado que a dita doutrina era contrária à Santa Escritura ---
escrevi e imprimi um livro no qual discutia a nova doutrina já condenada e acrescentei
argumentos de grande força lógica em seu favor, sem apresentar nenhuma solução para
eles, sendo pronunciado pelo Santo Ofício por veementemente suspeito de heresia, isto é,
de ter sustentado e acreditado que o Sol é o centro do mundo e inamovível e que a Terra
não é o centro e move-se:
Por isso, desejando remover dos espíritos de Vossas
Eminências e de todos os fiéis cristãos esta veemente suspeita justamente orientada
contra mim, com coração sincero e fé inamovível, eu abjuro, maldigo e detesto os ditos
erros e heresias e em geral todo e qualquer outro erro, heresia e seita contrária à
Santa Igreja, e juro que no futuro nunca mais direi ou afirmarei, verbalmente ou por
escrito, nada que possa dar ocasião a uma similar suspeita relativamente a mim; mas, se
souber de algum hereje ou pessoa suspeita de heresia, denunciá-la-ei a este Santo Ofício
ou ao Inquisidor ou Ordinário do local em que me encontrar. Mais ainda, juro e prometo
cumprir e observar na sua integridade todas as penas que forem, ou venham a ser, impostas
contra mim por este Santo Ofício. E, no caso de contravenção ( que Deus o proiba! ) de
qualquer destas minhas promessas e juramentos, submeto-me a todos os sofrimentos e
punições impostas e promulgadas nos sagrados cânones e outras constituições, gerais e
particulares, contra tais delinquentes. Assim o queira Deus e estas Santas Escrituras, que
toco com as minhas mãos. (...) ".
Concluído o ritual de humilhação, principal objectivo
do Tribunal, fecha-se um dos mais tristes capítulos da história da intolerância humana,
com sérias consequências para o desenvolvimento do pensamento científico e
experimental, quer na península italiana, quer em toda a Europa onde impera o espírito
de vistas curtas da Contra-Reforma, deslocando-se essas forças culturais para as regiões
de dominância protestante, no norte e noroeste do Continente, como bem assinalou George
Gusdorf.
Quanto a Galileu, recebe ainda uma certa complacência nas
punições que lhe são impostas, se atendermos que a " (...) prisão formal
transformou-se numa estadia na «villa» do Grão-Duque em Trinita del Monte, seguida por
uma outra estadia no Palácio do Arcebispo Piccolamini em Siena onde, de acordo com um
visitante françês, Galileu trabalhava «num apartamento coberto de seda e muito
ricamente mobilado» . Depois regressou à sua quinta em Arcetri e mais tarde à sua casa
em Florença, onde passou o resto dos anos da sua vida. A oração dos salmos penitenciais
foi delegada, por consentimento eclesiástico, na sua filha, Irmã Maria Celeste, uma
freira Carmelita. (...)".
Encerrado definitivamente o "dossier"
cosmológico, aproveita os últimos anos para redigir um livro que o deixará famoso, os
"Discursos e Demonstrações Matemáticas sobre as Duas Novas Ciências",
concluído em 1636, no qual regressa à sua vocação magistral que sempre foi a Ciência
da Dinâmica. " (...) Como não podia ter esperança quanto a um «Imprimatur» em
Itália, o manuscrito foi sonegado para Leyden e publicado pelos Elzevirs; mas
também podia ter sido impresso em Viena, onde foi autorizado, provavelmente com
consentimento Imperial, pelo Jesuíta Padre Paulus. (...) ".
Apesar de ficar cego aos setenta e três anos, prossegue os
estudos e é visitado por amigos e discípulos, transformando a sua casa num forum de
diálogo e infinita curiosidade pelos segredos dum mundo que, para ele, lentamente se
desvanece. É o que diz, numa carta a Diodati: " (...) o teu amigo e servidor,
Galileu, ficou durante o último mês definitivamente cego; de tal forma que estes céus,
esta terra, este universo que eu, por maravilhosas descobertas e claras demonstrações,
alarguei cem mil vezes para além das convicções dos homens sábios dos tempos passados,
daqui para diante comprime-se num espaço tão minúsculo como aquele que se enche com as
minhas sensações corpóreas. (...) ".
A larga caminhada termina em 1642, pois as leis do movimento
por si descobertas têm uma singular aplicação na vida humana. " (...) Os seus
ossos, contrariamente aos de Kepler, não foram espalhados pelo vento; repousam no
Panteão dos Florentinos, na Igreja de Santa Croce, junto aos restos mortais de Miguel
Ângelo e Maquiavel. (...) ".
Um homem vai, outro vem. Numa obscura aldeia inglesa,
na noite de Natal deste mesmo ano, nasce Newton. Copérnico, Bruno, Kepler, Galileu,
estão vingados. Nada a fazer. "Eppur si muove".
PORTO, Dezembro de 1993
- © Levi António Malho - Regressar
a "Textos de
Filosofia "
- Actualizado em 30.12.2002
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