Brumado chora sem derramar lágrimas

 

Trezentos internamentos, 1.687 casos de diarréia, cinco mortes causadas pelo cólera, este é o quadro resultante da falta de água em Brumado. O município sofre com a estiagem que já dura mais de cinco meses, e a população, pelo menos aqueles que não podem comprar uma lata d'água, não vislumbra outra alternativa senão beber da água contaminada, mesmo com o risco do cólera. A culpa recai sobre os governos estaduais e federais, que não agiram e continuam sem agir  de uma forma mais eficaz na busca de uma solução definitiva para o problema.

Os tradicionais carros-pipas do governo não são suficientes para levar água ao povo do município. Muitos viajam para localidades vizinhas para lavar suas roupas e trazer de volta um pouco do líquido precioso. E precioso mesmo, pois, tirando proveito da situação miserável do povo, muitos estão ganhando dinheiro vendendo latas d'água a preços absurdos. A água vendida em Brumado é transportada também por carros-pipas   vindos de municípios vizinhos, como Livramento de Nossa Senhora, onde não há escassez do líquido. Esta "indústria da água", como foi batizada, gera cerca de 3 mil reais para cada dono de carro-pipa.

A falta de água em Brumado não é de agora. Em 1978, quando a população não passava de 25 mil habitantes, foi construído um reservatório para quando o período de estiagem chegasse. Em 1994, o governo estadual, junto com correntes políticas diversas e vários segmentos da sociedade, se voltou para a necessidade de solucionar a questão, visto que o reservatório não mais adiantava, pois a população pulou para 100 mil habitantes; naquela época, Brumado estava prestes a enfrentar um racionamento por causa da estiagem prolongada. Hoje, a população brumadense volta a viver o drama da estiagem, e acusa o governo de não ter feito nada definitivo no passado e de ser omisso no presente.

Associações de lideranças locais já conversaram com a Embasa e com o próprio governador César Borges, mas até agora nada de concreto foi feito. A situação ficou ainda pior com o esvaziamento da Barragem do Rio Brumado, de suma importância para o abastecimento da região. A prefeitura não tem como sanar o problema, que é de âmbito estadual e nacional. Aliás, contar com o governo federal parece ser algo distante; com a crise financeira, o Palácio do Planalto não está nem sequer pagando em dia os trabalhadores que participam das frentes de trabalho no Nordeste. 

As manifestações têm sido fervorosas, apesar de ordeiras e pacíficas. O escritório da Embasa em Brumado é o alvo predileto dos manifestantes, que atiram pedras e ameaçam invadir. A humilhação do povo é muito grande, e o resultado só poderia ser a revolta. A Polícia Militar coíbe as manifestações com o uso da força, atrapalhando também o trabalho da imprensa. No meio de uma manifestação de cerca de 150 participantes, uma faixa que dizia: "Polícia pra quê, queremos água pra beber". Alguns mais radicais querem a Embasa fora da região e que, em seu lugar, seja criado um sistema autônomo de abastecimento. Manifestações que poderiam ser até facilmente evitadas, já que existe água suficiente nos arredores do município para resolver definitivamente o problema de Brumado.

O município de Brumado, um dos mais importantes da região sudoeste da Bahia, também vem sofrendo economicamente com a estiagem. Os turistas estão sumindo, e os que se encontram ou estão de passagem pela cidade são aconselhados a ir embora, para não se contaminarem ou contrairem o cólera, que já provocou a morte de cinco pessoas. Além dos turistas, os ônibus intermunicipais também evitam passar pela região. O carnaval foi suspenso, o que é mais um prejuízo para a prefeitura, comandada por Edmundo Pereira.

O governo anunciou um investimento de 3 milhões e a captação de água na Barragem do Rio Paulo, cuja adutora deve ficar pronta em 180 dias. Existe também a promessa de perfuração de poços, instalação de reservatórios e equipamentos para retirada de maior volume de água da Barragem do Truvisco, contratação de 54 carros-pipas e outras soluções para amenizar ou chegar a uma solução definitiva para o problema que afeta a vida dos brumadenses. E o que se espera é que o governo realmente atue de uma forma legítima e definitiva, deixando um pouco de lado a questão política (a região sofre influência de Nilo Coelho, através do PMDB) e autoritária.

 

Alexandre Costa Reis
Aluno da Facom

 

 
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