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O Sangue do América
( Um Certo Ar de Deboche)

   

Decepção?
Tristeza?
Desencanto ou desânimo?
Quem sabe desesperança?
Ou será raiva?

O que passa pelos nervos dos torcedores do América do Rio de Janeiro talvez nem eles mesmos possam definir. É, literalmente, a beira do precipício, aquele sentimento de impotência ante a proximidade do caos.
Nos últimos dez anos o América entrou em processo acelerado de esvaziamento. Sucessivas administrações ausentes da responsabilidade determinadas pelos novos rumos do profissionalismo levaram o clube a um estado latente de agonia. Parece faltar apenas um leve empurrão para que o futebol americano, autor de tantas passagens gloriosas até em campos internacionais, morra de vez.
O ambiente já foi de revolta. Agora, tende para o conformismo. E não é para menos. O América sofreu o primeiro golpe quando foi alijado da primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Em sinal de protesto, preferiu afastar-se do Campeonato a disputar a segunda divisão, que dá acesso à primeira. Começou aí o ostracismo em nível nacional. Não bastasse esse duro golpe, durante temporadas seguidas o time formado pelos dirigentes - no caso, os técnicos são vítimas e não co-autores - viveu de refugos e jogadores desambiciosos. Conclusão: somente na rodada final de vários Campeonatos do Rio o clube escapou do rebaixamento.
Quem não é torcedor do América mal pode avaliar o que significa uma convivência permanente com a derrota e o fracasso. Os torcedores se sentem humilhados e ofendidos. Ainda este ano outro golpe aconteceu. Fizeram um ranking para dividir os clubes que comporiam a fase final do Campeonato Estadual e aqueles que se habilitariam às duas vagas restantes, através de uma competição eliminatória. Pois não é que o América foi preterido em benefício do Bangu e do Americano, cujas tradições nem se aproximam das que ostenta o diabo rubro?
E nem assim o sofrimento se atenuou. Antes mesmo que a tal fase eliminatória chegasse ao fim, o América estava eliminado. Agora, terá de disputar outro torneio com os outros desclassificados, curtindo na pele a ameaça de ir parar na segunda divisão do Estado, ele que já pertence a terceira divisão do País.
Pior de tudo é o consolo que lhe reservam os torcedores do Botafogo, do Vasco, do Flamengo e do Fluminense. Com ares pungidos, lamentam a sorte do América e ainda o declaram o "o nosso segundo time". Puro deboche, deslavado cinismo que o torcedor americano é obrigado a engolir entre falsos sorrisos.
É impossível prever quando a humilhação terminará, se é que vai terminar um dia, antes que o clube abandone o futebol. Aliás, a persistir assim seria melhor que o clube jogasse a toalha, libertando sua torcida de tamanho pesadelo.
Acena-se com uma saída remota, se der certo o projeto de formar jogadores desde a categoria juvenil, embora a concorrência nesse terreno seja grande, sem falar dos aliciamentos a peso de dólar. Até lá, se paliativo houver, decepção, tristeza, desencanto, desânimo, desesperança e raiva se tornarão sinônimos na amargura das derrotas.
"Temos muitas glórias, surgirão outras depois", escreveu Lamartine Babo no hino, época em que o América era uma força. Hoje, soa como deboche.

Achiiles Chirol é jornalista
profissional, registrado no Rio de Janeiro

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english version

THE AMERICA'S BLOOD

Deception?
Sadness?
Disenchant or depression?
Perhaps despair?
Or will be angry?

What goes perhaps by the fans' from America of Rio de Janeiro nerves nor themselves can define. It is, literally, the hedge of the cliff, that impotence feeling in the face of the proximity of the chaos.
In the last ten years the America entered in accelerated process of emptying. Successive absent administrations of the responsibility determined by the new directions of the professionalism took the club to a latent state of agony. It seems to just lack a light push so that the American soccer, author of so much glorious passages to in international fields, die once and for all.
The atmosphere was already of revolt. Now, it tends for the conformism. And it is not for less. The America suffered the first blow when it was smuggled of the first division of the Brazilian Championship. In protest sign, it preferred to stand back of the Championship to dispute the second division, that gives access to the first. It began the ostracism there in national level. That was not enough I last blow, during followed seasons the team formed by the directores - in the case, the technicians are victims and non joint authors - it lived of refuses and of players without ambition. Conclusion: only in the wheeled end of several Championships of Rio the club escaped from the lowering.
Who is not badly fan from America it can evaluate what means a permanent coexistence with the defeat and the failure. The fans are humiliated and offended. Still this year other blow happened. They made a ranking to divide the clubs that would compose the final phase of the State Championship and those that they would be enabled to the two remaining vacancies, through a competition preliminary round. Because it is not that him America was forgotten in benefit of Bangu and of the Americano, whose traditions nor they approach of the ones what it shows off the red devil? ?
And nor the suffering attenuated like this. Before same that the such phase preliminary round reached the end, America was eliminated. Now, it will have to dispute other tournament with the other out runners, tanning in the skin the menace of go stop in the second division of the State, him that already belongs the third division of the Country.
Worse of everything it is the comfort that it reserve to the fans of Botafogo, of Vasco, of the Flamengo and of the Fluminense. With sad faces, they lament the luck of America and they still declare it the " our second team ". Pure it debauches, cynicism that the American fan is forced to gobble among false smiles.
It is impossible to foresee when the humiliation will finish, if it is that will finish one day, before the club abandons the soccer. In fact, to persist it would be like this better than the club played the towel in the ring, freeing its fans of such big nightmare.
It is waived with a remote exit, if he/she gives right the project of forming players from the juvenile category, although the competition in that land is big. Up to that point, if palliative there is, deception, sadness, I disenchant, depression, discourages and rage will become synonymous in the bitterness of the defeats.
We " have a lot of glories, they will appear other then ", he/she wrote composer Lamartine Babo in the hymn, time in that the America was a force. Today, it sounds as it debauches.

Achiiles Chirol is a brazilian professional
journalist, registered in Rio de Janeiro

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