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EXCLUSIVO

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ENTREVISTA COM HAVELANGE

O carpete espesso das escadas do primeiro para o segundo
andar indica a aproximação do escritório de João Havelange. É uma sala pequena, de uns 3 metros por quatro com uma escrivaninha e uma pequena mesa de reunião. O mais bonito da sala é a vista para o lago de Zurique,pois a Fifa fica num bairro alto, a parte mais nobre dacidade. Pela primeira vez, ele parece ter tempo para uma entrevista, entre uma ordem e e outra à sua secretária e ao secretário-geral adjunto, Michel
Zen-Rufinen. Existe uma certa tensão ambiente, dias antes do Congresso da Fifa em Paris, que iria eleger Sepp Blatter seu sucessor. Depois de 24 anos de presidência, Havelange fala com certa nostalgia e emoção da volta para casa, do futuro do futebol, do conflito com Pelé, do anonimato que o espera. No dia 13 de julho passará no escritório pela última vez para recolher seus pertences e voltar para o Rio.


- Como era o futebol quando o Sr. assumiu a Fifa, em 1974?
- A Copa era disputada por 16 seleções e 32 jogos. Financeiramente, não
havia nem US 20 no cofre da Fifa e minha minha receita foi de US 78
milhões. Hoje temos a Copa com 32 equipes e receita de US 500 milhões
para esta Copa, de US 1,2 bilhão para 2002 e de US 1,8 bilhões para
2002. Estou deixando a Fifa com um patrimônio de mais de US 1,5 milhão e
US 4 bilhões em caixa.
- O segredo é administrar o futebol como uma empresa?
- Nós não podemos vir aqui para nos apaixonarmos por equipes ou
sistemas, nem para assistir belas partidas. Minha função aqui foi a de
administrador e acho que demonstrei que o Brasil também tem
administradores.
- Foi difícil?
- Nos primeiros anos foi muito difícil. Fui o primeiro presidente não
europeu e quando cheguei aqui me disseram que eu não ficaria seis meses
. Depois, disseram que eu não passaria de um mandato e agora estou
saindo por decisão minha tomada dois atrás, depuis de algumas noites mal
dormidas.
- O que o sr. deixou de fazer nesses anos todos?
- Gosto muito de arte e faz uns 20 anos que não vou ao cinema nem ao
teatro. Não vi meus netos crescerem e isso me entristesse. Por exemplo,
em maio de 75, quando meu neto completaria um ano, eu estava em Pequim
tentanto trazer a China de volta para a Fifa, após 25 anos de ausência
por causa da entrada de Taiwan na Fifa. Negociamos durante 5 anos e hoje
as duas seleções jogam entre si. O que a política não conseguiu o
futebol conseguiu harmonizar.
- Há outros exemplos em que futebol suplantou a política?
- Em 1975, ví a final da Copa da Ásia, em Teerã, em que o Irã ganhou de
1 a 0, percebí o que poderia ter acontecido se Israel ganhasse o jogo.
Para tentar evitar a repetição do drama das Olimpiadas de Munique, em
1972 (quando um comando palestino atacou a delegação israelense),
conseguimos negociar que Israel passasse da Confederação asiática para a
Oceania. Hoje Israel está na UEFA (europa) e nunca houve qualquer
incidente.
- E a Palestina?
- A entrada da Palestina na Fifa será homologada no Congresso de Paris e
essa é uma das minhas vitórias na presidência. Em 1994, o
vice-presidente Al Gore, vendo a Copa dos Estados Unidos, me perguntou
se não daria para fazer alguma coisa para aproximar israelenses e
palestinos pelo futebol, já que políticos e diplomatas não conseguiam.
Tive várias reuniões com dirigentes palestinos, três encontros agendados
com Yasser Arafat foram anulados por diversas razões mas vou encontrá-lo
brevemente na Arábia Saudita, com o acordo do príncipe Faisal, se o meu
sucessor me confiar essa missão. A idéia é organizar um jogo
Israel-Palestina em Nova York, sede da ONU, com a presença de
personalidades do mundo inteiro. Na preliminar jogariam Brasil-Estados
Unidos e essa seria a maior glória de minha vida.
- Quais os principais erros que o sr. cometeu à frente da Fifa?
- (hesitando) ... O que eu posso chamar de erro .... eu acho que
procurei de todas as maneiras mostrar que por trás de tudo isso eu
estava servindo ao meu país. Eu nao tenho tristezas, só alegrias. Erros,
é possível que eu tenha cometido mas nada que possa ter prejudicado
alguém ou agravado alguma situação.
- O desentendimento com Pelé não teria sido um desses erros?
- Primeiro, esse senhor não tem nada a ver com a Fifa. Foi um jogador de
futebol a quem eu daria nota 10, com louvor, e o resto eu não tenho que
fazer comentários porque ele teve posições fora da Fifa e fora do
futebol internacional. Eu apenas disse, quando quiz mudar a lei, que não
fizesse uma lei que pudesse empanar as relações com a Fifa, qualquer
coisa que fosse contra os estatutos da Fifa, apenas isso. Eu não nada a
dizer, ele fica na posição dele e eu continuo a reverenciá-lo como tendo
sido o maior jogador do século.
- A ONU tem 186 países-membros e a Fifa tem 203 associações afiliadas. A
globalização começou pelo futebol?
- Se eu pudesse dar um conselho: nunca procure um emprego dependente da
máquina, porque ela vai mudar e o sr. vai perder o emprego. Esse é um
dos problemas do mundo. No futebol, a máquina não pode jogar, nem
apitar, ser médico, técnico ou massagista. No mundo todo, 450 milhões de
pessoas vivem do futebol, direta ou indiretamente. Somadas as famílias,
são mais de 2 bilhões de pessoas, portanto, um-terço da humanidade está
ligada ao futebol e isso quando a grande preocupação é o desemprego.
- Porque uma super-potência como o Brasil não consegue organizar um bom
campeonato e os estádios estão vazios?
- Os estádios estão vazios porque a massa hoje não tem os meios que
tinha antigamente. Assim que a situação melhorar, esse problema será
superado. E mesmo com essa situação, conseguimos demonstrar a grande
qulidade de nosso futebol e, se isso ocorre, é porque clubes e
federações ainda têm condições de suprir a seleção brasileira.
- Porque a sucessão do sr. tem suscitado tanta polêmica ?
- Eu ainda sou considerado quase como um corpo estranho aqui porque ....
vim lá de baixo, da América do Sul. Mas esta uma eleição como outra
qualquer e o futebol apaixona ainda mais, portanto é natural que seja
assim.
- Como será o futebol no futuro?
- Cada vez mais dinâmico. Em 1974, um juiz corria 6 kms, em média, por
partida. Em 1994, 12 kms. O Brasil foi tri e tetra campeão, as duas
vezes contra a Itália e as duas vezes o professor Parreira estava na
comissão técnica. Perguntei a ele, em novembro de 94, qual das duas
seleções eram melhores, a de 70 ou a de 94. Ele me disse que a de 70
seria imbatível, se conseguisse jogar com a mesma velocidade do time de
94. E o futebol vai continua progredindo, elevando cada vez seu padrão
de qualidade, acompanhando a evolução técnica do mundo.
- O que falta fazer pelo futebol?
- Primeiro, os custos são uma necessidade e um dos problemas maiores
continua sendo a administração. Também é preciso continuar criando o
máximo de entusiasmo na juventude. A Fifa se associou a uma ONG chamada
SOS crianças, com sede na Austria, implantada em 128 países para
incentivar a prática do esporte e do futebol. Mantém convênio com
universidades para formar administradores. Criamos também um centro de
pesquisas médicas ligadas ao futebol e um centro de documentação
informatizado para acompanhar a evolução do esporte. E meu sucessor terá
certamente idéias mais avançadas.
- Convivendo há tanto tempo com grandes personalidades, como o sr. vai
se sentir no anonimato?
- O anonimato aos 82 anos não deve fazer mal a ninguém. Vou me reciclar
junto aos amigos e a família. Vou continuar a fazer o meu esporte
(natação) e viver no meu país os anos que me restam porque a coisa mais
preciosa que tenho é ter nascido no Brasil

 

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A ÚLTIMA VITÓRIA DO JOÃO

A eleição do suíço Joseph Blatter para a
presidência da Fifa é a última vitória do
brasileiro João Havelange. Depuis de 24 anos de
presidência, Havelange conseguiu portanto eleger
seu sucessor, o que fez um humorista afirmar hoje
na imprensa suíça que os suíços são melhores sem
bola no pé.
Blatter está na Fifa há 23 anos o que quer dizer
que haverá continuidade na gestão do futebol como
empresa, que gera globalmente mais recursos que
qualquer multinacional. Com a Copa atual, a Fifa
arrecadou 500 milhões de dólares, na de 2002
serão 1,2 bilhão e na de 2006 1,8 bi de dólares.
Havelange deixa a Fifa com 4 bilhões de dólares
em caixa. 
Mas Blatter também promete mudanças na Fifa. Diz
que quer integrar profissionais do futebol às
decisões, o que será provavelmente a função do
ex-jogador Michel Platini. Promete também profissionalizar os
árbitros e ajudar as
associações nacionais mais pobres a montar
centros de treinamento para jovens. Insiste ainda
que a Copa precisa ser organizada em todos os
continentes e que votará pela Africa em 2006. É
ver para crer e cobrar, se for preciso.

 

Claudinê Gonçalves é jornalista
da Rádio Suiça Internacional, em Berna

 

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