MODELOS DE SUBJETIVIDADE EM FREUD. DA CATARSE
A ABERTURA DE UM PASSADO IMPREVISIVEL.
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Nelson da Silva Junior(2)

A situação analítica é o instrumento clínico, a ferramenta da ação do analista, mas este instrumento é guiado pela sua escuta. Entre os componentes, por assim dizer, exteriores da escuta, que evidentemente é sempre recriada pelo inconsciente do analista, estão os modelos de patologia do psiquismo. A clínica analítica se transforma pelos novos modelos de patologia, e pelas técnicas que estes exigem. Segundo minha hipótese, é possível distinguir em Freud diferentes modelos de subjetividade precisamente a partir dos seus modelos de patologia. Estes modelos de subjetividade seriam de três tipos, diferenciáveis entre si a partir da relação entre patologia e identidade. O primeiro é um modelo fechado, marcado pela pressuposição de que a doença é uma ruptura da identidade do sujeito consigo mesmo, o segundo é um modelo homeostático, onde a doença é de certo modo constitutiva no sujeito, e a saúde a capacidade de manter a identidade, finalmente, e o terceiro é um modelo aberto, no qual a figura da imprevisibilidade marca a experiência do sujeito frente ao sofrimento de modo fundamental, e a noção de identidade não pode ser mais apontada como um critério de saúde.

Este último modelo está ligado ao advento da pulsão de morte. A partir da pulsão de morte, a negatividade e, mais precisamente, a força do negativo começa a se fazer presente na obra freudiana em vários âmbitos além da clínica. Suas hipóteses sobre a ética se radicalizam. Em relação à estética a psicanálise perde francamente seu ímpeto explicativo e novos avanços são possíveis sobre feminilidade, a partir da eficácia própria da ausência. Antes de prosseguir, e para que possamos avançar sem excesso de desentendimento, cabe retomar aqui algumas diferenças de sentido que afetam radicalmente as formas de compreender o termo " negatividade ".

Negatividade é um termo oriundo da filosofia hegeliana. Em Hegel, a negatividade é por assim dizer o motor do método dialético, pelo qual o espírito se transforma a partir do sensível. A cada certeza do espírito, uma verdade sensível se apresenta para negá-la. A cada tese, corresponde uma antítese, que a nega e desta negação surge uma síntese, que por sua vez se tornará uma nova tese. Este processo , que seria virtualmente infinito, é concebido por Hegel como sendo finito. Haveria um momento no qual o sensível não negaria mais o espiritual e onde o Espírito atingiria uma consiência absoluta de si. Neste momento apoteótico, acabaria a história.

Na filosofia contemporânea, o termo negatividade é retomado por Heidegger. Aqui, ele indica um caráter constitutivamente finito do Estar-aí, do Da-sein. Para Heidegger, o Dasein é uma forma de nomear o ser humano sem defini-lo a partir de seus atributos, como " animal racional ", " bípede implume " etc. O Dasein é " feito " apenas de suas possibilidades. Mas entre todas as possibilidades que encontra, a possibilidade da morte tem uma primazia: esta única possibilidade que limita todas as outras. Assim, há um traço fundamental nesta possibilidade, ela não é nem representável nem realizável. Diante desta possibilidade radical do não-mais-estar-aí, o Dasein nada pode fazer, ele não pode realizá-la. Até mesmo suicídio não a concretiza, pois quando a morte acontece, o Dasein deixa de existir. A morte se faz presente no mundo cotidiano apenas enquanto possibilidade, enquanto possibilidade da impossibilidade. Esta possibilidade irrealizável, ameaça contudo, de modo constitutivo o cotidiano do Dasein. A morte é a cada momento iminente apesar de imprevisível. A angústia sem nome que tudo ameaça é a voz desta possibilidade nadificante.

Assim percebemos que dois sentidos muito diferentes de negatividade podem ser assimilados pela psicanálise. Em Hegel, a negatividade era marcada por uma certa finalidade, a finalidade da realização de uma auto-consciência absoluta e também por uma certa previsibilidade, aquela que que a cada antítese, a cada negação da tese se seguiria uma nova e promissora síntese. Há um projeto implícito na negatividade hegeliana, o projeto do fim da história com a absorção de todo o sensível no Espírito absoluto. Em Heidegger, a negatividade é constitutiva, e precisamente mostra a finitude de todos os projetos humanos, acabando com a força das finalidades. A negatividade heideggeriana é imprevisível e portanto indomável, ela mostra o limite, a diferença entre a presença e a ausência como a verdade mais própria do homem. Será nesse último sentido que empregarei o termo doravante.

Apresentarei a seguir primeiramente três modelos de subjetividade em Freud, para em seguida refletir sobre algumas mudanças que a noção de pulsão de morte trouxe à escuta e, portanto, à clínica psicanalítica como um todo.

Para que se possa visualizar aqui o que entendo por subjetividade aberta, gostaria de retomar o profundo interesse que possui a obra de Fernando Pessoa na exploração do negativo, da ausência e do vazio enquanto elementos constitutivos do sujeito.

Com efeito, na obra de Pessoa a negatividade ocupa um lugar privilegiado de operador na experiência artística. A essência da literatura depende, segundo Pessoa, precisamente da inessencialidade. Inessencialidade tanto do artista quanto do leitor que experimenta a obra. O vazio, a ausência e a negação, são, em Pessoa, uma condição de toda e qualquer experiência literária. Não é coincidência o fato do poema mais conhecido de Pessoa ser também uma exposição hermética deste poder do negativo em sua obra. Trata-se do poema Autopsicografia (1/4/1931, um primeiro de abril, o que, como veremos, não parece ser mera coincidência...). Pessoa nele define os lugares do autor e do leitor a partir da dor sofrida por cada um deles. Que dor será esta? Vejamos:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

A dor é aqui nomeada, e não por acaso. Segundo Freud, ela é o sentimento egoísta por excelência, aquele que mais imperiosamente exige que nos dobremos sobre nós mesmos (3). Se o poeta finge sua própria dor, isso não pode querer dizer que ele deixa de senti-la com a força de seu fingimento. Diz tão somente que, independente da dor que sinta, deve, enquanto poeta, realizar uma tradução em palavras que evoquem no outro a dor. Se um ator, sentindo dor sobre o palco, agisse " naturalmente ", teria como resultado, provavelmente, uma péssima representação. A dor do poeta é uma forma de diferença de si consigo. Mais precisamente, diferença a partir da existência do outro. A partir de tal diferença, a partir de tal abertura em seu âmago, o poeta escreve-se enquanto outro, e para o outro. E nisto realiza uma verdadeira autopsicografia, talvez mesmo a única possível.

Mas o que acontece com o leitor? A segunda estrofe o indica:

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

No Livro do desassossego, Bernardo Soares, um semi-heterônimo de Pessoa, afirma que a " arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação ". Aqui Pessoa é explícito, trata-se definitivamente de alterar o leitor, trata-se de liberá-lo de si mesmo. Como este leitor deverá sentir doravante, não está dito. Trata-se apenas de fazê-lo sentir-se outro.

O propósito de liberar o leitor de si pressupõe que este está preso em si mesmo. Preso em apenas uma das dores do poeta, a dor real, aquela que deveras sente. Libertá-lo de si será então fazê-lo sentir a dor que não sente, fazê-lo sentir uma dor fingida. Toda a questão da alteração do leitor está aqui. Ao fingir sua própria dor, o leitor é projetado para fora de si. Finge para atingir um outro, e tranforma-se, portanto, igualmente em poeta. Esta conclusão é fundamental para entendermos a estética pessoana.

Dentro da estética pessoana portanto, o fingimento, a mentira, já não podem ser compreendidas enquanto faltas morais. Para o aspecto propriamente negativo da mentira e do fingimento, Pessoa reserva o termo " insinceridade " (4). Em oposição radical à Kant (5), por exemplo, a mentira é para Pessoa uma condição necessária do espaço social, a moeda neutra de todas as emoções.

O fingir do poeta é a prova de sua consideração pela diferença entre si mesmo e o outro. Diferença que seria um abismo intransponível pela mera expressão da verdade. A poética do fingimento supõe uma insuficiência fundamental da linguagem enquanto modo de comunicação entre as pessoas. Também supõe que não há outro modo, senão esta mesma linguagem.

" (...) a mentira, prossegue Bernardo Soares, é tão somente a noção da existência real dos outros e da necessidade de conformar a essa existência a nossa, que não se pode conformar a ela. A mentira é simplesmente a linguagem ideal da alma, pois, assim como nos servimos de palavras, que são sons articulados de uma maneira absurda, para em linguagem real traduzir os mais íntimos e sutis movimentos da emoção e do pensamento, que as palavras forçosamente não poderão nunca traduzir, assim nos servimos da mentira e da ficção para nos entendermos uns aos outros, o que com a verdade, própria e intransmissível, se nunca poderia fazer. A arte mente porque é social. ". (6)

A heteronímia, fenômeno literário de absoluta originalidade, criado por Pessoa, pode ser considerada sob o ângulo da Autopsicografia como um caso extremo do fingimento poético. O que é um heterônimo? Pessoa o define pelo método de criação empregado. A diferença entre uma obra pseudônima, diz Pessoa, (7) e uma obra heterônima é que a primeira é a obra de um autor exceto no nome que a assina, a segunda, aquela de um autor fora de sua pessoa. Para que surja um heterônimo não basta apenas que o poeta finja sua própria dor, é preciso que um outro fenômeno entre em jogo, uma forma extrema de despersonalização, onde " cada grupo de estados de alma mais aproximados insensivelmente se tornará um personagem, com estilo próprio, com sentimentos porventura diferentes, até opostos, aos típicos do poeta na sua pessoa viva. " (8) Só aqui haverá outrar-se, só aqui o poeta voará outro. Neste sentido, compreende-se que o neologismo outrar-se, seja por assim dizer, o método da heteronímia.

Não é todavia a lógica do outrar-se, imanente ao sistema heteronímico, mas sim a lógica do fingir poético que, segundo nossa hipótese, serve como um guia exemplar para a exploração da noção de subjetividade aberta no texto freudiano.

Transformações dos modelos de subjetividade na obra freudiana.

A discussão de uma " subjetividade com fundamento negativo " insere-se naquela dos modelos de patologia em psicanálise. Visando contextualizar o surgimento deste tipo subjetividade, dividimos a história dos modelos de patologia no discurso freudiano em três períodos. No primeiro a idéia de cura seguia o modelo de um reestabelecimento da condição anterior, onde haveria uma saúde originária na constituição da subjetividade. Tal período vai de 1893, com Estudos sobre a Histeria até 1905, com os Três ensaios sobre a sexualidade. Podemos dizer que este é o período do modelo fechado de subjetividade, onde o mal pode ser definitivamente banido do sujeito. O segundo período vai de 1905 até, do ponto de vista teórico 1920, com o texto Para além do Princípio de Prazer, e do ponto de vista concreto até 1932. Este seria o período do modelo homeostático de subjetividade, onde é possível uma estratégia com o mal. Neste segundo período, a idéia de uma saúde originária do sujeito é abandonada e a cura passa a ser compreendida como uma transformação interior ao patológico, transformação que permitiria ao analisando uma compreensão duradoura de si, e que agiria profilaticamente com respeito a novos sintomas. Finalmente, no terceiro período, que vai, em seus princípios básicos, de 1920 até o fim de sua obra, Freud reconsidera e acaba por refutar a capacidade profilática psicanálise. Este é o período do modelo aberto de subjetividade, onde a tragicidade se radicaliza de modo inédito no domínio subjetivo.

A diferença que fazemos acima, entre " ponto de vista teórico " e " ponto de vista concreto " exige uma explicação preliminar. Com efeito, a passagem do segundo para o terceiro período, se faz em duas etapas. Pois, apesar da conceitualização da pulsão de morte ter sido o momento de uma revolução teórica, até 1933, nas Novas Conferências de Introdução à Psicanálise, Freud afirma ainda a possibilidade profilática da psicanálise, o que é radicalmente inconciliável com o texto Para Além do Princípio do Prazer. Assim, os efeitos da pulsão de morte se fazem notar lentamente apenas, com transformações sutis em temas isolados, em etapas sucessivas, deslocadas no tempo e nos diferentes aspectos de uma obra complexa.

Examinemos o primeiro modelo, onde a cura implica no retorno da saúde perdida. Esta primeira versão da psicoterapia freudiana se inspira explicitamente na idéia aristotélica de catarse. O texto básico de tal modelo são os Estudos sobre a Histeria, publicado em conjunto por Freud e Breuer. Aristóteles considerava a catarse enquanto efeito e objetivo da tragédia, enquanto purificação e purgação dos sentimentos de terror e de piedade. Breuer e Freud generalizam o processo purgativo da catarse para outros tipos de sentimento. Neste momento, a hipótese psicanalítica para a origem do mal psicológico era fundamentalmente aquele de um trauma sexual, trauma sofrido durante a infância e posteriormente recalcado para fora da consciência do sujeito. O registro mnêmico deste trauma, uma vez banido da consciência, agiria como um " corpo estranho " no sistema psíquico, que assim como um corpo estranho, provocaria uma forma de exitação no interior do sujeito. Enquanto " corpos estranhos " dotados de intensa carga afetiva, as lembranças recalcadas do trauma seriam uma fonte constante de estimulação e irritação psíquica. O excesso desta energia seria transformável em ataques e outros sintomas corporais histéricos. Na catarse psicoterapêutica concebida por Freud e Breuer, o essencial era o retorno à consciência da lembrança recalcada, com a carga afetiva que se lhe correspondia. Tal processo tinha a pretenção de ser definitivo: uma vez expulso catarticamente, o mal estava erradicado para sempre.

Este processo pressupõe a possibilidade de uma recuperação da identidade perdida com a doença. O modelo de cura é aqui a inversão exata da hipótese etiológica suposta no trauma. Do ponto de vista espacial, a cura era entendida enquanto extirpação deste " corpo estranho ", enquanto expulsão do estrangeiro para fora e retorno da interioridade do sujeito à sua uniformidade inicial. O ponto de vista econômico da psicoterapia deveria também se conformar a uma simetria com o fator etiológico: se o corpo estranho era responsável por uma energia em excesso, a cura viria da purgação de tal intensidade afetiva. Etiologia e terapêutica obedecem assim a uma lei de simetrias. Com a expulsão do " corpo estranho ", a interioridade recupera-se enquanto interioridade; com a descarga de afetos, a energia psíquica volta ao seu estado de origem. Em ambos registros, a cura é sinônimo de recuperação da saúde perdida.

A primeira transformação radical deste modelo ocorre com a constatação de que as representações obtidas pelo processo de rememoração terapêutica não eram necessariamente constituídas por lembranças inconscientes, mas poderiam ser também resultado de fantasias sexuais inconscientes. Tal constatação destruiu a hegemonia da teoria traumática da neurose, a qual contudo nunca foi completamente abandonada por Freud. Contudo, grandes reformulações foram necessárias para acolher as formas aparentemente espontâneas da neurose, isto é, casos onde, sem qualquer traço de uma vivência traumática, a origem do fator etiológico só poderia ser o próprio sujeito. Assim, a origem desta perturbação não é mais considerada por Freud como algo exclusivamente alheio à constituição do psiquismo. Com efeito, as duas facetas do trauma, a representação da experiência traumática e sua perturbação econômica, ambas originariamente alheias ao sujeito, se desdobram na teoria freudiana em dois conceitos que lhes são correlatos: as fantasias e as pulsões. Assim, é enquanto correlatos interiores ao trauma que Freud concebe tanto a teoria das fantasias, quanto aquela das pulsões: as fantasias de sedução, tal como as lembranças traumáticas, são representações de realização de desejos incompatíveis com a consciência, e as pulsões são perturbações econômicas interiores à subjetividade, exercendo, portanto a mesma excitação atribuída ao trauma sexual na primeira teoria. Vemos assim que, apesar de ter suas bases abaladas, os elementos essenciais do modelo traumático se mantêm em suas linhas gerais.

Nos Três Ensaios Sobre a Sexualidade (1905) Freud define a pulsão enquanto excitação interna do psiquismo, excitação calcada sobre as funções fisiológicas, como o comer, defecar, urinar. Vemos assim que, com o abandono parcial da teoria do trauma, o corpo deixa de ser uma vítima do trauma para se tornar seu agente. A grande diferença é que o corpo é um agente traumático do qual não se pode fugir. Com efeito, na segunda grande teorização freudiana das pulsões, no texto As pulsões e seus destinos (1914), estas recebem justamente esta definição: uma excitação da qual não se pode fugir.

No que diz respeito à terapêutica, o advento dos dois correlatos interiores do trauma trazem à condição neurótica um caráter constitutivo e incontornável, mas o mal é ainda conciliável com a saúde, como veremos adiante. Constata-se com facilidade que textos técnicos desta época perdem francamente o otimismo terapêutico e a radicalidade cirúrgica presentes nos Estudos sobre a Histeria. Em Recordar, Repetir, Perlaborar (1914), já se encontram claramente colocados os limites terapêuticos da catarse. A expressão emocionada de uma vivência relutantemente aceita já não basta para anular o poder nefasto das cenas patogênicas. O processo psicanalítico perde a linearidade do seu início, e passa a implicar uma espécie trabalho reticular e exaustivo, cuja eficácia depende da amplidão das paisagens psíquicas percorridas.

Aqui se encontra provavelmente, o mais revolucionário deste texto, a saber o que poderíamos chamar da " primeira absolvição " da repetição: de puro sintoma, a repetição torna-se, sob a forma da transferência, uma arma verdadeiramente terapêutica, precisamente a mais poderosa arma da psicanálise. De fato, Freud conceitualiza aqui um novo aspecto da transferência, isto é a transferência deixa de ser apenas resistência às associações livres para tornar-se uma possibilidade privilegiada de ação no inconsciente.

A repetição transferencial é sem qualquer dúvida uma repetição patológica, mas trata-se de um tipo particular de patologia. Em que consiste tal particularidade? A neurose de transferência, diz Freud em 1914, é uma doença artificial: " eine artifizielle Krankheit " (9). Em pouco tempo (1916-7), a neurose de transferência será denominada de " neurose artística " " eine künstliche Neurose " (10). O adjetivo alemão vem de Kunst, arte. Mas tal como o termo latino, Kunst se refere igualmente ao que é artificialmente criado. Künstlich é o produto do homem enquanto resultado de seu trabalho. Assim a transferência é uma neurose artificial, e não somente no sentido de uma neurose artística, mas sobretudo no que se refere a sua origem: ela é produto do fazer humano.

Temos aqui um processo evidentemente análogo à estética pessoana. Ao transformar o leitor em poeta, o poeta altera este último em sua essência. Pois, o leitor passa a sentir uma dor até então jamais sentida: a dor fingida. Na transferência, por sua vez, o paciente sofre de uma patologia artificial que altera, mas que não faz desaparecer a doença. De certo modo, o caráter artificial da transferência é análogo àquele da dor fingida do leitor de Pessoa. Pessoa via no fingimento um modo privilegiado da consideração pela alteridade do outro. Seria a neurose artificial, não uma dor, mas sim uma expressão de dor? Expressão de dor, pois essencialmente dirigida à alguém?

O fato dos sintomas poderem se deslocar do cotidiano para as sessões junto ao analista implica numa transformabilidade específica das formações inconscientes. Ao se deslocarem para as relações com o analista, os sintomas tomam, com ou sem razão, este último como seu interlocutor. De fato, será precisamente a alteridade do analista o elemento privilegiado capaz de catalizar estas transformações. Cabe então uma interrogação fundamental. Se são capazes de se transformarem em transferência, os sintomas não teriam sido desde sempre dirigidos a alguém? Com efeito, Pierre Fédida sugere em psicanálise a figura de um interlocutor do sintoma, alteridade pré-transferencial à qual o sintoma estaria originariamente dirigido (11). Sob o ponto de vista de tal figura teórica, qualquer sintoma seria fundamentalmente uma dor fingida, no sentido de ser desde a origem, uma dor dirigida a um interlocutor ausente. Sabidamente, uma vez instalada a transferência, um processo analítico se constitui pelas separações mínimas que o analisando possa fazer entre seu analista e o interlocutor ausente de suas repetições. Entretanto, a figura de um interlocutor do sintoma, se for representada pelo analista, perderá sua potencialidade analítica. De certo modo, ela funciona apenas no registro do desconhecimento, e sua eficácia depende de sua obscuridade nas representações do analista.

Em 1920, a teoria das pulsões sofre uma revolução teórica. Freud redefine o conceito de pulsão a partir da idéia de repetição. Uma pulsão passa a ser então simplesmente a tendência de retorno à uma situação anterior (12). A radicalidade de tal redefinição não está contudo na idéia de retorno. A radicalidade vem aqui do que Freud entende por "situação anterior ". Trata-se de qualquer situação, e no caso do ser vivo, inclusive aquela da inorganicidade. A pulsão de morte será assim definida como um caso espetacular de tentativa retorno: a tendência do ser vivo a retornar ao estado anterior de sua existência (13).

Se a compreensão da transferência implicava numa inquietante concepção de subjetividade a partir da noção de neurose artificial, vemos agora que a pulsão de morte radicalisa este caráter inquietante a partir da noção de vazio como origem. Com efeito, sendo a pulsão de morte uma pulsão sem representação, podemos considerar a nova versão freudiana da subjetividade como uma subjetividade aberta em seus fundamentos. Com a pulsão de morte, Freud atribui uma eficácia própria a um nada que se coloca além das representações. Esta eficácia do negativo é ainda mais fundamental que a eficácia do desejo, vigente no interior do princípio de prazer, e essencialmente ligada à busca de uma representação.

A abertura do modelo freudiano de aparelho psíquico se define, em nossa hipótese, por oposição ao fechamento do modelo identitário. Como vimos, o modelo identitário imperou tanto na teoria traumática da histeria, quanto na primeira teoria pulsional. Havia, no primeiro caso, uma identidade a ser recuperada, e no segundo, uma identidade a ser mantida. A pulsão de morte, enquanto eficácia do inexistente, enquanto atração vinda do nada, rompe com o princípio de identidade enquanto fundamento do modelo de aparelho psíquico. Mas, como dissemos, os efeitos concretos da pulsão de morte tardarão a se fazer presentes noutros aspectos da teoria freudiana.

São basicamente três as grandes linhas de desenvolvimento freudianas influenciadas pelas teses do Além do Princípio de Prazer: 1.o desenvolvimento da teoria da sexualidade feminina; 2. a teoria etiológica das neuroses 3. as interpretações da cultura. O desenvolvimento da teoria da sexualidade feminina por exemplo, tem relações extremamente interessantes com o advento da pulsão de morte, apesar de ser difícil demostrar como esta última seria um pressusposto do avanço de Freud no campo da feminilidade. Entretanto, uma revisão da ética psicanalítica é importante pois foi nas interpretações da cultura que Freud mais claramente explorou os destinos da pulsão de morte.

Retornemos ao que nos ocupa hoje, a saber, domínio de influência das teses do Além do Princípio do Prazer, na questão dos modelos de etiologia e do tratamento das neuroses. É interessante notar que se, por um lado, as interpretações freudianas da civilização assimilam rapidamente e em toda sua tragicidade a pulsão de morte, por outro lado, tal tragicidade é mantida à distância da confiança de Freud nos aspectos benéficos de uma análise individual. Será apenas nos dois últimos textos ditos " técnicos ", Análise terminável e análise interminável e Construções na análise, que encontramos uma mudança essencial no que se refere ao otimismo da psicanálise em relação ao patológico.

Até 1917, os efeitos do trabalho analítico eram duradouros: " Através do vencimento das resistências internas, diz Freud, a vida anímica do paciente se vê duradouramente alterada, é elevada a uma etapa superior do desenvolvimento e permanece protegida contra novas possibilidades de adoecimento. "(14)

Uma mudança começa insidiosamente a aparecer em 1933, quando, nas Novas conferências, a redução da eficácia terapêutica da psicanálise aparece ligada à nova importância que o fator econômico toma no modelo de aparelho psíquico (15). Assim, Freud indica que o máximo da eficácia terapêutica da psicanálise limita-se aos casos onde os fatores traumáticos são mais importantes que os fatores constituicionais da neurose (16). Diante dos distúrbios de excesso ou de falta do fator econômico, o método analítico começa a se apresentar, para Freud, como tendo poderes limitados. O fator econômico adquire aqui o caráter de um limite da terapia analítica diante do qual, talvez para o desagrado de muitos, Freud chega até mesmo a mencionar sua esperança nos avanços da investigação dos efeitos hormonais (17).

Hoje a psicofarmacologia é uma aquisição incontestável na psicoterapia dos distúrbios psíquicos. A experiência atual demonstra que a reincidência dos sintomas não é rara e a solução de apoio, representada pelo trabalho intercorrente e conjunto do psiquiatra e do analista, se apresenta ainda como a melhor solução para os casos ditos difíceis. Entretanto, apesar das conquistas desta área, não podemos ainda considerar como termináveis as análises de casos onde o fator constitucional é importante. Qual seria a razão disto?

Creio que podemos respondê-lo ao considerar que, apesar de seus óbvios interesses terapêuticos adaptativos, a psicanálise elege seus próprios critérios do que é doença e do que é saúde. Quais são estes critérios? Uma análise é terminável, do ponto de vista metapsicológico sob as seguintes condições: 1. se um conflito entre as pulsões e o Ego for eliminável de modo definitivo ou não; 2. se a resolução de um conflito tiver um efeito profilático sobre outros conflitos; 3. se uma psicanálise puder trazer à tona conflitos não presentes.(18)

São assim critérios exclusivamente interiores ao processo analítico aqueles de uma cura. Freud, critica, nesse sentido, a atitude de atribuir a neurose a fatores etiológicos inespecíficos como o excesso de trabalho, o efeito de choque, etc.. " A saúde, acrescenta, só pode ser descrita em termos metapsicológicos com referência a relações de força entre as instâncias do aparelho psíquico que nós reconhecemos, ou, se se quizer, supusemos ou deduzimos".(19) A conclusão é clara: há uma diferença entre uma cura latu sensu, com o critério de adaptabilidade à vida cotidiana, e uma cura strictu sensu, com critérios exclusivamente analíticos. Estes critérios descrevem a saúde enquanto equilíbrio relativo de forças entre o ego e o Id. Tal equilíbrio entre as instâncias é, segundo Freud, a única definição possível de saúde, e ele pode ser perturbado por diversas razões, como por exemplo, novos traumas, frustrações irremediáveis da libido, influências colaterais entre as pulsões, irrupção das pulsões em certos períodos da vida, etc. "O resultado é sempre o mesmo, e confirma o poder irresistível do fator quantitativo na causalidade da doença. " (20)

A respeito a importância do fator econômico, devemos notar que, desde o modelo catártico, este registro tinha um papel fundamental. Entretanto, as formas de funcionamento deste registro se transformam no discurso freudiano. No primeiro modelo de patologia sua eficácia estava ligada à idéia de expulsão do excesso, que tinha pretensões de ser definitiva. No segundo momento o registro econômico muda a face de sua eficácia, quando a pulsão se torna uma fonte interna e constante de excitação. Nos textos finais de Freud, a primazia do registro econômico apresenta-se de um terceiro modo: ele é o modelo de uma relação de forças (21). A diferença desta última versão da importância do fator econômico, é a presença da figura do equlíbrio. O modelo do equilíbíbrio traz à saúde uma instabilidade radical, susceptível de se perder a qualquer momento. Diante de tal imprevisibilidade, a análise é virtualmente interminável. O que nos interessa aqui é a idéia subjacente de sujeito, isto é o modelo implícido de subjetividade. Com a figura do equilíbrio enquanto traço fundamental do registro econômico, o modelo freudiano de subjetividade adquire uma imprevisibilidade essencial. Podemos falar assim de um modelo de subjetividade aberta no sentido de uma iminência futura do que deve ser analisado.

Mas a subjetividade aberta o é também em relação ao passado. Vejamos como se apresenta a abertura para um passado imprevisível através do texto Construções em psicanálise.

De fato, este novo e último modelo de subjetividade tem consequências no domínio da técnica analítica. Freud introduz aqui a noção de construção enquanto substituto da noção de interpretação: " A razão pela qual se ouve falar tão pouco de construções  nos relatos de técnica analítica é que, em lugar destas, se fala de interpretações  e suas consequências. Mas, em minha opinião, o termo construção é muito mais apropriado. " (22)

Qual o motivo de tal preferência neste momento da obra freudiana? Em que sentido a construção coincide com o novo modelo de subjetividade aberta? Basicamente em dois pontos. Pelo fato da construção ser um trabalho preliminar, e, enquanto tal, ser essencialmente fragmentária. Abordemos contudo a questão das construções tal como Freud a apresenta.

Para falar da construção, Freud retoma a conhecida analogia entre o trabalho do analista e o trabalho do arqueólogo. Ambos devem reconstuir algo destruído do passado a partir de indícios e de restos. Aqui, contudo, o mais importante da analogia freudiana é o momento em que ela encontra seu limite, e onde o trabalho analítico se afirma enquanto um modo autônomo de investigação, com suas regras, meios e objetivos próprios.

Assim a construção analítica tem, segundo Freud, a " desvantagem " frente à construção arqueológica de não saber o que deve construir. Para sabê-lo, o analista depende totalmente da confirmação do paciente, que pode ou não ser suscitada pela construção. A construção supõe assim teoricamente a recordação, eis porque a construção é fundamentalmente preliminar.

A partir deste caráter preliminar, a construção se apresenta como essencialmente fragmentária no discurso freudiano (23). " O analista, diz Freud, realiza um fragmento de construção e o comunica ao paciente para que este [fragmento] aja sobre ele. Com ajuda do novo material que aflui, ele constrói um novo fragmento, que utiliza da mesma forma, e assim por diante até o fim. " (24)

Enquanto fragmentária, a intervenção do analista se torna virtualmente interminável. De fato, " apenas a continuidade da análise, escreve Freud, pode decidir sobre a correção ou a inutilidade de nossa construção " (25). Consideramos o caráter essencialmente fragmentário, e portanto interminável, de uma construção como um correlato técnico do modelo aberto de subjetividade. Contudo, ainda no interior do registro clínico, encontramos um outro efeito da abertura fundamental da subjetividade. Desda vez, encontramo-lo do lado do paciente, particularmente no que se refere aos efeitos da construção na sua história individual.

Se a construção for inadequada, nada ocorre, sendo limitada a eficácia sugestiva do analista. Se adequada, seus efeitos ocorrem tanto numa forma negativa, provocando uma resposta do tipo " nisto nunca pensei (teria pensado) ", quanto numa forma positiva, onde uma associação traz algo semelhante ou análogo à construção. As vezes é um ato falho que responde pelo paciente. Finalmente, uma reação terapêutica negativa (sentimento de culpa, necessidade masoquista de sofrimento) pode também ter valor afirmativo de uma construção. (26) Haveria assim, segundo Freud, diferentes tipos de confirmação de construção, mas todos são indiretos.

Isto é equivalente a dizer que o paciente não pode lembrar-se totalmente da própria história, nem dizê-la definitivamente. Assim nem o analista pode construí-la, nem o paciente pode apoderar-se inteiramente da verdade histórica. Tal verdade histórica é em si mesma uma criação do inconsciente durante o processo analítico. Enquanto criação pelo processo analítico, a historicidade do sujeito freudiano é essencialmente não um dado concreto, mas sim um produto do sentido. Diferentemente da historiografia material, a historicidade psicanalítica em seu último modelo de subjetividade funda-se em sua abertura iminente para um passado imprevisível. Assim, podemos dizer que a alteração do outro em análise é uma possibilidade imprevisível e, sobretudo, indomável. Durante a situação analítica, a finalidade é cuidar desta abertura, isto é, conservar aberta a possibilidade de trasformação imprevisível dos sentidos do cotidiano e do destino. O destino e o cotidiano podem, e devem, numa cura analítica, ser abertos a transformações imprevisíveis.

A estética pessoana supõe uma alterabilidade do outro em sua essência discursiva. Este é o traço em comum entre a estética pessoana e a última versão freudiana do que seria uma " cura psicanalítica ". Em Pessoa encontramos como base do acontecimento estético a transformabilidade do leitor em poeta. Seguindo o último Freud, a alteração do paciente em psicanálise implicaria numa disponibilidade iminente para a análise. Seria isto equivalente a tornar-se analista? Construir a própria história enquanto mero fragmento, sem pretenção à certeza, arriscando a presença do incerto no próprio passado, é certamente uma condição da formação do analista. Entretanto, para além desta finalidade, a historicidade do inconsciente representa um momento de transformação da cultura pela psicanálise. Não se trata mais de efeito terapêutico, mas sim cena do discurso, com suas regras e leis próprias, cena que se inscreve na cultura deste século, ao abrir o " romance subjetivo " para novas possibilidades narrativas.

Nelson da Silva Junior
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NOTAS

Trabalho que retoma , com algumas modificações, o capítulo " Modelos de Subjetividade em Fernando Pessoa e Freud. Da catarse à abertura de um passado imprevisível " publicado in : Pereira, M.E. C. (org.) , Leituras da Psicanálise. Estéticas da Exclusão. Campinas S.P ; ALB_ Mercado das Letras 1998, 119-146.

NELSON DA SILVA JUNIOR , Doutor pela Universidade Paris VII, Professor do Curso de Psicanálise do Istituto Sedes Sapientiae, Professor Convidado da Pós-Graduação do Instituto de Psicologia da USP. Trabalho realizado com auxílio da FAPESP Processo n° : 97/07008-2. Uma versão ampliada deste trabalho foi publicada in Pereira, M.E. ; Leituras da Psicanálise. Estéticas da exclusão Mercado de Letras Campinas, 1998.

Freud comenta o fenômeno em questão nas páginas iniciais do texto " Por uma introdução ao narcisismo " (1914). Freud, S., Zur Einführung des Narzißmus, 1914 Studienausgabe (SA) Band III: Psychologie des Unbewußten, Fischer Taschenbuch Verlag,Frankfurt am Main, GW, Bd. 10, SE, vol. 14, traduction française (par Denise Berger et Jean Laplanche) Pour introduire le narcissisme, in: La vie sexuelle, P.U.F.(1969) 1973.

" qualifico de insinceras todas as coisas feitas apenas para pasmar, onde não passe o mistério essencial da vida " Carta a Armando Cortês Rodrigues du 19 janvier 1915, in: Blanco, José; Pessoa en Personne. Lettres et documents; traduction française par Simone Biberfeld, Editions de la Différence, 1986,p. 145

Kant, I., Sobre um suposto direito de mentir por amor à humanidade. in: Textos Seletos, Edição bilíngue, tradução de Floriano da Souza Frenandes. Ed. Vozes. segunda edição, 1985, Petrópolis.

Pessoa, F. LD. vol. I, p. 134.

Pessoa, F., Obra poética e em prosa, Três Vols. Lello e Irmãos, Porto 1986. ( O.P.P.) vol. III. p. 1424.

Pessoa, F. " Ficções do Interlúdio. Nota preliminar " Obra Poética, Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1983.p 132.

Freud, S., Erinnern, Wiederholen und Durcharbeiten. 1914. SA Vol. XI, p. 214.

Freud, S.; Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse, 28, Die analytische Therapie¸ 1917, SA, vol. I., p..436-7.

Fédida, P. " Structure théorique du symptôme. L'interlocuteur. " In: Crise et contre-transfert, Presses Universitaires de France Paris, 1992, p.257.

Freud, Sigmund, Jenseits des Lustprinzips SA, vol. III, p. 246.

Ibidem, p. 248.

Freud, S.; Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse, 28, Die analytische Therapie¸ op. cit. p.433.

Freud, S.; Neue Folge der Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse. 34, Aufklärungen, Anwendungen, Orientierungen. 1932 SA, vol. I. p. 578, 582. Ver a esse respeito, entre outros do mesmo autor Birman, J. " Pulsão e intersubjetividade na interpretação psicanalítica. Uma leitura da concepção freudiana de sujeito e da metapsicologia " in Ensaios de Teoria Psicanalítica; Parte 1. metapsicologia, pulsão, linguagem, inconsciente e sexualidade. Jorge Zahar EditorRio de Janeiro. 1993.

Freud, S. Die endliche und die unendliche Analyse. 1937 SA Vol. XI, p. 36 1 e ss.

Freud, S.; Neue Folge der Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse. 34, Aufklärungen, Anwendengen, Orientierungen. 1932 SA, vol. I.p.583.

Freud, S. Die endliche und die unendliche Analyse. 1937 SA Vol. XI, p. 364

Ibidem, p. 366.

Ibidem, p. 367.

Freud, S.; Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse,23, Die Wege der Symptombildung, SA, vol. I., p. 350; Freud, S.; Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse, 28, Die analytische Therapie¸ 1917, SA, vol. I., p.437. Freud, S; Die Frage der Layenanalyse 1926, SA, vol. XI, p. 333.

Freud, S.; Konstruktionen in der Analyse, 1937, Studienausgabe, Fischer Taschenbuch Verlag, vol. XI, p. 398.

Ibidem, p. 400.

Ibidem, p. 398.

Ibidem, p. 402.

Ibidem, p. 401-2.


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