DOM FRANCISCO MANUEL DE MELO

(1608-1666)


1) Quando se vê do mal o que se não via dantes

Se como haveis tardado, desenganos,
Vindes hoje de novo apercebidos;
A troco de vos ver tão prevenidos,
Dou-vos por bem tardados tantos anos.

Tardastes; e entretanto estes tiranos
Casos d'amor roubaram-me os sentidos;
Se alcançá-los quereis, bem que são idos,
Buscai-os pelo rastro dos meus danos.

Oh segui-os, prendei-os; porque logo
Teme que foge, quem procura, alcança,
Pois é peso o temor, o gosto é vento.

E, para quando os alcanceis, vos rogo,
Não que façais me tornem a esperança,
Mas que sequer me deixem o escarmento.


2) Em dia de Cinza, sobre as palavras: "Quia pulvis es".

Melhor há de mil anos que me grita
Ua voz, que me diz: "És pó da terra!"
Melhor há de mil anos que a desterra
Um sono que esta voz desacredita.

Diz-me o pó que sou pó, e a crer me incita
Que é vento quanto neste pó se encerra;
Diz-me outro vento que esse pó vil erra...
Qual destes a verdade solicita?

Pois, se mente este pó, que foi do mundo?
Que é do gosto? Que é do ócio? Que é da idade?
Que é do vigor constante e amor jocundo?

Que é da velhice? Que é da mocidade?
Tragou-me a vida inteira o mar profundo!
Ora quem diz: - "sou pó" - falou verdade.


Ritornare alla pagina precedente.
Volver a la página precedente.
Back to the previous page.
Retour à la page précédente.
Voltar à página anterior.



Leia textos do papa Bento XVI traduzidos pela primeira vez ao português. Clique aqui.


Free Homepage by Geocities