Momentos mágicos no Palácio das Artes
Huascar Terra do Valle
. (Advogado e escritor, filho do compositor Flausino Valle)P
ara os não iniciados, um concerto de música clássica é uma chatice. No entanto, no último dia 5 de abril o violinista brasileiro, nascido na Polônia, Jerzy Milewski, inovou, e foi aplaudido de pé, freneticamente, pela audiência da Sala Juvenal Dias, no Palácio das Artes, com sala cheia, até com ouvinte de pé.Mais que um concerto, foi um show. Iniciou-se com um dueto de piano e cavaquinho. No piano a extraordinária pianista Aleida Schweitzer, brasileira de Santa Catarina, formada na Holanda e na Polônia, esposa do maestro Milewski. No cavaquinho, o genial José Paulo Miranda ultrapassou todas as expectativas. O público os aplaudiu entusiasticamente,
Em seguida, surgindo, como por encanto, por trás do piano, entra o maestro Milewski interpretando "Ao Pé da Fogueira", do violinista e compositor mineiro Flausino Vale. Após aplausos entusiásticos e gritos de "bravo", o maestro Milewski intercalou no programa comentários bem humorados de como nasceu sua paixão pelas composições de Flausino Vale. Estas composições já foram tocadas e gravadas pelos maiores virtuosos do mundo, tal como Jascha Heifetz, Zino Francescatti, William Primrose, Henrik Szering e outros.
O ponto alto do show foi uma belíssima composição de Flausino Vale, Serenata Onírica, que arrancou entusiásticos aplausos da platéia.
Em Belo Horizonte Flausino Vale continua desconhecido e desprezado, e um busto seu está abandonado nos cafundós do Parque Municipal, servindo apenas de poleiro para pombos. Mesmo na Escola de Música, onde ele foi professor por muitos anos, continua um desconhecido. A Escola de Música nem possui suas partituras e suas composições não são adotadas no currículo escolar.
Ainda na Polônia, antes de vir para o Brasil, o maestro Milewski encantou-se com Flausino Vale e, depois de muitas peripécias para conseguir sair do país, ainda sob a ditadura comunista, casou-se com a pianista Schweitzer. Mudou-se para o Brasil e conseguiu outras partituras de Flausino Vale, tendo realizado um belíssimo CD com 21 prelúdios do compositor mineiro. Já tocou as composições de Flausino Vale no Canadá, no Alasca, na Escandinávia, em Israel e em New Delhi, na Índia, onde os ouvintes, após ouvirem a Serenata Onírica, de Flausino Vale, invadiram o palco e beijaram seus pés.
No concerto, que foi uma comemoração aos 47 anos de falecimento de Flausino Vale, Milewski também tocou várias composições de autores poloneses, como Wieniawski, Paderewski, Grazyna Acewicz, além de peças de Tom Jobim, Zequinha de Abreu e Jacob do Bandolin, realizando um congraçamento musical Brasil-Polônia, dois países tão diferentes, porém que se unem na música.
O maestro não economizou encômios ao compositor mineiro e comentou, com muito humor que, hoje em dia, ao se ligar a televisão, só se vê bundas e danças da garrafinha e da popozuda. Se tivéssemos menos bunda na televisão e mais Flausino Vale, disse ele, teríamos menos drogas, menos violência e mais educação.
Terminando, o maestro Milewski, acompanhado da pianista Schweitzer e do genial José Paulo Miranda, apresentaram dois arranjos maravilhosos dos famosos Tico-Tico no Fubá e Brasileirinho, que foram aplaudidos de pé pela seleta audiência, que contava ainda com a presença de Embaixador geral da Polônia no Brasil, do Consul da Polônia em São Paulo e do cônsul honorário da Polônia em Belo Horizonte.