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MARVIN GAYE
Alexandre Matias

Marvin Gaye estava nervoso. Não queria fazer a turnê para a Inglaterra que seu empresário, Stephen Hill, queria que ele fizesse. A única vez que havia ido ao Reino Unido fora em 1964, quando se apresentou ao lado das novas estrelas da gravadora Motown em programas de televisão. Não gostou da recepção do público, se sentiu tratado como um bicho e nunca mais pôs os pés por lá. Ir para a Inglaterra significava viajar de avião, outro pavor de Gaye. Fazer shows também nunca havia despertado paixão em Marvin, que, mesmo dando shows de altíssimo nível, preferia gastar seu talento à procura da perfeição em estúdio.

Mas a época não ia bem para o soul funky do cantor. A disco music passava como um trator por cima de qualquer outra tentativa de se fazer black music e até os brancos estavam entrando nessa. Hill percebeu que era a hora correta de levar seu artista para o velho continente, onde sempre vendera bem e fora bem aceito pela crítica. A ida de Marvin Gaye à Inglaterra em 1976 foi saudada com êxito por seus fãs mais fervorosos. Mas o próprio Marvin só teve certeza quando pôs os pés no palco do Palladium em Londres, no dia 3 de outubro.

Em suas primeiras demonstrações de carinho para com o público, Marvin percebeu que este era adorável e respeitoso, diferente das adolescentes histéricas de sua última visita. Aplaudindo polidamente, a platéia tratou Gaye como um autor musical que veio desfilar suas canções. Empolgado com a recepção aos poucos foi moldando o repertório e tocando praticamente todos seus hits, oportunidade única em sua carreira, uma vez que era famoso por não tocar velhas canções em shows.

Na maior parte da noite, Gaye dedicou-se à sua especialidade:  canções de amor derretidas como manteiga quente, sexocantado em forma de soul music e neste assunto ele é imbatível. Come Get to This, Let's Get it On (êxtase carnal, numa versão imortal), Distant Lover, I Want You e All the Way 'Round são perfeitas para reatar casos passados. Mas a noite não explorou só o lado sexual de Gaye. Em vários medleys, ele visitou momentos chave de sua carreira, tirando onda com a própria importância. Desde seus primeiros hits (Hitch Hike, Too Busy Thinking About My Baby, Ain't That Peculiar, You, Stubborn Kind of Fellow, How Sweet is to Be Loved by You) e seus clássicos soul funk, fundindo consciência negra com paz de espírito (Pride and Joy, God is Love, Trouble Man, Save the Children, What's Going On, Inner City Blues), o show passa por todas as fases da carreira do mestre. Seus clássicos duetos com as estrelas da Motown (Diana Ross, Kim Weston e, claro, Tami Terrell) são visitados através da voz da excelente Florence Lyles. Temos, de uma vez só, You're All I Need to Get By, Ain't Nothing Like the Real Thing, Your Precious Love, It Takes Two e Ain't no Mountain High Enough.

Ouvimos Gaye em sua melhor forma, longe do rapaz de voz mansa e firme que encantou a todos e tornou-se o príncipe musical e consciência de sua geração. Aqui ele é puro sentimento, o suor escorrendo no rosto barbado enquanto se entrega de corpo e alma ao microfone, derretendo-se aos ouvidos do público. Seu misto de soul e funk é tomado pela energia apaixonada que só Gaye transmitia em suas melhores performances.

Ouvindo o resultado da gravação, o cantor ficou convencido que deveria lançar o show inteiro. Só que o tempo do show era menor que um disco duplo e maior que um disco simples. Gaye teria duas opções: ou cortaria um terço da apresentação em Londres fora ou compunha pelo menos duas novas canções para completar o tempo mínimo de um disco duplo.

Um dia, numa jam ao teclado com o baterista Bugsy Wilcox, Marvin começou a improvisar um vocal e o engenheiro de som Art Stewart teve a idéia de transformar aquilo numa espécie de festa. Com a voz em falsete e som ambiente, Marvin Gaye gravou os quase 12 minutos de Got to Give It Up que completaram o tempo restante.

Lançado, o disco Live at the London Palladium (que a Universal está relançando no Brasil) fez sucesso justamente com Got to Give It Up, que acertou em cheio as paradas da disco music (ironicamente, a música fala da vergonha que Marvin sente ao dançar) e ajudou a recuperar a carreira do compositor, que vinha caindo no gueto das baladas, colocando-o no topo das paradas. Não preciso nem dizer que é um discaço, preciso?

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