01.02.0 0- t u d o c o m e ç a a q u i - a n o z e r o @ y a h o o . c o m |
![]() ENCONTRANDO-SE EM SI MESMO Alexandre Matias Depois de uma década praticamente calado, Lobão volta à luz do dia. Saiu dos anos 80 com a sensação de ter sido roubado, sendo usado mais como comentarista social do que como artista que é. Decidiu abandonar o rock depois de perceber que este se tornava retrógrado e dedicou-se à MPB. Mas percebeu que esta é igualmente retroativa e depois de gritar solitário em dois discos que, por má distribuição, foram ouvidos por poucas pessoas (Nostalgia da Modernidade, de 95, e A Noite, de 97), o velho lobo encontra-se em A Vida é Doce (Mid). Lançado em bancas de revista - uma alternativa radical à indústria fonográfica - A Vida é Doce pode ser o melhor disco da carreira do autor, se o caminho escolhido for mantido. Ele insiste em MPB no velho argumento que se é música, é popular (não é erudito) e é brasileira (feita por brasileiros), logo é MPB. Mas as referências que Lobão funde são tão díspares quanto o samba, a música eletrônica, a bossa nova e o rock. Colocados na mesma medida, na esperança que as fronteiras culturais sejam abolidas em definitivo ("...que não haja mais gêneros...", pede na última página do encarte), os gêneros não transformam-no em um novo artista (não é "Lobão tornou-se MPB" ou "Lobão está techno"), mas fazem parte da etiqueta sensorial que o artista vende de si mesmo. O artista é o gênero - os gêneros são apenas temperos que os músicos podem usar como pintores usam cores. No exílio em si mesmo, como explicado no belo encarte que funciona como revista para o disco ser vendido em banca (que resgata o prazer de folhear os velhos encartes de discos de vinil e erra ao se dizer "manifesto" - o encarte é sempre o manifesto gráfico do que o disco diz), Lobão tira todas as máscaras e revela-se ao público como realmente é. As letras que não falam sobre esta mudança, cantam as bobagens que ele gosta de cantar sobre a noite (Universo Paralelo, Pra Onde Você Vai), sobre relacionamentos (Tão Menina), sem medo de soar pessoal ou não. Lobão descobriu que ser artista é exatamente isso: despir-se em público sem ter vergonha de fazer isso. Libertar seu próprio eu na frente de todo o público é um passo fundamental na compreensão da humanidade e ele nos pede até desculpas por não ter percebido isso antes: "Me perdoa, daquela expressão pré-fabricada de tédio/ Tão canastrona/ Que nunca funcionou/ Nem funciona", canta na faixa-título. "Eu sei que eu não posso mais viver essa vida de beira de abismo", assume em Tão Perto Tão Longe e veste todas as carapuças lhe oferecidas em El Desdichado II. "Eu sou o ninguém, a calma sem alma que assola, atordoa e vem/ No desmaio final de cada dia/ O samba sem-canção, o soberano de toda a alegria que existia/ Eu sou a contramão da contradição que se entrega a qualquer deus-novo-embrião pra traficar o meu futuro por um inferno mais tranqüilo/ Eu sou nada e é isso que me convém/ Eu sou o sub do mundo e o que será o que será que me detém", canta com firmeza. Ele divaga sobre a durabilidade da arte e como só perece aquele que se deixa levar pelo tempo. "Às vezes é melhor deixar a onda passar/ Às vezes é melhor virar a página e recomeçar tudo de novo, tudo de novo, mais uma vez", canta num dos melhores momentos do disco, Mais uma Vez, "Às vezes é melhor deixar o grito escapar/ Às vezes é melhor perder o controle e desabar e quebrar todas as promessas, todas as promessas, e atacar". "Como é que a gente pode ser tanta coisa indefinível, tanta coisa diferente/ Sem saber que a beleza de tudo é a certeza de nada/ E que o talvez torne a vida um pouco mais atraente", pensa alto em Uma Delicada Forma de Calor. Espalhadas pelo encarte, pérolas da nova filosofia de Lobão dão o tom do disco: "Não se pode ser normal e estar vivo ao mesmo tempo", "A loucura é um conhecimento sem começo nem fim", "Criar uma espécie de angústia para resolvê-la/ A gente experimenta desejar o que não desejou", "Só o que difere é o que se parece", "O tempo não se move/ O tempo não muda/ O tempo não pára/ O tempo não dura/ O tempo só existe para o que não dura". Sonoramente, Lobão põe em prática sua demolição de gêneros. Contando com a mão dos mesmos Jongui (bateria e percussão), o ex-Barão Vermelho Dé (baixo) e Humberto Barros (teclados) de A Noite, o som não pára em um determinado aspecto, com matizes de trip hop (Universo Paralelo, A Vida é Doce, Tão Perto Tão Longe), acústicas (violões e pianos assobiam claras notas por todo disco), rock (Mais Uma Vez), samba com house (Tão Menina), baladas (Uma Delicada Forma de Calor), bossa nova (Ipanema no Ar, Vou Te Levar e a genial Amanhecendo na Lagoa, instrumental). Mas todos os estilos musicais se misturam e Lobão percebe que não há diferença entre Cuidado!, Revanche, Vida Bandida, Me Chama e Noite e Dia - a vida é uma só, não precisa de classificação, nem de pontos de vista. AnoZero- A Vida é Doce é a última parte de uma trilogia. O que vem a
ser essa trilogia? Qual seu conceito? AnoZero- Em seus últimos discos você insiste em fazer parte de algo que
se chama MPB. O que é a MPB hoje e o que seria a verdadeira MPB? AnoZero- Do mesmo jeito que você é MPB, você tem forte influência do
rock em seu processo de composição. Fale um pouco sobre isso. AnoZero- E o seu relacionamento com a música eletrônica, como tem sido? AnoZero- Você tem um estúdio em casa? AnoZero- Fale sobre a importância de lançar-se sem nenhuma gravadora. AnoZero- Você conhece a cena independente brasileira? Quem são os nomes
que lhe chamam atenção deste meio? AnoZero- Por que lançar um disco em bancas de revistas e por que
numerá-lo? AnoZero- Como você vê a música pop no Brasil hoje? Você tem algum
interesse por ela? AnoZero- Você irá fazer shows para lançar este disco? |