Existes e eu sorrio.
Não podes ser tristeza,
sei que não:
se és o meu sorriso...
se me desces pela alma
me prendes a mão
afagas a calma.
Existes!
Tudo o que em mim era estéril se foi.
Nasce-me,
protuberante, arredondada,
a chama que queima
a tua ausência indesejada,
o meu juízo de saudades
que não explico.
Existes no meu sorriso
distante de estar triste.
1998-10-16
Riem meus olhos encantados
do mar castanho que os teus brilham...
Que longe é estar triste.
1998-10-19
Salto, inebriado e louco, voando impante... apatetado
Cruzo o ar rarefeito, livre de amargura
ganhando ao ontem a magia ébria da saudade!
Recolho à intimidade do berço na esperança impossível de regressar à origem.
Doeu-me amar!
Saio imaculado e limpo... vou adormecer.
1998-10-19
Não conheço queixume que o silêncio não cale
nem silêncio por que a alma mais tema.
Na tua ausência existo, e existes,
E na minha pele levantam-se ondas de saudade
Que picam a brincar aos caranguejos.
Deixo-me ir no vento e na maré
(buscando o céu se encapela o mar)
e entre o céu e o mar recolho raios de sol
pequenas prendas de luz
que amainam sem saber a tempestade
os meus desejos.
Não te sei hoje onde estás.
Do teu silêncio vive o meu queixume
que dói mais por ser o que não é.
Dexei contigo a paz desta verdade
o frémito irreal destes meus beijos.
1998-10-20
Voltarei a ver-te... ouvir-te-ei falar.
Entrarás em mim pelo teu cheiro
E a tua pele acariciará as minhas mãos
Como outrora.
Fugiste só, para não me abandonar.
Quiseste ser de todos o primeiro
A doer-me na ausência destes nãos
Da tua hora.
Amei-te, idolatrei-te, fiz-te herói...
Não vás: saudade dói!
É-me igual procurar ou encontrar
De novo o teu carinho no meu seio.
Fica breves momentos, mesmo vãos
Estes agora.
1998-10-21
Mostra-me outra vez a cor da tua terra,
A cor das tuas mãos.
O sabor do teu sorriso.
Dá-me um beijo...
Nenhuma despedida me prende tanto
Como a recordação de um beijo.
Flutuas no meu céu sem cores
Preso apenas da leve linha do horizonte
Que separa terra e mar, mar e terra...
E como essa linha ténue,
Assim os dias tristes de recordar-te ausente
Se dissipam no clarão quando te encontro.
E cheio de arco-íris
Embrulhei-me em teu presente.
1998-10-21
Encantados em ler-te
Meus olhos choram sal.
Olham os teus que os meus olham,
molhados os meus os teus molham.
Nada choram que seja mal
Riem apenas de ver-te.
1998-10-24
De tudo o que é bonito a luz trazer,
num raio que aconchega corações,
na mesma paz que vem nas orações
da voz que a tua alma vê nascer.
Beleza é nada ter, e não ser nada.
Nada ser, nada ter, tudo fazer.
Transformar a agonia num prazer,
A vida não deixar jamais parada.
E tudo o que é, com novos olhos ver,
num mundo mais bonito, se o quiseres.
Se quiseres, o que está também o é
pois só de ti nascida vive a fé.
Onde hoje há eternos campos, malmequeres,
outrora foi-se o mar na dor perder.
1998-10-27
V