Rock and Roll
Musicalmente falando quem primeiro definiu o estilo rock and roll foi Bill Haley, que
baseado principalmente no country criou uma batida diferente acentuada no segundo
e quarto tempos de uma marcação 4x4. A data mais comumente aceita como a da
criação do rock and roll é a do lançamento da música (We’re Gonna) Rock Around
The Clock de Bill Haley and The Comets, em 12 de Abril de 1954, embora dezenas de
gravações anteriores já apresentassem um ou outro fator do que viria a se cristalizar
como rock and roll (o próprio Bill Haley havia gravado no mesmo ano, um pouco
antes, a música Shake Rattle and Roll).
O sonho de encontrar um branco capaz de cantar como um negro havia sido
realizado por Sam Phillips, de um pequeno selo chamado Sun Records. Em seu início
de carreira com o single de Thats All Right e Blue Moon of Kentucky, logo seguido por
Good Rockin’ Tonight e I Don’t Care If The Sun Dont Shine, poucos poderiam acreditar
que o Elvis Presley que ouviam no rádio era um branco. Obviamente parecia mais
saudável à sociedade conservadora e racista aceitar aquele tipo de música vindo de
um rapaz com rosto de bom moço. Qualquer boa intenção porém era desmentida
pela maneira agressiva e sensual de dançar.
Embora criado um ano antes o rock and roll só viria a explodir definitivamente em
1955, em grande parte influenciado pela inclusão de Rock Around The Clock como
música de abertura do filme Blackboard Jungle (Sementes da Violência) sobre
relações tumultuadas entre alunos e professores (uma analogia a algo muito mais
amplo, o relacionamento entre o stablishment e a ânsia por mudanças). Uma
juventude a cada dia mais delinquente e em busca de herois sem relações com
herois do passado rapidamente adotou (para pavor da parcela mais conservadora da
sociedade) a rebeldia (mesmo que sem causa) como exemplo a ser seguido, e por
tabela a música do filme como catalisador desta rebeldia. Obviamente o novo tipo de
música passou rapidamente a ser associado à degeneração da juventude, o que
tornava ainda maior seu fascínio, em um ciclo vicioso irresistível.
E quando todos pensavam que nada pior poderia influenciar em tão grande escala a
juventude americana eis que um negro, Chuck Berry, sobe às paradas com uma
versão para o hit country Ida Red, renomeado para Maybelline (da qual consta o nome
de Allan Freed como autor embora este não tenha ajudado na composição). Embora
nunca tenha conseguido para si o título que lhe poderia ser devido de rei do rock
(usurpado pelo branco Elvis) sua importância nunca foi discutida.
Ainda mais assustadora para os conservadores porém seria a aparição nas paradas
de um segundo negro, Little Richard, este ainda por cima afeminado, maquiado e com
um penteado no mínimo exótico, cantando em seu primeiro verso o que viria a ser
para sempre o grito de guerra mais conhecido do rock and roll, tão indecifrável quanto
contagiante... "a wop bop a loo bop a lop bam boom".. a música... Tutti Frutti.
A prova definitiva de que o rock and roll seria a mais lucrativa música de consumo dos
próximos anos viria com o pagamento de inéditos 45.000 dólares pelo passe de Elvis
Presley (que chegara a ser aconselhado a voltar a dirigir caminhões menos de dois
anos antes) para a gravadora major RCA Victor.
Em 1956 enquanto Elvis Presley consolidava seu sucesso com novos hits como
Heartbreak Hotel, Blue Suede Shoes (que deveria ter sido lançada pelo seu autor, Carl
Perkins, não tivesse este sofrido um grave acidente de carro que o deixou paralisado
um ano) e regravações de músicas já consagradas como Tutti Frutti (com Little
Richard) e Shake Rattle and Roll (com Bill Haley) tornava-se urgente para outras
gravadoras achar artistas que pudessem rivalizar Elvis ou ao menos conseguir
alguma repercussão usando de seu estilo.
A Sun tentando se livrar do estigma que a perseguiria de ser apenas a gravadora que
descobriu Elvis e o vendeu por (apenas depois isso seria óbvio) uma ninharia, lançava
Roy Orbison com Ooby Dooby. Como pianista já tinha em seus estúdios aquele que
viria em pouco tempo a ser seu grande trunfo e tentativa mais eficiente de igualar o
sucesso de Elvis, Jerry Lee Lewis. A Capitol Records responderia a Elvis com Gene
Vincent and The Blue Caps, marcado pelo estilo do vocalista que balançava em torno
de sua perna parada (na verdade paralisada em virtude de um acidente de moto) e
pelo hit Be Bop A Lula.
Com uma sonoridade um pouco diferente, mais marcada pela música negra de
origem, principalmente gospel, começava a despontar o talento de James Brown com
o quase soul Please Please Me.
Já sobre o comando do empresário Tom Parker o talento de Elvis era aproveitado
também no cinema no filme The Reno Brothers, logo renomeado para Love Me
Tender em virtude do grande sucesso da canção tema. Não tardam a aparecer outros
filmes com participações de astros do rock, como Rock Around The Clock e Don’t
Knock The Rock (apresentando Bill Haley e Allan Freed), The Girl Can’t Help It (Little
Richard, Gene Vincent, Eddie Cochran), entre outros. Enquanto isso, na Inglaterra,
com algum atraso, o filme Blackboard Jungle levava o rock and roll ao reino unido.
Com o alistamento obrigatório de Elvis Presley nas forças armadas em 1957 o fim do
rock and roll foi anunciado pela primeira vez. Afinal o que haveria neste rítmo que o
poderia fazer mais durável do que tantos outros como o cha-cha-cha, a rumba, o
calipso, o mambo?
Contrariando todas as previsões novos hit makers surgem de onde menos se espera.
Se juntando à banda Crickets o até então inexpressivo Buddy Holly, de Nashville,
prova com os hits açucarados That Will Be The Day e Peggy Sue que o rock poderia
ser domado e usado associado a um bom moço e letras românticas sem segundas
intenções.
As esperanças de menos rebeldia e dias mais calmos no radio não se
concretizariam, obviamente. Seja por lançamentos como School Days de Chuck
Berry (uma ode ao fim das aulas) ou pela explosão tardia de Jerry Lee Lewis com
Crazy Arms e Whole Lotta Shakin’ Going On.
Com o ingresso de Elvis nas forças armadas (a despeito de este ter deixado gravado
material para dezenas de lançamentos e um filme gravado, King Creole) Jerry Lee
Lewis era o candidato natural para seu posto, rebelde, carismático... e branco. Seu
apelo ao público era proporcional ao seu ego e Great Balls Of Fire rapidamente se
tornou o sucesso do ano de 1958. Sua carreira viria a derrocar de maneira tão
meteórica quanto surgira em virtude de vir a público seu casamento com a prima de
13 anos, Myra Gale Brown, e de ele nem ao menos ter tido o cuidado de desmanchar
um de seus casamentos anteriores, sendo portanto um bígamo, o que era demais
para a sociedade da época.
1958 vê ainda Chuck Berry lançar dois dos maiores clássicos do rock de todos os
tempos, Sweet Little Sixteen (sim, sobre garotas adolescentes) e Johnny B. Goode
(quase auto biográfica). O Rock bonzinho e romântico por sua vez reage com All I
Have To Do dos Everly Brothers. James Brow lança seu primeiro grande hit, Try Me.
O ano negro de 1959 começou marcado pelo acidente de avião que em janeiro, em
Clear Lake, Iowa, matou Buddy Holly, Big Booper e o recém descoberto chicano
Ritchie Valens (do sucesso La Bamba). Após uma apresentação conjunta durante
uma mal-sucedida turnê de inverno chamada Winter Dance Party , o avião que
transportava o grupo de uma cidade para outra, em meio a uma tempestade de neve
e com um piloto inexperiente, caiu pouco após a decolagem, não deixando
sobreviventes.
A década termina com Chuck Berry sendo preso por cruzar uma fronteira estadual
com uma prostituta (que teoricamente havia sido contratada para trabalhar em um
clube de sua propriedade em Saint Louis). Seu grande crime obviamente era ser
negro em uma sociedade racista e ter alcançado tanto sucesso. Berry foi julgado e
condenado a dois anos de cadeia.
Os fatos citados acima eram emblemáticos e fáceis de notar mas os problemas do
rock não se reduziam a estes. O estilo estava gasto em virtude da superexposição e
mesmo grandes nomes como Carl Perkins e Jerry Lee Lewis estavam tomando o
caminho mais lucrativo do country. Elvis Presley, de volta de seu serviço nas forças
armadas, passaria de rockeiro rebelde a entertainer familiar, gravando praticamente
apenas baladas. A juventude finalmente notara que Bill Haley e Allan Freed afinal já
não tinham idade para serem ídolos jovens. Talvez o rock finalmente tivesse morrido.
Ou talvez apenas precisasse de algumas mudanças.
Continuando a série de fatalidades entre os rockstars iniciadas em 1959, já em abril
de 1960 morreria Eddie Cochran em uma colisão de um táxi contra um poste de
energia elétrica. No mesmo carro estava Gene Vincent que juntamente com a
namorada de Eddie sofreu apenas ferimentos. O impacto emocional do acidente
talvez tenha sido o motivo pelo qual Gene Vincent não mais apresentou a mesma
performance e iniciou o declínio de sua careira (chegando a desmaiar no palco
durante uma tour pela Inglaterra).
No final da primeira fase do rock and roll também foi emblemática a perseguição ao
criador do estilo, Allan Freed, processado e condenado ao pagamento de uma multa
de mais de US$30.000 por ter recebido pagamentos em troca da execução de
determinadas músicas em seus programas e festas. Alegava-se que as atitudes
anti-éticas de Allan Freed haviam sido responsáveis pelo sucesso do rock and roll que
de outra forma não poderia ter atingido tamanha repercussão. Allan Freed após a
divulgação deste escândalo foi obrigado a se retirar da atenção do público.
Mas enquanto o rock declinava sensivelmente no seu pais de origem, do outro lado do
Atlântico, na Inglaterra, principalmente nas cidades portuária (por terem estas acesso
mais fácil às músicas que vinham do continente americano), crescia o interesse pelo
rock and roll. Billy Furry foi o primeiro artista de rock inglês a ter alguma repercussão
nos Estados Unidos, ainda baseado nos conceitos comerciais do rock original, com
músicas feitas por encomenda. Na cidade de Liverpool estava tomando forma um
movimento cultural que tomou o nome de um fanzine musical local, Mersey Beat.
Entre as bandas locais já destacavam-se os Beatles.
Em oposição ao rock juvenil e inocente da década de 50, começaram a surgir nos
Estados Unidos artistas mais preocupados em passar mensagens importantes
através da música. Com base na música folk e tocando em bares surgiam artistas
como Bob Dylan e Joan Baez, que em muito breve viriam a mudar o rosto do rock. O
movimento intelectual chamado de Beatnik foi de grande importancia na formação
deste novo estilo. O Beat era caracterizado pela valorização da individualidade, do
livre arbítrio, da experimentação e da mudança, em contradição à manutenção dos
antigos valores considerados importantes pela burguesia.
Em 1963 Bob Dylan já era um astro de relativa repercussão e suas letras inteligentes
chamavam a atenção de público e crítica, fato inédito até então na música pop. Em
abril fez seu primeiro grande show em New York, e teve uma apresentação no
programa de TV de Ed Sullivan cancelada em virtude do conteúdo "revolucionário" de
suas letras. Já em maio ocorreria na Califórnia o Monterey Festival reunindo Bob
Dylan e Joan Baez, além de outros artistas do estilo como Peter Seeger e o trio Peter,
Paul & Mary. Rapidamente a música folk e principalmente Bob Dylan seriam taxados
de comunistas e degenerados, o que obviamente atraiu a atenção do público jovem e
aumentou o apelo do novo estilo.
Do rock ao estilo antigo talvez a única grande novidade no início da década de 60
tenham sido os Beach Boys, banda a início dirigida basicamente à comunidade de
surfistas mas que terminou por ter uma inesperada repercussão com o hit Surfin’ Usa
(um plágio descarado a Sweet Little Sixteen de Chuck Berry, por quem seriam
processados neste mesmo ano). Em seu rastro surgiriam outros artistas com temas
de surf, como Jan and Dean.
Na Inglaterra, contratados por George Martin da EMI, após terem sido desprezados
pela gravadora Decca, em 1963 os Beatles já eram um sucesso sem precedentes
usando a formula de juntar o apelo fácil de músicas cativantes a grande presença,
bom humor e algum cinismo em entrevistas, que chamavam a atenção da imprensa.
Era estranho também para a época que fossem os próprios membros da banda
responsáveis por grande parte de suas composições. Com um cover de Come On
(música de Chuck Berry) estreava também na Inglaterra, ainda sem grande
repercussão, a banda Rolling Stones.
As novidades já não levavam tanto tempo para se espalhar por outros paises. Bob
Dylan e outros artistas folk dos Estados Unidos penetravam finalmente o mercado
inglês enquanto paralelamente os Beatles conquistavam a américa. Curiosamente em
abril de 1964 Bob Dylan era número um na Inglaterra com a música The Times They
Are A Changin enquanto os Beatles ocupavam as cinco primeiras posições na parada
americana (com Cant Buy Me Love em primeiro lugar). Não haviam atritos ou disputa
entre os estilos musicais opostos... as letras e a postura política de Bob Dylan
sempre foram abertamente elogiadas pelos Beatles.
Os Rolling Stones se tornavam também um grande sucesso mundial com sua ida
aos Estados Unidos pouco após os Beatles (a atitude irreverente dos Stones, com
seus frequentes escândalos, era a antítese perfeita à educação e boa aparência dos
Beatles, conquistando a parcela mais rebelde do público). Outras bandas inglesas
como Herman’s Hermits, The Kinks e The Animals também despontavam.
A partir de 1965, com a banda Yardbirds (de carreira tão curta quanto influente, que
teve entre seus membros ninguém menos que Eric Clapton, Jimmy Page e Jeff Beck)
e The Who, o rock começava a ganhar uma agressividade inédita, com guitarras mais
ditorcidas e mais amplificação.
Em 1966, com o single Substitute o The Who finalmente levava o hard rock pela
primeira vez ao topo das paradas (em grande parte devido à repercussão do quebra
quebra generalizado promovido após os shows pela banda no palco e pelo público na
platéia), enquanto Eric Clapton forma o power trio Cream. Nos Estados Unidos as
novidades eram menos agressivas: a fusão definitiva entre o folk e o rock da banda
The Byrds e Simon & Garfunkel e as harmonias vocais da banda The Mammas and
The Pappas.
As influências das temáticas mais complexas do folk rock eram flagrantes (vide a
evolução dos Beatles com o álbum Revolver) e paralelamente às letras mais
instigantes os músicos buscavam também levar adiante as sonoridades, explorando
instrumentos exóticos e arranjos mais complexos, experimentais e inexperados.
As drogas não mais eram apenas consumidas para eliminar o cançasso, mas sim
para buscar prazer e estados alterados de percepção. A música da época foi
fortemente influenciada por drogas como LSD, seja porque era composta sobre seu
efeito ou porque era composta de maneira a simular ou tentar ampliar seus efeitos. O
novo tipo de música foi chamado de psicodélico.
Sobre o efeito de LSD os Beatles gravaram o que possivelmente foi o álbum mais
revolucionário da história do rock, Sht Peppers’ Lonely Hearts Club Band, em 1967.
Pela primeira vez uma banda de rock rompeu definitivamente com o formato
extremamente comercial da música hit single, lançando uma obra em que cada
música era apenas uma parte do todo. Tendo gasto mais de 700 horas e seis meses
de gravação, tratou-se de um álbum instigante desde a sua capa (uma colagem de
personalidades admiradas pelos Beatles) até o último sulco do disco (um ciclo sem
fim).
Para muitos Sgt Peppers é considerado o nascimento do rock progressivo (que não
se prende a nenhum conceito predefinido, baseado na experimentação e no
ineditismo). Divide esta glória com um outro álbum, curiosamente gravado no mesmo
estúdio e ao mesmo tempo, The Pipers At The Gates Of Dawn, da banda Pink Floyd,
que havia ficado famosa pelas suas performances audiovisuais no underground
londrino, capitaneada pelo gênio movido a LSD de Syd Barret.
Descoberto e levado para a Inglaterra pelo ex-Animals Chas Chendler, Jimi Hendrix
seria uma outra grande revelação de 1967. Com seu segundo single, Purple Haze (o
primeiro havia sido Hey Joe, um ano antes) Hendrix captou a atenção não apenas do
público, mas de astros como Eric Clapton e Mick Jagger, criando uma nova
sonoridade e ampliando definitivamente o papel e os recursos da guitarra elétrica no
rock.
Baseados na agressão ao stablishment e na liberdade (sexual e de experimentação)
herdada do pensamento beat, surgia nos Estados Unidos o movimento hippie,
concentrado principalmente em San Francisco, e tendo como expoentes bandas
como Gratefull Dead, Jefferson Airplane (claramente influenciadas por drogas) e The
Doors (com seu primeiro single, Light My Fire) e artistas derivados da música folk
como Janis Joplin. São marcos da época as flores no cabelo (daí o termo flower
power), os cabelos longos e as comunidades alternativas. O símbolo de três pontas
relacionado ao lema "paz e amor" foi tomado da sinalização militar que significava
"cessar bombardeio". Nada mais adequado em época de Guerra do Vietnan.
O grande evento do ano de 1967 seria o Monterey Pop Festival que reuniu na
California Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Animals, Simon and Garfunkel, Bufallo
Springfield, entre outros.
Em 1968 com o final da banda Yardbirds Jimmy Page forma o New Yardbirds logo
renomeado para Led Zeppelin,
ao mesmo tempo em que o Cream alcançava um
merecido sucesso. Uma outra banda de hard rock, Sttepenwolf, na música Born To
Be Wild, cunhava pela primeira vez o termo ‘heavy metal’. A sonoridade do Led
Zeppelin era inédita, e embora muito baseada no blues, mais agressiva do que
qualquer música anterior. Instrumentistas virtuosos, solos e improvisações de tempo
indeterminado começavam a se destacar. O hard rock iniciava seu período de apogeu
ao mesmo tempo em que os clássicos como Beatles e Pink Floyd, passavam por
problemas de convivência cada vez maiores (embora os Beatles ainda fossem levar
sua carreira adiante por quase dois anos, o Pink Floyd sofreria uma grande mudança
com a saída de Syd Barret).
1969 foi ainda o ano dos grandes festivais. A morte de um fã durante um show dos
Rolling Stones durante uma apresentação gratuita no festival de Altamond, California,
foi o marco negativo do ano. Mas mesmo esta má impressão não seria capaz de
abafar a realização do que possivelmente foi o maior evento de música de todos os
tempos, entre 15 e 17 de Agosto, em Woodstock, interpretado por muitos como o
marco do início de uma nova era de paz e amor, com apresentações entre outros de
Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jefferson Airplane e The Who. No Newport Jazz Festival por
sua vez apresentaram-se Led Zeppelin, Jethro Tull, John Mayall, Ten Years After, Jeff
Beck, James Brows, Johnny Winter, entre outros.
Com bandas de músicos virtuosos como Pink Floyd, Led Zepellin, Cream, Jethro Tull
e Deep Purple, e os super experimentais Mothers Of Invention de Frank Zappa,
associados aos trabalhos cada vez mais elaborados de bandas antigas como os
Beatles e o The Who (que havia lançado a ópera rock Tommy, elevando
definitivamente o rock a categoria de arte) a simplicidade característica do rock dos
primeiros tempos havia sumido.
Em 1970 o rock, assim como os roqueiros da primeira geração, já haviam atingido
sua maioridade e a inocência dos primeiros tempos era apenas passado. As grandes
bandas em sua maioria estavam cercadas dos melhores equipamentos de estúdio e
mesmo orquestras (bastante emblemático é o lançamento do Deep Purple, Concerto
For Group And Orchestra). Um outro grande passo para a sofisticação fora também a
rápida difusão dos sintetizadores (a início os Moogs e Minimoogs inventados por
Robert Moog), teclados capazes de criar novas tessituras e variedades sonoras antes
impraticáveis.
O fim dos Beatles foi emblemático do fim de mais uma era no rock. Haviam sido
talvez a banda que mais ajudara na transição entre o rock básico de letras simples
dos primeiros tempos ao rock mais complexo e sério musicalmente e liricamente.
Não mais apenas diversão e produto de consumo o rock era definitivamente encarado
como expressão artística e social.
O publico de rock se dividia em duas frentes, a dos adolescentes mais interessados
nos hits singles de bandas teoricamente "descartáveis" e a dos já amadurecidos
rockers dos primeiros tempos, em busca de experimentação, letras elaboradas,
álbuns completos.
O rock progressivo começava a se apresentar ao grande público e Greg Lake, após
abandonar a banda King Crimson, formava a clássica banda Emerson, Lake &
Palmer (acompanhado de Keith Emerson e Carl Palmer), cativando um público cada
vez mais sério. O álbum Deja Vu de Crosby, Stills, Nash & Young, é o mais vendido
do ano nos estados unidos. Com a aquisição do baterista Phill Collins a banda
Genesis iniciava sua careira de sucesso.
Embora o rock progressivo continuasse em expansão, bandas de musicalidade mais
simples e muito baseadas no apelo fácil da rebeldia voltavam a surgir para suprir a
nova geração, principalmente nos Estados Unidos, como Slade, Sweet, Gary Glitter, T
Rex, ou conseguiam um sucesso tardio, como David Bowie, Bay City Rollers e Elton
John. A imagem (maquiagem, cabelos, roupas exageradas e coloridas) de músicos
como Marc Bolan, do T Rex, iniciavam a definição do estilo Glam Rock (que
aproveitavam a imagem exdrúxula e em muitos casos andrógina como fator de
marketing).
Na Inglaterra, em 1970, sem requintes musicais, o Black Sabbath gravava seu
primeiro disco (conta a lenda que em apenas dois dias), auto entitulado, expandindo
as fronteiras do "peso" no hard rock e criando o que possivelmente poderia ser o
primeiro disco definitivamente heavy metal conhecido do grande público. O limite dos
escândalos envolvendo sexo, drogas e "satanismo" também é empurrado para diante.
Munido de maquiagem e teatralidade inéditos até então Alice Cooper seria a resposta
americana ao inédito peso e atitude do Black Sabbath. Surge para o público em 1971
com o hit Eighteen e o álbum Love It To Death.
A cristalização do uso da imagem, do teatro e da "atitude" como fator de marketing tão
ou mais importante do que a própria música seria a banda americana Kiss (que
lançou seu álbum de estréia, auto-entitulado, em 1974) cujos músicos tocavam
maquiados, assumiam personalidades de demônio, animal, homem espacial e deus,
voavam, cuspiam fogo, vomitavam sangue e vendiam discos, maquiagem e bonecos
como nenhuma banda de simples músicos poderia vender.
Em 1975, paralelamente ao rock elaborado das bandas progressivas ou de hard rock
(o Queen lançava seu excelente primeiro disco auto-entitulado) e ao rock comercial
glam, surgia nos pequenos bares e casas de show dos Estados Unidos um
movimento musical underground marcado por descompromisso e cheio da
autenticidade e da real rebeldia que faltava a estes primeiros. Em pequenos locais
(como o emblemático CBGB em New York) bandas como Blondie e Ramones. O
estilo era marcado pelo "do-it-yourself", a possibilidade de qualquer um (mesmo que
não sabendo tocar) montar uma banda.
Foi responsabilidade de Malcon McLaren, até então dono de uma loja de roupas de
couro (de certa forma uma sex shop) em Londres, o aproveitamento do novo estilo
como algo comercial. Não tendo sido bem sucedido em empresariar a banda
americana New York Dolls (que já estavam em franca decadência), McLaren voltou a
Londres com a finalidade de montar ele próprio uma banda usando o padrão que
havia conhecido nos Estados Unidos. Entre clientes de sua loja recrutou quem tivesse
os parcos conhecimentos musicais necessários para formar a banda Sex Pistols.
Acrescentaram à música simples e alucinada dos punks americanos letras
anarquistas e mais agressivas. Seu primeiro hit foi Anarchy In The Uk, em 1975.
O punk criado nos estados unidos e popularizado na Inglaterra (onde logo viria a se
tornar um movimento social do proletariado e não mais apenas um estilo musical) foi
uma resposta necessária ao rock que estava se levando a sério demais, aos álbuns
duplos conceituais, aos solos de dez minutos e às bandas que perdiam de vista o
caráter de diversão do rock. O punk embora considerado por muitos anti-música foi
na pior das hipóteses um mal necessário para mostrar e conter alguns exageros do
progressivismo.
Em 1977 o primeiro disco dos Sex Pistols, Nevermind The Bollocks entraria direto no
primeiro lugar da parada britânica. Aos Sex Pistols se seguiriam dezenas de bandas
inglesas e americanas como Clash, Damned, Siouxie and The Banshees, além de
serem resgatadas e tiradas do anonimato bandas como Ramones e Blondie.
O estilo também influiria embora indiretamente na sonoridade de novas bandas que
surgiam, como Motorhead e AC/DC. O punk também absorveria elementos de outros
estilos (como o reggae, por exemplo, de temática e musicalidade semelhantes em
sua simplicidade). Bandas como The Police, Simple Minds e Pretenders (e um pouco
mais tarde U2) adotariam um estilo que viria a ser conhecido como new wave, mais
facilmente aceitável que o punk (cuja fórmula inicial já não surtia tanto efeito
comercialmente).
Mas o punk e a new wave não eram a única alternativa à onda "disco" que assolava a
música. Começava a se formar na Inglaterra com bandas como Judas Priest,
Samsom e principalmente Iron Maiden o que viria a ser conhecido como New Wave
Of British Heavy Metal, a resposta do som pesado e elaborado à sonoridade simples
do punk. O hard rock também dava sinais de renovação com o primeiro álbum
auto-entitulado da banda Van Halen em 1978.
Apesar do fim dos Sex Pistols em 1978 (com a fórmula tão esgotada quanto os
próprios músicos após uma imensa tour pelos Estados Unidos) e da morte do
anti-heroi, simbolo do punk, Sid Vicious (de overdose, após conseguir liberdade
condicional da prisão onde estava por ter supostamente assassinado a namorada)
em 1979, o rock nunca mais seria o mesmo após a onda punk.
Os anos 80 já começa mal, com a morte do baterista John Bonham, e com isso Led Zeppelin
acaba suas atividades, e para piorar morre John Lennon, o rock perde um dos seus
maiores sábios. "O SONHO ACABOU"!