Biologia
A Biologia na Era Moderna
Os Seres Vivos
Propriedades da Matéria Viva
Há cerca de um bilhão de anos, a vida se instalou na Terra. De lá para cá, as espécies se diversificaram. Enquanto novas espécies surgiam, outras, mais antigas, desapareciam. O cenário do mundo modificou-se muitas vezes. Mas, curiosamente, todos os seres viventes que surgiram revelaram em si e transferiram aos seus descendentes uma linha geral de características que definem a vida e que não se observam nos corpos brutos.
Em franco contraste com a matéria bruta, os seres vivos podem ser identificados pelas seguintes particularidades:
Organização celular
Das bactérias e protozoários às sequóias e ao próprio homem, todos os seres vivos têm a sua estrutura e o seu funcionamento baseados na organização da célula. Muitos organismos são unicelulares. E, neste caso, a célula única que os forma tem de desempenhar a um só tempo todos os papéis que qualificam um organismo inteiro. Muitos outros seres são pluricelulares e, neles, já se observa a especialização de funções entre as células que os compõem. Os corpos brutos, entretanto, não têm, em sua formação, qualquer estrutura que se refira à célula.
Nos dias atuais, há uma tendência para se decidir finalmente pela colocação dos vírus, em caráter definitivo, entre os seres vivos. Seriam eles, então, os únicos seres viventes na Terra sem organização celular. Nós voltaremos a falar sobre os vírus
Composição química
A análise química de qualquer matéria bruta sempre revela uma composição simples com uma, duas ou três substâncias apenas. Isso estabelece um bom contraste com a complexa composição química da célula e dos seres organizados. A pesquisa química tem revelado um número imenso de proteínas, lipídios, glicídios, pigmentos, ácidos nucleicos, vitaminas e substâncias de outros grupos, na composição química da matéria que forma os seres viventes.
Estado físico
Uma condição imprescindível para a vida: as substâncias que formam o material celular devem estar dissolvidas em água, formando soluções coloidais. Numa solução coloidal, as partículas do soluto têm dimensões qúe variam entre 0,1 e 0,001 micrômetro (O micrômetro, outrora chamado mícron, é a milésima parte do milímetro). Além do mais, essas partículas ficam se repelindo continuamente. Isso determina uma agitação que não cessa nunca na intimidade da matéria viva. Quando o estado coloidal se desfaz na célula, ela morre. Todo ser vivo tem sua matéria no estado coloidal. Mas é importante saber que, embora em poucos casos, o estado coloidal pode ser encontrado, também, na matéria bruta. A fumaça, a neblina, a gelatina, a goma arábica líquida etc. são exemplos de colóides em matéria não-viva.
Metabolismo
Os seres vivos dispendem energia para a realização das suas atividades biológicas. Para tanto, eles consomem alimentos, que são os combustíveis dos quais retiram a energia, necessária e cuidadosamente utilizada.
A esse fenômeno de incorporação de mais matéria ao seu patrimônio dá-se o nome de anabolismo. Por outro lado, chama-se catabolismo á desassimilação dessa mesma matéria com a finalidade de obtenção de energia. Ao conjunto das duas etapas, reserva-se a denominação de metabolismo.
Não há consumo de energia entre os corpos brutos. Por isso, eles não realizam o metabolismo.
Crescimento
O crescimento dos seres vivos se dá por multiplicação celular. É o que se chama intussuscepção ou intuscepção. Trata-se de uma forma de crescimento limitado, condicionada geneticamente para cada indivíduo de determinada espécie.
Os corpos brutos crescem por simples depósito, em sua superfície, de novas camadas da mesma substância de que são formados. É um crescimento ilimitado, que recebe o nome de aposição.
Reprodução
Todo ser vivo provém de outro ser vivo preexistente. Há sempre um processo de reprodução na origem de qualquer organismo: seja um processo simples, como o que sucede com a ameba, seja um processo complexo, como o que ocorre com os animais superiores. Assim, a reprodução é uma constante na existência dos seres viventes e um fato que não diz respeito à natureza dos corpos brutos.
Adaptação ao meio
Ocasionalmente, ocorrem mutações em certos individuos, tornando-os mais aptos à luta pela sobrevivência. Eles se mostram, então, adaptados a determinadas condições para as quais a sua espécie era, antes, menos ajustada. No processo evolutivo das espécies, esse fenômeno foi da mais relevante importância. As espécies que não sofreram mutações adaptativas desapareceram.
A Natureza Dividida em Reinos
Em 1758, o sueco Lineu (Karl von Linné) publicou a décima edição do seu livro Systema Naturae, que implantava definitivamente um sistema de nomenclatura científica binominal para animais e plantas. Com isso, ele definia a classificação dos seres vivos em dois remos: Animalia e Vegetalia ou Plantae.
Durante muito tempo, os seres vivos foram divididos em animais e vegetais.
Contudo, a observação continuada dos organismos inferiores levou gradativamente os pesquisadores a sentirem dificuldade em classificar certos seres num desses reinos. Por isso, em 1878, Ernst Haeckel sugeriu a criação de um terceiro reino - o dos Protistas, onde se enquadrariam os organismos de classificacão duvidosa.
Alguns anos após, Haeckel propôs que fosse criado um subgrupo denominado Monera, no qual se incluiriam os microrganismos unicelulares desprovidos de núcleo individualizado nas suas células.
Em 1938, H. F. Copeland apoiou e reafirmou essas sugestões, com a variante de considerar o subgrupo Monera como um quarto reino.
Mais recentemente, em 1969, R. H. Whittaker sugeriu a criação de um sistema com cinco remos. Ele propôs que os fungos (cogumelos) se situassem num reino próprio, pois revelam, entre outras particularidades, uma forma rara de nutrição. Realmente, os fungos são seres heterótrofos bem curiosos. Eles segregam e eliminam, para o meio ambiente, enzimas digestivas que vão realizar a hidrólise das macromoléculas no meio externo. Só depois que tais moléculas se fragmentam é que eles fazem sua absorção. Isso é o que chamamos de "digestão extracorpórea". Assim, na interpretação mais moderna, os seres se
classificam em cinco remos: Monera, Protista, Metaphyta ou Plantae, Fungi e Metazoa ou Animalia
As moneras compreendem os PPLO (pleuro-pneumonia like organisms ou organismos semelhantes aos da pleuropneumonia), as bactérias e as cianófitas. São organismos inferiores, unicelulares, cuja célula não possui cariomembrana (membrana nuclear). Assim, o material nuclear, ainda que presente, fica difuso no citoplasma. Não há núcleo individualizado. Não se percebem orgânulos citoplasmáticos, a não ser rudimentares. Algumas bactérias, como o bacilo de Koch, por exemplo, revelam um retículo endoplasmático precário. Outras, nem isso apresentam.
Os protistas possuem células com núcleo individualizado, mas têm organização inferior, também unicelular. Abrangem organismos microscópicos, como euglenófitas (Euglena viridis), crisófitas (diatomáceas) e pirrófitas (dinoflagelados), tradicionalmente enquadrados entre as algas. Os protistas compreendem também os protozoários e os mixomicetos.
Os fungos compreendem espécies unicelulares e espécies multicelulares. Possuem núcleo individualizado nas suas células. Mas são todos aclorofilados e, por isso, heterótrofos. Muitos são microscópicos. Outros são macroscópicos.
Entre as plantas (reino Metaphyta ou Plantae) se colocam as algas verdadeiras, na maioria pluricelulares (clorófitas, feófitas e rodófitas), consideradas como vegetais inferiores, os vegetais intermediários (briófitas e pteridófitas) e os vegetais superiores (gimnospermas e angiospermas).
Os animais (reino Metazoal compreendem desde os espongiários e celenterados até os animais superiores, representados pelos mamíferos.
Como Classificar os Vírus
Desde 1892, quando foram identificados pelo botânico russo Ivanovsky, na pesquisa da transmissão do mosaico do tabaco (doença contagiosa que ataca as folhas do fumo), os vírus se tornaram um motivo permanente de discussão,entre cientistas. A sua verdadeira estrutura só foi vista após a invenção do microscópio eletrônico.
Em 1953, W. Stanley, nos EUA, conseguiu a cristalização dos vírus do "mosaico". Os cristais conservados in vitro mantêm-se inalterados, com a aparência de um sal comum, por tempo indeterminado. Mas podem voltar à sua atividade se encontrarem condições favoráveis.
Molecularmente, os vírus se constituem de nucleo-proteínas. A parte estritamente protéica, formada pelas cadeias polipeptídicas, fica na periferia, caracterizando a cápside ou capsídeo. Dá-se o nome de capsômeros às numerosas unidades polipeptídicas que integram essa cápsula envoltora do vírus.
No interior do vírus se localiza um "miolo" de ácido nucléico (DNA ou RNA). Nunca, entretanto, um vírus é portador dos dois tipos de ácido nucléico ao mesmo tempo. Alguns possuem DNA (vírus da raiva, varíola, encefalite, herpes), outros possuem RNA (vírus da gripe, poliomielite, mosaico do tabaco, Aids).
Todos, no entanto, são desprovidos de estruturas e sistemas enzimáticos próprios capazes de permitir a realização dos processos de obtenção e liberação de energia. Por isso, são necessariamente parasitas intracelulares, pois só assim conseguem subsislir e se reproduzir, utilizando a energia, as enzimas, os nucleotídeos e os aminoácidos da célula hospedeira.
Fica a indagação: como classificá-los como seres vivos, se não são dotados da maioria dos caracteres próprios desses seres, notadamente a organização celular e o metabolismo? Realmente, os vírus têm tão-somente uma estrutura molecular, dimensões minúsculas (alguns atingem até 10 a 20 nanômetros) e são todos eles destituídos de metabolismo autônomo. Mas, a despeito disso, eles apresentam duas características importantes dos seres vivos - a reprodução e a capacidade de adaptação ao meio, através de mutações.
Na sua Versão Verde, o BSCS assim se expressa: "Enquanto dentro da célula, os vírus comportam-se como se fossem vivos, mas fora parecem tão sem vida como uma pedra. Na classificação dos seres vivos, vimos casos em que os organismos não se encaixam perfeitamente nos nossos agrupamentos. Aqui está um problema semelhante. É evidente, contudo, que não é necessário decidir se os vírus são vivos, para estudá-los".
Em seu livro Botany, Wilson e Loomis indagam: "Os vírus são vivos? São organismos? Essa questão não pode ser respondida dogmaticamente com base nas propriedades dos vírus atualmente conhecidas. Se são vivos ou não vivos, isso é atualmente irrelevante para a opinião prática".
Em Foundations of Biology, McElroy e Swanson concluem: "Se os vírus são vivos ou não, depende unicamente do conceito que cada um tem de vida".
Apesar de tudo, nota-se uma nítida tendência nos autores modernos de considerar os vírus como seres vivos rudimentares, sem organização celular, sem metabolismo próprio, mas com o procedimento dos parasitas comuns, reproduzindo-se, sofrendo mutações e vivendo à custa de hospedeiros, aos quais causam danos, muitas vezes irreparáveis.
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