Tuberculose

IMPORTÂNCIA DO PROBLEMA PARA O MUNDO E O BRASIL

A Tuberculose habita entre nós desde os tempos pré-históricos, encontradas em múmias do antigo Egito e, mais recentemente numa múmia pré-colombiana no Peru. Com o desconhecimento do agente causador vários métodos de tratamento foram tentados, até que em 1882, Roberto Koch descobriu o bacilo da tuberculose, que tomou o seu nome e hoje é conhecido como Mycobacterium tuberculosis. Começaram vários tratamentos, como certos climas, sanatórios, colapsoterapia (especialmente o pneumotórax terapêutico) descoberto por Forlanini, sais de ouro, de cobre e outros, falhando a notícia dada pelo próprio Roberto Koch que havia também descoberto a cura pelo uso da tuberculina. A Tuberculose prosseguiu a sua caminhada mortífera e nos séculos 17 e 18 a tuberculose levava uma entre cinco vidas. Quando foram descobertas as primeiras drogas que agiam sobre o bacilo da tuberculose tinha armas de defesa escondidas no punho da camisa. Assim como ela fez com os descobridores navegantes que trouxeram ela para o nosso continente, ele se vingou através dos índios que ensinaram os colonizadores a fumar e matou-os de enfisema , bronquite, câncer de pulmão e enfarto do miocárdio.

Na sua marcha desafiadora ela atingiu, nos tempos atuais, (é bom que se frise) 10 milhões de casos novos por ano, 3 milhões de mortes por ano, sendo 18,5% de todas as mortes em adultos entre 15/59 anos, na fase mais produtiva da população mundial. Cerca de metade dos doentes nunca teve tratamento. Um terço da população mundial está infectada com o bacilo de Koch e, portanto, com maior risco de adoecer por reativação e, também, por infecção exógena. Entre 1850 e 1950 um bilhão de pessoas morreram de tuberculose. Na corrente década, 1990-1999, 300 milhões de novas pessoas serão infectadas, 90 milhões de novos casos da doença aparecerão e 30 milhões morrerão. Mais pessoas morreram de tuberculose em 1996 do que em qualquer ano da história.

Por isto, diz Styblo: a tuberculose é um escândalo (por causa destes números alarmantes), é um paradoxo (pois temos todas as armas para combatê-la, prevení-la, diagnosticá-la, tratá-la e curá-la, e não conseguimos vencê-la) e é um dilema (pois não sabemos se devemos empregar dinheiro para tratá-la ou melhorar as condições de vida dos seres humanos, especialmente em certos países). Parece, entretanto, que não queremos erradicá-la. Porquê isto acontece? Por falta de colaboração, pela negligência, por desconhecimento dos problemas da tuberculose, deficiências das instituições, além da não cooperação de pacientes que leva ao abandono. Todos somos culpados e não só os doentes: as comunidades, os médicos, outros profissionais de saúde, empresas farmacêuticas produtoras de drogas, os governos, a imprensa, agências de desenvolvimento internacional e a Organização Mundial de Saúde. Se todos cumprissem a sua parte , tudo seria diferente.

Recentemente o vírus Ebola que matou 245 pessoas, 12.000 vezes menos do que a tuberculose mata cada ano, a imprensa fez uma cobertura mundial imensa. Em outras doenças como diabetes, hipertensão, pneumonia, infarto do miocárdio e outras, se o doente não colabora o problema ou a tragédia são dele. Na tuberculose, porém, o mau tratamento, além de não curar, não mata o doente logo, produz a resistência bacteriana, que mantém a disseminação da doença em formas mais difíceis de tratar. Alguns recém-formados na Grã Bretanha, por exemplo, nunca viram um caso de tuberculose, como os nossos jovens nunca viram um caso de varíola. A industria farmacêutica tem pouco interesse em descobrir novas drogas, pois provavelmente não darão lucro pois os doentes de tuberculose são geralmente pobres e sem condições. Os Governos e os políticos não se importam com o problema pois o desconhecem ou fingem ignorá-los. Reichman afirma que o Estado da Pensilvânia , foram fechados seus 60 postos de saúde pública e entregues a uma empresa de planos de saúde; no Tennessee, só davam isoniazida e rifampicina, quando a recomendação nos EE.UU. é de dar 4 drogas, mas autoridades diziam que os doentes tinham que colaborar e comprar as outras drogas, em Oakland, na California, com taxas de elevação da tuberculose, o diretor da saúde pública não entendia nada de saúde pública e muito menos de tuberculose. A ONU publicou que a tuberculose é era uma "emergência global", mas admitiu as suas verbas para o controle da doença, o que está, felizmente, mudando. A epidemia de AIDS (onde a tuberculose é uma das mais freqüentes complicações) a imigração para os EE.UU. de povos onde a tuberculose é prevalente, com formas e resistência bacteriana (provocando a MDR - multi-drug resistance), foram outros fatores. Sumartojo fez um inquérito nos EE.UU com 3.600 médicos e mostrou que apenas 75% estavam cônscios de qualquer tratamento para a tuberculose e só 50% sabiam receitar esquemas abandonam o tratamento, não é a única causa da falta de controle da tuberculose, mas talvez a menor.

Alguns métodos de diagnóstico, modernos mas caros, estão sendo tentados, como o BACTEC, a PCR, a hibridização do DNA e outros. Mas nos países pobres o exame principal é a baciloscopia que dá resultados úteis mas não definitivos. Quando um doente bacilífero é diagnosticado, ele já infectou 12 a 15 pessoas por ano em que não teve diagnóstico.

Tratamento usado no Brasil, gratuito em todo o país, é altamente eficaz, quando é bem utilizado, as drogas não faltam e os doentes colaboram e existem todas as condições explicadas anteriormente neste artigo.

Brasil enfrenta todos estes problemas e seus parâmetros mostram mortalidade de 6.000/ano, incidência de 57/100.000 (cerca de 95.000 casos/ano), risco de infecção de 0,8% (de avaliação precária, pela vacinação em massa com BCG na primeira infância, e revacinação aos 6/7 anos). Quando aparece a resistência bacteriana o caso fica mais difícil de resolver, especialmente se a resistência é a várias drogas. As novas drogas (derivados da rifamicina - rifabutina, rifampentina - quinolonas e outras em estudo) ainda são de difícil aplicação por seu alto custo. Em alguns casos, a cirurgia exerética, tem sido aplicada em centros especializados.

Bloom e Murray disseram que o herói da luta contra a tuberculose é a UNION CONTRE LA TUBERCULOSE ET MALADIES RESPIRATOIRES que com um orçamento de 4 milhões anuais, estabeleceu programas de controle que descobriram dois terços de todos os casos, tratou 65.000 doentes e obteve cifras de cura de 80 a 85% em sete países em desenvolvimento.

* Professor Emérito da UFRJ e da UNI-RIO e
Membro Titular da Academia Nacional de Medicina

ALGUNS DADOS SOBRE A TUBERCULOSE.
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Trinta milhões podem morrer de tuberculose nos próximos 10 anos;

Tuberculose é a principal doença infecciosa matadora de jovens e adultos;

Um terço da população mundial está infectado com o bacilo da tuberculose;

Alguém é infectado pelo bacilo em cada segundo;

Cerca de 8 a 10 milhões de pessoas ficaram doentes de tuberculose , no ano passado;

É possível que 50 milhões de pessoas estejam infectadas com bacilos resistentes;

A tuberculose é a maior causa de morte entre as mulheres,

A Tuberculose cria mais órfãos do que qualquer outra doença infecciosa;

A Tuberculose é a maior matadora entre as doenças infecciosas nos portadores vivendo com HIV/AIDS.

Qualquer país é vulnerável às conseqüências de más práticas de tratamento realizados em outro países.

Estas recomendações são da ONU que aconselha também o DOTS (Directly Observed Treatment Short-course) que deve durar pelo menos 6 meses, mas ainda não é empregado em todo as partes do mundo.

 

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