Texto transcrito na íntegra da coluna Opinião do Jornal Tribuna da Imprensa do dia 11/12.07.98

Ao maior vagabundo da Nação

por Alcio de Alencar Antunes


Senhor Fernando Henrique:

Dirijo-me a você na condição de contribuinte-eleitor-cidadão (royalties para Helio Fernandes, embora de maneira invertida); contribuinte por obrigação, eleitor por devoção (tenho mais de 75 anos de idade) e, cidadão, por teimosia.

Devo-lhe dizer que o que faço com indignação, revolta e com certa dose de nojo pela figura de homem que você é, por tudo que você tem representado de mau para este grande país, que serve de berço a um povo pacífico e generoso e que, entre suas poucas ambições, só aspira poder ter o direito de trabalhar para o seu sustento e o de suas famílias.

Não obstante, mesmo possuído de muita ira, fico a pensar no destino ingrato e cruel que Deus reservou para você - que vai passar à história - como o grande traidor da Pátria, em todos esses 500 anos desde o nosso descobrimento e logo me vem à lembrança o sentimento da caridade, que nos foi ensinado por Cristo, há quase dois mil anos.

É, pois, com esse sentimento que gostaria de começar, dizendo que você não passa de um pobre diabo; mesmo possuindo vários títulos e se autoproclamando intelectual e possuidor de considerável patrimônio material, você é um homem espiritual e moralmente destruído.

Você já parou para pensar que, em sua campanha eleitoral de 1994, você exibia os cinco dedos da mão, cada um representando uma ação de seu governo e que você - até então - não cumpriu nenhuma daquelas promessas?

Você já parou para pensar que tem negado verbas para setores fundamentais, tais como a saúde e - mesmo com a CPMF, cujos recursos têm sido desviados para outras finalidades - as classes menos favorecidas (os excluídos) continuam morrendo, dentro dos hospitais por falta de condições mínimas de atendimento, enquanto isso, os homens que pertencem à cúpula dessa elite podre, ao menor sinal de mal-estar, são prontamente atendidos, tanto no Brasil quanto no Exterior?

Você já parou pra pensar que - cumprindo, rigorosamente as ordens do FMI e do Banco Mundial - você mantém todo o funcionalismo público, há 3 anos e meio sem qualquer reajuste salarial, enquanto determina o repasse de mais de R$ 30 bilhões para o "socorro" a banqueiros corruptos e desonestos - exatamente - aqueles fincnciadores de suas campanhas políticas?

Você já mediu sobre aquela cena dantesca, há poucos dias, quando uma vendedora ambulante ateou fogo às próprias vestes, em protesto e na defesa heróica de seu direito de trabalhar, enquanto todos os seus familiares ocupam cargos de destaque, nos órgãos da administração pública e - até mesmo em empresas privadas, que você doou aos seus asseclas? (veja o caso de seu filho - Paulo Henrique - como empregado do sinistro Benjamim Steinbruch).

Você já pensou como repercutiu mal aquela fotografia, publicada na primeira página dos grandes jornais, onde aparece a sua ex-nora Ana Luisa e o Sr Rafael de Almeida Magalhães, encarregado de formular todo o processo de entrega do complexo portuário de Sepetiba?

Você já pensou - quando está na intimidade com seus netinhos - naqueles meninos famintos do Nordeste, que passam dias inteiros caçando preás e calangos para aplacar a fome de seus irmãos menores, causada pela estiagem cíclica que castiga aquela região, que se transformou numa "indústria" rendosa, pelos políticos da região?

Você já pensou nos 35 milhões de nossos irmãos que morrem de fome, quando autoriza vultuosas verbas para fazer a propaganda de seu governo, que penetra em nossos lares iludindo todo um povo, com realizações em sua maioria inexistentes, tal como ocorre com a da escola? - "A escola pública mudou e para muito melhor, agora o professor tem um canal exclusivo de televisão; merenda não vai faltar e já existe até uma verba para reajustar o salário dos professores. Acorda Brasil!".

Você já pensou na farsa que foi o seu "exílio", quando, por livre e expontânea vontade, você resolveu ir para o Chile, inclusive, recebendo o salário integral de professor da USP? Posteriormente, em janeiro de 1969, você foi compulsoriamente aposentado, com base no AI-5. Ocorre, no entanto, que em 1979, com a Lei da Anistia, você adquiriu o direito de voltar à sua cátedra e, marotamente, preferiu ficar percebendo o salário sem trabalhar. diante desse raciocínio, você é um dos vagabundos - senão o maior - desta infeliz república, porquanto se aposentou com sete anos e, agora, quer que o pobre trabalhador morra trabalhando. É muita falta de caráter e um cinismo sem similar. Aliás, você nunca foi muito chegado ao "batente", para usar um termo muito do gosto popular.

Você está a pouco mais de 6 meses do término de seu governo; até agora que lhe foi conferido - como você gosta de dizer - por 35 milhões de brasileiros. Além da excrescência da emenda da reeleição, que foi conquistada (?) com a compra/venda de votos, numa demonstração explícita de corrupção (embora só se tenha detectado dois deputados, envolvidos na falcatrua) nada foi feito, principalmente, em benefício do povo?

Além de todas essas indagações, eu gostaria de dizer que, em quase três anos e meio de governo, você conseguiu uma extraordinária façanha: - descaracterizar o Brasil como Estado - nacional soberano; você está "negociando" a entrega de todo um patrimônio, conseguido à custa do sacrifício do povo, no cumprimento fiel às ordens do FMI e do Banco Mundial e, também, da voracidade do capital especulativo espoliador que, nesses tempos de globalização, vai destruindo as economias mais frágeis.

Até hoje, você ainda não explicou a "venda" da Companhia do Vale do Rio Doce, nem o povo brasileiro sabe de onde surgiu a "figura" de Benjamim Steinbruch (o patrão do Paulo Henrique) que de "empresário" de uma indústria têxtil quase falida - a Vicunha - de repente tornou-se um mega-empresário, com influência decisiva em setores estratégicos da economia nacional (Vale do Rio Doce, Light, CSN, Petrobrás e ramais ferroviários no Nordeste).

Antes de terminar, gostaria de fazer duas colocações: a primeira, dirigida ao Sr Pedro Malan (o homem que mora nos Estados Unidos da América), para dizer-lhe que o aposentado que volta a trabalhar não é imoral, como você declarou. Imoral é o que você faz com a política econômica, atrelada a interesses escusos e contrários àqueles que realmente constituem as aspirações do povo brasileiro; em segundo lugar, gostaria de fazer a última indagação ao "vagabundo" maior do Brasil. (Fernando Henrique Cardoso): - o que você iria fazer, depois de entregar todo o patrimônio que, por todos os motivos, tem o povo com seu verdadeiro dono e a nossa dívida (interna e externa), atualmente em torno de R$ 600 bilhões, atingir à cifra de R$ 1 trilhão?

O país caminha - aceleradamente - rumo ao abismo; a atual situação, já insustentável, caminha para o último estágio de tolerância, tornando-se imperiosa a mobilização de todas as forças vivas, a fim de que se evite que aconteça o pior. A fome atingiu um patamar tal que já são constantes os saques no Nordeste, enquanto o governo - insensível, insensato e insano - ameaça prender os líderes do MST (Movimento dos Sem Terra), no momento, a única organização com capacidade de mobilização e que, efetivamente, traz algum desconforto à quadrilha de aventureiros que se apossou deste Brasil grande e do qual haveremos de fazer o Grande Brasil.

Que Deus tenha pena e piedade de você, pobre diabo, de tal sorte que o remorso destrua a sua consciência e que possa sofrer, com resignação, os últimos dias de sua vida.

Alcio de Alencar Antunes é tenente-coronel reformado.



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