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Estruturas de coordenação em
textos argumentativos e narrativos

 
Leonor Werneck dos Santos
(UFRJ)

 
"Eu me interesso pela linguagem
porque ela me fere ou me seduz."
(Roland Barthes)

1 – Introdução

Muitas vezes, o pesquisador que se propõe a estudar os períodos compostos por coordenação e/ou subordinação depara-se com um problema teórico: o conceito exposto nas gramáticas da língua portuguesa e nos textos de lingüistas. Em alguns casos, encontramos definições confusas e mal formuladas que mesclam sintaxe e semântica, considerando coordenação um caso de orações independentes, e subordinação, dependentes. O assunto é, porém, mais complexo e ultrapassa as fronteiras da frase. O que se percebe, ao analisar um texto qualquer, é que o usuário da língua parece utilizar a estruturação do período com um interesse discursivo, enfatizando ora uma idéia ora outra, relacionando tópicos diversos, ligando parágrafos, enfim, com um propósito que vai além do que pregam as gramáticas quanto aos períodos complexos.

Em gramáticas e livros didáticos, a coordenação freqüentemente aparece como um elenco de conjunções responsáveis pelo encadeamento de termos ou orações. Não é comum encontrar, entretanto, comentários sobre o fato de ser possível estabelecer relações de coordenação entre frases, parágrafos e até mesmo partes de um texto. Seriam conjunções os elementos de ligação dessas "estruturas de coordenação", ou eles desempenhariam um outro papel, discursivo?

O objetivo deste trabalho é fazer um levantamento dos conceitos apresentados em alguns livros teóricos a respeito de coordenação e subordinação, tecendo comentários e fazendo uma avaliação das (in)coerências encontradas. A seguir, passa-se à analise de estruturas de coordenação em editoriais e matérias assinadas do Jornal do Brasil e em alguns livros de literatura infanto-juvenil, numa tentativa de traçar um paralelo entre a teoria encontrada nos compêndios teóricos e o que ocorre em textos argumentativos e narrativos.

Pretende-se trabalhar com a hipótese de que as estruturas de coordenação interfrásticas presentes em textos argumentativos dos jornais e em textos narrativos da literatura infanto-juvenil diferem das apresentadas nos manuais didáticos e gramáticas da língua portuguesa, por exercerem prioritariamente um papel textual-discursivo. Para isso, serão observadas as relações de coordenação mais freqüentes nesses textos e o encadeamento lógico-narrativo decorrente dessas relações.

A tônica desta pesquisa, ora em andamento, consiste em estabelecer um critério para analisar e classificar esses elementos coordenativos de ligação interfrástica, compreender sua função textual e identificar até que ponto a ocorrência dessas estruturas de coordenação colabora para a progressão textual.

2. Conceitos de Coordenação e Subordinação

Em Adriano Kury e Evanildo Bechara, encontra-se o mesmo conceito de coordenação e subordinação: esta apresenta-se por meio de orações dependentes que funcionam como termo integrante da principal; aquela caracteriza-se pela independência, autonomia das orações. Destaca-se, nesses textos, a mistura entre os níveis sintático e semântico. Bechara, por exemplo, ao definir a coordenação, diz que tais "orações de sentido completo se chamam independentes"; mais abaixo, ao falar da subordinação, afirma que "As orações apenas pela forma se chamam dependentes (... ) [a subordinada] depende gramaticalmente (...) porque exerce uma função sintática" (1964, 124, grifos do autor). Logo a seguir, o autor sintetiza, dizendo que as orações independentes - ao contrário das dependentes - não exercem função sintática de outra a que se ligam (1964,125).

Já Celso Cunha & Lindley Cintra referem-se à interface sintaxe-semântica, discriminando as características das orações. Assim, por exemplo, com relação às coordenadas (1985, 578), dizem que:

a) são autônomas, INDEPENDENTES, isto é, cada uma tem sentido próprio;

b) não funcionam como TERMOS de outra oração, nem a eles se referem: apenas, uma pode enriquecer com o seu sentido a totalidade da outra. [grifos dos autores]

Carlos H. Rocha Lima, por outro lado, enfatiza o caráter sintático, afirmando que na coordenação há a "comunicação de um pensamento em sua integridade, pela sucessão de orações gramaticalmente independentes" (1988, 230), enquanto na subordinação "há uma oração principal, que traz presa a si, como dependente, outra ou outras. Dependentes, porque cada uma tem seu papel como um dos termos da oração principal."(1988, 232, grifos do autor). De modo semelhante, Luft apresenta os dois conceitos:

Coordenadas são as orações de igual função, ligadas entre si por meio de conjunções coordenativas, ou por justaposição (assíndeton) na expressão daquelas.(1996, 47)

Subordinada é aquela que depende de uma principal. É uma oração regida por outra, ou por um termo desta. (id, 48, grifos do autor)

Porém, é Gladstone Chaves de Melo quem apresenta, pela primeira vez, a dualidade coordenação/subordinação sob outra perspectiva:

Coordenação é o paralelismo de funções ou valores sintáticos idênticos. (1970, 229)

Subordinação é conceito ligado à natureza da oração; coordenação é coisa acidental. Usando um recurso da língua portuguesa, diremos que uma oração é subordinada e está coordenada. (...) Subordinação é a relação de dependência entre as funções sintáticas.(id, 233, grifos do autor)

Dessa forma, o autor conceitua coordenação e subordinação como fenômenos presentes tanto no período simples quanto no composto - o que nem sempre fica claro em livros de outros autores. A análise de Melo também parece mais detalhada, porquanto faz uma advertência ao que geralmente aparece quando se fala de orações:

Anda muito difundido o conceito, absolutamente errôneo, de que uma oração coordenada é o contrário de oração subordinada. Não é o contrário: é outra coisa. Coordenada, já o sabemos, é a oração posta ao lado de uma igual, da mesma natureza e da mesma função; subordinada é a oração que exerce em outra uma função qualquer.

Trata-se, pois, de perspectivas diferentes. Daí vem que duas orações subordinadas, de igual natureza e igual função, estão coordenadas. (id, 231-232)

(...)Portanto, insistimos, oração subordinada é aquela que exerce em outra uma função ou subfunção, e que por isso não tem autonomia, não vale por si, é parte de outra oração, chamada principal. (ibid, 234, grifos do autor)

Ao mesmo tempo, Melo chama a atenção para a denominação "oração principal", às vezes tida como de sentido completo. Percebe-se que, para o autor, é necessário observar que entre a chamada principal e as demais orações do período estabelece-se uma relação de subordinação sintática e, em contrapartida, de complementação semântica.

Em Flávia Carone, o aspecto semântico não é priorizado; em vez disso, destaca-se o caráter sintático de diferenciação dos períodos com subordinação e coordenação. Para Carone, sintaticamente, "na coordenação, os functivos são duas orações; e, na subordinação, são uma oração e um termo de oração"(1988, 92, grifos da autora). É, por conseguinte, uma análise um pouco diferente das demais, uma vez que a subordinada deixaria de ser considerada oração para tornar-se simplesmente termo da anterior.

Em última instância, as duas orações são uma só, pois a subordinação passa a ser apenas um termo de oração, embora conserve, internamente, sua estrutura oracional. (...) Poderíamos concluir que só por coordenação é que temos, na realidade, uma relação entre orações, e que só é composto o período em que há orações coordenadas." (id, 91-2, grifos da autora)

Em outro livro seu - somente sobre o confronto coordenação/subordinação -, traça-se um paralelo entre esses dois tipos de estruturação de períodos. Carone afirma que a pressuposição entre dois functivos (recção) é essencial no estabelecimento da diferença coordenação / subordinação e ambas estão presentes no período simples e no composto. Na coordenação, é "possível uma troca de elementos, por acréscimo de um segundo e supressão do primeiro, bem como da ‘eventual marca de coordenação’- a conjunção." (1993, 20). Esta e/ou a pausa instauram a coordenação, e elementos coordenados, então, teriam a mesma função sintática, pertenceriam a um mesmo paradigma e formariam seqüências abertas, não sintagmas.

Por outro lado, Carone novamente destaca que, na subordinação, as conjunções são "instrumentos de inserção de uma oração em determinado ponto da outra."(1993, 50), e "só a coordenação tem a capacidade de relacionar orações - visto que a subordinação previamente deve transferir o todo a parte, para que este possa, então, articular-se com uma parte de outro todo" (id, 68).

O quadro a seguir traz, de forma resumida, as diferentes abordagens citadas anteriormente:

Quadro comparativo sobre coordenação / subordinação

  Coordenação Subordinação
Bechara, Cunha & Cintra, Gama Kury orações independente, autônomas orações dependentes, que funcionam como termo integrante da principal
Rocha Lima A comunicação de um pensamento em sua integridade, pela sucessão de orações gramaticalmente independentes. ...há uma oração principal, que traz presa a si, como dependente, outra ou outras. Dependentes, porque cada uma tem seu papel como um dos termos da oração principal.
Gladstone Chaves de Mello Coordenação é o paralelismo de funções ou valores sintáticos idênticos. Subordinação é a relação de dependência entre as funções sintáticas. Subordinação é conceito ligado à natureza da oração; coordenação é coisa acidental. Usando um recurso da língua portuguesa, diremos que uma oração é subordinada e está coordenada.
Celso Luft Coordenadas são as orações de igual função, ligadas entre si por meio de conjunções coordenativas, ou por justaposição (assíndeton) na expressão daquelas. Subordinada é aquela que depende de uma principal. É uma oração regida por outra, ou por um termo desta.
Carone Poderíamos concluir que só por coordenação é que temos, na realidade, uma relação entre orações, e que só é composto o período em que há orações coordenadas. Em última instância, as duas orações são uma só, pois a subordinação passa a ser apenas um termo de oração, embora conserve, internamente, sua estrutura oracional.
     

Ao que parece, a distinção entre os processos de coordenação e subordinação parece convergir para um mesmo ponto - e, nesse momento, a análise de Melo merece destaque: ao subordinar, estabelecemos uma relação hierárquica (cf. Othon Garcia, 1978, 16) na qual os elementos exercem função sintática em relação a outro(s); já ao coordenar, há um encadeamento, possível pelo fato de os elementos em questão partilharem a mesma estrutura, a mesma função.

Nenhum dos autores mencionados, entretanto, referiu-se à possibilidade de a coordenação ultrapassar os limites da frase, o que foi observado em diversos casos nos corpora analisados neste trabalho. A referência à coordenação interfrástica aparece nos estudos de José Carlos Azeredo (1990, 116): "A coordenação estabelece relações discursivas, por isso desconhece os limites da oração: coordenam-se vocábulos, sintagmas, orações e até parágrafos". Da mesma forma, Ingedore Koch chama a atenção para esse fato (1993, 111, grifo da autora): "...se estabelecem, entre as orações que compõem um período, um parágrafo ou um texto, relação de interdependência, de tal modo que qualquer uma delas é necessária à compreensão das demais."

Aproveitando os conceitos já arrolados e esses últimos comentários, passa-se, agora, ao estudo de textos do Jornal do Brasil e, posteriormente, dos livros infanto-juvenis. Ainda que de maneira simplificada, pretende-se levantar exemplos e análisá-los, observando comportamentos diversos daqueles comumente citados nos livros.

3. Análise de Textos do Jornal do Brasil

Logo no início do levantamento de dados nos editoriais e nas matérias assinadas do Jornal do Brasil, percebeu-se que a classificação tradicional de coordenação não daria conta de todos os casos. A divisão das orações coordenadas em Assindética e Sindética Aditiva, Alternativa, Adversativa, Conclusiva e Explicativa faz crer que todas têm o mesmo comportamento, apenas diferem quanto ao aspecto semântico. Logo comprovamos que não é bem assim.

Retomando Koch e Azeredo, os autores referem-se aos conectivos coordenativos como operadores argumentativos, pois "...encadeiam enunciados, estruturando-os em texto, isto é, constituindo um discurso. Por isso, aparecem também encadeando orações de períodos diferentes ou parágrafos..." (Koch, 1993, 134). Dessa forma, a relação estabelecida pelas chamadas conjunções coordenativas muitas vezes não é de coordenar elementos, mas "explicitar relações semânticas" entre duas informações/enunciados (cf. Azeredo, 134-135).

No quadro abaixo, discrimina-se o número referente a cada tipo de estrutura de coordenação encontrado nos textos do Jornal do Brasil. Observe-se o paralelo entre o número total de ocorrências e o referente à relação percebida especificamente entre períodos ou parágrafos:

Tipo de coordenação Nº total de ocorrências Nº de ocorrências entre períodos/parágrafos Porcentagem
Aditiva 187 31 17%
Alternativa 28 2 8%
Adversativa 73 42 58%
Conclusiva 20 16 80%
Explicativa 18 5 30%

O argumento dos autores pode ser comprovado no corpus em estudo, embora algumas estruturas de coordenação sejam mais utilizadas além da frase que outras. Chama a atenção o fato de 80% dos casos de conclusivas e 58% das adversativas terem aparecido em estruturas que não se restringiram ao período composto: em vez disso, percebeu-se, nesses casos, uma predominância de ligações entre períodos/parágrafos, o que comprova o caráter discursivo desses conectivos. Na verdade, antes de meras conjunções, eles interligam estruturas mais complexas que o período, dando continuidade ao texto. Ultrapassam, portanto, os limites da oração (como o fez esse "portanto").

Como são textos do Jornal do Brasil - pertencentes a um nível culto de linguagem e, por isso, demonstrando um cuidado especial com a seqüência de idéias -, parece ser coerente a hipótese de que a coordenação tem grande utilidade na organização textual. A interrelação de informações, mais que de orações, é comprovada com alguns exemplos (os grifos são nossos):

(1) O Brasil não é a Albânia e não experimentou nada parecido com a centralização absoluta do poder naquele país, que criou multidões despreparadas e vítimas fáceis nos desvios da economia de consumo. Vive-se, porém, processo de transformação em que pirâmides albanesas podem ser montadas para enganar e fraudar a poupança popular. (28/08/97, Pirâmides da Albânia)

(2) Vivemos na época em que o dinheiro muda de fontes públicas para fontes privadas. A administração do risco passa, portanto, a ser questão de regulação, auto-regulação, rating e mecanismos de clearing altamente capacitados para liquidar contratos ou controlar a exposição de comitentes. (01/09/97, Fugitivos da falência)

(3) Assim, Santa Teresa, o mais europeu dos bairros cariocas (...) está voltando a ser um marco da cidade e um motivo de orgulho... (01/09/97, Santa Teresa nos trilhos)

Os casos acima, referentes a adversativas e conclusivas, exemplificam o que foi postulado por Azeredo e Koch. De fato, a relação semântica do primeiro excerto caracteriza, não uma oração, mas o desenvolvimento do parágrafo pela contraposição de idéias (cf. Garcia, 215). Da mesma forma, em (2) tem-se uma primeira conclusão a respeito do que fora dito no texto e em (3) o parágrafo de conclusão, ao final do artigo. Ainda que tenham aparecido, em alguns casos, ligando orações, esses dois tipos de coordenação - adversativa e conclusiva - destacaram-se na união de períodos/parágrafos.

4) Análise de Textos da Literatura Infanto-Juvenil

Após essa análise preliminar de textos argumentativos, observemos como as mesmas estruturas de coordenação aparecem em livros infanto-juvenis. Esta etapa da pesquisa ainda está em andamento, mas alguns excertos já permitem perceber algumas semelhanças e diferenças com relação aos textos do jornal. Da mesma forma que nos editoriais e matérias assinadas, também nos textos narrativos infanto-juvenis as estruturas de coordenação acenam para uma análise diferente da que aparece nas gramáticas tradicionais: os casos de coordenação interfrástica acenam para o caráter textual-discursivo, que ultrapassa as classificações formais das conjunções. Citando os livros (os grifos são nossos):

(4) Parece que o gato também queria ser do menino, ou ter um menino como amigo. Por isso, o gato e o menino continuaram a andar pelo caminho, aquele caminho que era o lugar onde o menino tinha achado o gato. (Sylvia Orthof, 4)

(5) Ninguém adivinhava. Nem ele. Às vezes não conseguia nem saber direito se era brasileiro. Ou entender bem porque era filho de Carlos e tinha o sobrenome de Luís. (Ana Maria Machado, 15)

No exemplo (4), por isso aparece iniciando um período conclusivo, como ocorrera nos excertos (2) e (3). Já em (5), as conjunções grifadas não têm, apenas, caráter aditivo e alternativo, respectivamente, mas, antes, apresentam-se em estruturas frasais que parecem estar fragmentadas, o que confere agilidade à narrativa – no caso, a sucessão de pensamentos do personagem é tão rápida, que não espanta os períodos serem curtos.

Por outro lado, em contraponto ao que se percebeu no corpus jornalístico, as estruturas que mais aparecem nos livros infanto-juvenis analisados são as "aditivas" (pouco recorrentes nos textos do jornal) e "adversativas" com mas (grifos nossos):

(6) Sentaram no meio-fio e dormiram logo. Só Cara-de-pau ficou acordado porque quando estava cansado demais não conseguia pegar no sono. E se não fosse por isso não ia ver. Mas viu quando chegou. Grande. De meter medo. E o coelho ficou tão apavorado que quis avisar os amigos e a voz nem saiu. Então, tremendo como vara verde, pegou o apito e apitou com toda a força. (Lygia B. Nunes, 1980, 32-3)

(7) E aí, tinha o aniversário da minha prima. Mas eu não fui.

Tinha um bate-bola na escola. Mas eu não fui.

Tinha um livro que eu estava gostando. Mas eu nem quis mais ler.

Só pra ficar aqui. Escutando o relógio bater.

E ele bateu. No princípio amarelo forte. Mas depois o relógio foi ficando mais fraco; cada vez mais fraco.

(Lygia B. Nunes, 1991, 9-10)

Mais uma vez, a agilidade da narrativa deve-se, em grande parte ao uso de períodos curtos. Os conectivos que aparecem - e e mas, em profusão - não podem ser classificados meramente como aditivo e adversativo, respectivamente. Há de se observar, no excerto (6) o suspense decorrente da seqüência de reações do coelho Cara-de-pau. Pode-se objetar que, nesse exemplo, as ocorrências de e poderiam ser suprimidas e o mas poderia ser precedido por vírgula, mas nada disso ocorreu. Não se pode dizer que o texto está mal escrito, apesar da repetição do e e do uso de mas no início do período; o livro Os colegas recebeu prêmio de crítica em 1980 e foi escrito por uma escritora conceituada. Parece, portanto, que os conectivos citados participam da estrutura da narrativa e é necessário especificar o papel que eles desempenham.

Repetições de e e mas e uso de períodos curtos também são percebidos no exemplo (7). Mais uma vez, há agilidade na narrativa, e algo que já aparecera no excerto anterior ressurge acenando para uma outra possibilidade de análise: a linguagem informal e próxima da oralidade, geralmente utilizada em textos voltados para o público infantil.

4. Conclusão

Procurou-se descrever, brevemente, nesse trabalho, o comportamento das estruturas de coordenação em textos do Jornal do Brasil e da literatura infanto-juvenil. A hipótese inicial, de uso da coordenação não apenas dentro do período, pôde ser comprovada pelos exemplos encontrados nos corpora.

Verificaram-se, em uma primeira análise das matérias assinadas e dos editoriais (linguagem mais formal), os casos em que se encontraram estruturas de coordenação que pudessem responder à classificação das gramaticas tradicionais e encontrou-se um grande número de exemplos de coordenação entre períodos ou parágrafos - principalmente com as adversativas e conclusivas. Na análise de alguns excertos, procurou-se mostrar o quanto produtiva pode ser a coordenação como estratégia de organização do discurso, por dar continuidade às idéias desenvolvidas pelo autor e estabelecer relações que vão além da mera classificação formal. Já nos textos narrativos, o uso uma linguagem informal e mais próxima da oralidade parece ser um dos motivos que explicam o uso excessivo de e e mas, principalmente, iniciando períodos.

Embora ainda seja cedo para tirar conclusões, percebe-se que a tipologia textual delimita a linguagem. Talvez aí esteja o porquê de em textos argumentativos aparecerem tantos conectivos adversativos e conclusivos – demonstrando os contra-argumentos e as conclusões. Por sua vez, nas narrativas prevalecem estruturas "aditivas" e "adversativas", com diferentes funções textuais-discursivas, que desafiam os pesquisadores. Como se pôde observar, as respostas encontradas na análise tradicional não são suficientes no que se refere às estruturas de coordenação, por isso a necessidade de estudos que as considerem sob o prisma do discurso.


Bibliografia

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