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Sermões

 

“Porém o meu servo Calebe, visto que nele houve outro espírito
e perseverou em seguir-me completamente, eu o farei entrar a terra
que espiou e a sua descendência a possuirá”

 (Números 14:24)

Dr. Joel Beeke

* * *

Com a ajuda de Deus, quero considerar com vocês o tema “seguir a Deus completamente”.

Tenho três pensamentos principais para compartilhar.

Primeiro, o significado da expressão “seguir a Deus completamente”, pela graça.

Segundo, sua raiz, na graça: porque Calebe pôde seguir a Deus completamente.

Terceiro, sua recompensa graciosa: a recompensa que Deus concedeu a Calebe porque ele O seguiu completamente.

As Escrituras nos provêem muitos registros biográficos curtos. Alguns, exemplos de pessoas que não devemos seguir: Judas Iscariotes, Acabe, Caim; outros, grandes homens e mulheres de Deus, os quais somos chamados a seguir como mentores na nossa jornada neste mundo.

Entre estes grandes mentores está um homem santo, que raramente é lembrado nos sermões e freqüentemente é ignorado mesmo em literatura sadia, chamado Calebe. Ele é um exemplo eminente de santidade e Deus atribui a ele grande graça, dizendo que ele O seguiu completamente todos os dias da sua vida.

Se você é um crente verdadeiro, estou certo que este é seu desejo. Você não deseja servir a Deus pela metade; você deseja amá-lO de todo o seu coração, mente, alma e força. Você deseja viver uma vida consistente; você deseja seguir a Deus completamente.

Hoje, apresentaremos este grande homem de Deus a vocês, orando para que nós recebamos graça para seguir seu exemplo através do Senhor Jesus Cristo.

Sabemos que Calebe foi um dos doze espias enviados à terra de Canaã para trazer um relato a Moisés. Ele foi um dos dois espias que trouxe um relato de encorajamento, animando Israel a batalhar contra os habitantes da terra e vencê-los, como Deus havia prometido que fariam.

Depois de quarenta dias, quando os espias completaram sua missão e trouxeram seu relato, é notável que todos eles concordaram em muitos fatos. Todos concordaram que Canaã era uma boa terra, que manava leite e mel. Trouxeram um grande cacho de uvas de Escol. Concordaram que os habitantes da terra eram, na sua maioria, homens de guerra. Todos concordaram que havia gigantes na terra, grandes homens, “filhos de Anaque” (Nm. 13:33). Todos concordaram que as cidades eram fortificadas, eram grandes fortalezas. Todos concordaram que seria complicado e difícil lutar contra este povo. Todos eles contaram a verdadeira história no que concerne aos fatos.

Entretanto, quando chegaram às conseqüências destes fatos; ao chegarem à conclusão, ao ponto principal, “o que deveremos fazer?”, os doze espias discordaram entre si.

O relatório majoritário, apresentado por dez deles, era muito negativo. Eles disseram que era inútil tentar vencer estes inimigos; eles eram muito fortes e muito numerosos. É impossível! Disseram: “Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós. E, diante dos filhos de Israel, infamaram a terra que haviam espiado, dizendo: “A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra que devora os seus moradores; e todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura. Também vimos ali gigantes (os filhos de Anaque são descendentes de gigantes), e éramos, aos nossos próprios olhos, como gafanhotos e assim também o éramos aos seus olhos” (Nm. 13: 31-33).

Você pode imaginar dois milhões e meio de pessoas, pois este era o número pessoas de Israel naquela época, ouvindo este relato aterrador: “Éramos, aos nossos próprios olhos, como gafanhotos”? Chegamos através do deserto, afinal, na terra prometida e agora encaramos gigantes, fortalezas e impossibilidades. Medo e incredulidade tomaram conta deles. Medo e incredulidade são os pais de sua conclusão. Medo e incredulidade sempre trazem um relato negativo. Medo e incredulidade podem apresentar relatórios corretos dos fatos, mas os avaliam incorretamente.

Os dez espias incrédulos deixaram de lado um fato importante: esqueceram Deus e Sua promessa! Olharam as circunstâncias ao invés de olharem para Deus. Esqueceram o que Deus havia dito: “para que entreis na terra que vos dá o senhor vosso Deus, para a possuirdes” (Js. 1: 11).

Você e eu somos tendentes a fazer o mesmo, não somos? Dificuldades e problemas entram em nossas vidas. Problemas pessoais, provações domésticas, provações no trabalho, problemas na igreja. Somos tendentes a olhar para as circunstâncias, ao invés de olharmos para Deus. Somos tendentes a responder com incredulidade, não somos?

A incredulidade mensura as paredes e aumenta os amalequitas, os heteus, os cananitas e todos os gigantes; e a conclusão é: não podemos!

Que responsabilidade cada cristão tem de guiar as pessoas retamente, e especialmente um servo de Deus. Nós ministros somos, em certo sentido, espias na terra. Cada semana investigamos as Escrituras. Devemos espionar as verdades da graça de Deus nas Escrituras. Vamos reportá-las no próximo Dia do Senhor e falar das maravilhas e da glória e do poder do nosso Deus. Cada Dia do Senhor devemos falar às pessoas sobre o perigo que elas enfrentam e o caminho para Sião; sobre seus inimigos, seus problemas e sobre o apertado caminho que conduz à salvação. Ainda assim, não devemos abalar as pessoas, mas direcioná-las a Jesus Cristo e dizer-lhes que nosso Deus é capaz. Sem Cristo nada podemos fazer, mas em Cristo podemos todas as coisas, através dEle que nos fortalece. Este é o relatório que devemos trazer: nosso Deus é capaz! Não olhe para as circunstâncias, olhe para o Deus vivo.

Os dez espias esqueceram disto. Esqueceram do Deus do Mar Vermelho. Esqueceram do Deus que lhes disse: “Não temais; aquietai-vos e vede o livramento do Senhor que hoje vos fará” (Ex. 14:13); “O Senhor pelejará por vós” (vs. 14).

Quão aterrador este relatório majoritário era. Não existia fé na soberania de Deus, na onipotência de Deus, nas promessas de Deus. Estes dez espias incrédulos não chegaram nem ao nível de Balaão que confessou: “Deus não é homem para que minta; nem filho de homem para que se arrependa. Porventura tendo Ele prometido, não o fará? ou tendo falado, não o cumprirá?” (Nm. 23: 19).

A incredulidade torna nossos problemas grandes e Deus pequeno. A tragédia da incredulidade é que ela draga multidões dentre o povo de Deus no abismo da depressão. Quando estão no lugar certo, os Josués e Calebes de Deus têm um espírito diferente, não um espírito incrédulo contagiante que facilmente persuade as pessoas de que os gigantes de Anaque são maiores do que as promessas de Deus, fazendo as promessas parecerem fracas; então, os órgãos vitais da fé são destruídos e o crescimento espiritual cessa e as pessoas deixam de temer a Deus. Ao invés disto, Josué e Calebe trouxeram Deus para a equação. Eles se levantaram e Calebe fez calar o povo e disse: “Eia! Subamos e possuamos a terra, porque certamente prevaleceremos contra ela” (Nm. 13: 30). Josué e Calebe criam que Deus é maior do que o maior gigante de Canaã. Vamos, eles disseram, e reivindiquemos a herança que Deus nos prometeu.

Todos os doze espias usaram seus olhos; todos eles usaram suas mentes; mas somente Josué e Calebe tinham um coração para Deus e para o Seu povo. Tinham um coração para trilhar o caminho da fé. Este é o caminho que você e eu somos chamados a andar neste mundo: o caminho da fé.

O caminho da fé não é um caminho fácil. Deus nunca prometeu ao Seu povo uma vida fácil. O caminho da fé é um caminho abençoado, mas não um caminho fácil. É um caminho seguro, mas não um caminho fácil. O caminho da fé motiva as pessoas a confiarem em Deus, crerem no Seu Filho, arrependerem-se diante dEle, andarem em Seus caminhos, a seguirem Deus completamente. A fé confia; esta é a natureza da fé. A fé crê, confia e descansa.

Calebe disse que os gigantes se tornariam anões diante da promessa de Deus. Ele disse: “Não sejais rebeldes contra o Senhor e não temais o povo dessa terra, porquanto como pão o podemos devorar; retirou-se deles seu amparo (por quê?) e o Senhor é conosco; não os temais.” (14: 9).

Vocês vêem? Este foi o relatório minoritário de duas pessoas que creram em Deus. Este relatório minoritário é positivo por natureza. Calebe e Josué criam que Deus não volta atrás em Sua Palavra.

Quando cremos, confessamos, vivemos e abraçamos isto, pela graça do Espírito Santo, honramos nosso Deus. Assim, Josué e Calebe disseram: “Eia! Subamos e possuamos a terra”, porque “o Senhor é conosco” (vs.9) como prometeu.

Josué e Calebe ousaram se levantar contra uma pressão incrível; vocês podem imaginar os outros dez, e os dois milhões e meio de pessoas atrás deles. Dois homens levantando-se ousadamente pela causa de Deus, apesar da pressão de todos os seus pares. Calebe, pelo menos nesta hora, parece ser o orador dentre os dois. Deus honra sua postura mesmo quando as pessoas pegaram pedras para jogar neles: “Apesar disso toda a congregação disse que os apedrejassem” (vs. 10). Calebe não se acorvadou. É impressionante, não é mesmo? Ele não diz que talvez tenha cometido um pequeno erro ou sugere que sentem e conversem sobre se realmente deveriam ir à Canaã ou se deveriam enviar um segundo grupo de espias para comparar as impressões. Calebe e Josué não sugerem nenhum acordo. Não! Ele diz, apedrejem-me, mas eu seguirei ao Senhor. Façam o que têm que fazer, mas eu seguirei ao Senhor completamente. Isto nos leva ao texto desta noite.

 

Seu significado, pela graça

 

Note, antes de tudo, que “seguir a Deus completamente” é o testemunho de Deus sobre Calebe, não o testemunho de Calebe sobre ele mesmo.

Existe uma grande diferença. Se você perguntasse a Calebe, sem dúvida ele diria: Oh meu coração mau. Tenho sido tão inconsistente. Tão faltoso. Minha obediência tem sido tão parca. Entretanto, Deus disse sobre Calebe, “Meu servo... seguiu-me completamente”. Isto é o que conta. Não o que dizemos de nós mesmos, mas o que Deus diz sobre nós.

Deus dá um testemunho similar sobre Jó. Não podemos imaginar Jó dizendo: sou teu servo perfeito. Entretanto, Deus disse sobre Jó “... meu servo Jó... ninguém há na terra semelhante a ele; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal” (Jó 1:8).

Calebe foi um homem assim, que recebeu a bendição e a aprovação de seu Deus. Isto é o que queremos; o que queremos mais do que qualquer coisa em todo o mundo: que Deus olhe do céu para nós, no Senhor Jesus Cristo, e nos conceda Sua aprovação divina. Que Ele possa dizer: este é Meu filho, que tem Me seguido completamente.

 

O que significa seguir a Deus completamente? Significa, pelo menos, quatro coisas:

 

Calebe seguiu a Deus toda sua vida. Ele seguiu a Deus persistentemente.

 

Volte para Josué 14: 13-14. Isto é o que a Palavra de Deus fala sobre Calebe depois de passar quarenta anos no deserto, rodeado de pessoas incrédulas: “Josué o abençoou e deu a Calebe, filho de Jefoné, Hebrom em herança. Portanto, Hebrom passou a ser de Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, em herança até ao dia de hoje, visto que perseverara em seguir o Senhor, Deus de Israel”.

Aqui temos um testemunho sobre Calebe na sua velhice que se assemelha ao nosso texto. O testemunho de Deus sobre ele foi o mesmo quando era jovem, nos seus quarenta e, quando idoso, nos seus oitenta. Este é um homem de consistência e persistência. Este é um homem de santidade. Este é um homem que não serviu a Deus por ímpetos e impulsos, como John Warburton costumava dizer. Aqui está um homem que serviu a Deus habitual, constante e uniformemente. Todos estes anos que viveu no campo dos israelitas, Calebe recusou-se a unir-se aos rebeldes murmuradores que o cercavam. Ele foi fiel até a morte e Deus o coroou com uma coroa de vida.

Penso sobre eu e vocês. Seguimos a Deus persistente e consistentemente? Algumas pessoas seguem a Deus por temporada. Parecem chamas que sobem e rapidamente apagam. Parecem ter boas intenções mas quando a perseguição chega, sua chama de cristianismo apaga e a fumaça desaparece até que nada reste.

Pense na mulher de Ló. Ela deixou Sodoma e Gomorra, mas desistiu, olhando para trás, e tornou-se um pilar de sal. Pense nos judeus de João 6: 66; deixaram de andar com Jesus. Pense nos gálatas, de quem Paulo disse: “Vocês corriam bem” (Gl. 5: 7); “Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros?” (Gl. 3: 1).

Ainda hoje existem muitos que são assim. Recentemente, um membro de nossa igreja que estava hospitalizado pareceu estar sob grande convencimento. Eu tinha uma forte esperança de que o Senhor estava convertendo aquele jovem. Ele voltou para sua família, encontrou pressões sociais ao redor e todo o convencimento desapareceu. Isto pode ser dito de vocês ou de mim? Nos tempos de adversidade, perdemos nosso “cristianismo”? Em tempos de pressão e perseguição, nós cedemos? Que tragédia! É nos tempos de perseguição e dificuldades que o mundo nos observa com um olhar penetrante. O cristianismo vale o que diz? O mundo está olhando vocês e eu para ver se nosso cristianismo persiste diante da perseguição e aflição.

 

 

Em segundo lugar, seguir a Deus completamente significa segui-lO sinceramente - não somente persistentemente, mas também sinceramente, de coração.

 

Isto significa não ser hipócrita, nem um cristão nominal. “Toda a congregação” - note a palavra toda - “disse que os apedrejassem” (Nm. 14:10). Todos estavam contra Josué e Calebe. Eles suportaram insultos e zombarias. Como Moisés, eles tiveram que agüentar a repreensão semelhante a de Cristo. Apesar disto, Calebe não podia fazer nada além disto, porque seu coração era sincero diante de Deus.

Por que as pessoas estavam tão zangadas a ponto de apedrejar Calebe? Porque ele expôs a religião delas - ou antes, a falta da religião delas. Ele removeu todas as suas desculpas para não ir à Canaã. Ele venceu todos os seus argumentos. Elas estavam determinadas a agarrar-se a sua incredulidade e Calebe as reprovou. Quando você reprova um incrédulo, freqüente evocará perseguição. “Todos quanto querem viver piedosamente em Cristo Jesus, serão perseguidos” (2 Tm. 3:12). Acontecerá, cedo ou tarde; às vezes intensamente, outras, reduzidamente. Quando andamos nos caminhos de Deus, sofreremos perseguição.

Caros amigos, somos chamados a confessar o nome de Deus sem importar onde estamos ou em qual caso. Ontem, enquanto estava em um trem, falei com uma jovem ateísta. Quando comecei a censurá-la, amorosamente, porque dissera que estava indo viver com seu namorado, ela me disse: - Você não vai tentar me converter, vai? Não quero ouvir este tipo de conversa. Ela disse: - Já está tarde para me falar sobre Deus. Além disso, nem sei se acredito nEle. Então eu perguntei: - Sobre o que você gostaria que eu conversasse com você? - Outras coisas, disse. Eu disse: - Isto me parece ser uma coisa muito importante para se falar, porque se Deus não existe, então você não está sob Sua autoridade e você pode fazer o que quiser, não pode? Mas se Deus existe, o que você acha que Ele diria sobre o que você está indo fazer? - Bem, ela disse, Ele diria que eu iria viver em pecado; então não quero pensar sobre isto. Este é o homem natural! Não queremos ser confrontados. Não queremos carregar culpa nos nossos ombros. Não queremos enfrentar quem e o que somos. Quando, bíblica e amorosamente, confrontamos outras pessoas com o que elas são, seremos perseguidos, mas devemos estar prontos a pagar o preço. 

Robert Murray McCheyne disse, “Sofrer perseguição é uma marca da verdadeira igreja”. Você conhece as marcas da igreja: a pura pregação da Palavra, a correta administração dos sacramentos e o exercício da disciplina na igreja. Bem, Lutero teria nos oferecido uma quarta marca, porque 2 Tm. 3:12 diz: “Todos quanto querem viver piedosamente em Cristo Jesus, serão perseguidos”. Uma pessoa não pode ir para o céu sem ter sido reprovada ou perseguida. Como você pode seguir um Salvador sofredor e nunca ter sofrido por causa do Seu nome?

Gostaria de saber: você já sofreu pela causa e por causa de Jesus Cristo? Você teme a Deus mais do que ao homem? John Brown escreveu, “Temer a Deus significa considerar o sorriso e a repreensão de Deus como de mais peso e maior valor do que o sorriso e a repreensão dos homens”. Este é o modo de se viver. Ó Deus, deixe-me viver em Teu sorriso. Deixe-me temer tua repreensão. Deixe-me andar nos Teus caminhos. Deixe-me seguir-Te completamente.

Isto não significa, é claro, que podemos provocar as pessoas desnecessariamente. Isto não significa que seremos só amor para todas as pessoas. Mas o amor verdadeiro algumas vezes tem que dizer “não”. O amor verdadeiro algumas vezes deve ser confrontado. Se você realmente se preocupa com alguém, você quererá que ele venha com você seguir ao Senhor completamente.

 

 

Em terceiro lugar, seguir a Deus completamente significa seguir a Deus, como um velho mestre costumava dizer,”indivisivelmente”, ou, como Thomas Boston disse, “universalmente”.

 

    Isto quer dizer com todo meu coração, não somente com um coração sincero, mas também com todo meu coração. Seguir a Deus completamente significa dizer com Davi, “Percorrerei o caminho dos teus mandamentos, quando me alegrares o coração” (Sl. 119: 32). Algumas pessoas escolhem o que querem fazer com a vontade de Deus. São muito consistentes em determinadas áreas. Talvez guardem o “sábado”, mas negligenciam o culto doméstico diário. Talvez tenham muito bons hábitos em determinadas áreas da sua vida, mas em outras dizem “sei que isto ou aquilo é errado, mas ninguém é perfeito. Você não pode ser excessivamente reto. Sei que isto é errado, mas mesmo assim vou fazer. Acho que Deus vai ter misericórdia de mim”. Este é o modo como algumas pessoas são seletivas. Quando certo mandamento chega perto de casa, elas se refugiam em outro mandamento que supostamente estão seguindo. Sua obediência é parcial, hesitante e aparente.

Calebe não era assim. Ele disse - Quero que todo pano da minha vida tenha só uma padronagem. Quero ter a mente fechada  quanto a obedecer a Deus. Quero colocar viseira e seguir a Deus pelo caminho estreito da salvação toda a minha vida. Não quero me desviar nem para a direita, nem para a esquerda. Quero seguir a Deus em tudo. Quero segui-lO em meus pensamentos, em minhas palavras, em meus atos. Quero que toda minha vida tenha uma padronagem. Quero que minha vida seja uma epístola aberta da graça de Deus em Cristo Jesus. Ó Deus, dá-me graça para seguir-Te completamente.

Isto é o que queremos se somos cristãos. Queremos um coração sem divisões. Não queremos seguir a Deus só quando nos agrada. Não queremos ser como o Senhor Interesse Próprio de O Peregrino, que disse de si mesmo e dos outros habitantes da cidade de Boas Palavras: “Somos sempre muito zelosos quando a religião calça as suas sandálias de prata”. Em outras palavras, existem pessoas que andam religiosamente no conforto de sandálias de prata enquanto tudo vai bem. Mas tão logo alguma coisa cruze sua vontade, colocam-na acima do mandamento de Deus. Os verdadeiros cristãos, entretanto, detestam tal parcialidade com relação a Deus e Seus mandamentos. Queremos ser homens, mulheres e filhos de Deus que seguem a Deus com o coração sem divisões.

E conosco? Existem esconderijos ou áreas em nossas vidas onde estamos seduzidos, mesmo agora, por algum pecado conhecido? Temos de abandoná-lo. Temos de clamar por misericórdia para conquistar nosso, assim chamado, pecado de estimação. Devemos orar ao Todo Poderoso para que tenhamos força para transpor todo pecado com a espada; fazer morrer cada um deles. O verdadeiro filho de Deus que está andando perto dEle, dirá “Ó Deus, queria que cada pecado em mim estivesse morto”. Você pode dizer isto? Você está seguindo a Deus completamente?

 

Finalmente, seguir a Deus completamente, significa seguir a Deus exclusivamente.

 

Não somente persistente, sincera e indivisivelmente, mas exclusivamente. Isto implica que não seguiremos quem quer que seja, a não ser que eles sigam a Cristo. Significa, como Paulo disse, seguir Paulo somente até onde ele seguisse ao Senhor Jesus Cristo. Esta é a máxima e o modelo de todo o movimento reformado, ao qual todos estamos tão em falta.

Isto é o que os reformadores fizeram. Não seguiam ninguém que não seguisse ao Senhor Jesus Cristo. Seguir a Deus deve ser a ocupação preeminente de nossas vidas. Não devemos ter outro objetivo nem outro desejo na mente. Nossa alma deve ser consagrada a Deus. Todo nosso ser deve ser tomado com esta paixão ardente de andar nos caminhos de santidade do Rei.

 

Nosso texto fala “meu servo Calebe”. Um servo obedece a seu senhor. Um servo é totalmente consagrado; um servo desejoso é fiel. Deus diz, Calebe é meu servo. Ele me serve. Não segue a ninguém mais. Isto é o que precisamos. Orem por graça em cada problema e provação que atravesse seu caminho para seguir a Deus persistente, sincera, indivisível e exclusivamente.

Talvez você me diga: Isto é impossível. Meu coração é um poço de iniqüidade. “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr. 17:9). De fato isto é verdade. Então, como foi possível para Calebe seguir a Deus completamente? Nosso texto explica: “visto que nele houve outro espírito e perseverou em seguir-me completamente”. Consideremos o que isto significa.

 

Sua fonte é a graça

 

“Outro espírito” - obviamente, estas duas palavras contêm o segredo de como Calebe seguiu a Deus completamente, mas o que querem dizer? “Outro espírito” significa que ele tinha um espírito diferente dos dez espias incrédulos. O deles era um espírito de incredulidade; o dele, de fé. O deles era mundano; o dele, celestial. O deles era um espírito de desobediência raivosa; o dele, obediência amorosa. O deles era um espírito satânico; o dele, de Deus. O deles era um espírito preguiçoso; o dele, ativo. Eles queriam o descanso sem a jornada, a recompensa sem o labor, a vitória sem a luta. Eram guiados por seus próprios espíritos. Calebe era guiado pelo Espírito Santo. Tinha um espírito nobre, corajoso e gentil. Um espírito generoso e heróico. Um espírito abnegado e leal, porque era movido pelo Espírito Santo.  Esta era a causa final da diferença entre Calebe e os dez espias incrédulos. Não era a força de Calebe, era o Espírito Santo agindo nele. “Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente” (1 Co. 2: 12). Este é o espírito de Calebe.

Então talvez você pergunte: Por que Calebe tinha o Espírito Santo e por que os dez espias não? O que fez a diferença? Respondo: Somente a misericórdia soberana e livre de Deus. O Espírito Santo foi um presente gratuito de Deus para Calebe e Deus se agradou, por razões guardadas nos segredos do Seu coração, através do Seu amor soberano eletivo, em ter misericórdia de Calebe e não ter dos outros dez espias. Agradou a Deus assim fazer e não podemos ir além disto. Não podemos sondar os mistérios soberanos do amor eterno de Deus, nem precisamos fazê-lo, porque nada existe além deste amor. Deus, por suas próprias razões, fez de Calebe Seu servo e lhe deu Seu Espírito para servi-lO. Portanto, não há explicações em Calebe; não há nada além da misericórdia e amor soberanos e pactual. Por que Calebe tinha outro espírito? Por causa da graça soberana; porque Deus o amou com um amor eterno, portanto com cordas de amorosa ternura Ele o atraiu para segui-lO completamente.

A obediência de Calebe foi, antes de tudo, obra do Espírito Santo nele. Ele foi o instrumento através do qual o Espírito agiu. Ele foi envolvido; isto não aconteceu sem sua participação, mas foi tudo pela graça. Calebe foi capacitado a seguir a Deus completamente através da obra meritória do Ser Perfeito - o Senhor Jesus Cristo - de quem Deus diz “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios” (Is. 42:1). Calebe seguiu a Deus completamente por causa do coração eletivo do amor do Pai, através da obediência meritória do Senhor Jesus Cristo e pela habitação do Espírito Santo. A Trindade está envolvida. Jesus Cristo seguiu Seu Pai completamente: “Esta é a vontade de meu Pai”; “Estou cuidando dos negócios do meu Pai”. Ele enxertou Calebe para Si na videira e a seiva de Cristo fluiu nas veias de Calebe. Por Cristo e pelo Espírito de Cristo, Calebe seguiu a Deus completamente.

Precisamos orar por este espírito. Precisamos clamar que sejamos habitados e governados pelo Espírito de Cristo para que recebamos, pela fé verdadeira e com submissão, a Palavra enxertada que é capaz de salvar nossas almas para que sigamos a Deus completamente.

Talvez você objete: Se Calebe seguiu a Deus completamente somente pela graça, porque Deus lhe deu uma recompensa? Note a conclusão do nosso texto: “Eu o farei entrar a terra que espiou, e a sua descendência a possuirá”. Isto nos leva ao terceiro ponto, que é examinar a recompensa graciosa que Deus prometeu a Calebe.

 

Sua recompensa graciosa

 

Seguir a Deus completamente, em primeiro lugar, significa segui-lO pela graça, persistente, sincera, indivisível e exclusivamente. Em segundo lugar, este seguir está enraizado na graça - daí porque Calebe pôde seguir a Deus completamente. Terceiro, Deus recompensa Calebe por segui-lO, como resultado da graça. A recompensa de Deus para Calebe não é meritória; Calebe não a mereceu. É uma recompensa graciosa. O que Deus dá ao Seu povo objetivando a santificação, Ele realmente dá e Ele recompensa Sua própria obra neles. Deixe-me exemplificar. Vocês lembram da história da cananita? Cristo operou-lhe fé. Ele amadureceu aquela fé pelas provações e então, Ele coroou Sua própria obra afirmando: “Mulher, grande é a tua fé” (Mt. 15: 28). Deus distribui Sua graça ao Seu povo, incluindo a graça da fé, e então, quando eles agem, pelo Espírito Santo, consoante àquela fé, Deus recompensa Seu próprio trabalho neles com coroas de graça.

Deixe-me ilustrar. Quando meu aniversário está se aproximando, minha esposa pega o dinheiro que lhe dei e diz aos nossos filhos: comprem um presente para seu pai. Quando eu recebo o presente, não digo aos meus filhos: não preciso agradecer-lhes, porque vocês gastaram meu dinheiro para comprá-lo. Que pai cruel eu seria se falasse dessa forma! Ao invés disto, trato os presentes como se meus filhos tivessem trabalhado para comprá-los. Agradeço-lhes pelos presentes de todo coração e recompenso-lhes com abraços, beijos e palavras construtivas.

Vêem. Deus recompensa a obediência do Seu povo pela Sua própria graça. Ele lhes dá graça para segui-lO, mas fica genuinamente grato quando eles o fazem e os recompensa graciosamente.

A Confissão Belga de Fé, escrita em 1561, no seu artigo 24, é uma bela afirmação da doutrina da santificação. Num momento afirma que Deus não está obrigado para conosco por causa das boas obras que fazemos, tanto quanto nós estamos obrigados para com Ele, por ter nos dado a graça de praticá-las. A graça de Deus nos conduz a andar na graça, como resultado da graça, para Sua glória. Portanto, as maravilhosas promessas de Nm. 14: 24 são somente graça sobre graça. João nos diz, “Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça” (Jo. 1: 16).

Literalmente isto significa graça empilheirada no topo de graça. A vida do povo de Deus é como a maré do oceano: uma onda de graça sobre a outra - em prosperidade e através de aflições. Prosperidade é graça; adversidade é graça.

Onde você estaria sem adversidade e perseguição na sua vida? Você permaneceria espiritualmente imaturo e se tornaria mimado, mas Deus concede graça - onda sobre onda - precisamente conforme nossas necessidades. No topo disto tudo, vêm Suas ondas de promessas graciosas e preciosas. Que promessa maravilhosa Ele deu a Calebe, coroando Sua própria graça - “eu o farei entrar a terra que espiou e a sua descendência a possuirá".

Na verdade, existem três promessas aqui.

Em primeiro lugar, Deus está prometendo preservar a vida de Calebe. Seiscentos mil homens daquela geração que eram incrédulos, suas esposas e muitos dos seus filhos iriam morrer no deserto. Calebe já está com seus quarenta anos e eles iriam vagar por quarenta anos, mas Deus diz, "eu o farei entrar a terra". É uma bênção quando Deus promete vida longa pela obediência.

Em segundo lugar, Deus promete dar a Calebe, por herança, a terra que ele espiara. Isto se cumpriu no livro de Josué de forma memorável. Em Josué 14: 10-11, Calebe diz “Eis, agora, o Senhor me conservou em vida, como prometeu; quarenta e cinco anos há desde que o Senhor falou esta palavra a Moisés, andando Israel ainda no deserto; e, já agora, sou de oitenta e cinco anos. Estou forte ainda hoje como no dia em que Moisés me enviou; qual era a minha força naquele dia, tal ainda agora para o combate, tanto para sair a ele como para voltar”.

Assim, Deus deu a Calebe força e resistência notáveis. Josué, então, deu Hebrom para Calebe e você lembra o que tinha em Hebrom - os gigantes: Aimã, Sesai e Talmai, os filhos de Anaque. No capítulo 15, verso 14, Josué espantosamente diz, “Dali expulsou Calebe os três filhos de Anaque: Sesai, Aimã e Talmai, gerados de Anaque. Subiu aos habitantes de Debir, cujo nome, dantes, era Quiriate-Sefer”. Não esqueça que Calebe agora está com oitenta e cinco anos. Um ancião de oitenta e cinco anos expulsou os gigantes diante dos quais dois milhões e meio de pessoas tremeram e disseram “Não podemos ir”. Isto é o que Deus pode fazer!

Um dos nossos pastores uma vez viu um caminhão velho descendo uma estrada na Nigéria com um aviso pintado de forma rude, onde se lia: “Deus + 1 = maioria”. Calebe experimentou isto. "Eu o farei entrar a terra". E a ele abençoarei. Deus promete tanto. Ele faz “infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos” (Ef. 3:20).

Seria maravilhoso se Deus fizesse tudo que pedíssemos, não seria? Paulo diz que Ele fará mais - Ele fará tudo o que pedirmos ou pensarmos. Isto é realmente fantástico. Mas Paulo diz ainda mais - Ele fará mais; Ele fará além do que pedirmos ou pensarmos. Ele fará muito mais do que pedirmos ou pensarmos. Paulo vai mais longe, ele quebra os limites da gramática grega. Ele repete a mesma palavra duas vezes, o que em grego não faz sentido gramatical, mas ele foi movido pela grandeza das graciosas promessas de Deus. A Bíblia King James traduz assim, “Ele faz excessiva e abundantemente além de tudo o que pedirem ou pensarem”.

Calebe, você tem oitenta e cinco anos; o que você pensa que fará indo àquela terra? Calebe crê em Deus; ele entra na terra e destrói os gigantes. Que grande Deus! Seu Deus é assim?

Li uma maravilhosa história, algumas semanas atrás, de um garoto em Connecticut que estava em seu leito de morte. George Whitefield o visitou e falou-lhe sobre Deus e Seu caminho de salvação em Cristo. O menino se converteu. Algumas semanas mais tarde, seu pai incrédulo lhe disse: “Filho, você não está com medo de morrer?”. O garoto disse, “Não papai, não estou com medo de morrer”. Seu pai disse: “Por que não?”. E ele respondeu, “Porque eu vou para o grande Deus do Sr. Whitefield”.

Whitefield fez Deus parecer grande. Assim fez Calebe. E você? Você tem um grande Deus? Você crê nEle - O Deus das promessas? O mundo nunca dá o que promete; Deus nunca dá menos do que promete. E Ele promete, “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”.

Em terceiro lugar, Deus promete dar aos descendentes de Calebe aquela terra. Calebe teria alguma coisa para deixar. Ele deixaria uma bênção a seus filhos. Lemos em Josué 15 que seus filhos foram abençoados. O Senhor é fiel em cumprir suas promessas “de geração a geração”.

O único meio de viver abençoadamente é seguir a Deus totalmente. Segui-lO como resultado da graça, arraigado na graça e recompensado pela graça. Seguir a Deus incondicionalmente, confiando em Suas promessas.

Posso pergunta-lhe: Você segue a Deus totalmente? Você segue mesmo a Deus? Esta é a primeira questão. Enquanto não somos regenerados, não seguimos mesmo a Deus.

Temos somente um breve período de vida para seguir a Deus. Samuel Rutherford disse “Se eu tivesse mil almas, não arriscaria nenhuma delas me apartando de Jesus”.

Você só tem uma alma e está arriscando esta alma se apartando de Jesus Cristo? Não faça isto. Não destrua a si mesmo, não brinque com Deus, não continue a seguir seu próprio caminho. Curve-se diante do Altíssimo. Renda-se em arrependimento e fé aos pés do Senhor Jesus Cristo. Busque Sua face. Ou estamos entre os espias incrédulos, ou entre os crédulos. Por natureza, queremos estar entre a maioria popular, mas pela graça, Deus nos traz à minoria desprezada. Este é um lugar abençoado para se estar!

O Deus de Calebe ainda vive - busque graça para seguir seu exemplo, não importa o que isto custe, mesmo que você seja ameaçado de morte. Siga Deus totalmente!

Notavelmente, não foi Calebe quem morreu. Ele enfrentou grandes perigos e grandes inimigos, mas Deus o guardou. Ele viveu até a velhice, mas o que aconteceu com seus inimigos? A glória do Senhor apareceu no tabernáculo da congregação e naquele mesmo dia Deus destruiu todos os dez espias incrédulos. Depois, eventualmente, todo aquele povo pereceu.

Como Calebe, aqueles que seguirem a Deus totalmente, pela fé graciosa, viverão para ver as promessas de Deus se cumprirem assim como suas excessivamente grandes recompensas.

 

Obs: Traduzido por Tânia Gueiros e publicado com autorização do autor

 

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