Soneto de Cam”es
Sete anos de pastor Jac¢ servia
Lab„o, pai de Raquel serrana bela,
Mas n„o servia ao pai, servia a ela,
Que a ela s¢ por prˆmio pertendia.
CL>Este primoroso soneto de Cam”es, do s‚culo XV, tem sido
CL>apresentado como a ant¡tese do Soneto da Fidelidade, do Vinicius
CL>de Moraes, s‚culo XX (aquele do "seja infinito enquanto dure").
JQ> mesmo ? Incr¡vel. E quem tem dito isso ?
CL> Uma brilhante professora de Literatura, cujas notas de aulas
CL>e apostilas circularam aqui em casa. Porque incrivel, Mestre? O
CL>soneto do Cam”es prega a Fidelidade eterna, sem condi‡”es nem
CL>temores de um dia ter fim, e o do Vinicius vˆ a Fidelidade
CL>tempor ria, sabendo-se de antem„o que ter seu fim.
CL> Ou haver interpreta‡„o mais precisa?
From: JOAO QUENTAL
To: CELSO LIMA
Subject: Soneto de Cam”es
JQ> mesmo ? Incr¡vel. E quem tem dito isso ?
CL>Uma brilhante professora de Literatura, cujas notas de aulas
CL>e apostilas circularam aqui em casa. Porque incrivel, Mestre? O
CL>soneto do Cam”es prega a Fidelidade eterna, sem condi‡”es nem
CL>temores de um dia ter fim, e o do Vinicius vˆ a Fidelidade
CL>tempor ria, sabendo-se de antem„o que ter seu fim.
CL>Ou haver interpreta‡„o mais precisa?
Mais precisa n„o sei... Mas diferente com certeza. O que ‚ incr¡vel,
na verdade, ‚ o uso do termo "ant¡tese". O que oporia os dois textos,
se n„o qualitativamente, pelo menos no que se refere … modernidade.
Ambos s„o textos que falam sobre a fidelidade, com elementos
tradicionais (Vinicius, muitas vezes, escreve de uma maneira idˆntica …
do s‚culo XVI) e, por que n„o? , tamb‚m in‚ditos. A fidelidade de Cam”es
termina com a morte. "Mais servira se n„o fora/ para t„o longo amor t„o
curta a vida". J Vinicius levanta mais hip¢teses, como a pr¢pria morte
("Quem sabe a morte, ang£stia de quem vive") ou a solid„o ("Quem sabe a
solid„o, fim de quem ama"). S„o textos complementares, em muitos
aspectos, mas n„o antit‚ticos.
O grande risco de uma compara‡„o entre dois textos ‚ exatamente
este: cristalizar uma interpreta‡„o do choque, n„o permitindo que
dialoguem com mais suavidade entre si. J que se trata de um trabalho de
uma professora, este risco ‚ dobrado: pode dar a entender ao aluno
(mesmo que acidentalmente e sem nenhuma inten‡„o) de que o texto de
Cam”es ‚ mais romƒntico, mais tradicional, portanto fechado, enquanto o
"Soneto de Fidelidade" seria mais moderno, pois mais realista e
relativizado. Os conceitos que da¡ derivam s„o muito perigosos, pois ‚
muito comum encontrar-se em livros literatura a referˆncia ao passado
como algo irreal (e portanto distante do nosso contexto), o que acaba
por criar no leitor a sensa‡„o de que a literatura realmente "evolui",
no pior sentido da palavra, pois s¢ podemos entender (e por extens„o
gostar) daquilo que est pr¢ximo de n¢s.
claro que nem penso em julgar o trabalho da professora, ainda mais
sem lˆ-lo ! Quem sou eu ?! Minha pergunta originou-se do fato de que s„o
dois sonetos bel¡ssimos, e a palavra "ant¡tese", por isso mesmo, acabou
por soar spera.
From: ANGELA CARNEIRO
To: JOAO QUENTAL
Subject: Soneto de Cam”es
JQ>CL>.CL>Este primoroso soneto de Cam”es, do s‚culo XV, tem sido
>CL>.CL>apresentado como a ant¡tese do Soneto da Fidelidade, do Vinicius
>CL>.CL>de Moraes, s‚culo XX (aquele do "seja infinito enquanto dure").
JQ> Mais precisa n„o sei... Mas diferente com certeza. O que ‚ incr¡vel,
>na verdade, ‚ o uso do termo "ant¡tese". O que oporia os dois textos,
>se n„o qualitativamente, pelo menos no que se refere … modernidade.
>Ambos s„o textos que falam sobre a fidelidade, com elementos
>tradicionais (Vinicius, muitas vezes, escreve de uma maneira idˆntica …
>do s‚culo XVI) e, por que n„o?
N„o ser porque o Soneto da Fidelidade n„o seja de autoria de
Vin¡cius? Sei que ‚ plagio de um poema francˆs. Posso at‚ pedir
para o Guilherme Figueiredo me dar os dados. Mas lembro-me de
ter lido no jornal o poema original.
From: JOAO QUENTAL
To: ANGELA CARNEIRO
Subject: Soneto de Cam”es
AC>.CL>Este primoroso soneto de Cam”es, do s‚culo XV, tem sido
AC>.CL>apresentado como a ant¡tese do Soneto da Fidelidade, do Vinicius
AC>.CL>de Moraes, s‚culo XX (aquele do "seja infinito enquanto dure").
AC>JQ> Mais precisa n„o sei... Mas diferente com certeza. O que ‚ incr¡vel,
AC>>na verdade, ‚ o uso do termo "ant¡tese". O que oporia os dois textos,
AC>>se n„o qualitativamente, pelo menos no que se refere … modernidade.
AC>>Ambos s„o textos que falam sobre a fidelidade, com elementos
AC>>tradicionais (Vinicius, muitas vezes, escreve de uma maneira idˆntica …
AC>>do s‚culo XVI) e, por que n„o?
AC> N„o ser porque o Soneto da Fidelidade n„o seja de autoria de
AC> Vin¡cius? Sei que ‚ plagio de um poema francˆs. Posso at‚ pedir
AC> para o Guilherme Figueiredo me dar os dados. Mas lembro-me de
AC> ter lido no jornal o poema original.
J ouvi esse papo antes. Ser verdade ? J disseram que o Pessoa, em
"Mensagem", teria plagiado o Miguel de Unamuno (naquele bel¡ssimo "a
Europa jaz posta nos cotovelos"). Mas gostaria de ler, sim, o poema
"original". D para conseguir ?
From: ANGELA CARNEIRO
To: JOAO QUENTAL
Subject: Soneto de Cam”es
AC> N„o ser porque o Soneto da Fidelidade n„o seja de autoria de
AC> Vin¡cius? Sei que ‚ plagio de um poema francˆs. Posso at‚ pedir
AC> para o Guilherme Figueiredo me dar os dados. Mas lembro-me de
AC> ter lido no jornal o poema original.
JQ> J ouvi esse papo antes. Ser verdade ? J disseram que o Pessoa, em
>"Mensagem", teria plagiado o Miguel de Unamuno (naquele bel¡ssimo "a
>Europa jaz posta nos cotovelos"). Mas gostaria de ler, sim, o poema
>"original". D para conseguir ?
O autor serve? O Poema ‚ de Henry Regnier. O que Vin¡cius fez
pelo o que me lembro foi quase uma tradu‡„o. A frase que seja
eterno enquanto dure pelo menos foi assim. Acho que n„o foi
pl gio, foi homenagem.
From: JOAO QUENTAL
To: ANGELA CARNEIRO
Subject: Soneto de Cam”es
Por enquanto serve. Vou dar uma fu‡ada nos alfarr bios, tenho algo
do Regnier, s¢ preciso achar.
Mas essa hist¢ria de "pl gio" ‚ sempre complicada. Vc acredita que
se tratou de uma homenagem. Como saber ? Normalmente, as homenagens s„o
indicadas, de alguma maneira. Uma dedicat¢ria, aspas, o t¡tulo (com as
express”es "d'apr‚s", "par frase"), uma nota... N„o houve nada, no caso.
Melhor seria, ent„o, chamar-se de "influˆncia". Sem ang£stia, para o
pesar do Bloom ! :)
From: JOAO QUENTAL
To: PEDRO DEMASI
Subject: Cam”es
JQ> PS2 - O portuguˆs de Cam”es n„o ‚ medieval. Tamb‚m n„o ‚ moderno.
JQ>Uma transi‡„o, isso sim. Dizem que foi ele que "criou" a l¡ngua
JQ>portuguesa. Rola a¡ um certo exagero.
PD>Rapaz, a minha m„e tem um fac-s¡mile da primeira edi‡„o (acho que ‚
PD>a primeira, sen„o deve ser a segunda) d'Os Lus¡adas. uma coisa muito
PD>interessante. Primeiro porque n„o h uma regra fixa de grafia; em al-
PD>guns trechos h palavras escritas com "y" e em outros com "i". Se n„o
PD>me engano, este ‚ o caso de "Rei" que est grafado tamb‚m como "Rey".
f cil descobrir se a edi‡„o da sua m„e ‚ ou n„o a primeira. Dois
elementos asseguram tratar-se da edi‡„o "princeps":
1) A data - deve vir na portada, logo abaixo do nome do impressor: 1572.
2) O pelicano - Nessa mesma portada, no alto, h a figura her ldica
de um pelicano. Sua cabe‡a deve se encontrar voltada para a *esquerda* !
Por que isso ? Alguns anos mais tarde (provavelmente em 1576), surgiu
uma edi‡„o ap¢crifa de "Os Lus¡adas". N„o se sabe muito bem por que ela
foi feita, mas acredita-se que seja uma "pirataria" do impressor,
querendo fugir da obriga‡„o de ter que lidar com a Inquisi‡„o. Portanto,
ele imprimiu de novo o livro, com a mesma data na portada (1572), mas
cheio de "corre‡”es" da sua pr¢pria cabe‡a. Pouca gente sabe disso, e
acaba lendo, mesmo hoje em dia, a edi‡„o ap¢crifa, e n„o o texto
original. Descobrimos ent„o a fraude olhando o pelicano: nesse caso, sua
cabe‡a se encontra voltada para a direita ! Curioso, n„o ? :)
Quanto …s regras de grafia, Cam”es faz modifica‡”es no seu texto por
diversas raz”es:
1) Para observar os princ¡pios da pros¢dia;
2) Para manter a tonicidade dos versos;
3) Porque n„o havia, realmente, uma grafia £nica para a palavra.
Mas o principal motivo da diversidade de grafias n„o ‚ culpa de
Cam”es, mas sim do seu famigerado impressor, um tal de Antonio
Gon‡alves. A arte tipogr fica, em Portugal, ainda era feita aos trancos
e barrancos no s‚culo XVI. Ora, quando o sujeito tinha que montar uma
p gina, ele precisava usar, sei l , 30 letras "i". S¢ que ele n„o tinha
tantos tipos assim ! Ent„o, adaptava. Ent„o usava l o n£mero de "is"
que ele tinha e o resto grafava usando o "y"... :))))) L pelas tantas,
ent„o, apareceria na p gina, ao inv‚s de "Rei", o tal do "Rey".
Precariedades do classicismo em Portugal...
S¢ por curiosidade (e para inaugurar meu scanner), subi para c um
arquivinho chamado "pelicano.zip". Tem as fac-similes das duas edi‡”es
d'"Os Lus¡adas". curioso ver. Se interessar, em breve deve estar liberado.
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From: JOAO QUENTAL
To: PEDRO DEMASI
Subject: Sonetos - 2
(Cam”es x Petrarca)
JQ º Toda a semelhan‡a do mundo ! Afinal, ‚ sabido
º que Cam”es baseou muitos de seus textos em
º poemas de Petrarca e Virg¡lio. Era a norma na
º ‚poca: um bom poeta tinha que ter lido os cl s-
º sicos. Mais do que isso: devia cit -los, res -
º crevˆ-los, transform -los em mat‚ria atual. Ou
º ent„o n„o seria um grande poeta...
PD³Mam„e dizia a mesma coisa. Ali s, de "um bom poeta" em diante,
³quando li, parecia estar ouvindo a minha m„e.
Sublime figura, vossa genitora ! Granjeou minha simpatia.
Profunda. :)
JQ º Afinal, o que vem a ser "As armas e os bar”es
º assinalados" ?
PD³Armamentos e nobres marcados?
E al‚m disso ? Conheces "arma virunque cano" ?
O in¡cio da Eneida, de Virg¡lio. Igualzinho: "canto
as armas e os var”es". Al‚m das cita‡”es, ainda no
canto I, de Homero, Ov¡dio e Andr‚ de Resende.
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