Carta aberta ao proletariado argentino
Conflicto

Irmãos:

1) A crise que se agita tão duramente sobre vossa maltratada existência pouco tem de argentina, não é consequência de "más gestões", "políticos corruptos", ou coisa parecida: é o capitalismo mundial que morre. Vós sois tão somente alguns dos primeiros a serem imolados junto dele; junto deste cadáver horripilante que em seu leito de morte continua assassinando milhões de proletários no mundo inteiro. Muito sangue terá de correr para que o sistema inteiro por fim desmorone.

2) O capital usa todas as suas armas para vos combater: partidos, sindicatos, ultra-esquerdistas, nacionalismo, balas, peronismo, pancadaria, tortura, cárcere. Em consequência, deveis usar todas as vossas armas para combater o capitalismo (a primeira de todas, a consciência de vosso/nosso projeto revolucionário de abolição da sociedade de classes, a consciência de pertencer a um movimento histórico e mundial pelo comunismo). Não pareis aqui se não quiserdes ser aniquilados. Nenhuma das forças que dizem vos representar, a vós e a vossos interesses, é outra coisa a não ser diferentes rostos da besta capitalista, nem defendem outro projeto senão o da vossa submissão e exploração. Queimai as sedes dos partidos. Não deixeis vossos assuntos nas mãos dos sindicatos: ponde vossos punhos na cara dos sindicalistas.

3) Vosso labor incendiário teve a virtude de saber tomar as ruas, e a insuficiência de não defender essa conquista. Nos dias e meses de luta que virão, devereis ganhar a força para impor vosso projeto, tomar as ruas, paralizar a economia, lançar por terra os contragolpes reacionários que virão. A gigantesca tarefa de demolição que a história vos exige é algo para o qual devereis estar preparados.

4) As sucessivas demissões e readmissões não foram mais do que manobras de distração, fraudes grosseiras para que pensasseis ter conseguido algo, mesmo uma pequena vitória. Dos "novos" burgueses no poder só podeis esperar mais duros golpes em vossas condições de sobrevivência. Irmãos: se não prosseguirdes na luta, se não a levardes a suas últimas consequências, continuareis fodidos, cada vez mais. Levar a luta a suas últimas consequências significa assumir as primeiras consequências: a luta por vossos próprios interesses de classe, sem consideração alguma à economia nacional ou à situação das empresas. A promessa de não-pagamento da dívida externa é um presente do governo recentemente demitido para os grandes burgueses argentinos, esses mesmos que entesouram bilhões de dólares nos "paraísos fiscais". A questão da dívida externa é um assunto que interessa aos capitalistas de todos os países, não aos proletários: que se mordam mais ou menos entre si, em nada muda nossa situação como explorados. Os malabarismos monetários com que uns e outros cães pretendem "solucionar" a crise significam, simplesmente, mais e mais miséria para vós. Proletários: não confieis em ninguém mais do que em vós mesmos e em vossas próprias forças, lutai por vossos próprios interesses de classe sem considerações com a economia e o estado que, mais cedo ou mais tarde, vos vereis obrigados a destruir.

5) Irmãos: vossa revolta constitui a ponta de lança do movimento internacional pela destruição do capital. As circunstâncias históricas vos colocaram em tal posição e devereis ter a coragem, a determinação e a consciência necessárias para levá-la à suas últimas e naturais consequências, abrindo o caminho a um proletariado que hoje, em todo mundo, começa de novo a se revoltar contra seus exploradores. Junto com os proletários (talvez às vezes chamados "camponeses", "indígenas", "bérberes" etc.) da Bolívia, Argélia, junto com os proletários da Europa que se dedicam a estragar a festa dos poderosos, junto com os que em qualquer lugar do mundo se rebelam contra a exploração e a opressão do Capital-Estado, sois a parte visível do iceberg que lançará, por fim, esta merda de barco à pique. Irmãos: vosso fogo é o melhor meio de comunicação. As colunas de fumaça que se estendem por toda a Argentina atravessam as fronteiras e são vistas na Bolívia, Argélia, Coréia, Europa... Não deixeis de falar com fogo, desprezai todas as câmeras de televisão: esse não é vosso terreno.

Companheiros: se nossos argumentos vos pareceram corretos, difundi e reproduzi com a maior rapidez que possais este texto por todos os meios de que disponhais ou que possais ter ao alcance. E se não, esqueçai-o neste mesmo instante e começai em seguida a publicar outros que sejam melhores! Posto que está fora de dúvida o direito que tendes de julgar com rigor nossos modestos argumentos. Mas o que está ainda mais fora de dúvida é o que a escandalosa realidade, que nós revelamos tão bem quanto pudemos, não é matéria que vós possais julgar: pelo contrário, é ela que, finalmente, vai vos julgar a todos. Pela abolição do trabalho assalariado e a mercadoria. Pela destruição do Estado e da sociedade de classes. Pelo comunismo. Pela anarquia.

Conflicto. Papeles por la guerra social.

Apartado de correos 15104, cp 28080 Madrid, Estado español.

konflizto@hotmail.com

A versão original, em castelhano, pode ser encontrada em: http://usuarios.tripod.es/pimientanegra/argentina_carta_abierta.htm