PREFÁCIO AOS MANUSCRITOS ECONÔMICOS E FILOSÓFICOS
Karl Marx
Não é necessário assegurar ao leitor familiarizado com a Economia Política que minhas conclusões são o fruto de uma análise inteiramente empírica, baseadas em um meticuloso estudo crítico da Economia Política.
É claro que além de aos socialistas franceses e ingleses também recorri a trabalhos de socialistas alemães. Mas as obras alemães originais e importantes a este respeito - fora as de Weitling - limitam-se aos ensaios publicados por Hess no Einundzwanzib Bogen , e ao de Engels, "Umrisse zur Kritik der Nationaloekonomie" no Deutsch-Franzoesischer Jahrbücher. Nesta última publicação, eu mesmo indiquei, de forma bastante genérica, os elementos básicos do presente trabalho.
A crítica positiva, humanista e naturalista tem início com Feuerbach. Os trabalhos menos espetaculares de Feuerbach são os mais certos, profundos, extensos e duradouros em sua influência; eles são os únicos, desde a Fenomenologia e a Lógica de Hegel que contêm uma verdadeira revolução teórica.
Ao contrário dos teólogos críticos de nossa época, considerei o capítulo final do presente trabalho, uma exposição crítica da dialética hegeliana e de sua filosofia geral, como absolutamente essencial, pois isso ainda não foi feito. Esta falta de meticulosidade não é acidental, pois o teólogo crítico continua a ser um teólogo. Ele tem de partir, seja de certos pressupostos da filosofia aceita como oficial, ou então, se no decurso da crítica e como resultado de descobertas de outras pessoas surgirem-lhe na mente dúvidas acerca dos pressupostos filosóficos, abandona-os de forma covarde e sem justificativa, abstrai a partir deles, e demonstra ao mesmo tempo dependência servil face a elas e seu ressentimento a essa dependência de maneira negativa, inconsciente e sofística.
Olhada mais de perto, a crítica teológica, que foi no começo do movimento um fator genuinamente progressista, é vista como sendo, em última análise, nada mais que a culminação e conseqüência do antigo transcendentalismo filosófico, e especialmente hegeliano, deformado numa caricatura teológica. Descreverei alhures, com maior minúcia, esse ato interessante de justiça histórica, essa nêmese que agora destina a teologia, sempre o setor infectado da filosofia, a espelhar em si a mesma dissolução negativa da filosofia, isto é, o processo de sua decadência.
Karl Marx, 1844