Homeopatia

(extraído de Almanaque Abril 2000 e do Guia Médico da Família - Editora del Prado)

Sistema terapêutico introduzido em 1796 pelo médico alemão Samuel Christian Friedrich Hahnemann (1755-1843) como método substitutivo da medicina tradicional. Considera que não existem doenças, mas doentes que devem ser física e psicologicamente tratados, cujos sintomas são sempre importantes pois traduzem uma reação individual. A doença é vista como uma reação ao desequilíbrio do ser vivo. Por isso, o paciente é analisado como um todo e não apenas pela doença que apresenta. Formada pelos radicais gregos homoios (semelhante) e pathos (sofrimento), a palavra homeopatia opõe-se etimologicamente a alopatia, que tem origem em allos (diferente). É reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e norteia-se por quatro princípios básicos.
O primeiro, Similia similibus curentur, diz que os semelhantes devem ser tratados pelos semelhantes. Isso significa que a própria causa da doença é a fonte de cura, ou seja, que toda substância capaz de provocar em um indivíduo saudável um quadro de sintomas também pode fazer desaparecer o mesmo quadro, quando prescrita em pequenas doses. O segundo, Experientia in homine sano, ou experimentação no homem são, é o estudo dos medicamentos nas pessoas sadias. O terceiro, Dosae minimae, ou doses mínimas, é o processo de preparação dos medicamentos de origem vegetal, mineral ou animal baseado em diluições infinitesimais (quantidades infinitamente pequenas) da substância, capaz de potencializar seus efeitos. O último, Unitas remedii, ou medicamento único, é a medicação receitada terapeuticamente, baseada no estudo de diversos remédios. Cada paciente recebe uma receita específica, de acordo com seu histórico sintomatológico.
Hahnemann estuda o pensamento de grandes nomes da medicina, como Hipócrates e Paracelso, observando a preocupação com a sintomatologia, a dieta alimentar, os fatores psicológicos e a crença numa energia vital inerente ao homem que o remédio estimularia.

A homeopatia é uma disciplina médica amplamente utilizada em certos países, particularmente na França. Sem dúvida continuará tendo encarniçados adversários e adeptos incondicionais enquanto os segredos de seu eventual mecanismo de ação permanecerem no mais completo mistério. Seus métodos diagnósticos, da mesma forma que seus instrumentos terapêuticos, os famosos glóbulos, fazem dessa modalidade terapêutica um método original.
No final do século XVIII, farto da impotência da medicina da época e dos ares de suficiência dos doutores, Hahnemann decidiu abandonar o exercício da medicina. Assim o fez até o dia em que leu uma descrição dos efeitos da quinina, remédio contra a febre cujas virtudes haviam sido descobertas na América pelos europeus. Considerando pouco claras as explicações, Hahnemann empreendeu por sua conta, e em sua própria pessoa, o estudo dos efeitos da planta. Para sua surpresa verificou que essa substância utilizada para combater a febre era capaz de provocá-la em um organismo são. Seguiu então adiante com seus experimentos, primeiro com a quinina e depois com outras substâncias de origem vegetal, mineral ou animal em si mesmo e em outras pessoas. Dessa forma comprovou que o mesmo produto, em algumas circunstâncias, era capaz de fazer desaparecer determinados sintomas (a febre, por exemplo, no caso da quinina) enquanto em outras provocava seu aparecimento. Hahnemann estabeleceu a patogenesia de um grande número de substâncias, ou seja, os protocolos experimentais que permitem determinar os efeitos desses produtos no organismo são. Comparou os sinais patológicos de seus pacientes com os efeitos das diferentes substâncias e escolheu como remédio para cada mal a substância cujos efeitos sobre a pessoa sã mais se assemelhavam aos sintomas da doença em questão.
Hahnemann verificou que em muitas ocasiões era difícil conseguir um efeito terapêutico puro, pois com freqüência o efeito buscado era precedido por um agravamento que tornava delicada a utilização da substância. Voltando ao caso da quinina, tratava-se de conseguir que essa substância vegetal chamada china em latim e em termos homeopáticos, não provocasse febre, mas sim que a suprimisse. Hahnemann descobriu então as vantagens de diluir as substâncias medicamentosas, e de fato chegou a diluí-las até extremos tão consideráveis que surgiu na homeopatia o conceito de infinitesimalidade, pelo qual alguns dos preparados comumente utilizados não contêm sequer uma única molécula do produto original. Seja como for, e independentemente de que aceitem ou não as explicações oferecidas por Hahnemann e seus sucessores, baseadas na energia vital, no eletromagnetismo ou em um misterioso poder das moléculas para deixar vestígios na água, o certo é que os homeopatas de hoje em dia continuam utilizando diluições superiores a 12 CH, que são aquelas que não contêm uma só molécula da substância ativa, e ainda assim obtém bons resultados em muitos pacientes. Os usuários de medicina homeopática estão familiarizados com essa forma de expressar as diluições em termos de CH ou centesimais de Hahnemann, que são obtidas diluindo-se uma parte da substância medicamentosa em cem de água ( ou de álcool). Essa primeira operação dá como resultado uma diluição de 1 CH. Se uma parte dessa diluição é diluída em cem de água ou de álcool, o resultado é uma diluição de 2CH, e assim sucessivamente.
A crítica que os adversários da homeopatia esgrimem com mais freqüência é: como é possível que um remédio que desapareceu conserve sua eficácia? As explicações propostas por Hahnemann e seus sucessores não são cientificamente satisfatórias. Entretanto, em repetidas ocasiões tentou-se obter, por um lado, provas da atividade dos remédios muito diluídos e, por outro, uma explicação que fosse convincente para os cientistas.


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