O Amor e a Felicidade

 

 

 

 

 

 

Eu vos escuto a falar de amor.

 

E, em vossas palavras, não consigo distinguir a voz do Amor. Ouço, antes, a voz das vossas vontades e das vossas carências.

 

Acreditais que o Amor possa morar apenas em vosso coração?

 

Pode o oceano estar contido em um único mar? Ou a melodia em apenas uma nota? Ou a beleza somente em uma flor?

 

 

O vosso, é o amor que exige.

          

O que, para existir, reclama retribuição. O que cobra um beijo por um beijo, um carinho por um carinho, uma concessão por uma entrega.

 

Em verdade, antes vendeis que ofereceis o vosso amor.

 

Como se fosse uma mercadoria de troca, algo que vos pudesse dar direito à felicidade. Como se a felicidade não precisasse ser conquistada a cada dia, não fosse o fruto do vosso próprio crescimento.

 

Sim, no Amor está a felicidade. E a encontrais, quando permitis que ele vos envolva; quando cada beijo é um sonho, cada encontro uma aventura, cada dia uma nova descoberta.

 

Quando amais sem restrições, sem exigências. Enquanto o ser amado é todo o vosso mundo, e longe dele nada encontrais que vos possa trazer prazer. Enquanto os seus olhos são a luz dos vossos olhos, o seu corpo a fonte dos vossos desejos, os seus sonhos os vossos próprios sonhos.

 

Então, sois felizes. Porque nada mais desejais do que estar ao seu lado, do que ouvir a sua voz. Porque o tempo, que vos traz a saudade, é o mesmo que traz em si a esperança do reencontro.

 

Esse é o Amor. O que se basta a si mesmo, que nada exige senão a dádiva de existir; que em si próprio encontra a felicidade e vos oferece o que tendes de mais caro: os vossos próprios sonhos.

 

Entretanto, não o sois capazes de reter por muito tempo. Porque temeis a doação, a entrega, o sofrimento. E não vedes que só vos pode trazer a felicidade o que também vos poderia trazer o sofrimento; para que possais conhecer a ambos, é necessário que neles esteja a vossa alma.

 

Assim, o instinto de preservação vos afasta do Amor. Sim, e também o orgulho, pois não vos agrada admitir que a vossa vida dependa de outra vida. Sobrevém o desejo de posse e buscais examinar o comportamento do parceiro, para que os seus defeitos vos façam amá-lo menos. E, como nenhum dentre vós é perfeito, logo o ideal perece sob a carga de defeitos.

 

É assim que fazeis. Sois como o tresloucado artista, que cria as mais lindas obras para destruí-las depois. Afinal, o homem não criou o telescópio para examinar as estrelas, e assim destruir o fascínio do seu brilho?

 

Deveríeis, antes, viver o vosso amor. E, uma vez que o Amor, em vós, não pode ser dissociado do corpo, a ele entregardes o vosso corpo e a vossa alma. Assim, as carícias do ser amado não apenas vos provocarão as sensações do corpo, mas atingirão o vosso verdadeiro Eu.

 

Vivei, apenas, o vosso amor. Sem medo ou exigências, sem orgulho ou prevenções. Fechai os vossos ouvidos para as vozes do mundo, os vossos olhos para os seus falsos brilhos; abri os vossos corações, para que neles o Amor possa penetrar.

 

Então, o Amor vos fará felizes !