Cultura do Floclore Nordestino

Por ser muito grande a quantidade de motivos que compõem o nosso folclore, mesmo que se escrevesse um avantajado livro sobre o assunto não se poderia garantir que estivesse completo. Isto sem considerar os motivos ainda não pesquisados. Assim, na elaboração desta obra, preocupamo-nos com os motivos mais representativos.

No folclore Nordestino, colaboraram principalmente, além do elemento nativo (Indios), o português e o africano. Estes três povos constituíram, podemos dizer, as raízes da nossa cultura. Posteriormente, imigrantes de outros países, como Italia e Alemanha, deram sua contribuição ao nosso folclore, tornando-o mais complexo e mais rico.

A tendência dos costumes de povos diferentes é , quando estes se relacionam de modo íntimo, constituir expressões híbridas, ou seja, suas culturas se misturam, resultando em novas expressões de manifestação popular.

Por ser o Brasil de dimensões continentais, o povo, embora mantenha basicamente uma unidade espiritual e lingüítica, às vezes apresenta costumes bem isolados. O frevo, por exemplo, é uma dança que caracteriza Pernambuco. Já ocorre o contrário com o bailado boi-bumbá, que aparece em várias localidades do Brasil, sob outras denominações, como bumba-meu-boi, boi-surubim, boi-mamão e boi-calemba. Pode sofrer algumas transformações em suas características, conforme a localidade, mas o tema é o mesmo.

O estudo do folclore e o respeito às tradições é um dever patriótico. Os povos mais civilizados dão o exemplo. Conhecendo nosso folclore, conhecemos a nós mesmos e sabemos que um povo se constitui lentamente, alicerçado em suas tradições. A aceitação de modismos estrangeiros que nada representam como cultura só pode prejudicar a estrutura e evolução de um povo.

INSTRUMENTOS MUSICAIS

A par das danças, dos bailados, o povo criou instrumentos musicais característicos, primitivos, é verdade, porém expressivos, apropriados à expressão do sentimento que devem acompanhar. O índio e o negro muito contribuíram para isso, mas não se pode deixar de considerar, também, o elemento europeu. Dentre os innúfameros instrumentos musicais incorporados ao nosso folclore, vamos destacar o berimbau.

BERIMBAU

Constitui-se de um arco de madeira retesado por um arame, de uma caixa de ressonância, amarrada na parte anterior do arco, e que caracteriza a extremidade inferior deste, de uma rodela de ferro ou moeda para retesar mais o arame, de um recipiente semelhante a uma cestinha, cheio de pequenas conchas ou sementes, com que se marca o ritmo. Para percutir a corda, usa-se uma vareta de madeira resistente. É conhecido também por berimbau de barriga, por oposição a berimbau de beiço, o mesmo que marimbau. Este, um instrumento que se prende aos dentes a fim de tocar. Hoje está em desuso. Os dois tipos originaram-se da Africa. O berimbau de barriga, ou somente berimbau, como hoje é conhecido, serve especialmente para acompanhar a capoeira.

FESTAS

As festas populares se caracterizam pela repercussão que têm entre o povo, mobilizando-o parcial ou quase totalmente para participar dos eventos ou a eles assistir. De caráter nacional, podemos considerar o carnaval e as festas juninas. Porém, enquanto o carnaval continua a empolgar multidões, as festas juninas tendem a desaparecer, pelo menos nas grandes cidades. Certas festas restringem-se hoje a algumas localidades interioranas, como as Folias de Reis, e não atraem senão pessoas das proximidades. Já a Festa da Uva, introduzida pelos italianos e incorporada ao nosso folclore, é uma festa local de grande repercussâo,. pois atrai visitantes de longas distâncias.

FESTAS JUNINAS

Entre as festas populares do Brasil, as festas juninas foram das mais consagradas. Tornam-se cada vez mais raras, mais- af astadas dos grandes centros. Não se entenderam com o progresso. São festas extremamente humanas, de promessas, de esperanças, de convívio. Caracterizadas pelos "fogos, pelos balões, pelas fogueiras, pelo mastro. Os comes e bebes: batata-doce, pipoca, vinho, quentão. As festas juninas constituem comemorações dos seguintes santos : Santo Antônio(13 de junho), São João (24 de junho) e São Pedro (29 de junho).

FOLGUEDOS

As expressões folclóricas que constituem um folguedo apresentam-se diversificadas, porém compõem um todo. Vários motivos podem aparecer ao mesmo tempo ou em seqüência, dentro do mesmo grupo. O maracatu, por exemplo, que desfila no carnaval pernambucano, além da parte estética e musical apresenta uma parte dramática. Nos folguedos, os participantes folgam (divertem-se) de diversos modos.

CAVALHADA

(JOGO DA ARGOLINHA)

Diversos jogos fazem parte da cavalhada. Um deles é o jogo da argolinha. Numa trave é pendurada uma argola enfeitada com fitas. O cavaleiro deve, em plena corrida, introduzir a lança na argolinha e retirá-la da trave. Depois, presenteia uma jovem com a argolinha obtida graças à sua habilidade. Além dos jogos, a cavalhada apresenta uma parte dramática. Há luta entre cristãos e mouros, ou seja, entre o Bem e o Mal. Lembrança da Idade Média, a cavalhada foi introduzida no Brasil-Colônia. Aparece em várias cidades brasileiras.

CAPOEIRA

Os escravos africanos foram os introdutores da capoeira no Brasil. Usavam-na como arma de defesa. Quando fugiam e eram acuados pelos perseguidores, defendiam-se com golpes de capoeira. Mais tarde, os capoeiras começaram a ser empregados como guarda-costas de políticos. Em suas investidas, usavam navalhas. Hoje é, sobretudo, um jogo atlético, uma demonstração pacífica de destreza. Formada uma roda de participantes, dois a dois entram no meio, acompanhados principalmente pela música do berimbau.

IEMANJA

É um orixá, ou seja, uma divindade dos iorubanos, que a trouxeram da África. Recebe outros nomes, como Rainha do Mar, Dona Jana (na, Mãe d'Agua. Os devotos de Iemanjá lançam presentes ao mar: perfumes, flores, espelhos, e outros. Se ficam no fundo é porque foram aceitos por ela, caso contrário, vêm dar á praia. O culto à 0 lemanjá conta com grande número de devotos, e a cerimônia é realizada em vários pontos do litoral brasileiro.

CANDOMBLÉ

Culto africano introduzido no Brasil pelos escravos. Algumas de suas divindade: Xangô, Oxum, Oxumaré e lemanjá, representando esta, por si só , um verdadeiro culto. De um modo geral, as cerimônias religiosas do candomblé são realizadas nos terreiros, locais especialmente destinados a isso. As cerimônias são conduzidas pela mãe de santo ou pelo pai de santo. Cada orixá tem uma aparéancia especial e determinadas preferéncias. O toque de atabaque (espécie de tambor) e a dança individualizam um determinado orixá. Os orixás são divindades (santos) do candomblé. Cada pessoa é protegida por um dos orixás e pode ser possuída por ele, quando, então, ela se transforma em cavalo de santo. Há uma correspondéncia, aqui no Brasil, entre orixás e santos católicos. Isso aconteceu por um estratagema dos escravos. Proibidos pelos seus senhores de seguirem a religião africana, continuaram a segui-la disfarçadamente, dando às suas divindades nomes de santos católicos. O candomblé, hoje muito difundido no Brasil, recebe outros nomes, conforme a localidade: macumba, xangô, tambor de mina e batuque.

FESTAS RELIGIOSAS

Entre as várias comemorações da Igreja Católica, algumas tomaram um cunho verdadeiramente popular, passando a integrar o nosso folclore. Incompatíveis com o tumulto das grandes cidades, continuam a ser realizadas em cidades mais pacatas do interior.

ARTE INDIGENA

O Índio brasileiro possui admirável habilidade artística. Mesmo limitado pelas condições primitivas em que vive, realiza os mais diversos trabalhos, alguns de difícil execução. Tal habilidade é fruto de uma arraigada tradção, que permite a total transferência dos conhecimentos de uma geração a outra

PENAS

Os trabalhos feitos com penas (arte plumária) têm grande destaque entre os Índios. Gostam de enfeiiar se, seja por simples vaidade ou principios religiosos. É costume criarem aves com a finalidade de arrancar-lhes as penas para a confecção de adornos. Com as penas, realizam trabalhos de grande senso estético, não só na confecção, como no equilíbrio das cores. Se desejam determinada cor não encontrada em estado natural, sabem consegui-la modificando, pelo aquecimento, a cor original das penas. Entre os- seus trabalhos, destacam-se os cocares, enfeites que usam na cabeça.

PINTURA

Dificilmente os Índios enfeitam com pinturas as suas habitações. Também não o se preocupam muito, nesse particular, com a cerâmica e outros objetos. E no próprio corpo que eles aplicam todas as suas habilidades de artistas. Há tribos que apresentam desenhos corporais maravilhosos, tanto pelas figuras como pelas cores escolhidas.

CERAMICA

A produção de cerâmica é muito importante entre os Índios. Peças dos mais variados feitios, algumas caprichosamente pintadas, têm os mais diversos usos. A cerâmica resulta do barro trabalhado e endurecido pelo aquecimento. Os mais divulgados produtos de cerâmica indígena estão na ilha de Marajó, no Pará. Constituem peças de confecção aprimorada e grande beleza.

ARTESANATO

O artesanato é muito desenvolvido no Brasil. Diversos produtos aparecem, tanto destinados ao uso comum, como para enfeitar. No primeiro caso, temos a moringa, o torrador de café, as panelas e outros. No segundo caso, aparecem os boizinhos, as figuras de presépio, as estatuetas... A cerâmica e a madeira representam as matérias-primas para estes trabalhos. Há, porém, outros setores artesanais, como a escultura em pedra, as rendas e os tecidos.

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS

Dividem-se os divertimentos infantis em brinquedos e brincadeiras. Classificam-se como brinquedos os jogos onde não há disputa: brincar com boneca, de cirandinha, empinar papagaio; como brincadeiras, os jogos em que prevalece a intenção de vencer: pegador, bolinha de gude, amarelinha. Além de seu valor folclórico, os brinquedos e brincadeiras constituem uma forma salutar de divertimento infantil, e infelizmente estão quase extintos nos grandes centros.

BARCOS COM CARRANCAS

Os barqueiros do rio São Francisco temem que o Negro d'Água vire as suas embarcações. Para assustá-lo, colocam na proa uma, carranca. O Negro d'Água é um ser mitológico que o povo acredita habitar as águas do "Velho Chico", como o rio São Francisco é carinhosamente chamado. O Negro d'Agua tem o hábito nem um pouco feliz de virar as embarcações, conforme lhe dá na cabeça. A carrancas, esculpidas em madeira, não reproduzem expressões normais.São expressões imaginadas, monstruosas, para manter afastado o Negro d'Água. São preciosos trabalhos de arte, pela criatividade dos artesões e esmero com que são executadas. Outra função das carrancas é prevenirem os barqueiros quando o barco vai afundar. Dizem eles que nestes casos as carrancas gemem três vezes.

CASA DA FARINHA

O uso da mandioca era conhecido pelos índios. Com a mandioca, produziam um tipo de bolo (beiju), ainda bastante popular no Nordeste. Os portugueses, percebendo o valor que representava a mandioca, trataram de industrializá-la, para o que utilizaram os princídpios aplicados na transformação da uva e da azeitona. Surgiu, assim, a casa da farinha. A mandioca, depois de raspada, passa pela máquina de ralar. Colocada no tipiti, uma espécie de cesta, é espremida na prensa, para tirar o líquido venenoso ( ácido cianídrico), conhecido por manipuera, pois é a mandioca brava . que se utiliza para a produção de farinha., Mas esse líquido não é perdido. Devidamente tratado, obtém-se o molho tucupi e o polvilho. A mandioca é retirada em blocos do tipiti, desmanchada em peneiras e levada ao forno para torrar. Geralmente a casa da farinha é de aluguel, pois nem todos os interessados podem possuir uma.