O Mestre Compreende

Livro: A Um Passo da Imortalidade
Eros & Divaldo P. Franco


    Os discípulos acompanhavam o Guru, em silêncio, na direção do monastério.

    As exigências morais eram estritas, severas.

    Proibiam-se falar em demasia, comer em excesso, dormir sem necessidade.

    Canalizar as forças sexuais a benefício do equilíbrio físico, emocional e psíquico constituía regra fundamental de comportamento.

    Não se devia tocar, nem permitir-se ser tocado por mulher alguma.

    Todos conheciam os seus deveres e o único direito permitido era o da obediência.

    Quando chegaram a pequeno rio, que deveriam transpor, uma jovem rogou-lhes auxílio para alcançar a outra margem.

    Sem nada dizerem todos se escusaram. Menos um aprendiz que a ergueu nos braços e deixou-a tranqüila no lado oposto.

    Houve um espanto geral sem palavras.

    Três dias depois, em uma pausa propiciadora para edificante conversação, os monges indagaram ao Mestre por que este não censurara o companheiro desatencioso, após o erro e a desobediência cometidos.

    O sábio fitou-os sereno e respondeu-lhes:

    "- Acima da ação está o pensamento, apresenta-se a intenção.

    A mulher, que pedia ajuda, não surgiu à mente do infrator como uma tentação para ele, portanto, transferindo- a de lugar, lá deixou-a. No entanto, aqueles que o desejam punir, inocente como ele se encontra, trouxeram-na, perturbadora, na mente e não a abandonaram ainda.

    A verdadeira pureza é natural; não tem subterfúgios; é tranqüila. A formal, no entanto, apresenta-se com esmero externo; porém se demora intranqüilizadora, infeliz.".