Deputado quer proibir exame de toque
O trauma de Isidório virou assunto nacional


O deputado estadual petista Sargento Isidório, que subiu à tribuna da Assembléia Legislativa da Bahia, para, indignado relatar o seu exame de próstata - quando foi tocado por um médico, segundo ele, com tanta virulência que o fez se sentir "deflorado" e o deixou "a ver estrelas" -, voltou à carga ontem, prometendo legislar sobre o assunto. Ele ameaçou apresentar projeto de lei ou indicação ao Ministério da Saúde recomendando a proibição do toque e a "utilização de métodos mais modernos" para o exame da próstata.

"Quero estimular o exame e, ao mesmo tempo, sugerir que seja encontrada uma nova maneira dele ser feito. Afinal, a ciência está avançada. É um constrangimento ser tocado dessa forma, ainda mais para um homem de família, como eu", disse o deputado petista em entrevista à imprensa, com a mesma seriedade com que tratou o assunto em plenário, na sessão de anteontem, usando até mímica, para detalhar melhor a agressão à sua masculinidade, perpetrada pelo médico durante a consulta.

A repercussão e o constrangimento que teve o inusitado discurso relatando o trauma que sofreu no consultório médico no exame de próstata não incomodou o petista. Mesmo ao ser informado que a matéria publicada pelo Correio da Bahia ganhou o mundo ao ser reproduzida em inúmeros sites na internet e que recebeu centenas de comentários de leitores - a maioria jocosos.

Apenas no portal do Terra, na parte dedicada a notícias populares, a reprodução da matéria do Correio provocou mais de 400 comentários, a maioria em tom de revolta e indignação. "É, caros colegas, bem feito para nós, brasileiros que, estipulamos o tipo de pessoas que ali entram. Pessoas as quais escolhemos para nos governar e nos representar. Pessoas estas que têm o atrevimento de dizer que trabalham a nosso favor", disse a internauta que se identificou apenas como Renata.

"É lamentável que, com tanta coisa importante para fazer, esses deputados ficam perdendo tempo com besteira", protestou o jornalista, antropólogo e escritor Antonio Rizério. "Se colocar um muro vão dizer que é hospício. Infelizmente, o povo tem memória curta, mas parece que agora está começando a dar sinais de vida", disse a internauta Rosângela Bandeira, de Porto Alegre (RS). Para mim, só faltou a cervejinha e o churrasquinho. Isso é coisa de se discutir no plenário? Com eleitores assistindo? Puro desrespeito", comentou a internauta que se identificou apenas como Bia.

No blog do jornalista Ricardo Noblat, foram 98 comentários, a maioria tratando o trauma do deputado Sargento Isidório com ironia e bom humor. "Espero que da próxima vez ele escolha um (médico) com a mão maior", sugeriu um dos leitores. "O assunto da pauta, literalmente, foi escolhido a dedo", afirmou Anacleto Fontes. Não faltaram trocadilhos. "De fato, trata-se de um caso para entrar nos anais da política", disse o internauta Antonio C. "Eu tenho 33 anos, acredito que minha próstata está em boa forma, mas quando necessitar fazer o exame, buscarei uma médica, de preferencia magrinha e pequena. E que seja com vaselina", comentou Juvenal Lagos.

A matéria do Correio também ganhou espaço em agências de notícias nacionais, a exemplo da Agência Estado, que entrevistou o deputado petista. "Uma das coisas que deixaram o Sargento Isidório, pai de seis filhos, mais indignado, é que após o exame, o médico abriu a porta e chamou o próximo paciente `como se nada tivesse acontecido´, enquanto o petista saiu do consultório se sentindo `deflorado´", disse a agência, em matéria assinada pelo correspondente na Bahia, jornalista Biaggio Talento.
Correio da Bahia. Salvador, 31 de março de 2005.