- ESPIRITISMO KARDECISTA -
(RELIGIÃO CRISTÃ ESPÍRITA KARDECISTA)

 
 

O FIM DA ESCRAVIDÃO

 

 

Escravidão, regime social definido pela lei e costumes como a forma mais absolutamente involuntária de servidão humana. O trabalho ou serviços de um escravo são obtidos pela força e a pessoa física é considerada como propriedade de seu dono, o qual dispõe de sua vida conforme a sua vontade.

Escravos na África Central, século XIX
Depois de quase três séculos de tráfico ativa de escravos, diversos poderes coloniais proibiram esta prática no início do século XIX. Entretanto, a propriedade de escravos só foi abolida muitos anos depois. A Dinamarca declarou ilegal a importação de escravos em 1792. A Grã-Bretanha seguiu o exemplo em 1807 e os Estados Unidos um ano depois.


Desde os tempos mais remotos, o escravo é legalmente definido como uma mercadoria cujo dono ou comerciante pode comprar, vender, dar ou trocar por uma dívida, sem que o escravo possa exercer qualquer direito e objeção pessoal ou legal. A escravidão está baseada num forte preconceito racial segundo o qual o grupo étnico ao qual pertence o comerciante é considerado superior.

A prática da escravidão data de épocas pré-históricas, embora sua institucionalização provavelmente tenha começado com o desenvolvimento da lavoura, que possibilitou as sociedades mais organizadas usar escravos para desempenhar determinadas funções.

A escravidão era uma situação aceita e logo tornou-se essencial para a economia e para a sociedade de todas as civilizações antigas. A Mesopotâmia, Índia, China, os antigos egípcios e hebreus utilizaram escravos. Nas civilizações pré-colombianas (asteca, inca e maia) os escravos eram empregados na agricultura e no exército.

A exploração da costa da África, o descobrimento da América pelos espanhóis, no século XV, e sua colonização nos três séculos seguintes, incrementaram consideravelmente o comércio moderno de escravos.

Abolição da escravatura na América
No continente americano as novas repúblicas aprovaram a libertação dos escravos em suas leis de abolição. Só no Brasil a escravidão perdurou até 1888.

Durante as guerras de emancipação, a população negra foi aliada simultâneamente aos patriotas nativos, mas também formaram alguns contingentes em favor dos realistas. No México, Miguel Hidalgo y Costilla e José Maria Morelos, proclamaram a abolição da escravatura e trataram de incorporar a população de origem africana as suas fileiras. De uma forma geral, o processo da abolição chocou-se com os interesses e as exigências da burguesia conservadora, contrária a sua aceitação.

A escravidão no século XX
Em 1926, a Convenção Internacional sobre a Escravidão realizada pela
Sociedade de Nações aprovou a supressão e proibição do comércio de escravos e a abolição de qualquer forma de escravidão. As propostas originárias desta convenção foram confirmadas na Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pelas Nações Unidas em 1948.

A escravidão no Brasil

Teve início com a chegada da primeira expedição colonizadora em 1532. Passaram-se quase quatro séculos até a data da abolição em 13 de maio de 1888. A escravidão desenvolveu-se em solo brasileiro em função da estrutura econômica e social do regime colonialista. A princípio, o índio foi a mão-de-obra escrava mais usada. Serviam para executar tarefas, às que estavam acostumados em seu habitat natural, como caça, pesca, transporte de madeira e guerrear contra outros índios. Quando utilizados para tarefas agrícolas, os índios não suportavam a mudança de vida e morriam. Por volta do ano 1550 começaram a chegar ao Brasil os primeiros escravos vindos da África. Eram trazidos pelos chamados navios negreiros e vendidos pelos comerciantes de escravos. Em todo o período colonial, o tráfico negreiro foi o produto mais importante de importação, do comércio exterior brasileiro. Calcula-se que cerca de três milhões de escravos africanos foram absorvidos pelo cultivo do açúcar, do fumo e do algodão, pela economia mineradora e pelo serviço doméstico.

Abolicionistas, reformistas dos séculos XVIII e XIX que lutavam pelo fim da escravidão, particularmente nos países de língua inglesa. Esse movimento criou as bases para a abolição da escravatura em todo o mundo, mas só conseguiu alcançar seu objetivo nos Estados Unidos depois de dividir o país e levá-lo a uma sangrenta guerra civil.


Escravidão indígena
, a escravidão dos indígenas americanos foi desde cedo proibida pela Igreja. Na bula Veritas ipsa (1537) o papa Paulo III reconhecia o estado de liberdade natural dos índios e a sua condição humana proibindo a escravização. Admitia-se, entretanto, que as tribos contra as quais fosse declarada a guerra justa devido a uma prévia agressão poderiam ser escravizadas.

No Brasil colonial os paulistas distinguiram-se pelas ações contra os indígenas do planalto, no século XVI e das missões jesuítas espanholas de Guairá, Tape e Itatim no início do século seguinte, reduzindo-os à escravidão ou servidão, uma vez que legalmente não podiam ser escravizados. Tal situação gerou conflitos com os jesuítas em São Paulo e no Rio de Janeiro, na década de 1630, que terminaram expulsos daquela vila em 1640.

Missões jesuíticas, missões constituídas pela Companhia de Jesus que se estabeleceram como um sistema de redução indígena numa extensa área entre Paraguai, Argentina e Brasil a partir de uma primeira experiência realizada em Julin (Peru) em 1576. Acabaram em 1767 com a expulsão dos jesuítas dos territórios espanhóis, ordenada por Carlos III.


Jesuítas, ordem religiosa da Igreja Católica, fundada por santo Ignácio de Loyola em 1534 e aprovada pelo papa Paulo III em 1540. Seu objetivo é o de difundir a fé católica por meio da pregação e do ensino. Desde o início, a educação foi sua principal atividade. Seus membros fazem votos de pobreza, castidade e obediência e os professos acrescentam mais dois: aceitar ir ao lugar escolhido pelo Papa e renunciar a qualquer ofício eclesiástico que não seja em sua ordem, a menos que o determine a autoridade da Companhia. A direção da ordem está nas mãos de um superior geral, que reside em Roma. Este cargo é vitalício, eleito pela congregação geral da ordem.

As missões jesuíticas obtiveram também muito êxito. O trabalho mais conhecido do Novo Mundo foi a fundação das reduções ou comunidades de indígenas, onde ensinavam-se métodos agrícolas seguindo as tradições autóctones e favorecendo o desenvolvimento do comércio.

A história da Companhia de Jesus foi marcada por uma constante oposição a seu trabalho, especialmente nos países católicos. Em várias ocasiões, a ordem foi expulsa de diferentes países europeus, até que em 1814 o papa Pio VII a restabeleceu em todo o mundo.


Os jesuítas não defendiam a
liberdade plena dos indígenas, mas a liberdade restrita que lhes davam nas suas missões, onde eram catequizados para o cristianismo e realizavam trabalhos para o sustento da comunidade. Os indígenas foram utilizados em São Paulo na agricultura e no serviço doméstico e no Rio de Janeiro do século XVII nos engenhos de açúcar.

No início do século XVIII tribos caiapós escravizadas chegaram a trabalhar nas minas de ouro. No estado do Maranhão ocorreram as "tropas de resgate", incursões ao interior que traziam tribos inteiras para aldeamentos do litoral. Também aí houve conflitos com os jesuítas, ocorrendo a expulsão do mais importante deles, o padre António Vieira.



Escravidão africana
, as primeiras chegadas de escravos africanos no Brasil datam das capitanias hereditárias (1534-1547), intensificando-se em Pernambuco e Bahia com a consolidação da economia do açúcar nos séculos XVI e XVII. O trabalho escravo africano na América, que alimentava uma rede internacional de traficantes possuidora de vultosos capitais, teve no Brasil papel fundamental até o século XIX.

Comércio de Escravos
A imagem ao lado mostra um mercado de escravos no Rio de Janeiro. Esses mercados eram comuns entre os séculos XVI e XIX, época em que a escravatura teve um papel fundamental na economia brasileira. Escravocrata, a sociedade portuguesa não admitia o trabalho senão à custa do cativo. Riqueza e status se definiam pelo número de escravos que um senhor possuía.

Na produção de açúcar, sua produção estimada era de 50 arrobas por ano; na do ouro, em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso no século XVIII, de 200 gramas por ano e na do café, no Rio de Janeiro do século XIX, de 100 arrobas por ano.

O escravo vivia nas senzalas, quase sempre com excesso de trabalho e em condições precárias de higiene e salubridade, o que reduzia a expectativa de vida útil a cerca de 7 anos nas áreas do açúcar e do ouro. A mentalidade escravocrata era muito difundida na colônia e no Império, provocando a desvalorização do trabalho manual e a presença do escravo em quase todas as atividades, como a extração de diamantes, a lavoura do tabaco, o artesanato, o trabalho doméstico.

Escravos e escravas eram também alugados por seus proprietários para a realização de atividades remuneradas, cujo produto passavam a seus senhores, constituíam os "escravos ao ganho". Admitiam-se os casamentos de escravos e ocorriam também as alforrias, quando escravos eram libertados, através de compra da própria liberdade ou por ocasião da morte de seus proprietários, quando estes os beneficiavam desta forma; constituíam então os "libertos". Estima-se que entre 50 e 60 mil escravos tenham sido introduzidos no século XVI no Brasil, cerca de 500 mil no século XVII, 1,6 milhão no século XVIII e 1,1 no século XIX, a maioria composta de duas grandes etnias, a dos sudaneses, com influência muçulmana e a dos bantus.

No século XIX, após fortes pressões da Inglaterra, o tráfico negreiro foi extinto na década de 1850 e a abolição da escravatura fez-se de forma gradual, com a decretação da liberdade dos nascituros, lei do Ventre Livre, 1871; da liberdade para os sexagenários (1885) e a liberdade total, lei Áurea, 1888.

A intensa miscigenação ocorrida entre negros, brancos e indígenas e o peso demográfico dos primeiros fez com que fosse muito grande a influência étnica das culturas de origem africana no Brasil, refletida na língua, na música, na culinária e nos costumes.

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