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Sonho Mecânico:
é sonhar com os hábitos diários do trabalho ou do dia-a-dia. A
rotina "mecânica" diária ou o que se faz mais no dia.
Sonho Psicológico: é sonhar com os problemas que afetam o
individuo psicologicamente, como os problemas mais intensos da sua
vida.
Sonho Espiritual: é sonhar com os Espíritos, ou seja, são
encontros com as pessoas que já desencarnaram, muita das vezes para
avisos importantes.
OBS: estas respostas foram
retiradas do LIVRO DOS ESPÍRITOS
respondidas por diversos Espíritos de Luz e Superiores do Bem na
Sociedade de Paris, tais:
São
João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São
Luís,
O
Espírito da
Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, e
outros.
1. O sono e os sonhos. - 2.
Visitas espíritas entre pessoas vivas. - 3. Transmissão oculta do
pensamento. - 4. Letargia, catalepsia. Mortes aparentes. - 5.
Sonambulismo. - 6. Êxtase. -
7. Dupla vista. - 8. Resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da
dupla vista.
O sono e os sonhos
400. O Espírito encarnado permanece de bom grado no seu
envoltório corporal?
“É como se perguntasses se ao encarcerado agrada o cárcere. O
Espírito encarnado
aspira constantemente à sua libertação e tanto mais deseja ver-se
livre do seu invólucro,
quanto mais grosseiro é este.”
401. Durante o sono, a alma repousa como o corpo?
“Não, o Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os
laços que o
prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele
se lança pelo espaço e
entra em relação mais direta com os outros Espíritos. ”
402. Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono?
“Pelos sonhos, Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito
mais faculdades
do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes
prevê o futuro. Adquire
maior potencialidade e pode por-se em comunicação com os demais
Espíritos, quer deste mundo, quer do outro.
Dizes freqüentemente:
Tive um sonho extravagante, um sonho horrível, mas absolutamente
inverossímil. Enganaste.
É amiúde uma recordação dos lugares e das coisas que viste ou que
verás em outra
existência e das coisas que viste ou que verás em outra existência
ou em outra ocasião.
Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de quebrar seus
grilhões e de investigar no
passado ou no futuro.
“Pobres homens, que mal conheceis os mais vulgares fenômenos da
vida! Julgaisvos
muito sábios e as coisas mais comezinhas vos confundem. Nada sabeis
responder a
estas perguntas que todas as crianças formulam: Que fazemos quando
dormimos? Que são
os sonhos?
“O sono liberta a alma parcialmente do corpo. Quando dorme, o homem
se acha por
algum tempo no estado em que fica permanentemente depois que morre.
Tiveram sonos
inteligentes os Espíritos que, desencarnando, logo se desligam da
matéria. Esses Espíritos,
quando dormem, vão para junto dos seres que lhes são superiores. Com
estes viajam,
conversam e se instruem. Trabalham mesmo em obras que se lhes
deparam concluídas,
quando volvem, morrendo na Terra, ao mundo espiritual. Ainda esta
circunstância é de
molde a vos ensinar que não deveis temer a morte, pois que todos os
dias morreis, como
disso um santo.
“Isto, pelo que concerne aos Espíritos elevados. Pelo que respeita
ao grande número
de homens que, morrendo, têm que passar longas horas na perturbação,
na incerteza de que
tantos já vos falaram, esses vão, enquanto dormem, ou a mundos
inferiores à Terra, onde os
chamam velhas afeições, ou em busca de gozos quiçá mais baixos do
que os em que aqui
tanto se deleitam. Vão beber doutrinas ainda mais vis, mais
ignóbeis, mais funestas do que
as que professam entre vós. E o que gera a simpatia na Terra é o
fato de sentir-se o homem,
ao despertar, ligado pelo coração àqueles com quem acaba de passar
oito ou nove horas de
ventura ou de prazer. Também as antipatias invencíveis se explicam
pelo fato de sentirmos
em nosso íntimo que os entes com quem antipatizamos têm uma
consciência diversa da nossa.
Conhecemo-los sem nunca os termos visto com os olhos. É ainda o que
explica a indiferença de muitos homens.
Não cuidam de conquistar novos amigos, por saberem que muitos têm
que os amam e lhes querem. Numa
palavra: o sono influi mais do que supondes na vossa vida.
“Graças ao sono, os Espíritos encarnados estão sempre em relação com
o mundo dos
Espíritos. Por isso é que os Espíritos superiores assentem, sem
grande repugnância, em
encarnar entre vós. Quis. Deus que, tendo de estar em contacto com o
vício, pudessem eles
ir retemperar-se na fonte do bem, a fim de igualmente não falirem,
quando se propõem a
instruir os outros. O sono é a porta que Deus lhes abriu, para que
possam ir ter com seus
amigos do céu; é o recreio depois do trabalho, enquanto esperam a
grande libertação, a
libertação final, que os restituirá ao meio que lhes é próprio.
“O sonho é a lembrança do que o Espírito viu durante o sono. Notai,
porém, que
nem sempre sonhais. Que quer isso dizer? Que nem sempre vos lembrais
do que vistes, ou
de tudo o que haveis visto, enquanto dormíeis. É que não tendes
então a alma no pleno
desenvolvimento de suas faculdades. Muitas vezes, apenas vos fica a
lembrança da
perturbação que o vosso Espírito experimenta à sua partida ou no seu
regresso, acrescida da
que resulta do que fizestes ou do que vos preocupa quando despertos.
A não ser assim,
como explicaríeis os sonhos absurdos, que tanto os sábios, quanto as
mais humildes e
simples criaturas têm? Acontece também que os maus Espíritos se
aproveitam dos sonhos
para atormentar as almas fracas e pusilânimes.
“Em suma, dentro em pouco vereis vulgarizar-se outra espécie de
sonhos.
Conquanto tão antiga como a de que vimos falando, vós a
desconheceis. Refiro-me aos
sonhos de Joana, ao de Jacob, aos dos profetas judeus e aos de
alguns adivinhos indianos.
São recordações guardadas por almas que se desprendem quase
inteiramente do corpo,
recordações dessa segunda vida a que ainda há pouco aludíamos.
“Tratai de distinguir essas duas espécies de sonhos nos de que vos
lembrais, do
contrário cairíeis em contradições e em erros funestos à vossa fé.”
Os sonhos são efeito da emancipação da alma, que mais independente
se torna pela
suspensão da vida ativa e de relação. Daí uma espécie de
clarividência indefinida que se
alonga até aos mais afastados lugares e até mesmo a outros mundos.
Daí também a
lembrança que traz à memória acontecimentos da precedente existência
ou das existências
anteriores. As singulares imagens do que se passa ou se passou em
mundos desconhecidos,
entremeados de coisas do mundo atual, é que formam esses conjuntos
estranhos e confusos,
que nenhum sentido ou ligação parecem ter.
A incoerência dos sonhos ainda se explica pelas lacunas que
apresenta a recordação
incompleta que conservamos do que nos apareceu quando sonhávamos. É
como se a uma
narração se truncassem frases ou trechos ao acaso. Reunidos depois,
os fragmentos
restantes nenhuma significação racional teriam.
403. Por que não nos lembramos sempre dos sonhos?
“Em o que chamas sono, só há o repouso do corpo, visto que o
Espírito está
constantemente em atividade. Recobra, durante o sono, um pouco da
sua liberdade e se
corresponde com os que lhe são caros, quer neste mundo, quer em
outros. Mas, como é
pesada e grosseira a matéria que compõe, o corpo dificilmente
conserva as impressões que
o Espírito recebeu, porque a este não chegaram por intermédio dos
órgãos corporais.”
404. Que se deve pensar das significações atribuídas aos sonhos?
“Os sonhos não são verdadeiros como o entendem os ledores de
buena-dicha, pois
fora absurdo crer-se que sonhar com tal coisa anuncia tal outra. São
verdadeiros no sentido
de que apresentam imagens que para o Espírito têm realidade, porém
que, freqüentemente,
nenhuma relação guardam com o que se passa na vida corporal. São
também, como atrás
dissemos, um pressentimento do futuro, permitido por Deus, ou a
visão do que no mo-
mento ocorre em outro lugar a que a alma se transporta. Não se
contam por muitos os casos
de pessoas que em sonho aparecem a seus parentes e amigos, a fim de
avisá-los do que a
elas está acontecendo? Que são essas aparições senão as almas ou
Espíritos de tais pessoas
a se comunicarem com entes caros? Quando tendes certeza de que o que
vistes realmente se
deu, não fica provado que a imaginação nenhuma parte tomou na
ocorrência, sobretudo se o
que observastes não vos passava pela mente quando em vigília?”
405. Acontece com freqüência verem-se em sonho coisas que parecem
um
pressentimento, que, afinal, não se confirma. A que se deve atribuir
isto?
“Pode suceder que tais pressentimentos venham a confirmar-se apenas
para o
Espírito. Quer dizer que este viu aquilo que desejava, foi ao seu
encontro. É preciso não
esquecer que, durante o sono, a alma está mais ou menos sob a
influência da matéria e que,
por conseguinte, nunca se liberta completamente de suas idéias
terrenas, donde resulta que
as preocupações do estado de vigília podem dar ao que se vê a
aparência do que se deseja,
ou do que se teme. A isto é que, em verdade, cabe chamar-se efeito
da imaginação. Sempre
que uma idéia nos preocupa fortemente, tudo o que vemos se nos
mostra ligado a essa
idéia.”
406. Quando em sonho vemos pessoas vivas, muito nossas
conhecidas, a praticarem
atos de que absolutamente não cogitam, não é isso puro efeito de
imaginação?
“De que absolutamente não cogitam, dizes. Que sabes a tal respeito?
Os Espíritos
dessas pessoas vêm visitar o teu como o teu os vai visitar, sem que
saibas sempre o em que
eles pensam. Demais, não é raro atribuirdes, de acordo com o que
desejais, a pessoas que
conheceis, o que se deu ou se está dando em outras existências.”
407. É necessário o sono completo para a emancipação do Espírito?
“Não; basta que os sentidos entrem em torpor para que o Espírito
recobre a sua
liberdade. Para se emancipar, ele se aproveita de todos os instantes
de trégua que o corpo
lhe concede. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito
se desprende, tornando-se
tanto mais livre, quanto mais fraco for o corpo.”
Assim se explica que imagens idênticas às que vemos, em sonho,
vejamos estando
apenas meio dormindo, ou em simples modorra.
408. E qual a razão de ouvirmos, algumas vezes em nós mesmos,
palavras
pronunciadas distintamente e que nenhum nexo têm com o que nos
preocupa?
“É fato: ouvis até mesmo frases inteiras, principalmente quando os
sentidos
começam a entorpecer-se. É quase sempre, fraco eco do que diz um
Espírito que convosco
se quer comunicar.”
409. Doutras vezes, num estado que ainda não é bem o do
adormecimento, estando
com os olhos fechados, vemos imagens distintas, figuras cujas
mínimas particularidades
percebemos. Que há aí, efeito de visão ou de imaginação?
“Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de desprender-se.
Transporta-se e vê.
Se já fosse completo o sono, haveria sonho.”
410. Dá-se também que, durante o sono, ou quando nos achamos
apenas
ligeiramente adormecidos, acodem-nos idéias que nos parecem
excelentes e que se nos
apagam da memória, apesar dos esforços que façamos para retê-las.
Donde vêm essas
idéias?
“Provêm da liberdade do Espírito que se emancipa e que, emancipado,
goza de suas
faculdades com maior amplitude. Também são, freqüentemente,
conselhos que outros
Espíritos dão.”
a) - De que servem essas idéias e esses conselhos, desde que,
pelos esquecer, não os
podemos aproveitar?
“Essas idéias, em regra, mais dizem respeito ao mundo dos Espíritos
do que ao
mundo corpóreo. Pouco importa que comumente o Espírito as esqueça,
quando unido ao
corpo. Na ocasião oportuna, voltar-lhe-ão como inspiração de
momento.”
411. Estando desprendido da matéria e atuando como Espírito, sabe
o Espírito
encarnado qual será a época de sua morte?
“Acontece pressenti-la. Também sucede ter plena consciência dessa
época, o que dá
lugar a que, em estado de vigília, tenha intuição do fato. Por isso
é que algumas pessoas
prevêem com grande exatidão a data em que virão a morrer.”
412. Pode a atividade do Espírito, durante o repouso, ou o sono
corporal, fatigar o
corpo?
“Pode, pois que o Espírito se acha preso ao corpo qual balão cativo
ao poste. Assim
como as sacudiduras do balão abalam o poste, a atividade do Espírito
reage sobre o corpo e
pode fatigá-lo.”
Visitas espíritas entre pessoas vivas
413. Do princípio da emancipação da alma parece decorrer que
temos duas
existências simultâneas: a do corpo, que nos permite a vida de
relação ostensivas; e a da
alma, que nos proporciona a vida de relação oculta. É assim?
“No estado e emancipação, prima a vida da alma. Contudo, não há,
verdadeiramente, duas existências. São antes duas fases de uma só
existência, porquanto o
homem não vive duplamente.”
414. Podem duas pessoas que se conhecem visitar-se durante o
sono?
“Certo e muitos que julgam não se conhecerem costumam reunir-se e
falar-se. Podes
ter, sem que o suspeites, amigos em outro país. É tão habitual o
fato de irdes encontrar-vos,
durante o sono, com amigos e parentes, com os que conheceis e que
vos podem ser úteis,
que quase todas as noites fazeis essas visitas.”
415. Que utilidade podem elas ter, se as olvidamos?
“De ordinário, ao despertardes, guardais a intuição desse fato, do
qual se originam
certas idéias que vos vêm espontaneamente, sem que possais explicar
como vos acudiram.
São idéias que adquiristes nessas confabulações.”
416. Pode o homem, pela sua vontade, provocar as visitas
espíritas? Pode, por
exemplo, dizer, quando está para dormir: Quero esta noite
encontrar-me em Espírito com
Fulano, quero falar-lhe para dizer isto?
“O que se dá é o seguinte: Adormecendo o homem, seu Espírito
desperta e, muitas
vezes, nada disposto se mostra a fazer o que o homem resolvera,
porque a vida deste pouco
interessa ao seu Espírito, uma vez desprendido da matéria. Isto com
relação a homens já
bastante elevados espiritualmente. Os outros passam de modo muito
diverso a fase
espiritual de sua existência terrena. Entregam-se às paixões que os
escravizaram, ou se
mantêm inativos. Pode, pois, suceder, tais sejam os motivos que a
isso o induzem, que o
Espírito vá visitar aqueles com quem deseja encontrar-se. Mas, não
constitui razão, para
que semelhante coisa se verifique, o simples fato de ele o querer
quando desperto.”
417. Podem Espíritos encarnados reunir-se em certo número e
formar assembléias?
“Sem dúvida alguma. Os laços, antigos ou recentes, da amizade
costumam reunir
desse modo diversos Espíritos, que se sentem felizes de estar
juntos.”
Pelo termo antigos se devem entender os laços de amizade contraída
em existências
anteriores. Ao despertar, guardamos intuição das idéias que haurimos
nesses colóquios, mas
ficamos na ignorância da fonte donde promanaram.
418. Uma pessoa que julgasse morto um de seus amigos, sem que tal
fosse a
realidade, poderá encontrar-se com ele, em Espírito, e verificar que
continuava
vivo? E dado o fato, poderia, ao despertar, ter dele a intuição?
“Como Espírito, a pessoa que figuras pode ver o seu amigo e
conhecer-lhe a sorte.
Se lhe não houver sido imposto, por prova, crer na morte desse
amigo, poderá ter um
pressentimento da sua existência, como poderá tê-lo de sua morte.”
Transmissão oculta do pensamento
419. Que é o que dá causa a que uma idéia, a de uma descoberta,
por exemplo,
surja em muitos pontos ao mesmo tempo?
“Já dissemos que durante o sono os Espíritos se comunicam entre si.
Ora bem!
Quando se dá o despertar, o Espírito se lembra do que aprendeu e o
homem julga ser isso
um invento de sua autoria. Assim é que muitos podem simultaneamente
descobrir a mesma
coisa. Quando dizeis que uma idéia paira no ar, usais de uma figura
de linguagem mais
exata do que supondes. Todos, sem o suspeitarem, contribuem para
propagá-la.”
Desse modo, o nosso próprio Espírito revela muitas vezes, a outros
Espíritos, mau
grado nosso, o que constituía objeto de nossas preocupações no
estado de vigília.
420. Podem os Espíritos comunicar-se, estando completamente
despertos os
corpos?
“O Espírito não se acha encerrado no corpo como numa caixa; irradia
por todos os
lados. Segue-se que pode comunicar-se com outros Espíritos, mesmo em
estado de vigília,
se bem que mais dificilmente.”
421. Como se explica que duas pessoas, perfeitamente acordadas,
tenham
instantaneamente a mesma idéia?
“São dois Espíritos simpáticos que se comunicam e vêem
reciprocamente seus
pensamentos respectivos, embora sem estarem adormecidos os corpos.”
Há, entre os Espíritos que se encontram, uma comunicação de
pensamento, que dá
causa a que duas pessoas se vejam e compreendam, sem precisarem dos
sinais ostensivos
da linguagem. Poder-se-ia dizer que falam entre si a linguagem dos
Espíritos.
Letargia, catalepsia, mortes aparentes
422. Os letárgicos e os catalépticos, em geral, vêem e ouvem o
que em derredor se
diz e faz, sem que possam exprimir que estão vendo e ouvindo. É
pelos olhos e pelos
ouvidos que têm essas percepções?
“Não; pelo Espírito. O Espírito tem consciência de si, mas não pode
comunicar-se.”
a) - Por quê?
“Porque a isso se opõe o estado do corpo. E esse estado especial dos
órgãos vos
prova que no homem há alguma coisa mais do que o corpo, pois que,
então, o corpo já não
funciona e, no entanto, o Espírito se mostra ativo.”
423. Na letargia, pode o Espírito separar-se inteiramente do
corpo, de modo a
imprimir-lhe todas as aparências da morte e voltar depois a
habitá-lo?
“Na letargia, o corpo não está morto, porquanto há funções que
continuam a
executar-se. Sua vitalidade se encontra em estado latente, como na
crisálida, porém não
aniquilada. Ora, enquanto o corpo vive, o Espírito se lhe acha
ligado. Em se rompendo, por
efeito da morte real e pela desagregação dos órgãos, os laços que
prendem um ao outro,
integral se torna a separação e o Espírito não volta mais ao seu
envoltório. Desde que um
homem, aparentemente morto, volve à vida, é que não era completa a
morte.”
424. Por meio de cuidados dispensados a tempo, podem reatar-se
laços prestes a se
desfazerem e restituir-se à vida um ser que definitivamente morreria
se não fosse
socorrido?
“Sem dúvida e todos os dias tendes a prova disso. O magnetismo, em
tais casos,
constitui, muitas vezes, poderoso meio de ação, porque restitui ao
corpo o fluido vital que
lhe falta para manter o funcionamento dos órgãos.”
A letargia e a catalepsia derivam do mesmo princípio, que é a perda
temporária da
sensibilidade e do movimento, por uma causa fisiológica ainda
inexplicada. Diferem uma
da outra em que, na letargia, a suspensão das forças vitais é geral
e dá ao corpo todas as
aparências da morte; na catalepsia, fica localizada, podendo atingir
uma parte mais ou
menos extensa do corpo, de sorte a permitir que a inteligência se
manifeste livremente, o
que a torna inconfundível com a morte. A letargia é sempre natural;
a catalepsia é por vezes
magnética.
Sonambulismo
425. O sonambulismo natural tem alguma relação com os sonhos?
Como explicá-lo?
“É um estado de independência do Espírito, mais completo do que no
sonho, estado
em que maior amplitude adquirem suas faculdades. A alma tem então
percepções de que
não dispõe no sonho, que é um estado de sonambulismo imperfeito.
“No sonambulismo, o Espírito está na posse plena de si mesmo. Os
órgãos
materiais, achando-se de certa forma em estado de catalepsia, deixam
de receber as
impressões exteriores. Esse estado se apresenta principalmente
durante o sono, ocasião em
que o Espírito pode abandonar provisoriamente o corpo, por se
encontrar este gozando do
repouso indispensável à matéria. Quando se produzem os fatos do
sonambulismo, é que o
Espírito, preocupado com uma coisa ou outra, se aplica a uma ação
qualquer, para cuja
prática necessita de utilizar-se do corpo. Serve-se então deste,
como se serve de uma mesa
ou de outro objeto material no fenômeno das manifestações físicas,
ou mesmo como se
utiliza da mão do médium nas comunicações escritas. Nos sonhos de
que se
tem consciência, os órgãos, inclusive os da memória, começam a
despertar. Recebem
imperfeitamente as impressões produzidas por objetos ou causas
externas e as comunicam
ao Espírito, que, então, também em repouso, só experimenta, do que
lhe é transmitido,
sensações confusas e, amiúde, desordenadas, sem nenhuma aparente
razão de ser,
mescladas que se apresentam de vagas recordações, quer da existência
atual, quer de
anteriores. Facilmente, portanto, se compreende por que os
sonâmbulos nenhuma
lembrança guardam do que se passou enquanto estiveram no estado
sonambúlico e por que
os sonhos não têm sentido. Digo - as mais das vezes, porque também
sucede serem a
conseqüência de lembrança exata de acontecimentos de uma vida
anterior e até, não raro,
uma espécie de intuição do futuro.”
426. O chamado sonambulismo magnético tem alguma relação com o
sonambulismo natural?
“É a mesma coisa, com a só diferença de ser provocado.”
427. De que natureza é o agente que se chama fluido magnético?
“Fluido vital, eletricidade animalizada, que são modificações do
fluido universal.”
428. Qual a causa da clarividência sonambúlica?
“Já o dissemos: É a alma que vê.”
429. Como pode o sonâmbulo ver através dos corpos opacos?
“Não há corpos opacos senão para os vossos grosseiros órgãos. Já
precedentemente
não dissemos que a matéria nenhum obstáculo oferece ao Espírito, que
livremente a
atravessa? Freqüentemente ouvis o sonâmbulo dizer que vê pela
fronte, pelo punho, etc.,
porque, achando-vos inteiramente presos à matéria, não compreendeis
lhe seja possível ver
sem o auxílio dos órgãos. Ele próprio, pelo desejo que manifestais,
julga precisar dos órgãos.
Se, porém, o deixásseis livre, compreenderia que vê por todas as
partes do seu corpo, ou,
melhor falando, que vê de fora do seu corpo.”
430. Pois que a sua clarividência é a de sua alma ou de seu
Espírito, por que é que
o sonâmbulo não vê tudo e tantas vezes se engana?
“Primeiramente, aos Espíritos imperfeitos não é dado verem tudo e
tudo saberem.
Não ignoras que ainda partilham dos vossos erros e prejuízos.
Depois, quando unidos à
matéria, não gozam de todas as suas faculdades de Espírito. Deus
outorgou ao homem a
faculdade sonambúlica para fim útil e sério, não para que se informe
do que não deva saber.
Eis por que os sonâmbulos nem tudo podem dizer.”
431. Qual a origem das idéias inatas do sonâmbulo e como pode
falar com exatidão
de coisas que ignora quando desperto, de coisas que estão mesmo
acima de sua
capacidade intelectual?
“É que o sonâmbulo possui mais conhecimentos do que os que lhe
supõe. Apenas,
tais conhecimentos dormitam, porque, por demasiado imperfeito, seu
invólucro corporal
não lhe consente rememorá-lo. Que é, afinal, um sonâmbulo? Espírito,
como nós, e que se
encontra encarnado na matéria para cumprir a sua missão, despertando
dessa letargia
quando cai em estado sonambúlico. Já te temos dito, repetidamente,
que vivemos muitas
vezes. Esta mudança é que, ao sonâmbulo, como a qualquer Espírito
ocasiona a perda
material do que haja aprendido em precedente existência. Entrando no
estado, a que chamas
crise, lembra-se do que sabe, mas sempre de modo incompleto. Sabe,
mas não poderia dizer
donde lhe vem o que sabe, nem como possui os conhecimentos que
revela. Passada a crise,
toda recordação se apaga e ele volve à obscuridade.”
Mostra a experiência que os sonâmbulos também recebem comunicações
de outros
Espíritos, que lhes transmitem o que devam dizer e suprem à
incapacidade que denotam. Isto se verifica principalmente
nas prescrições médicas. O Espírito do sonâmbulo vê o mal, outro lhe
indica o remédio.
Essa dupla ação é às vezes patente e se revela, além disso, por
estas expressões muito
freqüentes: dizem-me que diga, ou proíbem-me que diga tal coisa.
Neste último caso, há
sempre perigo em insistir-se por uma revelação negada, porque se dá
azo a que intervenham
Espíritos levianos, que falam de tudo sem escrúpulo e sem se
importarem com a verdade.
432. Como se explica a visão a distância em certos sonâmbulos?
“Durante o sono, a alma não se transporta? O mesmo se dá no
sonambulismo.”
433. O desenvolvimento maior ou menor da clarividência
sonambúlica depende da
organização física, ou só da natureza do Espírito encarnado?
“De uma e outra. Há disposições físicas que permitem ao Espírito
desprender-se
mais ou menos facilmente da matéria.”
434. As faculdades de que goza o sonâmbulo são as que tem o
Espírito depois da
morte?
“Somente até certo ponto, pois cumpre se atenda à influência da
matéria a que ainda
se acha ligado.”
435. Pode o sonâmbulo ver os outros Espíritos?
“A maioria deles os vê muito bem, dependendo do grau e da natureza
da lucidez de
cada um. É muito comum, porém, não perceberem, no primeiro momento,
que estão vendo
Espíritos e os tomarem por seres corpóreos. Isso acontece
principalmente aos que, nada
conhecendo do Espiritismo, ainda não compreendem a essência dos
Espíritos. O fato os
espanta e fá-los supor que têm diante da vista seres terrenos.”
O mesmo se dá com os que, tendo morrido, ainda se julgam vivos.
Nenhuma
alteração notando ao seu derredor e parecendo-lhes que os Espíritos
têm corpos iguais aos
nossos, tomam por corpos reais os corpos aparentes com que os mesmos
Espíritos se lhes
apresentam.
436. O sonâmbulo que vê, a distância, vê do ponto em que se acha
o seu corpo, ou
do em que está sua alma?
“Por que esta pergunta, desde que sabes ser a alma quem vê e não o
corpo?”
437. Posto que o que se dá, nos fenômenos sonambúlicos, é que a
alma se
transporta, como pode o sonâmbulo experimentar no corpo as sensações
do frio e do calor
existentes no lugar onde se acha sua alma, muitas vezes bem distante
do seu invólucro?
“A alma, em tais casos, não tem deixado inteiramente o corpo;
conserva-se-lhe presa
pelo laço que os liga e que então desempenha o papel de condutor das
sensações. Quando
duas pessoas se comunicam de uma cidade para outra, por meio da
eletricidade, esta
constitui o laço que lhes liga os pensamentos. Daí vem que
confabulam como se estivessem
ao lado uma da outra.”
438. O uso que um sonâmbulo faz da sua faculdade influi no estado
do seu Espírito
depois da morte?
“Muito, como o bom ou mau uso que o homem faz de todas as faculdades
com que
Deus o dotou.”
Êxtase
439. Que diferença há entre êxtase e o sonambulismo?
“O êxtase é um sonambulismo mais apurado. A alma do extático ainda é
mais
independente.”
440. O Espírito do extático penetra realmente nos mundos
superiores?
“Vê esses mundos e compreende a felicidade dos que os habitam, donde
lhe nasce o
desejo de lá permanecer. Há, porém, mundos inacessíveis aos
Espíritos que ainda não estão
bastante purificados.”
441. Quando o extático manifesta o desejo de deixar a Terra, fala
sinceramente,
não o retém o instinto de conservação?
“Isso depende do grau de purificação do Espírito. Se verifica que a
sua futura
situação será melhor do que a sua vida presente, esforça-se por
desatar os laços que o
prendem à Terra.”
442. Se se deixasse o extático entregue a si mesmo, poderia sua
alma abandonar
definitivamente o corpo?
“Perfeitamente, poderia morrer. Por isso é que preciso se torna
chamá-lo a voltar,
apelando para tudo o que o prende a este mundo, fazendo-lhe
sobretudo compreender que a
maneira mais certa de não ficar lá, onde vê que seria feliz,
consistiria em partir a cadeia que
o tem preso ao planeta terreno.”
443. Pretendendo que lhe é dado ver coisas que evidentemente são
produto de uma
imaginação que as crenças e prejuízos terrestres impressionaram, não
será justo concluísse
que nem tudo o que o extático vê é real?
“O que o extático vê é real para ele. Mas, como seu Espírito se
conserva sempre
debaixo da influência das idéias terrenas, pode acontecer que veja a
seu modo, ou melhor,
que exprima o que vê numa linguagem moldada pelos preconceitos e
idéias de que se acha
imbuído, ou, então, pelos vossos preconceitos e idéias, a fim de ser
mais compreendido.
Neste sentido, principalmente, é que lhe sucede errar.”
444. Que confiança se pode depositar nas revelações dos
extáticos?
“O extático está sujeito a enganar-se muito freqüentemente,
sobretudo quando
pretende penetrar no que deva continuar a ser mistério para o homem,
porque, então, se
deixa levar pela corrente das suas próprias idéias, ou se torna
joguete de Espíritos
mistificadores, que se aproveitam da sua exaltação para fasciná-lo.”
445. Que deduções se podem tirar dos fenômenos do sonambulismo e
do êxtase?
Não constituirão uma espécie de iniciação na vida futura?
“A bem dizer, mediante esses fenômenos, o homem entrevê a vida
passada e a vida
futura. Estude-os e achará o aclaramento de mais de um mistério, que
a sua razão
inutilmente procura devassar.”
446. Poderiam tais fenômenos adequar-se às idéias materialistas?
“Aquele que os estudar de boa-fé e sem prevenções não poderá ser
materialista, nem
ateu.”
Dupla vista
447. O fenômeno a que se dá a designação de dupla vista tem
alguma relação com
o sonho e o sonambulismo?
“Tudo isso é uma só coisa. O que se chama dupla vista é ainda
resultado da
libertação do Espírito, sem que o corpo seja adormecido. A dupla
vista ou segunda vista é a
vista da alma.”
448. É permanente a segunda vista?
“A faculdade é, o exercício não. Em os mundos menos materiais do que
o vosso, os
Espíritos se desprendem mais facilmente e se põem em comunicação
apenas pelo
pensamento, sem que, todavia, fique abolida a linguagem articulada.
Por isso mesmo, em
tais mundos, a dupla vista é faculdade permanente, para a maioria de
seus habitantes, cujo
estado normal se pode comparar ao dos vossos sonâmbulos lúcidos.
Essa também a razão
por que esses Espíritos se vos manifestam com maior facilidade do
que os encarnados em
corpos mais grosseiros.”
449. A segunda vista aparece espontaneamente ou por efeito da
vontade de quem a
possui como faculdade?
“As mais das vezes é espontânea, porém a vontade também desempenha
com grande
freqüência importante papel no seu aparecimento. Toma, para exemplo,
de umas
dessas pessoas a quem se dá o nome de ledoras da buena-dicha,
algumas das quais dispõem
desta faculdade, e verás que é com o auxílio da própria vontade que
se colocam no estado
de terem a dupla vista e o que chamas visão.”
450. A dupla vista é suscetível de desenvolver-se pelo exercício?
“Sim, do trabalho sempre resulta o progresso e a dissipação do véu
que encobre as
coisas.”
a) - Esta faculdade tem qualquer ligação com a organização
física?
“Incontestavelmente, o organismo influi para a sua existência. Há
organismos que
lhe são refratários.”
451. Por que é que a segunda vista parece hereditária em algumas
famílias?
“Por semelhança da organização, que se transmite como as outras
qualidades físicas.
Depois, a faculdade se desenvolve por uma espécie de educação, que
também se transmite
de um a outro.”
452. É exato que certas circunstâncias desenvolvem a segunda
vista?
“A moléstia, a proximidade do perigo, uma grande comoção podem
desenvolvê-la.
O corpo, às vezes, vem a achar-se num estado especial que faculta ao
Espírito ver o que não
podeis ver com os olhos carnais.”
Nas épocas de crises e de calamidades, as grandes emoções, todas as
causas, enfim,
de superexcitação do moral provocam não raro o desenvolvimento da
dupla vista. Parece
que a Providência, quando um perigo nos ameaça, nos dá o meio de
conjurá-lo. Todas as
seitas e partidos perseguidos oferecem múltiplos exemplos desse
fato.
453. As pessoas dotadas de dupla vista sempre têm consciência de
que a possuem?
“Nem sempre. Consideram isso coisa perfeitamente natural e muitos
crêem que, se
cada um observasse o que se passa consigo, todos verificariam que
são como eles.”
454. Poder-se-ia atribuir a uma espécie de segunda vista a
perspicácia de algumas
pessoas que, sem nada apresentarem de extraordinário, apreciam as
coisas com mais
precisão do que outras?
“É sempre a alma a irradiar mais livremente e a apreciar melhor do
que sob o véu da
matéria.”
a) - Pode esta faculdade, em alguns casos, dar a presciência das
coisas?
“Pode. Também dá os pressentimentos, pois que muitos são os graus em
que ela
existe, sendo possível que num mesmo indivíduo exista em todos os
graus, ou em alguns
somente.”
Resumo teórico do sonambulismo, do
êxtase e da dupla vista
455. Os fenômenos do sonambulismo natural se
produzem espontaneamente e
independem de qualquer causa exterior conhecida. Mas, em certas
pessoas dotadas de
especial organização, podem ser provocados artificialmente, pela
ação do agente magnético.
O estado que se designa pelo nome de sonambulismo magnético apenas
difere do
sonambulismo natural em que um é provocado, enquanto o outro é
espontâneo.
O sonambulismo natural constitui fato notório, que ninguém mais se
lembra de por
em dúvida, não obstante o aspecto maravilhoso dos fenômenos a que dá
lugar. Por que seria
então mais extraordinário ou irracional o sonambulismo magnético?
Apenas por produzir
artificialmente, como tantas outras coisas? Os charlatões o
exploram, dizem. Razão de
mais para que não lhes seja deixado nas mãos. Quando a Ciência se
houver apropriado dele,
muito menos crédito terão os charlatões junto às massas populares.
Enquanto isso não se
verifica, como o sonambulismo natural ou artificial é um fato, e
como contra fatos não há
raciocínio possível, vai ele ganhando terreno, apesar da má-vontade
de alguns, no seio da própria Ciência,
onde penetra por uma imensidade de portinhas, em vez de entrar pela
porta larga. Quando lá estiver totalmente,
terão que lhe conceder direito de cidade.
Para o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que um fenômeno
psicológico, é uma
luz projetada sobre a psicologia. É aí que se pode estudar a alma,
porque é onde esta se
mostra a descoberto. Ora, um dos fenômenos que a caracterizam é o da
clarividência
independente dos órgãos ordinários da vista. Fundam-se os que
contestam este fato em que
o sonâmbulo nem sempre vê, e à vontade do experimentador, como com
os olhos. Será de
admirar que difiram os efeitos, quando diferentes são os meios? Será
racional que se
pretenda obter os mesmos efeitos, quando há e quando não há o
instrumento? A alma tem
suas propriedades, como os olhos têm as suas. Cumpre julgá-las em si
mesmas e não por
analogia.
De uma causa única se originam a clarividência do sonâmbulo
magnético e a do
sonâmbulo natural. É um atributo da alma, uma faculdade inerente a
todas as partes do ser
incorpóreo que existe em nós e cujos limites não são outros senão os
assinados à própria
alma. O sonâmbulo vê em todos os lugares aonde sua alma possa
transportar-se, qualquer
que seja a longitude.
No caso de visão a distância, o sonâmbulo não vê as coisas de onde
está o seu corpo,
como por meio de um telescópio. Vê-as presentes, como se se achasse
no lugar onde elas
existem, porque sua alma, em realidade, lá está. Por isso é que seu
corpo fica como que
aniquilado e privado de sensação, até que a alma volte a habitá-lo
novamente. Essa
separação parcial da alma e do corpo constitui um estado anormal,
suscetível de duração
mais ou menos longa, porém não indefinida. Daí a fadiga que o corpo
experimenta após
certo tempo, mormente quando aquela se entrega a um trabalho ativo.
A vista da alma ou do Espírito não é circunscrita e não tem sede
determinada. Eis
por que os sonâmbulos não lhe podem marcar órgão especial. Vêem
porque vêem,
sem saberem o motivo nem o modo, uma vez que, para eles, na condição
de Espíritos, a
vista carece de foco próprio. Se se reportam ao corpo, esse foco
lhes parece estar nos
centros onde maior é a atividade vital, principalmente no cérebro,
na região do epigastro, ou
no órgão que considerem o ponto de ligação mais forte entre o
Espírito e o corpo.
O poder da lucidez sonambúlica não é ilimitado. O Espírito, mesmo
quando
completamente livre, tem restringidos seus conhecimentos e
faculdades conforme ao grau
de perfeição que haja alcançado. Ainda mais restringidos os tem
quando ligado à matéria, a
cuja influência está sujeito. É o que motiva não ser universal, nem
infalível, a clarividência
sonambúlica. E tanto menos se pode contar com a sua infalibilidade,
quanto mais desviada
seja do fim visado pela Natureza e transformada em objeto de
curiosidade e de
experimentação.
No estado de desprendimento em que fica colocado, o Espírito do
sonâmbulo entra
em comunicação mais fácil com os outros Espíritos encarnados, ou não
encarnados,
comunicação que se estabelece pelo contacto dos fluidos, que compõem
os perispíritos e
servem de transmissão ao pensamento, como o fio elétrico. O
sonâmbulo não precisa,
portanto, que se lhe exprimam os pensamentos por meio da palavra
articulada. Ele os sente
e adivinha. É o que o torna eminentemente impressionável e sujeito
às influências da
atmosfera moral que o envolva. Essa também a razão por que uma
assistência muito
numerosa e a presença de curiosos mais ou menos malevolentes lhe
prejudicam de modo
essencial o desenvolvimento das faculdades que, por assim dizer, se
contraem, só se
desdobrando com toda a liberdade num meio íntimo ou simpático. A
presença de pessoas
mal-intencionadas ou antipáticas lhe produz efeito idêntico ao do
contacto da mão na
sensitiva.
O sonâmbulo vê ao mesmo tempo o seu próprio Espírito e o seu corpo,
os quais
constituem, por assim dizer, dois seres que lhe representam a dupla
existência corpórea e
espiritual, existências que, entretanto, se confundem, mediante os
laços que as unem. Nem
sempre o sonâmbulo se apercebe de tal situação e essa dualidade faz
que muitas vezes fale de si,
como se falasse de outra pessoa. É que ora é o ser corpóreo que fala
ao ser espiritual, ora é
este que fala àquele.
Em cada uma de suas existências corporais, o Espírito adquire um
acréscimo de
conhecimentos e de experiência. Esquece-os parcialmente, quando
encarnado em matéria
por demais grosseira, porém deles se recorda como Espírito. Assim é
que certos
sonâmbulos revelam conhecimentos acima do grau da instrução que
possuem e mesmo
superiores às suas aparentes capacidades intelectuais. Portanto, da
inferioridade intelectual
e científica do sonâmbulo, quando desperto, nada se pode inferir com
relação aos
conhecimentos que porventura revele no estado de lucidez. Conforme
as circunstâncias e o
fim que se tenha em vista, ele os pode haurir da sua própria
experiência, da sua
clarividência relativa às coisas presentes, ou dos conselhos que
receba de outros Espíritos.
Mas, podendo o seu próprio Espírito ser mais ou menos adiantado,
possível lhe é dizer
coisas mais ou menos certas.
Pelos fenômenos do sonambulismo, quer natural, quer magnético, a
Providência nos
dá a prova irrecusável da existência e da independência da alma e
nos faz assistir ao
sublime espetáculo da sua emancipação. Abre-nos dessa maneira, o
livro do nosso destino.
Quando o sonâmbulo descreve o que se passa a distância, é evidente
que vê, mas não com
os olhos do corpo. Vê-se a si mesmo e se sente transportado ao lugar
onde vê o que
descreve. Lá se acha, pois, alguma coisa dele e, não podendo essa
alguma coisa ser o seu
corpo, necessariamente é sua alma, ou Espírito. Enquanto o homem se
perde nas sutilezas
de uma metafísica abstrata e ininteligível, em busca das causas da
nossa existência moral,
Deus cotidianamente nos põe sob os olhos e ao alcance da mão os mais
simples e patentes
meios de estudarmos a psicologia experimental.
O êxtase é o estado em que a independência da alma, com relação ao
corpo, se
manifesta de modo mais sensível e se torna, de certa forma,
palpável.
No sonho e no sonambulismo, o Espírito anda em giro pelos mundos
terrestres. No
êxtase, penetra em um mundo desconhecido, o dos Espíritos etéreos,
com os quais entra em
comunicação, sem que, todavia, lhe seja lícito ultrapassar certos
limites, porque, se os
transpusesse, totalmente se partiriam os laços que o prendem ao
corpo. Cerca-o então
resplendente e desusado fulgor, inebriam-no harmonias que na Terra
se desconhecem,
indefinível bem-estar o invade: goza antecipadamente da beatitude
celeste e bem se pode
dizer que pousa um pé no limiar da eternidade.
No estado de êxtase, o aniquilamento do corpo é quase completo.
Fica-lhe somente,
pode-se dizer, a vida orgânica. Sente-se que a alma se lhe acha
presa unicamente por um
fio, que mais um pequenino esforço quebraria sem remissão.
Nesse estado, desaparecem todos os pensamentos terrestres, cedendo
lugar ao
sentimento apurado, que constitui a essência mesma do nosso ser
imaterial. Inteiramente
entregue a tão sublime contemplação, o extático encara a vida apenas
como paragem
momentânea. Considera os bens e os males, as alegrias grosseiras e
as misérias deste
mundo quais incidentes fúteis de uma viagem, cujo termo tem a dita
de avistar.
Dá-se com os extáticos o que se dá com os sonâmbulos: mais ou menos
perfeita
podem ter a lucidez e o Espírito mais ou menos apto a conhecer e
compreender as coisas,
conforme seja mais ou menos elevado. Muitas vezes, porém, há neles
mais excitação do
que verdadeira lucidez, ou, melhor, muitas vezes a exaltação lhes
prejudica a lucidez. Daí o
serem, freqüentemente, suas revelações um misto de verdades e erros,
de coisas grandiosas
e coisas absurdas, até ridículas. Dessa exaltação, que é sempre uma
causa de fraqueza,
quando o indivíduo não sabe reprimi-la, Espíritos inferiores
costumam aproveitar-se para
dominar o extático, tomando, com tal intuito, aos seus olhos,
aparências que mais o
aferram às idéias que nutre no estado de vigília. Há nisso um
escolho, mas nem todos são
assim. Cabe-nos tudo julgar friamente e pesar-lhes as revelações na
balança da razão.
A emancipação da alma se verifica às vezes no estado de vigília e
produz o
fenômeno conhecido pelo nome de segunda vista ou dupla vista, que é
a faculdade graças à
qual quem a possui vê, ouve e sente além dos limites dos sentidos
humanos. Percebe o que
exista até onde estende a alma a sua ação. Vê, por assim dizer,
através da vista ordinária, e
como por uma espécie de miragem.
No momento em que o fenômeno da segunda vista se produz, o estado
físico do
indivíduo se acha sensivelmente modificado. O olhar apresenta alguma
coisa de vago. Ele
olha sem ver. Toda a sua fisionomia reflete uma como exaltação.
Nota-se que os órgãos
visuais se conservam alheios ao fenômeno, pelo fato de a visão
persistir, mau grado à
oclusão dos olhos.
Aos dotados desta faculdade ela se afigura tão natural, como a que
todos temos de
ver. Consideram-na um atributo de seus próprios seres, que em nada
lhes parecem
excepcionais. De ordinário, o esquecimento se segue a essa lucidez
passageira, cuja
lembrança, tornando-se cada vez mais vaga, acaba por desaparecer,
como a de um sonho.
O poder da vista dupla varia, indo desde a sensação confusa até a
percepção clara e
nítida das coisas presentes ou ausentes. Quando rudimentar, confere
a certas pessoas o tato,
a perspicácia, uma certa segurança nos atos, a que se pode dar o
qualificativo de precisão de
golpe de vista moral. Um pouco desenvolvida, desperta os
pressentimentos. Mais
desenvolvida mostra os acontecimentos que deram ou estão para
dar-se.
O sonambulismo natural e artificial, o êxtase e a dupla vista são
efeitos vários, ou de
modalidades diversas, de uma mesma causa. Esses fenômenos, como os
sonhos, estão na
ordem da Natureza. Tal a razão por que hão existido em todos os
tempos. A História mostra
que foram sempre conhecidos e até explorados desde a mais remota
antigüidade e neles se
nos depara a explicação de uma imensidade de fatos que os
preconceitos fizeram fossem
tidos por sobrenaturais.
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