Amyr & Alpha III

Quem conhece um pouco de rock progressivo reconhece e já mentaliza melodias intrincadas e temas/letras de músicas engajadas ou literárias dada a grande influência de textos densos, filosóficos e até metafísicos presentes nas obras mais consistentes dessa corrente musical.

É muito comum até os críticos especializados criarem controvérsias a respeito das influências musicais de um grupo ou até na rotulação desse tipo de som. A verdade é que apenas os aficcionados ou os que não se contentam (embora gostem) de gêneros musicais mais pop ou de apelo comercial conseguem acompanhar e se deleitar com o som progressivo. Definições à parte, a cena progressiva brasileira é pobre em quantidade e principalmente em divulgação dos trabalhos mais consistentes, alguns de repercussão mundial, mas que não aparecem por aqui. Experimentações como as de Hermeto Paschoal ficaram para a posteridade apenas de americanos e de uns poucos brasileiros que têm acesso a lançamentos estrangeiros.

No entanto, na Inglaterra, temos Rick Wakeman como exemplo de artista que procurou impregnar sua música com textos de livros ou lendas (Rei Artur, Viagem ao centro da terra) - sua concepção musical tenta retratar as imagens literárias através de sons - ou criando histórias (No Earthly Connection), para citar exemplo estrangeiro bem sucedido. E no Brasil? Em outra linha, mas tão denso quanto, temos o projeto Alpha III, de Amyr Cantúsio Jr, desconhecido de muitos que curtem o som progressivo, já que catalogá-lo como rock limita sua esfera de ação, que é sem fronteiras. Nesse instante estou ouvindo "New Voyage to Ixtlan", versão sonora de um dos livros mais conceituados de Carlos Castañeda, cuja temática central é a constatação de que somos apenas fantasmas - sombras de realidade - passando por um mundo sem que tomemos conhecimento e desfrutemos de todos os mistérios e maravilhas nele contidos. Quantos morreremos sem ao menos tocar os limites da noção tonal/nagual?

Esta obra é fiel em imagens musicais ao livro, mas acima de tudo mantém um nível de qualidade técnica e musical, como já disse, comparável (e como algumas vantagens) aos melhores lançamentos do gênero no exterior. É uma obra que me impressionou, pois já conhecia outros títulos como, Sombras, Temple of Delphos e the Aleph, entre tantos outros.

Quem duvidar, primeiro ouça, compare com o que conhece, sem preconceitos por se tratar de um artista brasileiro - precisamos valorizar o que é nosso, também, sem xenofobia e sem hipocrisia nacionalista tipo som da nossa terra e afins, porque a boa música é universal, não obedece fronteiras - e não conheço nada mais universal que a música do Alpha III.

                                                                                      Prof. Adilson Roveran

 

Links para compra de material do Alpha III:
http://www.myspace.com/alphaiii
http://www.myspace.com/projectalpha3