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Nunca foi minha intenção fazer um diário, mas a vida é um fato consumado que não deixa escolha, não pedi pra nascer, nem sei ao menos se queria, não me deixaram escolher o nariz ou a cor dos olhos, nem mesmo o "eu" foi escolha minha. Fui empurrado lá atrás e continuo rolando até hoje E é assim, rolando, que continuo existindo. Com certeza infeliz pela ultima volta mas inevitavelmente em movimento...    ;o(

(www.fotolog.net/andrevidalviola) (www.fotolog.net/andrevidal)

 

[ pros filhos que vão nascer, pra mãe que eu já escolhi. Dre.](atualizado.27102005)

 

 

... )12.12.2004( 

Sopra o vento na planície

É monótono o horizonte

Nada foi o que minhalma disse

Quem sou eu? Quem sou eu? Me conte

Ninguém avisou antes que eu partisse

Agora estou só. No infinito longe...

O que importa! Um ronco de fome matou-me a poesia

 

Silencioso é o vazio do mar

Nada há pra transcender

Mentiu pra mim o espírito ao falar

Quem sou eu? Quem sou eu? Faça-me ver

Nada foi dito pra evitar

Agora estou só. Tudo por fazer...

Importância nenhuma! Passou alguém e roubou-me a poesia

 

Envolto no nada tudo é escuro

A substância quedou-se ausente

O sentido falsificou o sussurro

Quem sou eu? Quem sou eu? Nada se entende

Nenhum esforço pra evitar o apuro

Agora estou só. Mais nada pela frente...

São oito horas! Corro! O que me importa essa droga de poema

 

Moro só em uma casa vazia

O infinito de tudo termina nos meus

Ouvi um eco que nada dizia

Quem sou eu? Quem sou eu? Adeus

Tornaram impossível aquilo que seria

Agora estou só, numa multidão de eus...

       Tudo me assusta! Vou sendo levado em uma poesia

 

Último Hoje )20.10.2004(

...não me aguarde amor eu não vou voltar não que eu não queira e até quero não que eu não possa e até devo apenas não estarei aqui e simplesmente não adianta chamar está sozinho agora e somente com a terra a propósito deixei pão na geladeira e sobrou café na chaleira olha bem as crianças diga a elas que eu amo mas que no entanto não vou voltar tenha carinho com o Edu já que não adianta chamar que eu não vou voltar é sempre mais difícil com ele paciência leve uma foto minha na carteira arranje uma arrumadeira leve Marta à cabeleireira faça a vida andar pra frente que mesmo que eu possa que mesmo que eu queira amor não faça besteira ponha fogo no travesseiro que é só meu esse cheiro amor não sinta saudade leve a vida com vontade não lastime que é errado vá ao parque sexta-feira sinta a brisa primeira sorria e não chame que eu não volto nem que queira amor deixa a saudade por conta sorria eu vou indo estou pronta e cheia de amor cuide-se coração fui embora amor com paixão visite vovô no domingo explique pra ele que infelizmente o mundo é assim e que sempre é triste no fim amor estou indo fica assim... amor faz isso por mim... beijei tua foto querido...

 

 

Talvez Apenas Talvez )12.10.2004(

 

...sim! ainda que reste alguma dúvida sobre o sensível e a intuição, é certeza toda a sensação... não! talvez não exista nada em si, nem mesmo a invenção de alguma coisa "em si", mas a sensação há, essa realmente há!... ilusão? ilusão é a metafísica! toda lógica formal, a razão e a idéia... e eu penso, penso, penso... até que no ato do pensamento eu me distraio e bato o dedo no canto da cama e descubro minha alma escondida no pé!... que me importa o pensamento agora?!... de uma forma ou de outra eu convivo entre o pé, a cama e a razão... e ainda vejo sentido na atitude da cama. Ah, eu vejo!... e sinto!... Deus! quanto tempo eu demorei pra perceber que a cama não estava em mim!.... estava em nós!

 

 

 

nada resta senão pó )16.12.2003(

            Tudo em volta vira pó

            Nada resta senão eu

            Esperando o dia em que sem dó

            Vire pó também o corpo meu

 

            O chamado da alma é como um canto

            Um sonho embalado por Orfeu

            E o som que do homem tira o pranto

Leva o corpo que lhe pertenceu

 

Livre do corpo o espírito é santo

            Santo é o corpo que se perdeu

            O sono eterno como encanto

            Ainda que cedo me escolheu

 

 

 

Talvez Hoje Talvez Não )03.12.2003(

 

... Sou um poeta um escritor um artista Um bêbado um deprimido enfim um artista Sou o que gosto de ser sou livre e se me pagam sou também o que gostariam que eu fosse enfim um artista Sou um homem solteiro livre desimpedido tenho todas as mulheres que desejo e se todas me desejarem deixarei de ser um mentiroso deixarei de ser um artista Sou um gênio criativo e voraz sou um animal um caçador atrás da presa e se tudo fosse assim tão perfeito não seria um artista Sou um chato um arrogante desmedido um homem fora do tempo um romântico fora de época sou sem foco e sem forma sem conteúdo e como não poderia deixar de ser um artista Tenho fome de vida e curiosidade na morte e seria mesmo assim se não engolisse a vida se não tivesse medo da morte e seria mesmo assim se fosse um artista... É verdade não sou um artista sou um bêbado também não sou escritor sou um deprimido também não sou poeta sou definitivamente um chato Nem ao menos consigo mentir de outra forma diria aqui com os pés juntos sou um artista...

 

 

Amanhã )28.10.2003(

 

Onde morreria senão em casa Aqui construí uma vida... pois então que aqui a destrua Sofro todas as doenças da enciclopédia de A à Z tenho tudo A morte me consome e só me resta apodrecer em vida A verdade é que nunca fui um homem saudável Mas isso pouco importa Não quero parecer aqui um homem desagradável... daqueles que imploram por atenção... sou só e vivo muito bem obrigado Não quero filhos e  não me importa se os tenho... são péssimas companhias que apenas nos envergonham perante a sociedade Não pensem com isso que sou um homem social... não sou nada Para o bem da verdade sou um canalha e o sou por vontade própria Alguns arrogam pra si o direito à simpatia outros à beleza e há ainda aqueles que cobiçam o titulo de homens cultos... todos com o fraco desejo da aceitação Eu particularmente me forjei no fel sou irremediavelmente intragável Então por que deixaria de sê-lo agora Por que me lançaria na aventura social de decompor-me em público Definitivamente prefiro feder em casa Se hoje tenho o corpo como o de Lazaro coberto de feridas não recorro à fé Não sou cristão sou ateu  no sentido mais amplo da palavra Pratico fervorosamente a descrença generalizada...

 

Hoje sem amanhã )16.10.2003(

Não posso mais suportar Inevitavelmente caminho até a janela Procuro através de um simples movimento derrotar o destino Não deixo cartas nem saudades Também não deixo tristezas alegrias ou memórias Sou um homem sem passado e desde agora sem futuro apenas uma singularidade temporal Violentamente procuro vozes algo que me diga pare Olho em volta não há nada que possa agarrar No parapeito o vento fresco me recorda o único prazer da vida Projeto imagens que poderiam ter ocorrido segundos na história de um homem que nunca existiu e por um momento apenas por um momento sorrio Um sopro encerra o ultimo sonho e enfim compreendo que não há mais volta Vinte quatro anos em vão Uma vida pra encontrar a morte e finalmente a morte pra explicar a vida...

Hoje que virou ontem mas promete repetir o amanhã )13.10.2003( 

Quando voltei para Eldorado... não sei se antes ou depois... quando revi a paisagem imutável à natureza... a mesma gente perdida em sua impossível grandeza... eu trazia comigo a forte amargura dos encontros perdidos e outra vez me perdia no fundo dos meus sentidos...  [... Paulo; Terra em Transe (Glauber Rocha) ...]

Novamente hoje )07.10.2003( 

...até que na ignorância animal da ausência da lógica a falta absoluta de razão compreende o sentido da vida na forma da morte...

Hoje mais hoje do que ontem )06.10.2003( 

Hoje estou me sentindo melhor Não definitivamente não é fácil Ser quem sou torna a vida tão difícil e cansativa Ainda assim tenho as mesmas vontades que o todo As coisas mais simples se revelam como as mais trabalhosas e minhas vontades estão sempre um passo a frente Certa vez alguém me disse pra que olhasse o passado de forma carinhosa mas isso me é tão difícil O que deixei pra trás alem de monstruosas memórias Enterrei as pessoas que me eram mais caras Cada momento do passado tornou-se um momento a menos no futuro e para que a vida não passe em vão todos tentamos resgatar uma lembrança boa algo que de significado a existência da matéria Mas em algum lugar do futuro ocorre inesperadamente de percebermos que nada valeu a pena e de repente a vida passou e nos tornamos velhos e nos tornamos tristes e nada resta a não ser um choro reprimido pela esperança de um amanhã que nos faça sentido de um amanhã que nos faça sentir por um momento se quer felizes...

...e esse amanhã já não há...

Hoje )05.10.2003( 

Já faz tempo nos não conversamos mais As coisas estão perdendo o sentido pra mim já não me lembro do porque e o quando não mais carrega a forma de antes Acho e apenas acho que as coisas continuam porque não podemos para-las ou pelo menos não de maneira inconsciente é preciso que sejamos sensatos é preciso que se use a razão Definitivamente não sei como tudo isso foi acontecer e sei quanto devemos nos culpar por isso De alguma forma meu passado deixou a folha meio em branco e ainda sobra tanto espaço pra escrever que se tornou impossível virar a pagina Não me pediram para esquecer nem ao menos se esforçaram pra tanto simplesmente as coisas aconteceram O que ocorre daqui pra frente é uma releitura do caderno e até que me volte a coragem pra pegar a pena novamente é apenas isso...

Bem depois de amanhã )03.10.2003( 

Mau humor é a única forma de acordar pudera acordo ao lado de uma mulher que não é minha sugando a saúde que me resta o dinheiro que me resta o orgulho que me resta enfim o pouco que ainda é meu Somados todos esses cacos não dão uma vida não carrego mais passado nem uma chave de um maleiro qualquer perdido em alguma rodoviária do mundo repleto de futuro o que me resta é o presente o aqui o agora a ressaca de algo que já nem lembro mais O que esperar de amanha o mesmo de hoje um presente derrotado congelado no tempo ate que a ultima surpresa o único futuro possível se concretize na forma da morte Não há mais o que viver nem mesmo uma ponta de agonia nem mesmo um instante de desespero apenas o igual roto e moribundo corpo frio imutável intocável a cruz da vida o cansaço de se esforçar para continuar cansado A vida não passa do trabalho de manter acesa uma luz artificial que por castigo divino somos impedidos de apagar A esperança da juventude é a equivalência da mentira e a desgraça da humanidade que recobre o coração cansado de pavor e saudade torturante saudade prazer sádico daquele que se engana com um tempo que não passa mas disfarça um amadurecimento que antes já apodreceu Sendo assim o que esperar de amanhã se me restasse a esperança a morte...

Amanhã )02.10.2003( 

Já a muito não sinto o prazer da juventude Carregado pela vida cercado pelo trabalho vigiado pela mulher revejo minha vida no semblante dos filhos e a desgraça no rosto sem expressão alguma de meu pai Me apego as alegrias do passado destroçadas pela agonia do presente e me apavoro diante do horrorizante futuro A volta agora é impossível já caminhei por demais e os pés não dão mais conta do regresso desejo ficar parado mas sou impelido a avançar Todas as forças que me restam despendo na tentativa de ficar imóvel não quero o futuro mas a perna move como move o coração por vontade própria de mover sempre Qual surpresa me reserva o amanhã gostaria de não descobrir mas a mesma salta assustadoramente rápida e poe-se parada no caminho como se sempre estivesse ali esperando O que esperar do amanhã alem do próprio amanhã A única alegria da vida é o ontem e a esperança do hoje durar pra sempre... 

Ontem )01.10.2003( 

 Ela tão linda sorrio pra mim Eu como quem beija pela primeira vez sem ter beijado pensei juro em sorrir pra ela mas como que farto de tanta alegria franzi o cenho fingi que não era comigo e quando dei por mim estava sorrindo pro nada Ela como que cansada cedeu e largou o sorriso na boca como se risse de uma piada como se seu próprio sorriso não fosse com ela Eu de vergonha me fiz da cor do uniforme Ela toda tímida se escondeu no cabelo e antes que eu pudesse olhar de novo o cabelo sumiu Não que eu fosse olhar novamente mas olhei simples assim olhei mas já não havia ninguém...