O BOI ESTÁ ELEITO!
  Depois duma sexta-feira 13, nada como um sábado 14, com a expectativa da realização de mais uma Lavagem da Esquina do Padre, de mais uma saída do Boi de Idalino, e tudo o que isto representa para a cultura em Caetité.
  Nelsinho, Tairone, e os ajudantes de todos os anos correm, como em todos os anos. Mas, para mim, uma surpresa: Nelson passa em minha casa, quer saber a razão de eu ainda estar ali e não na rua, vendo a movimentação! Explico que estava a fazer uns desenhos para uma cartilha da Secretaria de Saúde. Largo enfim o trabalho e saio, a fim de comprar um filme para a velha máquina fotográfica.
  No Beco do Fórum, que já foi a Travessa Voluntários da Pátria (homenagem duma Caetité que enviava soldados para a Guerra do Paraguai), um grupo programara um sambão na frente dum boteco de mau-gosto. Penso, como pode alguém perder, seja por qualquer motivo, a saída do Boi?!
  Vou para a Praça da Catedral, já tomada de gente. Fred David me desafia para uma partida de gamão - quer se vingar da derrota na véspera. Sigo perdendo até que Nelson aparece, e desta feita a intimação é séria: tenho de ir para a saída do Boi. Logo, já!
  A 17ª Lavagem teve este ano uma camisa azul, e uma outra, fazendo uma homenagem ao evento, mas que comemorava a 18ª... coisas de Vaca Louca...
  Bom, Fred e eu vamos para a Feira Velha, o tradicional Largo do Alegre que um dia hospedou o Conde dos Arcos, quando este partia de Goiás para a defesa do litoral nordestino.
  Na frente da casa da Patrícia Bacelar, agora morando na rua de Saldanha, a calçada molhada indica onde foi preparado o barril de cachaça que será servido na Esquina.
  De novo estou sem minha filha, chateado por não dar exemplo dentro de casa de como todos devem prestigiar nossas manifestações. As novas gerações devem, sim, desde cedo participar do legado deixado pelos mais velhos, para um dia repetirem. Mas, a imensa mole de crianças da Feira Velha está ali. O velho Soldado não aparece, não o vimos nem na janela: mas um filho dele está lá, com o neto, de seus dois anos! O ciclo se perpetua!
  Algo está diferente: a rua está lotada. Este ano, tudo parece que inflacionado. Nelson nos advertira que alguém viera de São Paulo para a Festa, e logo dou de cara com um mascarado: Osama Bin Laden, em pessoa, veio do sul pra prestigiar a festa. Cuidadoso, segura um avião e as torres gêmeas.
   Músicos, baianas, mascarados (as misteriosas "Meninas Superpoderosas", que no ano passado eram as Emílias do Sítio do Pica-pau), curiosos, cachaceiros que não esperam a hora de beber mais bamboleiam, enquanto Galdino Aguiar Fausto, oculto por uma fantasia, é mais uma das muitas Caretas que perseguem as crianças - e a mim, que levo umas duas cacetadas até descobrir quem era aquele mascarado que tanto perturbava.
  O cortejo se atrasa. Desta vez, o culpado não foi Idalinim, mas Maria, a Baiana-chefe. Enfim, ela chega, Nelson leva-lhe buquês de flores amarelas. Isso é que é organização. Idalino sai de casa, cumprimenta as pessoas, é tanta gente que só de longe vimos este momento tão crucial. Nelsinho monta guarda na frente do Boi, e consegue fotografar a hora em que o seu animador, sorrateiro, mergulha sob o manto para dar vida ao ser mais real que o imaginário humano foi capaz de criar.
  Com a inusitada multidão é praticamente impossível fotografar: ao colocar a máquina em posição, logo a frente é tomada por gente, gente de todo jeito: velhos, novos, jovens, velhos que pensam estar jovens (como Gueguêu e eu), e o baticum do cortejo empurra todo mundo beco afora, rumo ao desfile, com a capoeira atrás das baianas e na frente do Boi.
  Uma multidão, sem exageros, segue animada, dançando, falando, rindo, festejando. Nelson constata: "Esta é a festa mais fotografada de Caetité", e de fato, todos estão a registrar cada momento, cada pessoa, cada movimento.
  A Praça da Catedral está tomada: milhares de pessoas se aglomeram para ver o cortejo, e centenas seguem Rua Barão acima, despertando (finalmente), para a grandiosidade daquele momento ímpar. Minha filha Joanna, de mãos dadas com a amiguinha Juliana, seguem também. Meu coração se desanuvia: até que enfim os que dormiam aparecem para ver e, se der, serem vistos...
  Lá vamos nós, Caetité em peso. Crianças fardadas saem da escola, uma fala pra outra: "É muito bom!", e o que era um cortejo se transforma numa autêntica festa de carnaval: as pessoas cantam, dançam, ao som da fanfarra, como há quarenta anos o velho Idalino fazia.
  Nelson e Tayrone entram na venda de Brucutu. Compram latinhas de cerveja e o Nelson, vassouras... é pra lavagem? Eta, trem organizado, sô!
  Bin Laden, que encontrou Bush na Praça, está desolado, tentando emendar uma das torres gêmeas de isopor que se quebrara. Paro pra ajudar, mas aquilo não tem mais conserto, a vida, o Boi já seguiu adiante...
  É ano de eleição, alguns candidatos a candidato tentam pegar carona, colocando seus nomes nas camisas, mas politicagem não combina com o Boi. Ele sim, demonstra que o povo de Caetité elegeu a cultura de sua gente, elegeu o Boi de Idalino como sua Festa mais característica, mais espontânea...
Viva o Boi de Idalino. Já ganhou! Já ganhou!...
Acima: Mané Café, Idalino, Nenem Borracheiro, na varanda onde o "Dono do Boi" espera o momento de poder sair...
Ao lado, Dalinim sambando como um rei
Acima: "Bin Laden" de costas, diz: "vim aqui comer BUSHada"...
Acima: Nelsinho "organiza" um dos bêbados pra tirar uma foto...
Clique na foto "oficial", pra voltar ao índice...