O POEMA DA ROSA | |||||||||||||
Á minha mãe, que eu não soube amar quando retornou criança. | |||||||||||||
A lágrima ressequida teimava em arder nos cantos dos olhos. Tudo em volta era uma extensa nuvem de fumaça, como se a dor tornasse em matéria, e sufocasse. Nunca alguém escrevera algo assim - ao menos nunca o papel recebera tais letras, formara tais palavras, nem as concatenara daquela forma... De Omar Khayyam até o jovem apaixonado pela nobre flor (e queimava cadernos de poesia), nunca a rosa fora cantada assim... A Rosa é a poesia em flor, e quantos puderam cantá-la? Quantos em verdade apenas a citaram, como Vinícius? Khayyam, levado pelo vinho, compreendeu uma faceta da rosa: o da fuga... nunca houve um retrato de sua vida, de quem as semeou, as cultivou, as manteve vivas e vívidas para o mundo. A lágrima feita em pedra ardia nos olhos, olhos que descreviam rosas, e eram por elas despetalados... Um dia de sol fez aquelas letras, palavras e versos, sumirem da terra. Apenas um as leu. Mas falavam de cinco rosas, do amor com que foram plantadas, e findavam dizendo: "Quanto mais a mão lhes dá carinho / Mais as rosas lhe penetram o espinho"... No lugar onde mora a literatura não-lida do mundo, no panteão das consciências, versos de dor serão lidos. Ali as rosas, cantadas nos poemas da Terra, serão flores... e serão espinhos. |
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