ROSBIFE, o escritor
    Pode parecer estranho, mas a realidade era muito pior que qualquer ficção... De fato houve uma criança cujo nome de registro, de batismo e de tudo o mais, era nada menos que Rosbife. Rosbife Almeida do Prado.
    Vindo da roça morar na cidade, Rosbife logo buscou enturmar-se. E, pensou, nada mais belo que um livro - afinal, ele via em casa dos doutores e professores e 'ores mais, estantes e mais estantes cheinhas de livros. Livros a mancheias, diria o Poeta...
     Rosbife então danou a perturbar todos os conhecidos com a idéia de que iria fazer um livro. Por seu lado, lia tudo quanto lhe caía nas mãos. Claro que seu pensamento não concatenava lá muito coerentemente, mas isto na verdade era o que menos importava.
     Importava era ser autor, era fazer um livro.
     E fez. Rosbife agora era o senhor, o mais, o maioral. E parava a todos que via com seus exemplares a tiracolo, apresentando sua obra-prima e, avisava, aproveitassem logo, pois estava a esgotar. O livro, acreditava ele, era seu passaporte para mais além do que simplesmente o reconhecimento social: era tudo!
     "Para construir um castelo é preciso areia" - estava escrito no frontispício - "Portanto, não se incomode com o grão que lhe adentrou no sapato". Aliás, todo o livro eram frases como:

  
"Agora é o momento. Ontem já foi. Amanhã, amanhã será."
     "Tudo o que é belo mora dentro de mim. Portanto sou belo."
     "Se o coração bate, então o martelo tem sentimentos."


     Enfim, nada como ler a obra de Rosbife. São momentos de mais pura transcendência. Afinal, quem foi que disse que o mundo havia de ser dos homens de juízo?
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