4 SONETOS...
SONETO DE MODERNIDADE


No banco da praça
Namorados especam-se em beijos
Como se a vida
A vida toda fosse... carícias

Então, amando-se,
Vão, enfim, à procura
De recanto menos visível
Em risível cumplicidade

E os namorados semeiam
Carícias como se a vida
A vida fosse o momento

E, quando germinado está
Mais um "fruto efêmero de um efêmero gozo"
Separam-se...
O ESPÍRITO AO CORPO

Homem, sabes de teu futuro
Estás sóbrio, sobre teu passado
E mesmo assim segues no erro
Segues no vão prazer de ter errado

Ah, amigo, que dor almejas
Que dor constróis, lapidas...
São teu passos de hoje que
Amanhã te seguirão, sem dó

Amigo, és sombra, és carência
És a dor que porfiavas
E em teus passos hei de seguir

Homem, sabes de teu presente
E mesmo assim te prendes
Na corda que te enforcará...
SONETO TERRENO

Numa imensa fantasia erótica
Pululam seres feéricos famélicos
Sugam dos homens o sêmen
Haurem das mulheres o sumo

Vencendo as barreiras do mar revolto
Atravessam as fronteiras do imortal
Encontram almas entregues, num covil
Praticam sexo a dois, a três, a mil

São disformes, afoitos, vampiros
Empurram os corpos de amantes súplices
E sugam os seus suspiros

Terra, planeta sexual, vendedor de almas
E almas compradas que negociam
Séculos e séculos, amém.
SONETO DE INFIDELIDADE

Em minh'alma de petiz
Uma outra rima quis
Escrever poemas na lousa, mas o giz
Evocava funérea musa, ultriz

Ah, quem me dera achar o que condiz
Mas do meu imo só a vergonha diz
O asco, a perfídia, legado inf'liz
Da musa que cruza qual perdiz

Falei de amor, Amor foi o que fiz
E sob o rosto rubro de batom e verniz
Ouvi falseadas frases de atriz...

Que buscavas em mim, André Luiz
Alegria, amor, fidelidade, ser feliz,
E ter por musa a meretriz?
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