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TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE
1- INTRODUÇÃO
2 -GUIA PRÁTICO PARA O TRATAMENTO
DA LEISHMANIOSE
3- ASPECTOS CLÍNICOS DO
TRATAMENTO
4 -EFICÁCIA TERAPÊUTICA
DO ANTIMONIATO DE MEGLUMINA VERSUS ISOTIANATO DE
PENTAMIDINA
E SULFATO DE AMINOSIDINA, NO TRATAMENTO DE LESÕES CUTÂNEAS
PRIMÁRIAS
CAUSADAS POR LEISHMANIA (VIANNIA) BRASILIENSIS
5 -NOVAS ABORDAGENS DO TRATAMENTO
DE LEISHMANIOSE
6 -CONCLUSÃO
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Os parasitas do gênero Leishmania,
transmitidos ao homem por insetos flebotomíneos, nas regiões
quentes do Velho e do Novo Mundo, determinam as leismanioses que afetam
particularmente o sistema fagocítico mononuclear (SFM). Mas por
apresentarem características clínicas e epidemiológicas
diferentes em cada área geográfica, foram consideradas doenças
distintas. Podemos reuni-las em quatro grupos:
1. Leishmaniose cutânea –
formas que produzem exclusivamente lesões cutâneas, ulcerosas
ou não, porém limitadas, onde a densidade de parasitas nos
bordos da úlcera formada é grande nas fases iniciais da infecção,
com tendência à escassez nas úlceras crônicas.
2. Leishmaniose mucocutânea
– formas que se complicam freqüentemente com o aparecimento de lesões
ulcerosas destrutivas nas mucosas do nariz, boca e faringe.
3. Leishmaniose visceral ou calazar
– formas viscerais, em que os parasitas apresentam acentuado tropismo pelo
SFM do baço, do fígado, da medula óssea e dos tecidos
linfóides. A leishmaniose visceral é doença endêmica
em várias regiões do mundo, mas também capaz de produzir
surtos epidêmicos graves. Ela se caracteriza por manifestar-se com
febre irregular, esplenomegalia, anemia e, em fase terminal, quando não
tratada, caquexia e elevada taxa de mortalidade.
4. Leishmaniose cutâneo difusa
– formas disseminadas cutâneas, não-ulcerosas, que apresentam
em indivíduos imunocomprometidos, ou que aparecem tardiamente, em
pacientes que haviam sido tratados de calazar [1].
A transmissão de leishmaniose
ocorre pela picada de insetos hematófagos pertencentes ao gênero
Lutzomyia conhecidos no Brasil como birigui, mosquito-palha e tatuquira,
entre outros. Ao exercer o hematofagismo, a fêmea inocula as formas
promastigotas infectantes provenientes das regiões anteriores do
trato digestivo[2]. As células fagocitárias englobam os parasitas
na forma flagelada, estes se transformam em amastigotas e se multiplicam
nos macrófagos [3].
A Leishmania (viannia) brasiliensis
é o agente etiológico mais importante da leishmaniose tegumentar
no Novo Mundo, sendo responsável, freqüentemente, pelo comprometimento
de mucosas [4]. O principal agente etiológico da leishmaniose visceral
no Novo Mundo é a L. chagasi. Assim como a L. (viannia) brasiliensis,
possui ciclo biológico do tipo heteroxênico, envolvendo como
vetor as fêmeas da Lutzomyia longipalpis [2].
O tipo e o nível de infecção
são determinados pela resposta imunológica do hospedeiro
e pela espécie de Leishmania. Algumas espécies são
essencialmente dermotrópicas; outras envolvem as vísceras.
A imunidade celular do hospedeiro determina o tipo de leishmaniose (cutânea,
mucocutânea ou visceral); se a infecção será
clínica ou subclínica; se pode ocorrer auto-cura; se há
poucas lesões ou estas são difusas; e se a resposta ao tratamento
será completa ou parcial [3].
A prevalência mundial das
diferentes formas de leishmaniose tegumentares e viscerais é desconhecida.
Estima-se 0,3 a 1,5 milhões de casos de leishmaniose cutânea
(LC) e 100.000 a 500.000 casos de leishmaniose visceral (calazar, LV) anualmente;
sendo a leishmaniose mucocutânea (LMC) é rara [3].
"... A leishmaniose tegumentar
situa-se entre as grandes endemias existentes no Brasil e na América
Latina. No que se refere à distribuição geográfica
mundial, a leishmaniose é prevalente nos quatro continentes, sendo
considerada endêmica em 82 países..." [4]
"... No Brasil , o número
de casos novos de leishmaniose tegumentar americana notificados anualmente,
no período de 1980 e 1993, mostra um total de 4.408 casos em 1980,
contra 26.611 casos em 1987. A partir de 1987 , há um decréscimo
nítido nesse último número, tendo sido notificados
até o mês de agosto de 1993, um total de 10.602 casos novos..."
[4]
O número de casos novos
de leishmaniose visceral notificados anualmente, no Brasil, no período
de 1980 e 1989, mostra um total de 164 casos em 1980, contra 2.511 casos
em 1985. A partir de 1986 há um ligeiro decréscimo neste
número, tendo sido notificados 1.490 novos casos em 1989 [2]. As
principais áreas endêmicas no Brasil estão no Nordeste,
onde ocorreram 94% dos 12.345 casos notificados no período de 1980
a 1989. Registraram-se também muitos casos em Minas Gerais e no
Rio de Janeiro [1].
O controle da leishmaniose tegumentar
ou visceral fundamenta-se em três pontos básicos: tratamento
de todos os casos humanos; eliminação de cães infectados
(reservatório urbano) e combate ao vetor. Essas medidas sendo contínuas
e bem conduzidas apresentam excelentes resultados [2].
II- GUIA PRÁTICO PARA
O TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE
2.1- Antimoniais pentavalentes
Desde a década de 40, o medicamento
de primeira seleção para todas as formas de leishmaniose
tem sido estibogliconato de sódio e antimoniato de meglumina. Estes
compostos são derivados do ácido estibônico, e apresentam
o antimônio (Sb) unido à uma molécula glicose. A solução
de estibogliconato de sódio contém 100g/L de antimônio
pentavalente (Sb(V)) e o antimoniato de meglumina contém 85g/L [3].
Na maioria das regiões,
casos de resistência primária ao Sb(V) são raros.
Em todo o mundo, a reincidência atribuída à parasitas
resistentes ao antimônio, usualmente, são decorrentes de doses
e duração do tratamento inadequados [3].
Esses medicamentos podem ser administrados
por via intravenosa (IV) ou intramuscular (IM). Com uma injeção
IM de 10mg/Kg de Sb obtém-se um pico de concentração
sangüínea de aproximadamente 10mg/L em 2 horas após
a aplicação. O medicamento apresenta como características
farmacocinéticas uma fase inicial de absorção com
tempo de meia vida (t1/2) de 0,85 hora, uma fase de eliminação
rápida (t1/2 2 horas) e uma fase de eliminação lenta
(t1/2 76 horas). Supõe-se que esta fase final de eliminação
lenta seja resultado da conversão in vivo de Sb(V) para Sb(III),
contribuindo também para a toxicidade e a eficácia da droga.
O antimônio pentavalente é excretado principalmente sob a
forma inalterada na urina e parte deste composto, como Sb(III) [3].
A posologia recomendada atualmente
para o tratamento de LV, LC e LMC recente é a administração
de 20mg/Kg/dia de Sb(V) pela via IM ou IV em uma dose diária. Flebites
decorrentes da administração de antimônio podem ser
minimizadas através se infusão lenta ou pela infusão
IV de antimônio em 50mL de dextrose 5%. Duas ou 3 doses diárias
de 10mg/Kg de Sb(V) têm eficácia um pouco melhor em LV, mas
com esta posologia os efeitos adversos são mais prováveis
de ocorrer em adultos. Crianças, por tolerarem mais o antimônio
que os adultos, podem necessitar de doses maiores que 20mg/Kg [3].
Para lesões não complicadas
de LC, os antimoniais podem ser injetados intralesionalmente. Pode-se administrar
volumes de 0,5 a 5mL, dependendo do tamanho da lesão. As injeções
devem ser repetidas a cada 2 ou 3 dias por duas a três semanas. Não
são observados efeitos adversos sistêmicos, mas as injeções
podem ser dolorosas por alguns minutos [3].
A duração do tratamento
depende do tipo de Leishmaniose. A LC é geralmente tratada por 20
dias, no entanto, a cura pode não ser observada antes de 4 a 6 semanas
após o final do tratamento. A LV é tratada por 28 dias, mas
nos casos de resistência à droga, o tempo de tratamento deve
ser aumentado para 40 dias ou mais. A LMC recente é tratada por
28 dias. Para a leishmaniose dérmica pós-kala-azar (LDPK),
os agentes de antimônio são administrados por um tempo superior
a 3 meses [3].
Os efeitos adversos sérios
com antimoniais são raros. Reações leves e reversíveis
podem ser representadas pelo aumento de amilase sérica e enzimas
hepáticas, artralgia e mialgia, trombocitopenia, leucopenia, anorexia,
tromboflebites e mudanças no eletrocardiograma. Em alguns pacientes,
pode ocorrer letargia, cefaléia, náusea, emese, gosto metálico,
prurido ou, as vezes, rashs alérgicos. Todos estes efeitos adversos
tendem a ser cumulativos e geralmente ocorrem após a primeira semana
da terapia [3].
2. 2- Anfotericina B
A desoxicolato de anfotericina B
(fórmula convencional) é um agente antileishmaniose alternativo.
Não foi relatado toxicidade ao se utilizar a posologia para LV,
na faixa de 0,5mg/Kg administrada diariamente num total de 14 doses a 1,0mg/Kg
administrada em dias alternados num total de 20 doses. Em LMC avançada,
a anfotericina B é a droga de escolha (0,5mg/Kg/dia de 30mg/Kg).
Em LC, tal medicamento não foi avaliado sistematicamente [3].
Existem três formulações
contendo anfotericina B associada a lipídio apresentando diferentes
características de tolerabilidade e farmacocinética. Todas
elas apresentam menor toxicidade que a formulação convencional
de anfotericina B, no entanto são mais caras. A anfotericina B lipossomal
apresenta ação rápida e é bem tolerada em pacientes
com LV. Uma dose total de 20 a 30mg/Kg é administrada em 5 ou mais
doses diárias de 3 a 4mg/Kg durante 10 a 20 dias. A dispersão
coloidal de anfotericina B tem sido utilizada em LV, no Brasil, na posologia
de 2mg/Kg/dia durante 7 a 10 dias. Febre, calafrios e desconforto respiratório
são sintomas comuns em crianças com menos de 3 anos; estes
sintomas são parcialmente prevenidos pelo pré-tratamento
com um antiinflamatório não esteroidal. O complexo lipídico
de anfotericina B tem sido utilizado com eficácia no tratamento
de LV indiana com posologia de 3mg/Kg em dias alternados, ou 3mg/Kg em
dias consecutivos, num total de 5 doses [3].
2.3- Aminosidina
Aminosidina (paromomicina) é
um aminoglicosídeo com atividade antileishmaniose. Este medicamento
atua sinergicamente com os antimoniais; a posologia eficaz no tratamento
LV é de 15 a 17mg/Kg/dia de aminosidina associada a 20mg/Kg/dia
de antimonial pentavalente por 14 a 20 dias. A aminosidina usada como monodroga
também é eficaz [3].
Estudos mostraram que é
a droga mais segura para uso alternativo ao antimônio em leishmanioses
recém diagnosticadas e que não respondem bem ao tratamento.
Em estudo duplo cego no tratamento da doença cutânea, 77 %
de cura ocorreu em pacientes tratados topicamente com aminosidina comparado
com 27 % de cura no grupo controle. A razão de cura é maior
com o uso do promotor de penetração, já que a droga
é bastante hidrofílica, não penetrando no extrato
córneo. Aminosidina sistêmica não tem dado resultados
encorajadores contra leishmaniose cutânea americana [5].
2.4- Pentamidina
A utilização da pentamidina no tratamento da LV é pouco confiável, mas este medicamento é muito eficaz e bem tolerado quando administrado em curto período de tempo no tratamento de LC americana (7 doses de 2mg/Kg em dias alternados ou 4 doses de 3mg/Kg em dias alternados) [3].
2.5 -Imunoterapia
A associação
de interferon-? (INF-?) e antimoniais mostrou-se, inicialmente, capaz de
promover a cura nos casos de LV e LMC que não respondem ao tratamento
padrão. Entretanto, esta associação apresentou um
efeito modesto e o alto custo do INF-? o retirou do uso de rotina.
A associação do fator
de ativação de colônia de granulócito-macrófago
e antimoniais no tratamento de LV induz um ligeiro aumento no número
de leucócitos e diminui infecções secundárias,
no entanto a sua utilização em tratamentos de rotina não
é recomendado devido também ao seu alto custo.
2. 5 Agentes orais
O tratamento com 600mg/dia de cetoconazol
por 28 dias é moderadamente eficaz no tratamento de LC causada por
L. major e L. mexicana, mas menos contra L. tropica, L. aethiopica e L.
braziliensis. Itraconazol (200mg/dia) têm eficácia similar
e é melhor tolerado. Nenhum dos dois são confiáveis
na cura da LV ou LDPK, e não há estudos para LMC [3].
III -ASPECTOS CLÍNICOS DO TRATAMENTO
3.1 Leishmaniose Visceral
Em LV, as formas amastigotas se
disseminam por todo sistema reticuloendotelial. Após um período
de incubação de semanas a meses, o paciente desenvolve febre,
debilidade física e hepatoesplenomegalia. Sem tratamento, a maioria
dos pacientes com LV desenvolve, com freqüência, pneumonia,
disenteria, hemorragia incontrolada ou tuberculose [3].
A LV pode ser plenamente curada
com antimonial pentavalente, anfotericina B convencional ou associada à
lipídios. Mesmo com os antimoniais, que atuam mais lentamente que
a anfotericina B associada à lipídios, a febre deve diminuir
em uma semana e as anormalidades clínicas e laboratoriais em 14
dias [3].
É esperado menos de 5% de
casos de recidivas em pacientes imunocompetentes com LV, mas esses casos
podem aumentar se os parasitas são resistentes aos antimoniais (resistência
primária) ou se os pacientes tiverem utilizado previamente antimoniais
(resistência secundária). Em mais de 80% dos pacientes co-infectados
com HIV ocorrerá recaídas. A maioria dos casos de recaídas
ocorre em 6 meses [3].
3.2 Leishmaniose em Pacientes Imunocomprometidos
A LV ocorre como uma infecção oportunista entre indivíduos imunocomprometidos. Esses indivíduos podem responder bem ao tratamento antileishmaniose, apenas com recaídas posteriores. A resposta ao tratamento também pode ser incompleta, ou o paciente pode ser totalmente não-responsivo ou sofrer toxicidade exagerada à droga. Os benefícios, os riscos e o custo do tratamento devem ser considerados antes de se decidir qual o tratamento para LV e para cada recidiva, em pacientes imunocomprometidos [3].
3.3 Leishmaniose Dérmica Pós-Kala-Azar
Após tratamento com sucesso de LV por L. donovani, os pacientes podem desenvolver LDPK. As vezes, a LDPK pode ser aguda ou severa com descamação da pele e da mucosa. Mais freqüentemente, há manchas hipopigmentadas, nódulos e placas. A presença de parasitas é escassa. O tratamento com antimoniais pentavalentes por 2 a 3 meses, ou com anfotericina B, geralmente cura a LDPK [3].
3.4 Leishmaniose Cutânea
A LC é uma condição não letal, na qual as lesões curam espontaneamente. A LC causada por L. braziliensis deve ser tratada sistemicamente para reduzir o risco de subsequente LMC. O tratamento sistêmico com antimoniais (20mg/Kg/dia por 20 dias) é ainda indicado, caso as lesões forem extensas, múltiplas ou estejam causando deformações. Como alternativa para os antimoniais, a L. mexicana e a L. major respondem razoavelmente bem com cetoconazol ou itraconazol. Nas Américas, 2mg/Kg de pentamidina IM em dias alternados por 7 doses ou 3mg/Kg em dias alternados por 4 doses é tão efetivo quanto os antimoniais sistêmicos [3].
3.5 Leishmaniose Mucocutânea
A LMC ocorre após um
caso de LC por L. braziliensis em aproximadamente 3 a 10% dos casos. As
lesões na mucosa geralmente começam meses ou anos após
a cura da LC. O nariz ou os lábios superiores, geralmente, estão
envolvidos primariamente. A LMC não tratada, freqüentemente,
irá progredir, e por isto, é importante o tratamento precoce.
Os casos moderados ou localizados de LMC respondem aos antimoniais pentavalentes.
Nos casos mais severos ou em recidivas, a anfotericina B é mais
efetiva. A resposta ao tratamento é lenta. Corticosteróides
devem ser utilizados se a laringe ou as vias aéreas estiverem envolvidas,
porque pode ocorrer edema com o início da terapia com a anfotericina
B [3].
IV- EFICÁCIA TERAPÊUTICA ANTIMONIATO DE MEGLUMINA VERSUS ISOTIANATO DE PENTAMIDINA E SULFATO DE AMINOSIDINA, NO TRATAMENTO DE LESÕES CUTÂNEAS PRIMÁRIAS CAUSADAS POR LEISHMANIA (VIANNIA) BRASILIENSIS
A terapêutica específica
da leishmaniose tegumentar americana , continua sendo os compostos antimoniais
pentavalentes, visto que ainda não foi estudado medicamentos com
eficácia igual ou superior à eles. Estes compostos
permanecem ainda como drogas de escolha, apesar da administração
por via parenteral, do difícil manuseio, da potencial toxicidade
e do mecanismo de ação ainda não totalmente esclarecido.
Os compostos farmacológicos utilizados como segunda escolha são
anfotericina B e pentamidina, sendo a sua indicação restrita
aos casos de falha terapêutica ao antimonial pentavalente, devido
à dificuldade no seu manuseio e à toxicidade. [4]
Visando comparar a eficácia,
a tolerabilidade e a toxicidade do antimoniato de meglumina, isotianato
de pentamidina e sulfato de aminosidina, no tratamento de lesões
cutâneas primárias causadas por Leishmania (viannia) brasiliensis,
entre outubro de 1992 e janeiro de 1993, 66 pacientes do posto de saúde
de Corte de Pedra, Bahia, área endêmica para leishmaniose
tegumentar americana, foram incluídos em um estudo de campo aberto
[4].
Os pacientes foram tratados com
um dos seguintes esquemas terapêuticos: o grupo 1 recebeu pentamidina
na dose de 4 mg/Kg/dia, por via IM, em dias alternados, no total de 8 aplicações;
o grupo 2 recebeu aminosidina na dose de 20 mg/Kg/dia, também por
via IM, durante 20 dias; e o grupo 3 recebeu meglumina na dose de 10 mg/Kg/dia,
por via IM, por 20 dias [4].
Não houve diferença
estatisticamente significativa na dinâmica de cicatrização
(tempo decorrido entre o início da terapêutica até
a completa cicatrização das lesões) nos três
grupos terapêuticos, através da análise de variância.
Quando foram cruzados dados como dinâmica de cicatrização
e localização das lesões, houve diferença estatística
significativa, mostrando que as lesões de membros superiores e com
duração menor que 60 dias cicatrizam mais rapidamente, independente
do grupo terapêutico [4].
Não se detectou efeitos
colaterais importantes que justificassem a suspensão dos esquemas.
As alterações bioquímicas evidenciadas pós
tratamento situaram-se dentro da faixa de variação da normalidade
esperada para o método utilizado [4].
Após um ano de seguimento,
houve cinco casos de falha terapêutica (persistência de úlceras
abertas após quatro meses de tratamento) assim distribuídos:
dois pacientes nos grupos 1 e 3 e um paciente no grupo 2 [4].
Após três anos de
seguimento, 15 pacientes foram reavaliados clinicamente, cinco do grupo
2, todos com lesões cicatrizadas, cinco do grupo 1, todos com lesões
cicatrizadas e cinco do grupo 3, sendo um com falha terapêutica [4].
A escolha do isotianato de pentamidina,
baseou-se na sua eficácia terapêutica comprovada, apesar de
poucos relatos na literatura. O percentual de cura observado neste estudo
foi superior a 90% após o primeiro ano de seguimento e nos cinco
pacientes reavaliados, após três anos, foi de 100% [4].
Quanto ao sulfato de aminosidina,
um aminoglicosídeo, análogo à paromomicina com atividade
leishmanicida comprovada, foi utilizado pela primeira vez no Brasil, no
presente estudo, para tratamento de lesões cutâneas de leishmaniose
tegumentar americana, encorajados pelos resultados de outros autores que
o fizeram para forma visceral, com dose mais alta que o habitual e por
via intramuscular. Acredita-se ser esta a explicação para
a alta eficácia terapêutica alcançada no estudo, superior
a 90%, após um ano de seguimento, e 100% dos cinco pacientes reavaliados
após três anos [4].
Quanto ao antimoniato de meglumina,
é vasta a literatura sobre o seu uso. Neste estudo os resultados
foram bons; em um ano de seguimento, alcançou-se uma eficácia
terapêutica superior a 90%, que, contudo, após três
anos, caiu para 80%. A ineficiência observada em alguns doentes tem
sido atribuída à resistência do parasita ou a fatores
inerentes ao hospedeiro [4].
V- NOVAS ABORDAGENS DO TRATAMENTO DE LEISHMANIOSE
Por muitos anos, desde a década de 50, o tratamento da leishmaniose ficou estagnado, entretanto avanços significativos nessa terapia ocorreram nos últimos 10 anos. Alguns avanços são devidos ao maior conhecimento das propriedades farmacocinéticas das drogas e à introdução de novas drogas. Estes progressos, tanto no tratamento da doença quanto na quimioterapia experimental, estão relatados neste artigo [5].
5.1 Formas de liberação de medicamentos: Lipossomas
Sem dúvida, uma das
áreas de maior interesse no tratamento da leishmaniose tem sido
o uso de sistemas de liberação de medicamentos. Estudos independentes
demonstraram que são necessárias doses 700 vezes menores
para reduzir 50 % da carga parasitária, quando compara-se a droga
lipossomal à droga livre. Este aumento da eficácia da droga
é devido ao tropismo natural dos lipossomas que liberam seu conteúdo
nos tecidos e sítios intracelulares nos quais o parasito está
localizado [5].
Estudos experimentais com anfotericina
associada à lípides têm promessa de bons resultados;
um exemplo é o estudo realizado com lipossomas de anfotericina B
contra leishmaniose visceral da região do Mediterrâneo, que
revelou a eficácia do tratamento de 31 pacientes imunocompetentes
com doses de 20 e 30 mg/Kg dadas durante 10 ou 21 dias, sem significativos
efeitos adversos. Foi constatada pequena porcentagem de falha no tratamento,
quando administradas doses de 15 mg/Kg por 10 dias.
Embora haja reportagem de sucesso
no tratamento de leishmaniose cutânea usando anfotericina B lipossomal,
esse resultado é duvidoso, já que a droga não alcança
altas concentrações na periferia. Contudo, outros estudos
demonstraram eficácia dessa formulação contra a patologia
em ratos [5].
A preparação de anfotericina
B associada a lípides tem sido eficaz na cura da leishmaniose visceral
no Brasil, em tratamentos de 7 dias com doses de 20 mg/Kg/dia. Os efeitos
colaterais da terapia podem ser controlados com uso de antinflamatórios
não esteroides [5].
5.2 Aminoquinolonas
São conhecidas por terem atividade definida contra leishmaniose em estudos experimentais. Somente 4 entre 8 pacientes, em um determinado estudo, foram curados após 4 semanas de terapia contra Leishmania, mesmo administrando-se altas doses da droga [5].
5.3 Terapias combinadas
Embora pouco se saiba a respeito das alterações bioquímicas para se ter uma base racional na escolha do uso de associações de drogas, a eficácia para algumas associações é comprovada no tratamento de leishmaniose visceral. Nos casos de leishmanioses em que é necessário longo tratamento com antimônio, a administração da associação de aminosidina e estibogliconato de sódio é justificado, além disso, esta associação também tem menor custo econômico. A leishmaniose cutânea difusa tem demonstrado resultados satisfatórios em tratamento com estibogliconato e aminosidina continuados por 2 meses após cura parasitológica. Embora existam alguns estudos mostrando eficácia da associação de alopurinol e antimônio contra leishmaniose visceral, existem outros que questionam esta terapia [5].
5.4 Inibidores da biossíntese de esteróis
A biossíntese de esteróis
é alvo da ação da anfotericina B e parece também
que as etapas intermediárias são sensíveis aos agentes
antifúngicos. Assim, sua atividade se deve ao bloqueio da síntese
de produtos essenciais para o parasito, bem como acúmulo de compostos
intermediários tóxicos. Investigações demonstraram
bons efeitos com cetoconazol, porém a inibição pode
ser compensada pela captação do colesterol do hospedeiro.
Os agentes antifúngicos podem ter papel no tratamento de leishmaniose
cutânea. Um outro estudo mostra que clotrimazol é mais eficaz
que miconazol. Embora existam reportagens de potenciação
entre sistemas de inibição da biossíntese de esteróis,
não há comprovação clínica desse fato
[5].
5.5 Análogos das purinas
Sabe-se que a enzima responsável
pela regeneração de purinas em protozoários possui
grande afinidade pelo alopurinol, que é então incorporado
na síntese do material genético, levando a disfunção
de proteínas. Essa droga tem sido muito estudada, mas os resultados
não são satisfatórios, provavelmente devido à
sua rápida excreção [5].
5.6 Imunoterapia
Há evidências de que o interferon-? pode ativar macrófagos para matar a leishmania intracelular. Ele tem sido utilizado em conjunto com antimônio contra a doença visceral. Pacientes que não respondem ao tratamento com antimônio ou que não foram tratados anteriormente evoluem bem com esse tratamento combinado. Em um tratamento alternativo, obteve-se sucesso usando um fator de estimulação para colonização de macrófagos humanos recombinantes em associação com antimônio, com completa resolução da carga parasitária em 3 meses [5].
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