PNEUMONIA COMUNITÁRIA
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PNEUMONIA COMUNITÁRIA

 
Kelly Danielle de Araújo Silva
1S/99- FM
Supervisão: Mariza dos Santos Castro, PharmD
INTRODUÇÃO

Pneumonia é o termo que indica inflamação na porção distal do pulmão ( vias aéreas distais, espaços alveolares e interstício ). Quando se diz "broncopneumonia viral, pneumonia intersticial crônica , pneumonia por aspiração ou pneumonia bacteriana aguda " se está referindo a como  identificar pacientes com doenças clínicas caracterizadas por sinais e sintomas de inflamação pulmonar em uma variedade de situações clínicas. 
Pneumonia comunitária é uma doença séria e comun, aumentando ultimamente sua incidência em pacientes idosos e em pacientes com comorbidade associada ( DPOC, diabetes melittus, insuficiência renal, insuficiência cardíaca congestiva, doença hepática crônica ). Estes pacientes irão se infectar com maior facilidade que os demais, principalmente por linhagens emergentes de bactérias..

FISIOPATOLOGIA

A pneumonia bacteriana ocorre quando os mecanismos de defesa orgânicos se encontram deficientes e incapazes de impedir que bacterias patogênicas se instalem no pulmão. As principais vias de inoculação de bactérias no pulmão são as da aspiração de secreções orofaríngeas contaminadas e por inalação de bactérias presentes no ar (Tabela 1).

Tabela 1 -Rotas de inoculação bacteriana nos pulmões

ROTA EXEMPLOS
Aspiração de secreção orofaríngea Maioria das pneumonias bacterianas e

infecções pleuropulmonares por anaeróbios

Inalação de microorganismos presentes no ar Mycobacterium tuberculosis , Legionella e 

maioria dos vírus incluindo o influenza

Bacteremia

Extensão direta aos pulmões

Staphylococcus aureus ( sepse)

Abscesso hepático amebiano


 

Exposição à bactéria patogênica :

A forma mais comum de inoculação levando a pneumonia é via aspiração. O termo aspiração é também designado quando há entrada de grande quantidade de material pela árvore traqueobrônquica , sendo menos comum em indivíduos normais, que aspiram apenas pequena quantidade de líquido enquanto dormem. Para que se aspire grande quantidades deve-se ter diminuição no nível de consciência. A concentração de bactérias em secreções do trato respiratório superior se encontra bastante elevada, tanto para bactérias aeróbias quanto anaeróbias, motivo pelo qual o inóculo das bacterias em infecções pulmonares é elevado.

Os microrganismos primeiro colonizam o trato respiratório, facilitado pela adesão bacteriana a determinadas regiões do epitélio, através das fímbrias. O epitélio pulmonar tem receptores para grande parte dos microrganismos da flora normal local. O acesso aos receptores e a susceptibilidade à colonização varia com a doença de base do paciente, história de uso antimicrobianos e infecções virais concorrentes.

Os organismos presentes no ar já foram previamente selecionados pelas alterações ambientais, mas a grande maioria deles não é capaz de gerar doenças. Dentre aqueles que o são estão: Mycobacterium tuberculosis , Legionella, presente em espaços confinados .

Defesas do hospedeiro:

Microrganismos entre 0,5 e 3 microm depositam-se nos alvéolos, sendo retirados do local pela barreira mucociliar e pelas células fagocíticas, como os macrófagos para bactérias menos patogênicas e neutrófilos e linfócitos citotóxicos para as mais patogênicas. Se a bactéria na superfície alveolar não for prontamente exterminada devido à insuficiência funcional mucociliar ( Tabela 2) surge uma resposta inflamatória com edema alveolar e influxo de neutrófilos, com presença de fatores quimiotáticos como produtos bacterianos , componentes do sistema de completos C5a, interleucinas principalmente a IL-8 secretadas por macrófagos alveolares e outras células e que são quimiotáticas para neutrófilos.
 
 

Tabela 2 . Fatores que impedem a função mucociliar

FATORES MECANISMO EXEMPLOS
Genéticos Alteração de secreção Fibrose cística
Ambientais Hipersecreção de muco, lesão de célula epitelial Cigarro , gases irritantes, poeira
Infecção bacteriana Decréscimo de batimento ciliar, lesão celular Pseudomonas aeruginosa Bordetella pertussis, Mycoplasma pneumoniae
Infecção viral Lesão de célula epitelial Influenza

Quando ocorre acúmulo de neutrófilos e bactérias o meio se torna ácido e hipoxêmico e a fagocitose bacteriana e sua eliminação acaba se retardando. O edema e a inflamação na periferia da lesão continua até que anticorpos específicos surjam ( 5 a 7 dias) ou que antibioticoterapia efetiva seja iniciada.

Quando um paciente adquire pneumonia comunitária há a presença de múltiplos agentes, havendo uma seleção dos microrganismos que irão causar a pneumonia ( Tabela 3).

Tabela 3. Agentes etiológicos mais comuns em pneumonias 

PACIENTES NÃO HOSPITALIZADOS

< 60 ANOS, SEM DOENÇA BASE

PACIENTES

HOSPITALIZADOS

PNEUMONIA GRAVE
Streptococcus pneumoniae Sreptococcus. pneumoniae Streptococcus pneumoniae
Viroses respiratórias Haemophilus influenzae Legionella sp.
Mycoplasma pneumoniae Bacilos aeróbios gram negativos Bacilos aeróbios gram negativos
Chlamydia pneumoniae Legionella M. pneumoniae
Legionella sp. M. pneumoniae Viroses respiratórias
  Viroses respiratórias  

 

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Sinais e sintomas da pneumonia pneumocócica:

Pessoa com saúde prévia irá apresentar febre, calafrios, dor pleurítica, tosse produtiva e purulenta , secreção " cor de ferrugem", sinais de consolidação, roncos e presença de inúmeros neutrófilos e abundantes pneumococos na coloração de Gram. 

Os fatores de risco no caso são: doenças crônicas, doença aguda recente, doença em membros da família,

uso de álcool ou outras drogas e exposição a agentes infecciosos.

Diagnóstico microbiológico:

O exame do escarro será considerado positivo se estiver presente menos de 10 células escamosas e mais de 25 leucócitos por campo. A cultura quantitativa não é utilizada atualmente em avaliação de escarro. Aspiração transtraqueal é adequada para a identificação de bactérias anaeróbias responsáveis por infecções pleuropulmonares. Na aspiração pulmonar transtorácica colhe-se material diretamente da área de consolidação, senso muito utilizado em crianças pela dificuldade em se obter escarro de boa qualidade.

Broncoscopia por fibra óptica é uma boa opção para uma melhor qualidade de escarro. Problemas como alto custo e gasto de tempo elevado podem limitar o uso.

Imunofluorescência, hibridização de DNA e outras técnicas imunológicas têm indicação apenas quando se tem uma desconfiança para um determinado agente específico, sem indicação para procura de qual é o agente.

Cultura sanguínea e de líquido pleural, quando positivas, levam a resultados fortemente específicos. Mas apenas 30% dos pacientes com pneumonia bacteriana possuem bacteremia. 

Radiologia: Tabela 4

Tabela 4 -Modelos radiológicos comuns de pneumonias e patógenos associados
 
MODELOS PATÓGENOS
Consolidação lobar e segmentar * S.pneumoniae,K. pneumoniae,H. influenzae e outros bacilos gram negativos
Infiltrado heterogênio ( manchas e listas) ** M. pneumoniae, viroses, Legionella sp
Infiltrado intersticial difuso Legioella sp, viroses, P . carinii
Infiltrado cavitário M. tuberculosis, bacilos gram negativos,S. aureus (nódulos múltiplos)
Infiltrado + drenagem pleural S.pneumoniae, S. aureus anaeróbios, bacilos gram negativos, Streptococcus pyogenes

* Consolidações lobares ou segmentares podem ter prolongamento de suas bordas (limite obscuro ) indicando o sinal de silhueta ( em borda cardíaca do diafragma) . **Broncopneumonia e infecções virais e bacterianas levam a um padrão radiológico pouco definido e de densidade heterogênea.

A radiografia do tórax pode dar informações a respeito de como as infecções podem estar envolvendo estruturas fora do parênquima pulmonar , incluindo superfície pleural e linfonodos torácicos.

Radiografia em decúbito lateral pode mostrar a presença de fluido pleural livre e a toracocentese é indicada para distinguir efusão parapneumônica não complicada de uma complicada ou empiema , que requer drenagem.

Alargamento mediastinal e linfonodos hilares é raro em infecção bacteriana aguda pulmonar. Quando há presença destes acima em associação à pneumonia pode-se sugerir fungos ou mycobactérias ou mesmo a presença de câncer. Atelectasia pode sugerir uma obstrução endobronquial com lesão distal.

ABORDAGEM TERAPÊUTICA DAS PNEUMONIAS COMUNITÁRIAS

Deve-se considerar que em pacientes com imunodepressão, adquirida ou não, a incidência e a prevalência dos agentes associados à infecção são diferentes quando comparados à população em geral. Outro aspecto a ser considerando é o perfil de susceptibilidade das bactérias na área geográfica, visto que a prevalência de microrganismos resistentes aos antibióticos pode variar com a região geográfica e mudar com o passar dos meses. A coloração de Gram do escarro e a cultura não são bons exames para se procurar Streptococcus pneumoniae , Mcoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae e viroses respiratórias, sendo necessário iniciar o tratamento empírico com antibioticoterapia, com base nos estudos epidemiológicos realizados na área. As pneumonias comunitárias podem ser classificadas de acordo com as categorias abaixo ( Tabela 5).
 
 

Tabela 4 - Tratamento das pneumonias comunitárias 

1- Pneumonia comunitária em pacientes de 60 anos de idade ou menos sem evidência de comorbidade, e que pode receber tratamento ambulatorial.
Tratamento ambulatorial : Mortalidade < 5%.
Microrganismos : S.pneumoniae, M. pneumoniae, viroses respiratórias e H. influenzae 
Outros : Legionella sp., S. aureus, M. tuberculosis , fungos endêmicos e bacilos aeróbios gram negativos.
Antibióticos de seleção: Penicilina V (S.pneumoniae)ou macrolídeos ( eritromicina, deixando claritromicina e azitromicina para fumantes - H. influenzae e M.pneumoniae) .
 
2- Pacientes com evidência de comorbidade e/ou maiores de 60 anos e que podem ser tratados ambulatorialmente
Tratamento ambulatorial : Mortalidade < 5 % ,porém 20 % irão necessitar de hospitalização.
Microrganismos: S. pneumoniae, viroses respiratórias, H. influenzae, bacilos aeróbios gram-negativos e S. aureus. Outros: Moraxella catarrhalis, Legionella sp, M. tuberculosis, fungos endêmicos
Terapia: Cefalosporina de segunda geração ou beta-lactâmicos/Inibidor da beta-lactamase ou cotrimoxazol (TMP-SMX). Eritromicina ou outro macrolídeo , se for Legionella sp , principalmente)
 
3- Pneumonia que requer hospitalização, mas não admissão à uma unidade de tratamento intensivo.
Tratamento em enfermarias : Mortalidade de 5 a 25 % , principalmente nos primeiros 7 dias.
Microrganismos: S. pneumoniae, H. influenzae, bacilos aeróbios gram-negativos, Legionella sp, S. aureus, C. pneumoniae, vários agentes ( incluindo bactérias anaeróbicas), viroses respiratórias. Outros: M. pneumoniae, Moraxella catarrhalis, M. tuberculosis, fungos endêmicos.
Terapia: Cefalosporina de segunda ou de terceira geração ou beta- lactâmicos/ Inibidor de beta-lactamase . Macrolídeos - se for Legionella sp, sendo que rifampicina poderá ser adicionada.
 
4-Pacientes hospitalizados com pneumonia grave:
Tratamento em CTI : Mortalidade de 50 %
Microrganismos: S. pneumoniae, bacilos aeróbios gram-negativos ,Legionella sp., M. pneumoniae e viroses respiratórias. Outros: H. influenzae, M. tuberculosis e fungos endêmicos
Terapia: Cefalosporina de terceira geração com atividade anti-pseudomonal ou outro agente anti-pseudomonal como imipenem/cilastina, ciprofloxacim.. Mais macrolídeos ( Rifampicina poderá ser adicionada se for Legionella )
Obs : Pode-se associar um aminoglicosídeo para P. aeruginosa nos primeiros dias de tratamento quando em uso de cefalosporina de terceira geração, imipenem ou ciprofloxacim.

 
 
 

REFERENCIAS

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TORRES A .;DE CELIS R.; RABINAD E.; MARCO F.; ALMELA M.; DEULOFEU R.; RODRIGUEZ-ROISIN R.; AGUSTI VIDAL,A. Therapeutic efficacy of the combination of aztreonam with cefotaxime in the treatment of severe nosocomial pneumonia. Comparative study against amikacin combined with cefotaxime. Chemotherapy 1989;35 Suppl 1:15-24. 

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COORDENAÇÃO E EDIÇÃO: 
Profa. Mariza dos Santos Castro, Pharm.D.
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