PNEUMONIA COMUNITÁRIA
Pneumonia é o termo que indica
inflamação na porção distal do pulmão
( vias aéreas distais, espaços alveolares e interstício
). Quando se diz "broncopneumonia viral, pneumonia intersticial crônica
, pneumonia por aspiração ou pneumonia bacteriana aguda "
se está referindo a como identificar pacientes com doenças
clínicas caracterizadas por sinais e sintomas de inflamação
pulmonar em uma variedade de situações clínicas.
Pneumonia comunitária é
uma doença séria e comun, aumentando ultimamente sua incidência
em pacientes idosos e em pacientes com comorbidade associada ( DPOC, diabetes
melittus, insuficiência renal, insuficiência cardíaca
congestiva, doença hepática crônica ). Estes pacientes
irão se infectar com maior facilidade que os demais, principalmente
por linhagens emergentes de bactérias..
FISIOPATOLOGIA
A pneumonia bacteriana ocorre quando os mecanismos de defesa orgânicos se encontram deficientes e incapazes de impedir que bacterias patogênicas se instalem no pulmão. As principais vias de inoculação de bactérias no pulmão são as da aspiração de secreções orofaríngeas contaminadas e por inalação de bactérias presentes no ar (Tabela 1).
Tabela 1 -Rotas de inoculação bacteriana nos pulmões
ROTA | EXEMPLOS |
Aspiração de secreção orofaríngea | Maioria
das pneumonias bacterianas e
infecções pleuropulmonares por anaeróbios |
Inalação de microorganismos presentes no ar | Mycobacterium
tuberculosis , Legionella e
maioria dos vírus incluindo o influenza |
Bacteremia
Extensão direta aos pulmões |
Staphylococcus
aureus ( sepse)
Abscesso hepático amebiano |
Exposição à bactéria patogênica :
A forma mais comum de inoculação levando a pneumonia é via aspiração. O termo aspiração é também designado quando há entrada de grande quantidade de material pela árvore traqueobrônquica , sendo menos comum em indivíduos normais, que aspiram apenas pequena quantidade de líquido enquanto dormem. Para que se aspire grande quantidades deve-se ter diminuição no nível de consciência. A concentração de bactérias em secreções do trato respiratório superior se encontra bastante elevada, tanto para bactérias aeróbias quanto anaeróbias, motivo pelo qual o inóculo das bacterias em infecções pulmonares é elevado.
Os microrganismos primeiro colonizam o trato respiratório, facilitado pela adesão bacteriana a determinadas regiões do epitélio, através das fímbrias. O epitélio pulmonar tem receptores para grande parte dos microrganismos da flora normal local. O acesso aos receptores e a susceptibilidade à colonização varia com a doença de base do paciente, história de uso antimicrobianos e infecções virais concorrentes.
Os organismos presentes no ar já foram previamente selecionados pelas alterações ambientais, mas a grande maioria deles não é capaz de gerar doenças. Dentre aqueles que o são estão: Mycobacterium tuberculosis , Legionella, presente em espaços confinados .
Defesas do hospedeiro:
Microrganismos entre 0,5 e 3 microm
depositam-se nos alvéolos, sendo retirados do local pela barreira
mucociliar e pelas células fagocíticas, como os macrófagos
para bactérias menos patogênicas e neutrófilos e linfócitos
citotóxicos para as mais patogênicas. Se a bactéria
na superfície alveolar não for prontamente exterminada devido
à insuficiência funcional mucociliar ( Tabela 2) surge uma
resposta inflamatória com edema alveolar e influxo de neutrófilos,
com presença de fatores quimiotáticos como produtos bacterianos
, componentes do sistema de completos C5a, interleucinas principalmente
a IL-8 secretadas por macrófagos alveolares e outras células
e que são quimiotáticas para neutrófilos.
Tabela 2 . Fatores que impedem a função mucociliar
FATORES | MECANISMO | EXEMPLOS |
Genéticos | Alteração de secreção | Fibrose cística |
Ambientais | Hipersecreção de muco, lesão de célula epitelial | Cigarro , gases irritantes, poeira |
Infecção bacteriana | Decréscimo de batimento ciliar, lesão celular | Pseudomonas aeruginosa Bordetella pertussis, Mycoplasma pneumoniae |
Infecção viral | Lesão de célula epitelial | Influenza |
Quando ocorre acúmulo de neutrófilos e bactérias o meio se torna ácido e hipoxêmico e a fagocitose bacteriana e sua eliminação acaba se retardando. O edema e a inflamação na periferia da lesão continua até que anticorpos específicos surjam ( 5 a 7 dias) ou que antibioticoterapia efetiva seja iniciada.
Quando um paciente adquire pneumonia comunitária há a presença de múltiplos agentes, havendo uma seleção dos microrganismos que irão causar a pneumonia ( Tabela 3).
Tabela 3. Agentes etiológicos mais comuns em pneumonias
PACIENTES
NÃO HOSPITALIZADOS
< 60 ANOS, SEM DOENÇA BASE |
PACIENTES
HOSPITALIZADOS |
PNEUMONIA GRAVE |
Streptococcus pneumoniae | Sreptococcus. pneumoniae | Streptococcus pneumoniae |
Viroses respiratórias | Haemophilus influenzae | Legionella sp. |
Mycoplasma pneumoniae | Bacilos aeróbios gram negativos | Bacilos aeróbios gram negativos |
Chlamydia pneumoniae | Legionella | M. pneumoniae |
Legionella sp. | M. pneumoniae | Viroses respiratórias |
Viroses respiratórias |
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Sinais e sintomas da pneumonia pneumocócica:
Pessoa com saúde prévia irá apresentar febre, calafrios, dor pleurítica, tosse produtiva e purulenta , secreção " cor de ferrugem", sinais de consolidação, roncos e presença de inúmeros neutrófilos e abundantes pneumococos na coloração de Gram.
Os fatores de risco no caso são: doenças crônicas, doença aguda recente, doença em membros da família,
uso de álcool ou outras drogas e exposição a agentes infecciosos.
Diagnóstico microbiológico:
O exame do escarro será considerado positivo se estiver presente menos de 10 células escamosas e mais de 25 leucócitos por campo. A cultura quantitativa não é utilizada atualmente em avaliação de escarro. Aspiração transtraqueal é adequada para a identificação de bactérias anaeróbias responsáveis por infecções pleuropulmonares. Na aspiração pulmonar transtorácica colhe-se material diretamente da área de consolidação, senso muito utilizado em crianças pela dificuldade em se obter escarro de boa qualidade.
Broncoscopia por fibra óptica é uma boa opção para uma melhor qualidade de escarro. Problemas como alto custo e gasto de tempo elevado podem limitar o uso.
Imunofluorescência, hibridização de DNA e outras técnicas imunológicas têm indicação apenas quando se tem uma desconfiança para um determinado agente específico, sem indicação para procura de qual é o agente.
Cultura sanguínea e de líquido pleural, quando positivas, levam a resultados fortemente específicos. Mas apenas 30% dos pacientes com pneumonia bacteriana possuem bacteremia.
Radiologia: Tabela 4
Tabela 4 -Modelos
radiológicos comuns de pneumonias e patógenos associados
MODELOS | PATÓGENOS |
Consolidação lobar e segmentar * | S.pneumoniae,K. pneumoniae,H. influenzae e outros bacilos gram negativos |
Infiltrado heterogênio ( manchas e listas) ** | M. pneumoniae, viroses, Legionella sp |
Infiltrado intersticial difuso | Legioella sp, viroses, P . carinii |
Infiltrado cavitário | M. tuberculosis, bacilos gram negativos,S. aureus (nódulos múltiplos) |
Infiltrado + drenagem pleural | S.pneumoniae, S. aureus anaeróbios, bacilos gram negativos, Streptococcus pyogenes |
* Consolidações lobares ou segmentares podem ter prolongamento de suas bordas (limite obscuro ) indicando o sinal de silhueta ( em borda cardíaca do diafragma) . **Broncopneumonia e infecções virais e bacterianas levam a um padrão radiológico pouco definido e de densidade heterogênea.
A radiografia do tórax pode dar informações a respeito de como as infecções podem estar envolvendo estruturas fora do parênquima pulmonar , incluindo superfície pleural e linfonodos torácicos.
Radiografia em decúbito lateral pode mostrar a presença de fluido pleural livre e a toracocentese é indicada para distinguir efusão parapneumônica não complicada de uma complicada ou empiema , que requer drenagem.
Alargamento mediastinal e linfonodos hilares é raro em infecção bacteriana aguda pulmonar. Quando há presença destes acima em associação à pneumonia pode-se sugerir fungos ou mycobactérias ou mesmo a presença de câncer. Atelectasia pode sugerir uma obstrução endobronquial com lesão distal.
ABORDAGEM TERAPÊUTICA DAS PNEUMONIAS COMUNITÁRIAS
Deve-se considerar que em pacientes
com imunodepressão, adquirida ou não, a incidência
e a prevalência dos agentes associados à infecção
são diferentes quando comparados à população
em geral. Outro aspecto a ser considerando é o perfil de susceptibilidade
das bactérias na área geográfica, visto que a prevalência
de microrganismos resistentes aos antibióticos pode variar com a
região geográfica e mudar com o passar dos meses. A coloração
de Gram do escarro e a cultura não são bons exames para se
procurar Streptococcus pneumoniae , Mcoplasma pneumoniae, Chlamydia
pneumoniae e viroses respiratórias, sendo necessário
iniciar o tratamento empírico com antibioticoterapia, com base nos
estudos epidemiológicos realizados na área. As pneumonias
comunitárias podem ser classificadas de acordo com as categorias
abaixo ( Tabela 5).
Tabela 4 - Tratamento das pneumonias comunitárias
1- Pneumonia comunitária em pacientes de 60 anos de idade ou menos sem evidência de comorbidade, e que pode receber tratamento ambulatorial. |
Tratamento ambulatorial : Mortalidade < 5%. |
Microrganismos : S.pneumoniae,
M. pneumoniae, viroses respiratórias e H. influenzae
Outros : Legionella sp., S. aureus, M. tuberculosis , fungos endêmicos e bacilos aeróbios gram negativos. |
Antibióticos de seleção: Penicilina V (S.pneumoniae)ou macrolídeos ( eritromicina, deixando claritromicina e azitromicina para fumantes - H. influenzae e M.pneumoniae) . |
2- Pacientes com evidência de comorbidade e/ou maiores de 60 anos e que podem ser tratados ambulatorialmente |
Tratamento ambulatorial : Mortalidade < 5 % ,porém 20 % irão necessitar de hospitalização. |
Microrganismos: S. pneumoniae, viroses respiratórias, H. influenzae, bacilos aeróbios gram-negativos e S. aureus. Outros: Moraxella catarrhalis, Legionella sp, M. tuberculosis, fungos endêmicos |
Terapia: Cefalosporina de segunda geração ou beta-lactâmicos/Inibidor da beta-lactamase ou cotrimoxazol (TMP-SMX). Eritromicina ou outro macrolídeo , se for Legionella sp , principalmente) |
3- Pneumonia que requer hospitalização, mas não admissão à uma unidade de tratamento intensivo. |
Tratamento em enfermarias : Mortalidade de 5 a 25 % , principalmente nos primeiros 7 dias. |
Microrganismos: S. pneumoniae, H. influenzae, bacilos aeróbios gram-negativos, Legionella sp, S. aureus, C. pneumoniae, vários agentes ( incluindo bactérias anaeróbicas), viroses respiratórias. Outros: M. pneumoniae, Moraxella catarrhalis, M. tuberculosis, fungos endêmicos. |
Terapia: Cefalosporina de segunda ou de terceira geração ou beta- lactâmicos/ Inibidor de beta-lactamase . Macrolídeos - se for Legionella sp, sendo que rifampicina poderá ser adicionada. |
4-Pacientes hospitalizados com pneumonia grave: |
Tratamento em CTI : Mortalidade de 50 % |
Microrganismos: S. pneumoniae, bacilos aeróbios gram-negativos ,Legionella sp., M. pneumoniae e viroses respiratórias. Outros: H. influenzae, M. tuberculosis e fungos endêmicos |
Terapia: Cefalosporina de terceira geração com atividade anti-pseudomonal ou outro agente anti-pseudomonal como imipenem/cilastina, ciprofloxacim.. Mais macrolídeos ( Rifampicina poderá ser adicionada se for Legionella ) |
Obs : Pode-se associar um aminoglicosídeo para P. aeruginosa nos primeiros dias de tratamento quando em uso de cefalosporina de terceira geração, imipenem ou ciprofloxacim. |
REFERENCIAS
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