ALTERIDADE E ÉTICA EM PSICANÁLISE

CENTRO CULTURAL MARTHA WATTS – 11/03/2006 – PIRACICABA – SP

Versão em PDF para impressão

BARONE, K. C. Winnicott e a ética da comunicação: a importância do paradoxo entre comunicar-se e não se comunicar.

A teoria de Winnicott sobre a comunicação contempla uma dimensão paradoxal. Ao reconhecer diferentes necessidades do self individual, Winnicott salienta tanto a necessidade de que o sujeito possa comunicar-se com os objetos, quanto a necessidade de que certos aspectos de seu self permaneçam continuamente não-comunicados. Comunicar-se e não se comunicar são, assim, fundamentais à plena realização do self. Para Winnicott, a psicanálise deve constituir-se como um sofisticado jogo de esconder e mostrar, no qual o paciente mantém preservado um núcleo privado do self, ao mesmo tempo em que se comunica com um outro humano significativo. Discutiremos nesta conferência em que medida a teoria de Winnicott sobre a comunicação em sua dimensão paradoxal institui uma posição ética do analista na relação com o paciente.

 

CAMPOS, E. B. V. Figuras da intersubjetividade na metapsicologia freudiana.

O objetivo desta comunicação é apresentar e discutir as figuras da intersubjetividade na metapsicologia freudiana. Grande parte da posição desse autor pode ser caracterizada como pertinente à intersubjetividade intrapsíquica. Contudo, pretende-se discutir os diferentes modos como a alteridade aparece na metapsicologia, enfocando a tensão dinâmica entre os conceitos de representação e de identificação que perpassa toda a produção freudiana. A hipótese é que as concepções iniciais sobre a representação psíquica tendem minimizar o papel do outro na constituição subjetiva, uma vez que o objeto é o atributo mais variável da pulsão. Esse papel do outro só será devidamente abordado com o desenvolvimento do conceito de identificação no contexto da segunda tópica e do segundo modelo pulsional. Discute-se, ainda, a pertinência de apontamentos na direção das intersubjetividades traumática e trans-subjetiva por meio do conceito de pulsão de morte e das noções acerca da identificação primária.

 

COELHO Jr., N. E. Panorama das figuras da intersubjetividade na constituição subjetiva.

Este trabalho apresenta uma nova caracterização do conceito e da experiência da intersubjetividade a partir de referências centrais a seus patronos na filosofia, na psicologia e na psicanálise: 1 - intersubjetividade transubjetiva (Scheler, Heidegger, Merleau-Ponty); 2 - intersubjetividade traumática (Lévinas); 3 – intersubjetividade interpessoal (G. H. Mead); “intersubjetividade” intrapsíquica (Freud, Klein, Fairbairn, Winnicott). Entende-se que as matrizes intersubjetivas indicam dimensões de alteridade que nunca ocupam de forma pura e exclusiva o campo das experiências humanas. As quatro matrizes propostas precisam ser concebidas como elementos simultâneos nos diferentes processos de constituição e elaboração subjetivas.

 

De MARTINI, A. O narcisismo primário e o papel da alteridade na constituição do psiquismo.

O objetivo deste trabalho é fazer uma breve exposição dos meandros na constituição da subjetividade, dentro do que Freud chamou de narcisismo primário, correlacionando a dimensão econômica com o papel da alteridade – momento e lugar em que as figuras do sujeito e do objeto (ou de um eu e um outro) encontrarão seu lugar, sustentação e dissonâncias.

 

JUNQUEIRA, C. Ética e consciência moral em Freud, Klein, Hartmann e Lacan: a teoria, a clínica e o outro.

Através de um esforço de sistematização do discurso acerca da ética e da consciência moral em quatro autores que determinaram as quatro principais correntes do pensamento psicanalítico – Sigmund Freud, Melanie Klein, Heinz Hartmann e Jacques Lacan e, conjuntamente, do apontamento das respectivas implicações clínicas desses discursos, procuramos demonstrar que a diversidade de modelos metapsicológicos existentes na psicanálise produziu não só diferenças na abordagem teórica da questão da ética e da consciência moral, mas também diferenças perceptíveis nos objetivos clínicos de cada uma dessas correntes. Para além disso, a partir do discurso de cada um desses autores sobre a questão da ética e da consciência moral é possível, também, tecer alguns comentários sobre o lugar do outro na obra de cada um deles.

 

PREU, R. O. Além do horizonte: o encontro com o real, em Lacan, como ponto cego entre a fenomenologia e a psicanálise.

O conceito de horizonte, cunhado na fenomenologia husserliana, aparece como um delineador fundamental para que se possa pensar o tema da intersubjetividade. Segundo nossa perspectiva, é através dele que podemos balizar um modo de compreensão para o mapa deste tema que nos é apresentado pelo artigo de Coelho e Figueiredo, seja no que tange às matrizes mais fenomenológicas (interpessoal, transubjetiva e traumática), seja no que diz respeito àquela essencialmente psicanalítica (intrapsíquica). Quanto à leitura lacaniana da psicanálise, parece haver ali um convite a ir mais adiante. Em direção a um encontro com o Real que, nas palavras de Lacan, situar-se-ia “para além da intersubjetividade”. É para este ponto – em que, segundo Lacan, se mostra a verdade da experiência psicanalítica; que se situa para além do horizonte fenomenológico – que pretendemos apontar nesta comunicação. Nosso percurso se faz em três tempos: 1) o aparecimento e a relevância do conceito de horizonte na fenomenologia; 2) o conceito de horizonte como balizador das quatro figuras fundamentais da intersubjetividade; 3) o impensado da intersubjetividade: o encontro com o Real além do horizonte intersubjetivo.

 

SALVITTI, A. Ataques ao vínculo, falha na continência e a ética do pensador na clínica de Bion.

O trabalho de Bion com pacientes psicóticos e borderline esteve, inicialmente, direcionado ao estudo da dinâmica intrapsíquica, em especial ao conflito na personalidade entre as áreas psicótica e não-psicótica, e às dificuldades na formação de vínculos na mente que promoveriam a consciência da realidade psíquica. Com a ampliação do conceito de identificação projetiva como comunicação e com a idéia de projeção no outro de um continente falho, Bion passou a enfocar em maior extensão os aspectos relacionais na interação do paciente com o objeto e vice-versa. O papel do ambiente, particularmente do analista na sessão, foi amplamente investigado por esse autor e nos permite levantar e discutir seus aspectos éticos.

 

SIGLER, R. Os ‘objetos’ em Melanie Klein e o lugar da alteridade em seu pensamento.

Buscando abordar o tema da alteridade a partir da perspectiva de uma das figuras de intersubjetividade na constituição psíquica – a ‘intersubjetividade intrapsíquica’ – situamos o pensamento de Melanie Klein entre os autores desta matriz. Apresentamos então as diferentes noções de ‘objeto’ presentes em sua obra, com vistas à reflexão sobre sua concepção de alteridade.

 

SILVA, L. H. A. A concepção winnicottiana de intersubjetividade: uma leitura a partir de Thomas Ogden.

A apresentação abordará alguns elementos da teoria winnicottiana, relacionando-os com o pensamento de Thomas Ogden. A partir de dois fragmentos clínicos do palestrante, e utilizando-se das matrizes intersubjetivas de Coelho Jr. e Figueiredo como chave-de-leitura para compreensão das dimensões da relação com a alteridade presentes nesses fragmentos, tentar-se-á explorar algumas questões clínicas envolvidas quando do encontro com o Outro. Pensa-se que tais matrizes intersubjetivas podem ser um instrumento fértil para se identificar e pensar algumas problemáticas mais "amplas", notadamente, as formas de subjetivação contemporâneas e suas implicações éticas.

Voltar