NOITE DE AUTÓGRAFOS II
Lygia Fagundes Telles
Percebi que muitos foram os lugares pelo mundo que ganharam suas pisadas
de quem admira, de quem foge, de quem quer ser diferente noutro lugar
diferente, de quem tem encontros certos, de quem está perdido...
Lendo agora, aos quarenta - que bom que está sendo nesta fase - sua
obra A Disciplina do Amor, noto que suas pegadas inquietas também
marcaram meu universo.
Presto atenção nos delineamentos que ficaram expostos ao tempo e no
tempo. Após a chuva, os espelhos d’água nessas formas metamorfoseiam
seus fragmentos, suas nuanças, tão inspiradoras, tão provocadoras, tão
silenciosas quanto o “aperto demorado contra o peito do ser amado, no
código secreto da noite ao passar dos navios que se comunicam quando se
cruzam no mar com perfume âmbar vindos dos elevadores da Tunísia”.
Neste reflexo, vejo-me seguindo as suas pegadas como um caçador
determinado e confiante espreitando o invisível que, logo após, a matéria
se fazendo presente, se perde em tudo acelerado...
Baterei continência?
Minha mão sobre o peito segurará o coração?
As palavras engatilhadas tomarão o alvo?
Não! Uma vez mais, não!
O silêncio é mais prudente; a moita que acoberta a covardia parece-me
agora a melhor morada.
Seja piedosa. Não me devore, pois posso ser indigesto.
Não vale a pena... In dubio pro reo.
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