AMOR
ÁRABE
Não posso vê-la com os olhos do Ocidente, e sim com meu sangue
meio-mouro em ebulição herdado na Ibéria.
Os
seus olhos negros arábicos hipnotizantes, ora instigando malícia, ora agitação,
ora maturidade, ora viagem, traz galáxia de estrelas que testemunham o deserto
rico de vidas e acontecimentos.
Sinto-me
seu Senhor, seu Emir, protegendo-a das tribos nômades inimigas que ficam à
espreita tencionando raptar as jóias desatentas.
Habita
minha tenda, meio palácio, meio santuário, com tapetes a lhe acariciar os pés
e almofadas por toda parte para aconchegar seu corpo escravo do meu amor, do meu
ardor, do meu suor e dos meus caprichos.
Ajoelhada
lava e enxuga meus pés com delicadeza num gesto de submissão, exalta meus
feitos noutro gesto de gratidão, para logo mais avançar com as garras ferinas como
uma louca para ser beijada nos seios brutalmente delicados; mas a batalha não
está finda: ponho-me com a lança quente do guerreiro árabe que há em mim, a
ferir-lhe freneticamente as entranhas e marcar-lhes as ancas e exausta, aos pedaços,
geme e pede novos doces maus tratos
Que
suaves canções trazem hoje os ventos?
Que
dança fazem hoje as dunas?
Que
perfume invade hoje minha tenda?
Hasteio
minha bandeira, demarco meu território para que possa se sentir
amparada, longe dos beduínos.
Viver
este mistério é sentir a brisa do Mar Vermelho penetrar as narinas ainda que
se esteja no meio da península; é saber a direção de Meca e orar; é ver as
riquezas que brotam do preto do petróleo, do preto dos seus olhos e finalmente
do preto da meia-lua; é vagar pelos caminhos que mudam ao sabor dos ventos
persistentes...
Vem
dançar para mim; vem me agradar; vem acabar de vez com o que resta do meu lado
Ocidente tão bárbaro e tão
desassossegado; vem mostrar-me seu ventre.
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