Kubanacan - Fanfics

Um homem dividido

Tininha_Blue

Leon regressou do futuro para ficar com Lola como tinha prometido. Já passou uma semana desde ai. Em La Bendita, a vida continua normalmente...

- Quantas vezes vou ter de repetir pra não entrar com esse pé sujo aqui em casa!! - reclama Dolores, quando Otelinho e Thiaguinho entram correndo de Julientinha e fazendo bagunça.

- Ah, vó! Deixa a gente brincar!

- Pode brincar à vontade, mas lá na rua! Porque vocês tem de brincar justo no chão que eu acabei de limpar?

- Sua avó tem razão, crianças! Vamo lá pra fora brincar, aqui num pode, vocês vão acabar acordando Desdêmona! - diz Lola, saindo do quarto.

As crianças dão mais uma volta à cozinha brincando sem prestar atenção.

- Você ouviram o que eu disse?

- Já tou saindo mãe! Estamos brincando de Pescador Parrudo! Eu sou o Parrudo, e eles são os bandido!

- Sei... tá bom, mas vão brincar lá fora, tá, que aqui não é lugar pra brincadeira.

Eles correm para a rua, e quase atropelam Leon que vinha entrando. Ele fala, rindo:

- Nossa, eles estão animados, hoje!

- É, brincando de Pescador Parrudo.

Leon abraça Lola e a beija.

- Nossa, todo o dia essa agarração! - reclama Dolores - Vocês dois deviam ser presos por atentado ao pudor! Será que não tem uma lei nesse país que proíba uma avó de família de ter que ver isso todo dia?

- Pergunta pra Rubi, mãe! Não é ela a presidente?

- Perguntar pra Rubi pra quê?! Ela e o Rico é a mesma coisa, ficam colado um no outro o dia inteiro! Eu que devia ir pra presidenta dessa ilha...

- Nossa mãe que mau humor!

- Mau humor?? Depois de ficar a manhã inteira ouvindo aquele filho da Isabelita pulando e cantando o "I will survive" no andar aqui em cima, você quer que eu fique como?

- Não se preocupe D. Dolores, quando a gente mudar de casa não vai ter mais essas manhãs ouvindo o Manolo! - fala Leon, sorrindo.

Entretanto Gabriel, Antónia e Pilar entram, vindos da escola.

- Tava ficando preocupado... O Otelinho e os outros já chegaram faz tempo...

- Foi culpa minha pai! É que a gente ficou vendo um teatrinho de marionetes lá na pracinha... - explica Gabriel. - Mas a gente vai pescar na mesma, num vai? O senhor prometeu....

- É, eu prometi e vamos sim! Só que mais daqui a pouco, tá bom? Vão brincar lá pra fora um pouquinho por enquanto!

- Aaaah.... Já tou entendendo! Você quer ficar sozinho com a Lola, né?

- Gabriel!!... Olha que eu te obrigo a repetir três vezes a lição de casa por causa dessa sua língua afiada! - fala Leon, pegando ele no colo e rindo.

- Vamos, lá pra fora! - ordena Dolores, levando os meninos até à porta - Eu também vou, preciso de ir perguntar pra Isabelita que pecado ela cometeu pra ter um filho que canta tão mal...

Saem todos e a casa fica vazia, só com Leon e Lola.

- E agora, você vai arrumar que desculpa pra sair correndo? - pergunta Leon, com um sorriso atrevido.

-Tenho um tanque cheio de roupa pra lavar...

- Ah, Lola!!!...

- Tava brincando! - explica ela, sorrindo, e dá um beijo nele.






Gabriel passeia pela rua distraído, e passa a estrada sem nem olhar. Um carro preto quase o atropela, e ele cai no chão assustado. De dentro do carro sai Marisol, assustada:

- Você está bem, meu filho?? Não ficou machucado??

- Não, eu tou bem!

Gabriel abraça a mãe, emocionado.

-Que bom que você voltou, mãe!!! Já tava com saudade! Mas num era só pra voltar daqui a um mês?

- Era, filho, era, mas estão havendo uns problemas lá em La Platina, acho que o governo de lá tá entrando em guerra com uma outra ilha qualquer... Enfim, saí correndo de lá, não podia pôr o seu irmão em perigo...

- Meu irmão? Ele tá aí??

Marisol entra no carro e pega dos braços de uma empregada a criança.

- Nossa, como ele cresceu em tão pouco tempo!!

- É, eles crescem rápido nessa idade... Você também tá ficando um garoto lindo, Gabriel!

- Ah, saio ao pai, né!!

Os dois ficam em silêncio.

- Oh mãe... cê tá sabendo que o pai voltou, né?

- Sei sim, filho...

- Eu ouvi o Rico falar que você foi pra La Platina pra fugir do pai, quando ficou sabendo que ele voltou... Porque você quer fugir do pai?

- Oh meu filho não é fugir, não... é que... ah, coisa de gente adulta, Gabriel!

- Meu pai vive falando que eu já tou ficando bem grandinho, tá? - responde Gabriel, ofendido.

- Filho! É claro que você tá ficando grandinho, só que tem coisa que você ainda não pode entender.

- Eu já entendi sim. Você gosta do pai, e tem medo de voltar a encontrar com ele...

- Gabriel...

- Principalmente com aquele outro perigosão, que aparece nele de vez em quando...Esse gosta de você, né mãe?

- Gabriel, vamo botar um fim nessa conversa. Trouxe um monte de presente pra você filho!

- Presente? Ebaaa!!!

- É, e pra Antónia, e pra Pilar também! Mas agora tenho de ir filho, estão me esperando lá no Copacabana, tá bom? Tem certeza que o carro não tocou em você? Esse motorista é um irresponsável, vai ter de me ouvir! Cê não tem nem um arranhão? Deixa eu ver bem...

- Não, mãe, num tenho nada não!

- Bom, então depois eu procuro vocês, tá? - diz Marisol, enquanto abraça Gabriel. Ela entra no carro com a criança no colo.

- Tá! É... mãe?

- Fala filho?

- Cê não vai falar pró pai sobre o meu irmãozinho?

Marisol fica olhando ele, nervosa:

- Não filho... ainda não... Quando chegar a altura eu falo... Promete pra mim que você não vai falar nada, Gabriel! E fala pràs meninas não contarem também!

- Tá bom! Cê que sabe...

- Então vou andando! Te amo filho! Não apronta com o seu pai!

O carro segue pela estrada.

Entretanto Antónia chega com Pilar, e repreende Gabriel:

- Onde você esteve Gabriel?

- A mãe acabou de sair agorinha mesmo! Voltou hoje de La Platina - explica ele.

- E eu que queria tanto ver ela e o meu irmãozinho! Ah... vamo la em casa dela, vamo Gabriel!

- Ah, ela falou pra gente num contar pró pai sobre o nosso irmãozinho... não esqueçam... Mas hoje num posso ir em casa dela, o pai vai me levar pra tomar sorvete! E depois vamo os dois juntos pescar! - conclui Gabriel.

Pilar amua:

- E porquê a gente num pode ir também?

- Porque filha de mulher do padre num pode pescar!... - Gabriel ri, e Pilar corre atrás dele rindo também.

- Quer parar de me chamar de filha do padre??

- Ué?! Mas não é isso que você é?? E além disso, pescar é coisa pra homem!

- Olha só gente, o Rico vem vindo!! - avisa Antónia.

Rico chega com um sorrisão e pergunta:

- E aí, tudo bem com vocês crianças? Cadê o lobisomem??

- Lobisomem? - pergunta Gabriel, se fazendo de desentendido.

Rico passa a mão pelo cabelo e pela barba, ansioso:

- Sim, gente, lobisomem! Assim, cheio de pelo, como um tufo gigante, com as coisa saltando tudo pra fora...

Como as crianças continuam sem responder, ele explica:

- O pai de vocês!!! E por acaso tem outro lobisomem nessa ilha!! Cadê o pai de vocês?

- Faz pouco tempo ele tava com a Lola lá em casa e mandou a gente dar uma volta no parque... sabe como é, aqueles dois não se largam! - fala Gabriel, com um sorriso atrevido.

- É... então cê fala pra ele que a Rubi ta convidando vocês pra um jantar la na Casa Amarilla! Mas num faz essa cara de nojo não porque quem vai cozinhar não é ela, tá? Lá na Casa Amarilla tem gente pra fazer tudo isso! ...Não é pra me gabar não, mas é bom demais viver naquela casa! Fico o dia inteirinho dormindo e vendo aquele rádio metido à besta, a... como é que é mesmo o nome daquela coisa? Letevisão?

- Televisão, Rico, televisão! - fala a Antónia, morrendo de rir.

-É, vai rindo, vai rindo! Isso tudo é inveja, cês ficam tudo lá de volta daquele lobisomem e não sabem o que é vida boa!! Bem, tou esperando vocês lá no jantar... Por falar nisso... alguém sabe da Marisol? Ela voltou hoje, né?

-A mãe passou aqui agora mesmo, mas teve de ir embora porque vinha com o nen...

- Porque ela tava com pressa, sabe como é, muito show lá no Copacabana... - interrompe Antónia, olhando Gabriel zangada.

-É... - continua Gabriel com um sorriso sonso - É isso que a Antónia falou....

Rico senta no muro e pede para as crianças se aproximarem. Depois fala baixinho pra elas:

- Não precisa disfarçar não, eu vou todo o sábado lá no Copacabana, sei muito bem do filho da Marisol, pensa que eu sou burro! Mas a semana passada, quando o Lobisomem voltou ... enfim, lá daquele treco que viaja no futuro, a Marisol me fez prometer que eu não ia falar nada pra ele, né...

Pilar faz uma cara de irritada:

- Tá bom Rico, tá bom, mas eu não acho isso justo não, o pai ia gostar de saber que a Marisol teve um filho dele, eu num gosto de mentir pra ele...

Rico mexe no cabelo, nervoso:

- Mas num é bem assim uma mentira...né Pilar?... não falar nada não é mentir!

- Mas é esconder a verdade!

- Nossa, cê tá parecendo a Rubi! Sempre falando a toda a hora "cês não deviam esconder esse filho do Leon",... "cês não deviam esconder esse filho do Leon"...

- Ela tem razão, a gente não devia mesmo! - insistiu Pilar.

Enrico tenta mudar de conversa:

- Então crianças, então... é... vamo tomar um sorvete, eu pago!

- Num posso, meu pai disse que vinha aqui me buscar pra ir tomar sorvete comigo!

- Tá bom então! Eu vou andando, senão a Rubi fica brava, agora que ela é presidenta virou ainda mais brava do que antes - explica o Rico, sorrindo, e vai andando pra casa.

As crianças se olham, pensativas, até que Gabriel fala:

- Não quero nem pensar como vai ser quando o pai descobrir essa história...

-É, nem eu - concorda Pilar.

Mas Antónia continua zangada:

- Pois eu acho que vocês tão sendo muito injustos com a minha mãe! Eu entendo porquê ela não quer que o Esteban descubra, ela quer ficar bem longe dele e da Lola, para não ter de sofrer!

- Ai Antónia, tá bom, vai, não vamo discutir isso agora! Quem quer jogar futebol antes de o pai chegar?






Lola entra em casa com um montão de roupa acabada de lavar no tanque:

- Otelinho! Julientinha! Thiaguinho! Hora do banho!!

- Ah, mãeee!!!! Tá muito cedo ainda, depois a gente vai...

- Tá muito cedo é? Então aproveita e faz o dever de casa, já que tá muito cedo!

As três crianças correm para o banho.

Depois ela pergunta pra Dolores:

- Cê viu o Esteban, mãe?

- Quem, o cabeludo? Pensei que era Leon...

- Ah, mãe, não complica, não complica! Que importa que nome ele tem!

- Eu não complico, cês que insistem ficar mudando o nome das coisas, primeiro era Esteban, agora é Leon...

- Mãe, ele não tem culpa, né?

- Não tem culpa mas bem que podia simplificar as coisas! Porque é que ele não muda logo o nome pra Lobisomem? Aí não tinha mais confusão, todo o mundo ia saber quem ele é!...

- Tá bom mãe, mas a senhora viu ou não viu?

- Tá lá pra dentro, consertando o chuveiro, onde mais poderia estar?

Nesse momento Leon entra na cozinha:

- Pronto, ficou como novo! Se bem que nem era preciso né? Já, já, a gente vai prá casa nova, e lá não vai ter chuveiro quebrado!

Ele tira o montão de roupa das mãos de Lola e faz um carinho nela:

- Nossa, e pensar que fiquei dois anos sem sentir essa sua pele!

- Ai Esteban! Olha as crianças! Quer dizer! Olha a minha mãe aqui, Esteban! Num pode!

- Outra vez? Tá bom, já tou indo, já tou indo! - se apressa Dolores, vendo o ar desesperado de Leon.

Quando ela sai, Leon beija Lola.

- Pronto, agora não tem mais como fugir!

-E quem disse que eu quero fugir? - pergunta Lola, sorrindo.

Os dois se beijam novamente, e estão quase no quarto quando Johny entra. Assim que vê Leon ele fica paralisado, seu lábio tremendo de emoção. Depois corre e o agarra:

- CABEUDO! CABELUDO! Quando me falaram que você tinha voltado, eu não acreditei!! Mas é você mesmo!!! - ele grita, abraçando Leon e empurrando Lola - Meu herói! Eu sabia, eu sabia, eu sabia!!! Todo o mundo falava "o cabeludo não vai voltar, imagina só", mas eu sabia que você não me ia abandonar!! Kubanacan não era mais a mesma sem você!!!

Leon se liberta do abraço, e Johny se arrasta a seus pés, chorando:

- Eu sabia! Cabeludo, você voltou!!!!

- É... eu voltei... agora para com isso, vai... também não é tão extraordinário assim! - fala Leon, com modéstia.

- Como não é?? Como não é?? Imagina, esse é o acontecimento do século!! - explica Johnny, rindo descontroladamente - Exige uma comemoração!!! Eu mesmo pago uma bebida pra você lá no Copacabana!!!! E nem pense que vai recusar, hein, porque eu não vou sair daqui enquanto você não aceitar o meu convite!

Leon olha Lola desesperado.

- Não vai sair daqui? A tarde toda??? - pergunta Leon

- É isso mesmo, não vou arredar pé enquanto você não aceitar!!! - conclui Johnny.

Lola puxa Esteban para um canto e pede baixinho:

- Aceita logo, senão ele não vai embora nunca, vai ficar aqui atrapalhando a gente...

- É... é... você tem razão! - depois olha pra Johnny e decide: - Tudo bem, pode esperar lá por mim! Mas quando vai ser isso, mesmo?

- Hoje à noite! Eu mesmo venho aqui te buscar pra ter certeza que você não esquece...

Leon olha para Lola cada vez mais inquieto, mas ela o incita a aceitar.

- Tá bom, pronto. - concorda ele, fazendo um esforço - Então hoje à noite você passa aqui em casa, e vamos os dois no Copacabana.

Johnny pula de felicidade:

- Que alegria!! Ainda não acredito, que alegria!!!! - e sai, dançando feliz.

- Maluco, esse daí, né?

- Eu é que sou maluco por você! - fala Leon, agarrando Lola novamente, e os dois se beijam, entrando no quarto. - Já falei que te amo?

-Hum... deixa eu ver!... Um montão de vezes!

- Então eu falo outra vez: EU TE AMO!!!

- Pode falar quantas vezes quiser, não vou me cansar nunca!

- Também não vou me cansar nunca de falar!






- Ai seu Manolo, isso é coisa demais pra mim, não vou aguentar tanto show, ainda mais com o Esteban pra cuidar... Depois desse tempo em La Platina voltei exausta...

- Imagina, Marisol! Eu tou aqui pra cuidar dele enquanto você tá lá no palco! - Ele pega a criança no colo e faz "bilu-bilu" pra ela. - Mas bem que você podia disfarçar melhor, né? Não quer que o homem descubra, mas vai dar precisamente o nome dele pró seu filho...

- Existem centenas de pessoas com o nome Esteban nessa ilha, não entendo qual é o problema!

- Minina, você se arrisca demais! Imagina que o bofe entra um dia desses pelo Copacabana dentro e descobre que tem mais um filho!... Quando ele souber vai rodar a baiana...

- Ele não vai saber... - Marisol se olha no espelho e retoca a maquilhagem - Além disso ele nunca vem no Copacabana.

- Você fica linda naquele palco! Se você fosse um pouquinho inteligente, olhava para todos aqueles milionários que ficam te comendo com os olhos quando você tá fazendo o show... Mas em vez disso você fica suspirando por aquele cabeludo... Não que eu não entenda, um homão daqueles... - Manolo revira os olhos e tem um siricutico - Mas ele está com a Lola, e não desgruda dela de jeito nenhum!

- Eu não estou reclamando, ele pode ficar com ela, quanto mais longe ele estiver melhor... pelo menos assim meu coração não sofre... - ela sorri amargamente e continua - Agora o meu filho eu quero perto de mim, ele e aquela mulher já me roubaram o Gabriel e a Antónia, não vão roubar esse também!

Manolo se surpreende:

- Imagina! Que ciúme bobo! O Gabriel te adora! E a Antónia vive te defendendo! Você própria admitiu que era melhor a Lola cuidar deles, porque você não tem tempo pra ser uma boa mãe com todos esses shows, essa vida de estrela...

- Por isso mesmo, seu Manolo! Vai que o Esteban... ou Leon... seja o que for, decide que quer ficar com o meu filho porque acha que eu não tenho tempo pra cuidar dele?

- Ele não ia fazer isso... Ele é um homem de bem, Marisol!

- É um homem de bem mas quer os filhos junto dele, como eu. Ia acabar querendo esse também. Além disso tou enjoando dessa conversa, já falei e pronto! - conclui ela, irritada e nervosa.

- Tá bom, tá bom, não tá mais aqui quem falou! - conclui Manolo, brincando com Esteban no colo - Agora que você tá arrumando sarna pra se coçar isso tá! Nunca vi como você pra arranjar confusão, minina!

Marisol sai do camarim, quase atropelando o camareiro que vinha entrando.

- Nossa, ela ia braba!

Manolo suspira:

- Essa moça ainda vai ter problemas com essa história... Não é Esteban? - fala, olhando pra criança que ri no seu colo - Sua mãe não ganha juízo, pensa que manda no destino...






- E aí, Rico, cê falou pra eles do meu convite?

Rubi estava sentada assinando papéis atrás de papéis, que Cedita lhe ia entregando.

- É, eu falar, falei, mas foi com as crianças, pedi pra elas avisarem a Lola e o lobisomem.

- Então agora é só esperar eles chegar aí! Cê tem certeza que eles vem?

- Certeza, certeza, assim... não tenho, mas o convite foi bem entregue.

- Tá bom... - Rubi sorri pra ele - agora vai lá ver aquele negócio que você gosta, a tetevisão...

- Rubi, não é assim que a gente fala, as criança me ensinaram hoje como é, a gente fala "letevisão", e não "tetevisão", entendeu? Agora você é presidenta, tem de falar direito!

- Letevisão??

- Isso! É isso daí!

- Tá bom, agora vai lá enquanto eu termino de assinar esses negócio aqui... Depois eu vou te fazer companhia um pouquinho... - conclui ela, sorrindo carinhosamente.






Em casa de Lola, alguém bate na porta insistentemente. Do lado de fora, se ouve "Cabeludo! Abre cabeludo! Sou eu!!"

Dolores abre a porta e Johnny entra sorridente.

- Eu vim buscar o cabeludo...

- Nunca ouviu falar em boa educação? Que arrombar a minha porta, vagabundo?? - ameaça Dolores, agitando uma vassoura em sua mão.

- Tudo bem dona Dolores, eu estou aqui. - fala Esteban. Depois olha pra Lola e promete:

- Não vou demorar muito tempo, não quero perder esse jantar em casa da minha mãe. Me esperem lá, que eu volto rapidinho do clube. E vê se as crianças lavam as mãos antes de jantar... E o Gabriel, vê se ele acaba o dever de casa antes de ir, a gente hoje foi pescar e ele não teve tempo... E a Julientinha...

- Tudo bem Esteban! - interrompe Lola, sorrindo - Eu sei tratar das crianças por umas horas! Vai lá, vai e se diverte, que a gente fica te esperando lá na Casa Amarilla!

Ele fica beijando Lola um tempão, apaixonado, até que Dolores tosse pra chamar a atenção, e Leon sai junto com Johnny, que ainda olha assustado a vassoura de Dolores.

Nesse instante Gabriel, Antónia e Pilar entram na sala.

- O pai já foi?? - pergunta Gabriel. - Mas ele num vem com a gente pra Casa Amarilla?

- Vem sim, mas primeiro ele vai no Copacabana.

Gabriel se assusta:

- Mas a minha mãe...

Antónia tapa a boca de Gabriel.

- Que tem a sua mãe? - fala a Lola desconfiada - ela não está viajando fazendo shows em La Platina?

- Está sim - responde Antónia - O Gabriel queria dizer que tem saudades da nossa mãe, é isso.

Pilar olha os dois meio chateada.

- Ah... tá bom então... - conclui Lola, desconfiada. - Agora vão terminar o dever de casa!

As crianças saem e Dolores pergunta:

- Será que a Marisol voltou?

- Ah, num sei não mãe... Mas acho que não, só se ela voltou escondida, porque não deu nada na rádio nem na televisão...

- É... não sei, as crianças andam com uma conversa muito estranha...

Lola não responde, arrancando a vassoura da mãe e começando a varrer o chão freneticamente.

Mas Dolores insiste:

- Cê já pensou quando o lobisomem souber?

- Souber o quê, mãe? - diz Lola, nervosa.

- Dessa criança que a Marisol teve ... Você devia ter contado pra ele...

- Ah! Para de encher a minha cabeça, mãe! Quer me deixar preocupada justo hoje? Ela que pediu pra eu não contar nada...

- E você prefere enganar o Leon só pra cumprir uma promessa que você fez pra essa Marisol? Você não está trocando suas prioridades, não?

- Não complica mãe! Além disso ele esteve fora todo esse tempo, como que eu ia contar isso pra ele?

- Antes de ele ir embora há dois anos atrás, você já sabia que a Marisol estava grávida. Você mesma contou tudo pra mim. Devia ter contado pra ele também...

- Ah mãe, depois, tá? Depois! Ela nem está em Kubanacan agora, tem tempo de sobra pra eu falar pra ele. E acabou a conversa, não quero mais nem falar desse assunto.

- Tudo bem, cê é quem sabe. Não vou me intrometer na sua vida. Mas já a minha mãe falava que mentira tem perna curta.






O Copacabana naquela noite estava cheio de gente se divertindo. A música e os risos das pessoas ecoavam por todo o salão. Quando Leon e Johnny entram, um grupo de meninas corre pra eles, felizes por ver de perto o pescador parrudo.

- Então o famoso pescador parrudo está de volta! - fala Perla, surgindo do nada, cambaleando por causa de bebida - E em forma como sempre!!

- É. Mas também comprometido, por isso, se não se importa, podia tirar a mão por favor... - diz Leon, incomodado.

- Nossa!!! Que decente que ele é!!

- Na verdade, dona Perla, estamos aqui para comemorar o regresso do nosso querido cabeludo! Por isso hoje é tudo por minha conta!!

-É mesmo?? Então se você paga, manda vir uma garrafa de champanhe francês pra mim, vai? - pede Perla, rindo e se atirando no colo de Johnny - Ooops! Escorreguei! Ah ah ah!

Leon aproveita o momento para fugir entre a multidão e sentar numa mesa vazia.

Pensava em escapar dissimuladamente pra casa quando as cortinas do palco se abrem, e atrás delas surge Marisol cantando.

Johnny volta, suspirando de alivio:

-Nossa, aquela dona Perla é louca, cê não acha cabeludo?

Leon não responde.

-Cabeludo? Cê ta me ouvindo? Fala alguma coisa...

-Cala a boca, idiota! ...






- O Esteban tá demorando, ele falou que vinha rapidinho do Copacabana... Parem com isso crianças!!

Estam todos sentados à mesa, na sala de jantar da Casa Amarilla. As crianças brincam jogando comida umas nas outras.

- Lola para de se lamentar e come, tem de aproveitar, não é todo o dia que a Rubi faz uma comida dessa! Tá uma delicia! - fala Dolores.

Rubi ri com aquele seu jeito roncando:

- Não fui eu quem fez mãe! Cê acha que eu ia saber fazer uma comida tão boa!

- Claro, burrice a minha, eu vi logo que não podia ser!

Rubi continua:

- E você não se preocupe não, viu Lola? O Rico foi lá agora mesmo no Copacabana saber porquê o Leon tá demorando tanto.

- É... mas não sei... Tou sentindo uma coisa ruim por dentro...

Rubi ri novamente:

- Ah Lola!!! Tá com medo de quê? Que alguma vagabunda pegue o Leon lá no clube? Ele é mais fiel que cão de guarda!

Gabriel, Antónia e Pilar param de brincar e se olham ao mesmo tempo, preocupados.

- É! Besteira minha! - conclui Lola, com aquele seu jeitinho com as mãos - Vamos comer, que já, já, eles estão aparecendo aí!






- Johnny, cadê o lobisomem? Ele não tava aqui com você? - pergunta o Rico, ao entrar no Copacabana e encontrando Johnny sentado com as meninas.

- Nem me fala Rico, nem me fala! Tava tudo correndo tão bem, quando de repente aquela moça... Marilua, né?

- A Marisol?? Ai minha nossa senhora, que tem a Marisol?

-Pois, isso, a Marisol entrou cantando no palco e o cabeludo ficou muito estranho, fez assim aquele jeito com o pescoço e virou o perigosão! Sabe, aquele outro que tem dentro dele... Vai por mim Rico, ele tá precisando de um Pai de Santo, aquilo só pode ser encosto...

- E você não segurou ele?? - pergunta Enrico, agarrando Johnny furioso.

- Calma! Que é isso?! Calma! Como é que eu ia segurar ele? Já quando é o lado bonzinho fica difícil, quanto mais quando o perigosão assume! Ele saiu correndo, nem sei pra onde ele foi, no meio dessa gente toda! Arruinou a festa que eu preparei pra ele!






Marisol entra no camarim. Olha Esteban júnior, que dorme no berço e senta em frente ao espelho, pensando em Leon. Nesse instante alguém bate na porta.

Surpreendida, ela vai abrir.

Leon entra, e a agarra furioso:

-Vagabunda!

E dá um tapa nela. Marisol o olha assustada. Ele a encosta na parede, e fala no ouvido dela:

- Pensou que eu não ia voltar depois desse tempo todo?

Depois a beija.

Ela não fala nada, e geme muito nervosa.

- Que foi? O gato comeu a língua? - ele insiste, encostando-a ainda mais na parede, e a beija novamente com paixão. Depois a solta e se aproxima do berço.

- Esteban...

- É a minha cara. Quem você acha que ia enganar?

- Não toca nele!

- Esteban, né? Não foi esse o nome que você deu pra ele? - Dark tira a criança do berço e a olha com atenção - É tão parecido comigo que até enjoa.

-Vai embora Esteban!

Dark dá uma gargalhada e a olha com ironia:

- O quatro-olho é muito burro, todo o mundo tá sabendo dessa criança menos ele! E você pensou que ia esconder de mim? Eu sou como doença ruim, nunca vou embora, acabo sempre voltando...

- Esteban, por favor...

Ele pega nela e a joga no sofá. Depois volta a beijá-la ardentemente.

- Eu vi você dançando e se mostrando naquele palco, pra todos aqueles turitas que ficam babando pra cima de você...

Marisol fecha os olhos, mas ele puxa o seu cabelo e a obriga a olha-lo de frente:

- Você está me escutando?

- Não teve mais ninguém na minha vida nesses dois anos, se é isso que você quer saber... - fala, chorando - E você tá me machucando...

- Eu sei que não teve ninguém, já averiguei tudo com aquela bicha que é seu camareiro... Estou só te avisando: eu estive fora, mas você continua sendo minha. Hoje e sempre, você é minha! Entendeu? Não quero saber de homem rondando aqui o camarim.

Ele se levanta, se dirige à porta e a tranca com a chave, guardando depois a chave no bolso.

- Pronto, assim ninguém vem nos incomodar...

Nesse momento, do outro lado, Rico bate à porta, apressado:

-Marisol? Você tá ai?? Marisol, responde! Cê tá bem?

- Que é que ele tá fazendo aí fora? Ele costuma vir aqui depois do show, vagabunda?

- Não Esteban! - pede Marisol, quando ele se dirige furioso para a porta - O Rico é só um amigo! Tá preocupado, só isso! Não faz nada com ele, deixa ele quieto! Vem ficar aqui comigo...

Dark a olha, contrariado:

- Só dessa vez...

Marisol chora, nervosa.

- Você voltou pra se vingar, é isso??

- Não... - explicou Leon com ironia, voltando a beijá-la e desapertando o seu vestido - Vim só tomar conta do que é meu.






- Esteban, acorda...

Leon abre os olhos.

- Que foi?

- Já tá muito tarde, você não vai pra casa? A Lola... não está te esperando?...

Esteban a olha irónico:

- Bonita, sua casa... "Marisol, a grande estrela!" Quem diria!

- Esteban, tou falando com você! Não vão sentir sua falta lá em sua casa?

- A Lola está esperando o quatro-olho, não a mim.

- Mas você e ele são a mesma pessoa, esse seu corpo é dele também.

- É, mas agora sou eu que tou tomando conta, por isso sou eu quem manda no meu corpo hoje, entendeu? Quantas vezes preciso de explicar isso?...

Marisol levanta para ver o filho no berço.

- Onde você pensa que vai?

- Tou só vendo se está tudo bem com o meu filho...

- Nosso filho, você não fez sozinha.

- Você nunca se preocupou com crianças, vai querer me convencer que mudou agora? Não era o "quatro-olho", como você lhe chama, quem se preocupava com essas coisas?

- Porquê? Você prefere o quatro-olho bonzinho? - pergunta Dark com raiva, olhando Marisol - ele num liga a mínima pra você.

- Eu não disse que preferia ele... E você, será que liga pra mim?

- Vai ficar o resto da noite fazendo pergunta?

- Não, mas responde a essa, então. Você liga pra mim?

- Num tá satisfeita? Nunca te obriguei a nada, tá aqui porque quer.

Marisol faz um carinho no rosto dele.

- Você parece uma criança pequena, esse seu orgulho sempre falando mais alto... Eu sei que você liga pra mim sim.

Leon se finge de desinteressado, observando a casa.

- Se não, porque você chama meu nome enquanto dorme? Ou porque você tem ciúme dos turistas que vão me ver no Copacabana?

Ele agarra o braço dela, enraivecido:

- Não brinca comigo, sua vagabunda! Eu não sou que nem o outro panhonha que gostava de você mesmo sendo corno!

- Não, você não é como ele. Mas gosta de mim, mesmo que não queira.

Leon a joga na cama:

- Eu não amo uma vagabunda!

- Então eu não devo ser tão vagabunda assim, porque você me ama sim, e sabe que não consegue controlar. - ela conclui, com um olhar de desafio.

Ele não responde, e a beija furioso.






- Calma Lola! Não fica assim que você me faz chorar também! - pede Rubi, emocionada. Na casa Amarilla, estão todos reunidos em volta de Lola.

- E as crianças? Não lembrei mais das crianças!

- Estão dormindo no quarto do lado, Lola! Já tratei disso - explica Rubi - Agora você devia ir dormir também, amanhã a gente resolve toda essa história...

- Como resolve, Rubi??? Como resolve??!! Ele tá lá com ela, tenho certeza...

Enrico chega perto:

- Lola! O lobisomem não tem culpa, é aquele perigosão, aquele outro que tá tomando conta da cabeça dele!

- Eu sei... mas dói do mesmo jeito!... Ele falou pra mim que essa coisa de dupla personalidade não tinha como curar, era pra vida toda... Mas eu não esperei que voltasse tão cedo! Porquê, minha santa, porquê??

- Não vale a pena a gente tar pensando nisso agora, daqui a pouco ele volta a ser o lobisomem bonzinho de sempre e vai chegar aqui sem entender nada do que aconteceu.

- É por causa dessa Marisol, eu sei que é! Assim que ele sente só o cheiro dela, o outro assume logo! - conclui Lola, irritada.

Atrás da porta, Gabriel e Antónia escutam a conversa disfarçadamente.

- Viu, eu não falei? O perigosão gosta da mãe, vive correndo atrás dela...

- Nossa... mas como é que pode? - pergunta Antónia, confusa - Um gosta de Lola, outro gosta da nossa mãe, mas são a mesma pessoa...






Marisol acorda. Leon está se vestindo, pronto pra ir embora.

- Esteban... é você?

Ele ri sarcástico.

- Quem você queria que fosse?

- É que... sei lá... você podia ter voltado a mudar, durante a noite...

- Porquê, você preferia que fosse o quatro-olho que tivesse passado aí a noite com você? Pensei que estivesse enjoada dele desde Santiago.

- Pára com esse ciúme sem pé nem cabeça! Você já me perguntou isso mais de mil vezes!

- Ele tá lutando pra voltar, sim, mas ainda não conseguiu. Foi comigo que você passou toda a noite, se é isso que você quer saber.

- O que você vai falar pra Lola?

- Porquê, tá com pena da Lola? - pergunta ele, com um sorriso irónico - E isso é problema do panhonha, não meu. Ele que explique pra ela.

Antes de sair, Dark olha Marisol, e avisa:

- Eu volto. Mas até lá tenho gente de olho em você, não quero você se engraçando com nenhum turista, entendeu?

- E se não for turista, pode? - pergunta Marisol, rindo.

Leon a agarra enraivecido:

- Não me provoca, Marisol!

- Estava só brincando, calma! Assim você me machuca Esteban!

- Odeio esse tipo de brincadeira!

- Esteban?...

- Fala.

- Me promete que você vai deixar o pobre do Rico em paz!

Ele a solta, e sai, dizendo:

- Cuida do meu filho.

A porta fecha atrás dele.






Dark passeia por La Bendita, olhando as pessoas, até que decide ir na casa Amarilla.

- Leon??? - pergunta Rubi, surpreendida., quando ele entra atropelando os guardas.

- Cadê o Enrico? Quero falar com ele.

- Olha aqui... - fala ela, furiosa - Num fala grosso comigo, que eu não sou quem nem os outro tudo que sai correndo de medo de você!

- Bom pra você. - responde ele, com indiferença.

- Guardas, segurem ele! - ordena Dagoberto.

Os guardas da Casa Amarilla correm pra pegar Dark, mas ele os olha com tanta raiva que acabam fugindo todos de medo.

- Covardes!! Covardes!! - grita Dagoberto

Dark olha Dagoberto do mesmo jeito, e ele foge também.

- Cê não me olha desse jeito não, que eu te dou umas boas palmada, viu! Pra que é que cê quer falar com o Rico?

Rico, Lola e Dolores chegam à sala de visitas nesse momento e se surpreendem.

- Nossa, que gritaria é essa! - Rico vê Dark e fica nervoso, tentando encará-lo - O que é que cê tá fazendo aqui? Que é que cê fez com a Marisol?

- Foi por isso mesmo que eu vim aqui te procurar. Que é que você queria com ela, ontem à noite? - pergunta Leon, enraivecido.

- Foi você que não deixou ela abrir a porta, num foi? Eu vi logo que tinha dedo seu nessa história!

Dark dá uma gargalhada fria

- Não!!... Eu até que queria abrir a porta, pra acabar com a sua raça! A Marisol que não deixou... Agora grava bem isso que eu vou falar nesse seu cérebro pequeno - ele agarra Rico e todo o mundo se assusta - Fica longe dela!! Entendeu?? Não quero você rondando o camarim da Marisol! Entendeu o que eu falei?

Depois solta Rico jogando-o no chão. Rico se levanta, humilhado.

- Eu me preocupo com ela, é minha amiga. Não sei como a Marisol pode gostar de um cara feito você!

- É, mas gosta. Por isso fica longe, detesto macho rondando mulher minha.

- Ela não é sua! Você que a obriga a te aguentar!

Dark volta a rir, bem debochado.

- Pra quem foi "obrigada", como você fala, até que ela gostou, e muito.

- Não tem mais nada pra fazer aqui?? - pergunta Lola, de repente.

Todo mundo fica em silêncio.

- É que se já tiver falado tudo, pode ir embora. Porque é que não vai lá ficar com a Marisol? - continua ela.

- É que eu não deixei ela dormir essa noite, por isso agora tou deixando ela descansar um pouco. - responde ele, irónico.

- Cê não tem vergonha nessa cara??? - fala Lola, furiosa - Não mãe, não precisa me segurar, me solta! Se você tivesse só um pouquinho de vergonha, não voltava a olhar na minha cara!

Dolores tenta segurar Lola, que continua gritando enraivecida:

- Cê gosta dessa vagabunda? Então vai lá ficar com ela, sai da minha frente! Me solta, mãe!!

- E se eu gostar, o que é que você tem que ver com isso? Peça satisfações pró quatro-olho, ele que tem paciência pra te ouvir.

- Me solta mãe. - fala Lola, cheia de dignidade. Dolores a solta, e ela encara Dark:

- Que você desapareça sem dar explicação, eu até entendo, porque você e Leon são diferentes. Que você vá lá no Copacabana procurar aquela Marisol porque é apaixonado por ela, eu posso até tentar compreender. Agora você vir aqui me humilhar, falar que passou a noite com ela, e falar pra todo o mundo ouvir que ela é sua... Isso já é demais. Por isso vai lá ficar com ela e não me procure mais.

Lola sobre para o quarto, sozinha, e todos ficam olhando Dark, que parece indiferente a tudo quanto ela falou.

- Essa sua irmã é meio nervosinha, não Rubi? Bem, já disse o que tinha pra dizer, e espero que você tenha entendido - ele conclui, observando Rico - Fica longe dela.

Depois Leon vira costas e vai embora. Nesse momento, Rubi pega uma cadeira e joga na cabeça dele. Ele cai desmaiado no chão.

- Finalmente, alguém calou esse homem!! - fala Dolores. - Já tava ficando com enjoo! Marisol isso, Marisol aquilo!... Tudo bem que ela tem aqueles peitão, mas também não é preciso exagerar! Não entendo a obsessão dos homens por essa moça!

- Pode ser que quando ele acordar esse perigosão já tenha ido embora! - diz Rubi, cansada.

Todos sentam no sofá, meio atordoados pela cena a que acabaram de assistir. Dolores sobe pra ir atrás de Lola.






Marisol chega no Copacabana logo de manhã, para os ensaios.

- Minina, cê tá atrasada! - critica Manolo, mas ela nem ouve.

- Minha nossa!... Cê tá quase dormindo de pé... Que é que o perigosão fez com você pra deixar você tão cansada? - pergunta ele. Depois tem um siricutico e fala - Não, não precisa falar! Eu imagino... Ai, só eu que não tenho uma canseira dessas! ...

- Ai seu Manolo...desculpa, mas acho que vou dormir um pouco lá no camarim, vou aproveitar que o Esteban tá dormindo também... - fala ela, olhando o filho no colo.

Manolo suspira:

- Fiquei até preocupada... quer dizer, preocupado, com você ontem à noite, quando vi aquele homem entrando no seu camarim... tive até medo... Que é que ele falou da criança?

- Ele falou que era a cara dele, e pra eu cuidar do meu filho...

- Mas ele não tava bravo?

- Tava, e muito. Mas já passou.

- O Rico andou aí feito doido procurando você, com medo que o cara tivesse te encontrado...

- É, eu sei - fala Marisol, preocupada... - Ele foi até lá bater na porta do camarim, tive de segurar o Esteban pra não acontecer uma desgraça...

- Nossa Marisol! Mas esse Esteban, também, é meio ciumento, né?! Ciumento demais, num sei como você aguenta!

- Ah... eu me acostumei... Quando a gente ama aguenta muita coisa! - responde ela, sorrindo.

- Bom, pelo menos você tá com quem você queria... Já é bom... Agora vamo lá ensaiar, que já tá todo o mundo esperando!

- Ah, seu Manolo! Queria tanto dormir um pouquinho...

- Ah, não! Não, não senhora, cê vem ensaiar que é pra tar linda essa noite! Deixa que eu fico com ele enquanto cê tá lá no palco...

Marisol passa Esteban Júnior prós braços de Manolo, sobe no palco, e canta:

- Fui culpa da Lua... eu te perceber! A culpa foi sua...

Enquanto ela canta, um homem bem vestido com cara de gringo chega no Copacabana com dois guarda-costas, e fica olhando Marisol, encantado.

- Essa que é a Marisol? - pergunta pra Manolo.

Manolo olha ele desconfiado.

- Pode ser... por que é que o senhor quer saber?...

- Nada, pura curiosidade... - fala ele - E essa criança, é filho dela?

Manolo se move na cadeira, incomodado e nervoso:

- Que interesse o senhor tem nisso?

- Ora, ora, calma! Nenhum! Só curiosidade, como eu falei.

Depois fica observando a Marisol um tempo, e antes de sair volta a olhar a criança.

- É... é a cara do parrudo.

E vai embora sempre acompanhado de seus guarda-costas.

O camareiro se aproxima de Manolo:

- Que é que aquele lá queria?

- Não sei não... ficou olhando a Marisol, e falando que a criança era a cara do pai... Não tou gostando dessa história... Mas não fala nada pra Marisol não, que ela vai ficar logo nervosa. Tá me ouvindo bicha?

- Tou sim, não vou falar nada, não se preocupa minina!!

Marisol desce do palco, cansada, e pega Esteban no colo.

- Quem era aquele sujeito que ficou olhando meu filho?

- A gente não sabe, ele até ficou perguntando se era seu filho, e falou que era a cara do pai! - responde logo o camareiro.

Manolo aperta o pescoço dele, furioso:

-O QUE É QUE EU FALEI??? Não disse pra você não falar nada pra ela??

- Aiiiii!!! Aiiii! - o camareiro tenta se defender, dando gritinhos - Me solta, bicha!! Cê quer me matar?! Aiiiii! Esqueci!!

Marisol faz um carinho no filho, assustada:

- Tenho de falar isso pró Esteban... tou ficando com medo... Mas a essa hora ele já deve ser o outro, outra vez... Pode demorar dias até voltar...






Leon levanta devagar, com uma dor de cabeça horrível...

- Ai... parece até que jogaram qualquer coisa na minha cabeça... - ele fala, confuso. Depois olha em volta e se surpreende: - O que é que eu tou fazendo aqui?... Rico? Rubi?

- Cê... cê num lembra de nada? - pergunta Rico.

- Lembrar do quê? Aconteceu alguma coisa? Que estranho, parece que minha cabeça apagou lá no Copacabana, a última coisa que eu lembro foi de ficar sentado lá no clube...

Ele olha nos olhos de Rubi e entende:

- Foi o outro, num foi? Ele voltou a aparecer?...

- É... e mais insuportável que nunca... - fala Rubi, com ironia. - Desculpa, fui eu que joguei uma cadeira na sua cabeça, pra ver se ele ia embora... Tá doendo muito?

- Não... Mas podia ter acertado com menos força, né? - reclama ele, massajando a cabeça.

- Imagina! Uma cabeça dura feito a do outro, tem que ser com força mesmo!... Peraí que vou pedir qualquer coisa pra você comer e já volto... Cê num deve ter comido nada desde ontem, né?

- Imagina se não comeu!! - fala Dolores, irónica - Ficou a noite inteira comendo lá a Mari...

- Mãe!! - interrompe Rubi - Fica quieta mãe! Vem lá comigo buscar um lanche...

Saem as duas, Dona Dolores sempre reclamando:

- Nossa, casa de gente doida...

Leon fica a sós com Rico.

- Cê num lembra nada mesmo? Pode falar, agora tamo aqui só os dois...

- Não, eu juro que num lembro... Mas é estranho... Durante o tempo que eu passei lá... você sabe, lá no futuro, o outro quase nunca tomou conta... Se bem que o Cristóban falou pra mim que essa história de dupla personalidade era pra vida toda, não ia passar nunca.

- Cristóban? Quem é esse cara?

- Você num conhece... Não entendo porquê o outro voltou ao controle com tanta força ... Ele só costuma assumir o meu corpo quando... - ele olha Rico desconfiado - Há alguma coisa que você esteja me escondendo?...

Rico passa a mão no cabelo, nervoso e cheio de siricutico.

- Imagina lobisomem!! O que é que eu ia tar escondendo de você!! E eu lá vou saber porquê o perigosão apareceu...

Leon o olha, desconfiado. Depois fala:

- Minha roupa tem o perfume da Marisol.

- Tem?... é... vai ver é impressão sua! - fala Rico, com um sorriso sonso - Como é que pode ter o perfume dela se ela tá em La Platina?..

- Ele esteve com ela, num foi?

- Não tou sabendo de nada...

- Ricooo...

- É... tudo bem. Ele teve com ela sim, a noite toda.

Leon se desespera:

- Aaah não! E a Lola, tá sabendo? Ela num vai me perdoar nunca!

- Ela tá sabendo sim, lobisomem... Aliás, ela falou até umas coisa feia pra você.. quer dizer, pró outro, faz uns 20 minuto e subiu lá pró quarto correndo, não quer ver ninguém...

- A mim ela vai ter de ouvir...






- Lola, eu sei que você tá ai, abre essa porta.

- É o Leon! - fala ela pra si própria - O outro já foi embora...! Ai minha nossa senhora! Que é que eu faço??

- Lolaaaa! Abre essa porta, por favor... Num faz isso comigo, cê tem que me deixar explicar, ao menos...

Lola corre furiosa e abre a porta de repente:

- Explicar??? - grita ela, indignada - Explicar?? Explicar o quê, que você ficou a noite inteira na cama daquela Marivaca enquanto eu fiquei aqui te esperando?? "Lola, a tonta", né??

- Ah Lolaa!!! Num faz assim! Quantas vezes eu falei pra você que isso podia acontecer, que eu num posso controlar! Eu num tenho culpa...

- Não, peraí!!! Cê falou que essa coisa de dupla personalidade não tem cura, que vai durar pra sempre. Mas você num falou em ficar noites inteiras se esfregando naquela vagabunda!

- Lola, num fala assim da Marisol... Ela também tá sofrendo com essa história...

- Sofrendo??? Claro, imagino o sofrimento dela, passando a noite com você!!

- Num era eu, Lola! Era o outro! Esse é que vive correndo atrás da Marisol! Eu não sou ele! Eu sou aquele que te ama de verdade, o que quer passar a vida inteira com você! Eu num posso controlar o que o outro faz ou num faz!

Lola o olha, magoada.

- Mas tinha de ser com a Marisol?? Justo ela??

- Lola, não sou eu quem decide isso... Se o outro gosta dela não é culpa minha...

- Eu me esforço pra entender... Mas doeu demais! Num dá pra entender essa coisa obsessiva, essa paixão descontrolada que ele sente por aquela Marivaca!

- Lolaaa... Num fala assim dela... Ela só faz aquilo que você faria, ela segue o coração. Se ela ama o outro, e ele chega lá todo disponível beijando ela, cê queria que ela fizesse o quê?

- Dispenso os detalhes, Leon...

- Me perdoa, vai Lola! Eu num tive culpa, num sou eu que controla esse meu outro lado... Na verdade, eu nem sequer te traí, ele que foi atrás dela! Eu tou pagando por uma coisa que não fui eu quem fez!

Ele se aproxima dela a beija apaixonadamente. Ela cede, mas depois foge dele.

- E como é que a gente vai viver Leon? Sempre que esse outro assumir seu corpo, vou ter de ficar aqui te esperando, imaginando você na cama da Marisol?

Leon não sabe o que responder. Fica olhando ela, triste, até que finalmente fala:

- Isso você que vai ter de decidir, Lola. Eu sou assim, e não posso mudar porque não depende de mim. Se você acha que o seu amor ultrapassa tudo isso, então eu tou aqui. Se você achar que não, aí eu... Ah nem sei!

Leon sai arrasado do quarto, e Lola chora de tristeza.

- Ai, minha santa! - fala ela, desesperada - Que é que eu faço com esse homem! O quê, minha santa, fala pra mim! Eu o amo demais pra deixar ele fugir por tão pouco...






( 2 meses depois)

- Cê viu a Lola, mãe?

Rubi foi visitar a mãe, Lola e as crianças lá em casa. Como todo o mundo parece triste, ela decidiu fazer ela mesma o almoço, apesar dos protestos de Dolores. As crianças fugiram lá pra fora assim que souberam quem ia cozinhar.

- Não, a última vez que eu vi ela tava se acabando ali num canto... Também, vai perceber?? O homem vem aqui mais do que uma vez, pede desculpa, e ela nem liga. Mas depois que ele vai embora ela fica aí se consumindo feito uma doida... Tá até estragando meu chão, com tanta lágrima...

- Ah, mãe! Eu entendo porquê ela não perdoa o Leon! Afinal, ele vive pedindo desculpa, mas bem que volta lá toda a semana na casa da Marisol...

- Ué, mas esse num é o outro? Nossa, num sei pra quê tanta confusão... Quero é saber quem vai consertar o meu chão! Faz dois meses que a Lola ainda por aí inundando tudo!

- E cê não acha que ela tem motivo pra chorar? Imagina, o homem que ela ama se dividindo em dois, e ainda por cima o outro gostando daquela "Mari...coisa" lá...

- Então me fala o que é que a gente faz pra sua irmã parar de chorar! Sim, porque o chão dessa casa tá que é um dó... E ainda por cima não tem mais o cabeludo pra consertar!

Rubi enche o prato da mãe de comida.

- Cê num acha mesmo que eu vou comer essa sua batata assassina, acha?? Sim, porque se o que você quer é eu morra de indigestão, ao menos escolhe uma morte menos cruel...

- Ah mãe!! Também num tá tão mau assim, o Rico bem que gosta...

- Coitado, que remédio... Também aquele lá come qualquer coisa, é tão burro que se você falar que uma pedra é um bife ele acredita!

- Mãe, num fala assim do Rico!

Lola sai do quarto, com os olhos vermelhos de tanto chorar, senta na mesa e engole as batatas da Rubi.

- Nossa... o caso é desesperado, mesmo! Imagina, ela tá comendo suas batatas sem nem reclamar... - fala Dolores, observando Lola.






- O grandão vem ver você hoje? - pergunta Manolo, depois do ensaio de Marisol.

- Num sei... quem sabe ele vem! - fala ela, com um sorriso enorme.

- Cê ta feliz mesmo, né?

- É, seu Manolo! Tou muito feliz!

Manolo fica arrumando uns vestidos de Marisol. Depois continua:

- Cê num tem ciúme?

- De quê, seu Manolo?

- De saber que a maior parte do tempo ele fica lá com a Lola...

- Ah... Antes eu tinha sim. Teve até aquela discussão, lembra?

- Se eu lembro??!! Imagina se eu ia esquecer esse dia! O perigosão ficou louco quando você falou de ia largar dele. Partiu metade das mesas do clube, bateu até naquele turista americano que queria dançar com você!... E você então! ... Nunca tinha visto você tão chateada e com tanta coragem pra enfrentar ele...

- É, mas depois a gente se entendeu, isso é que interessa.

- Nem me fala, o sufoco que eu passei quando ele arrastou você lá pró camarim e se trancaram os dois lá dentro. Tive de explicar para aqueles 63 turistas gigantes que você não ia cantar nessa noite... Ui...

- É que eu percebi que tava confundindo as coisa... afinal, eles são diferentes!...Não é o meu Esteban que fica com a Lola, é o outro. Ciúme pra quê, né?

- Mas eu ouvi dizer que ela agora não dá a mínima pra ele! Imagina, deitar fora aquele homem... - Manolo tem um novo siricutico - Mas ela que sabe...

- Ela tá com ciúme, por minha causa... Estão separados faz dois meses. Às vezes me sinto até culpada... Mas também, que é que vou fazer, vou deixar de seguir meu coração pra fazer a Lola feliz? Além disso ele ia continuar me procurando do mesmo jeito, mesmo que eu dissesse não.

Nesse momento Marisol perde os sentidos e cai no chão. Manolo corre e ajuda ela a levantar.

- Marisol?? Marisol?? Que aconteceu minina?

Ela abre os olhos, confusa.

- Ai...

- Que é isso, minina! Você está bem??

- Tou... de repente ficou tudo rodando, e aí apaguei...

- Já é a segunda vez essa semana... Cê devia ir no médico, Marisol...

Ela levanta devagar, dorida da queda.

- Cê acha que pode ser coisa ruim? Se acontecer alguma coisa comigo num quero nem pensar... Tem o Esteban pra criar...e o Gabriel e a Antónia!

- Hum... Marisol, isso num te lembra nada não? Esses desmaios...

- Não... porquê, devia?...

- Já vi você ter isso uma vez, faz dois anos, lembra?...

Marisol fica olhando ele, e depois entende.

- Ah, seu Manolo! Que besteira é essa?...Imagina...

- Num pode, não?

Ela senta, ainda meio atordoada.

- O pior é que pode... - ela responde finalmente, nervosa.






- Pai... você e a tia Lola num vão se acertar nunca mais? - pergunta Pilar preocupada, fazendo uma pausa no dever de casa.

- Num sei, Pilar... - fala Leon, triste.

- Ah, pai! Vai lá pedir perdão pra ela, só mais uma vez! O senhor fica aí, com esse olho triste, se arrastando pelos cantos da casa...

- Eu já pedi Pilar... Ela que num quer perdoar.

- Quer sim, só que tá com medo que agora você já num queira ela! Como o outro fica indo de vez em quando lá na casa da Marisol, ela acha que você num gosta mais dela!

- Como você sabe que o outro vai na casa da Marisol?

- Ah, eu sou criança mas não sou boba, né! Todo o mundo sabe que quando o outro... cê sabe, aquele outro que vive dentro de você aparece, ele vai correndo atrás da Marisol... Pensa que eu num vejo o senhor... quer dizer, o outro, saindo da cama de noite?

- É... burrice minha pensar que você num ia perceber...

- Vai lá falar com a Lola, pai! Ela tá tão triste, sempre chorando pelos canto aí na casa do lado...

- Cê tem razão... eu vou lá falar com ela... mas é a última vez...

Ele sai e vai em casa de dona Dolores.

- A Lola não tá, foi no mercadinho, se é ela que você tá procurando - fala Dolores, assim que Leon entra.

- Faz muito tempo?

- Não, nem uma meia-hora... Se você correr pode ser que ainda apanhe ela lá... Ah, e já que você tá aqui, o chuveiro entupiu de novo... será que você pode dar uma olhada?

- Depois, dona Dolores... depois.

Ele sai correndo pra encontrar Lola.






Lola caminha com seu saco de compras pela rua. Quando está chegando no mercadinho, alguém tapa sua boca e a puxa para um canto.

- Fica quieta!! - ordena uma voz de homem. - Fica quieta, dona, senão eu atiro!

Lola sente uma arma nas suas costas.

- Tudo bem moço... tudo bem, eu num vou gritar... Mas não atira, eu sou uma mãe de família, tenho um monte de filho pra criar!

- Então fica quieta, e vem comigo.

Ele a empurra para dentro de um automóvel, onde outros três homens estão esperando. O carro vai embora a grande velocidade.






- Moço... pra onde é que o senhor tá me levando??...

- Já falei pra calar essa boca!!

Um dos homens empurra Lola para um armazém vazio e tranca a porta. Lola corre para as janelas, mas estão trancadas com grades. Ela entra em pânico, e de tão assustada nem vê Marisol, e quase a atropela.

- Marisol?? Cê tá aqui também??

- É... parece que sim, né?

Marisol vê tudo rodando em volta, e se agarra em Lola para não cair.

- Cê tá bem? Tá com alguma dor??

- Não... foi só uma indisposição... - explica Marisol, desviando o olhar.

- Indisposição?? - fala Lola, desconfiada, olhando Marisol com atenção - Conheço indisposição dessa à distância...

- Num sei do que é que você tá falando...

Lola perde a paciência e dá um tapa em Marisol.

- Que é isso??? - reclama Marisol, indignada.

- Cê acha que eu sou tonta, é?? Quer dizer, devo ser mesmo!!...

- Olha aqui!! Se você voltar a encostar a mão em mim eu não vou ficar só olhando...

- Tive muitas "indisposições" dessas, tenho 4 filhos, esqueceu? "Indisposição"!! Faça-me o favor!! Você é uma vagabunda, mesmo...

- Já disse que num sei do que é que você tá falando!

- Num se faz de sonsa que eu acerto outro tapa nessa sua cara sem-vergonha! Cê tá esperando um filho, num tá?

Marisol fica uns segundos sem falar nada, mas depois responde, nervosa:

- É, eu tou esperando um filho sim...

- Tá?? - fala Lola, entrando em pânico? - Cê tem certeza??

- Num tou entendendo mais nada! Ainda há pouco você me deu um tapa pra eu falar que sim, e agora fica nesse desespero?

- Ai minha santa!... Era só o que faltava... Grávida?? Tem mesmo certeza? Ai minha santa...!

- Escuta aqui, você vai me explicar ou vai ficar falando com essa tal santa?

Lola repete, desesperada:

- Você tem certeza que está grávida também?

- "Também"?? Como assim "também"?!

- Nada não... Coisa minha...!

- Lola o que você quis dizer com "também"??

- É que eu também tou esperando um filho do Leon... mas ainda num falei pra ele... é que nós estamos...

- Vocês estão separados, não é? Eu tou sabendo...

- Minha nossa senhora! Num acredito que isso tá me acontecendo... - fala Lola, toda nervosinha e andando de um lado para o outro - É castigo, minha santa?? Fala pra mim, é castigo? Será que eu num tenho rezado o suficiente pra senhora?? Será que eu esqueci de cumprir alguma promessa?

Marisol, que observava Lola andando de um lado para o outro, sente outra tontura, e dessa vez quase desmaia. Lola se assusta.

- Que é isso!?... Cê tá bem?

Depois corre para a porta e bate com força enquanto grita:

- Oh, seu moço!! Seu moço!! Tem uma mulher aqui passando mal...

- Fica quieta!! E fala pra moça aí ficar quieta também! - responde um homem do outro lado.

- Covarde!!! - grita Lola - É isso que você é!! Cê num tem filhos não, seu bandido?! Cê num tem coração??

Do lado de lá ninguém reponde.

- Eu tou bem, já passou... Mas obrigada, mesmo assim - agradece Marisol.

- Num tem de agradecer... - fala Lola, meio contrariada.

- Tenho sim... Lola, eu sei que você me odeia... Mas quero que você saiba que se eu fico encontrando o Esteban não é de propósito, nem pra te prejudicar...

- Tudo bem... eu sei que cê gosta é lá daquele outro, que aparece de vez em quando...

- Eu num quero acabar com o seu casamento com o Esteban... quer dizer, Leon... Só que quero que você entenda, que aquele homem que fica me procurando lá no Copacabana ou na minha casa, não é o seu Leon... É uma outra pessoa diferente que vive no corpo dele, uma outra personalidade... Por isso o Leon num tá te traindo! Quem me procura é o outro...

- Eu sei... mas fica complicado aceitar... - confessa Lola.

- Eu sei que fica, cê acha que eu num tenho ciúme também, de vez em quando? Tenho até mais motivo que você, porque enquanto você fica o tempo todo com o Leon, o outro só aparece um dia em cada semana, às vezes nem isso...

- Eu sei que também num deve ser fácil pra você... Ainda mais nesse estado... Lola olha pra cima, pró tecto, e recomeça a falar sozinha:

- Precisava fazer isso comigo, minha santa?? Eu que sou tão devota, que rezo tanto pra senhora...

Marisol olha também para cima, surpreendida:

- Cê tá falando com quem?

- Nada, esquece... coisa minha!... - explica Lola, envergonhada - O perigosão já sabe?

- Não, ainda não... só fiquei sabendo hoje... Tava saindo do médico quando os bandidos me pegaram...

- Tudo bem. Num precisa tar se desculpando.

- Não, eu tenho que falar tudo! Quero ficar de consciência tranquila! Lola, quando a gente sair daqui, perdoa o Leon... afinal, ele num tem culpa... Você num tem de gostar de mim, e é claro que nunca vamos poder ser amigas, vai ter sempre um pouco de ciúme...Mas vamo aprender a viver com isso sem discussão a toda a hora...

Lola a olha, sem saber o que pensar.

- "Se" a gente sair daqui, né Marisol!! "SE"!!! Ai, minha santa...

Do lado de fora se ouve uma enorme confusão.

- É ele!!! - fala Lola pulando de alegria - Tenho certeza que é ele!!!

- Ele quem?... o Esteban?

- Quem havia de ser? Quem mais ia fazer uma confusão dessas? - responde Lola, ficando impaciente

Leon arromba a porta, entra desvairado e abraça Lola, enchendo ela de beijos:

- Meu amor!! Pensei que não ia te ver nunca mais...

Lola o beija, esquecendo tudo o resto.

- Como você descobriu que a gente tava aqui?

- Eu fui em sua casa, e sua mãe falou que você tinha ido no mercadinho... Eu fiquei te seguindo de longe, sem coragem pra falar com você, só te olhando... Aí vi aqueles caras jogando você dentro daquele automóvel...

- Ai!! Que bom que você encontrou a gente!! - fala Lola, beijando-o novamente.

- A gente?? ... Como assim "a gente"?

Ele olha em volta e vê Marisol.

- Marisol?... Você aqui também?

Ele fica olhando ela, lembrando do Dark, e fica sem saber o que dizer, meio envergonhado. Depois se aproxima dela:

- Porque é que você num levanta daí, algum dos caras te machucou?...

- Não, é só uma indisposição... tá tudo bem...

Leon e Lola se abraçam novamente, apaixonados.






- Vó, cadê a mamãe? - pergunta Julietinha.

- E eu que vou saber? Vai ver o cabeludo acabou encontrando ela lá no mercadinho e tão lá se agarrando no meio das couves...

- Mãe, vou voltar pra Casa Amarilla, não posso ficar muito tempo fora...

- Isso! Vai você também!! - reclama Dolores - Sabe o que é que vocês são? Umas ingratas!! Me deixam aqui sozinha com aquela bichona pulando lá no andar de cima!

- Ah, mãe!! Nem vem não, viu?!! Agora eu sou presidenta, num posso ficar assim só saindo prós lugar que eu quiser, também preciso assinar lá os papel todo, tomar um montão de decisão importante...

- Sei, importante!! Que decisões importantes são essas que você tem de tomar?Se vai ficar se agarrando com o Enrico na sala ou antes na cozinha??

Nesse momento entra Manolo.

- Nunca ouviu falar em campainha, não? - pergunta Dolores.

- Vim só perguntar se ninguém aqui viu a Marisol e a Lola! É que a Marisol tem show daqui a pouco e ainda nem fez o ensaio, e a Lola prometeu pra mim que ia falar comigo, pra gravar um comercial pra rádio...

- Vai ver estão as duas em algum arranca-rabo por aí por causa do Leon. - fala Rubi, roncando enquanto ri.

- Ela deixou até o Esteban júnior comigo, dizendo que ia no médico rapidinho...

- Esteban júnior??... Ah, o filho dela com o Leon? - pergunta Rubi, ligeiramente zangada.

- É... Madresita tá cuidando dele lá em cima! Pensei que a Marisol pudesse ter passado por aqui...

- E a Marisol lá vem na minha casa, por acaso? Sai, sai, vai lá dançar na sua casa...

- Nossa, que mau-humor! - reclama Manolo, saindo.






Lola e Leon estão passeando na praia, de mãos dadas, vendo o pôr-do-sol.

- O que é que aqueles bandidos queriam com a gente?

- Ah, o costume... Pegaram vocês duas pra chegar até mim. E foi uma sorte não pegarem também as crianças! Eles queriam a Fénix... não sabem que já foi destruída. - explica Leon, e depois beija Lola mais uma vez.

- Leon... tem uma coisa que eu preciso te contar...

- É? O quê?

Lola pára e o olha de frente.

- É sobre a Marisol...

- Que é que tem a Marisol?

- Ai... você não vai me perdoar nunca... - diz Lola, angustiada.

Leon fica preocupado:

- Lola, fala pra mim... o que é que aconteceu?

- É que... cê lembra daquela época antes de você ir embora... aquela confusão toda com o seu irmão Adriano... enfim... Cê lembra, né?

- Lolaaa... pára de enrolar, fala logo! Eu prometo que num vou ficar chateado!

- Num promete uma coisa que você num vai poder cumprir... Leon... a Marisol engravidou, nessa época. Ela estava esperando um filho seu quando você foi embora lá pró futuro...

Leon olha Lola meio incrédulo.

- Que história é essa??...

- É isso que você ouviu! Ela engravidou... e pediu pra eu não te falar nada... E eu fui tão tonta, que por ciúme aceitei...

- Grávida?? Perái... então, a essa altura já devia ter nascido uma criança faz muito tempo...

- E nasceu... A Marisol teve um filho seu, chamou até de Esteban...

Leon solta a mão de Lola, em choque.

- O quê?? Vocês esconderam um filho meu todo esse tempo??

- Eu sabia que você num ia me perdoar...

- Num devia mesmo... Não acredito que vocês duas fizeram isso comigo!! - fala Leon, alterado e chateado.

Lola chora.

- Aaaah, Lolaa! Num faz assim, num chora. Você acabou contando a verdade pra mim...apesar de tudo...

- Diz que me perdoa, Leon!

Leon a olha durante uns instantes, magoado.

- Tudo bem. Eu te perdoo. - responde, e dá um beijo nela.

Depois sai correndo.

- Leon?? Onde é que cê vai??

- Vou pedir satisfações pra mãe do meu filho...






A noite no Copacabana está começando. Lentamente o clube vai enchendo de gente. Leon se dirige ao camarim de Marisol, e entra sem nem olhar na cara dela.

- Esteban? Que é que você tem?

Ele não responde.

- Esteban, você tá me ouvindo? Tou falando com você!!

Ele fica olhando o filho no berço, emocionado:

- Nossa, como ele é lindo! E é a minha cara!... Como é lindo...

Marisol percebe que não é Dark que está comandando Leon. Apavorada, ela chora:

- Como é que você descobriu?...

- A Lola me contou tudo.

- Eu sabia!! Aquela mulher tinha de quebrar a promessa que fez!!

Leon pega o filho no colo e encara Marisol, magoado:

- A Lola não tem culpa .... Você que não podia ter feito isso comigo, Marisol!

- Eu fiz o que eu achei certo!

- Então você achou errado!! Como é que você esconde o meu filho de mim? Você engravidou e nem falou nada!!

- Eu tive medo...

- Ah!! Você sempre tem medo, essa é a desculpa que você sempre usa quando apronta alguma coisa de errado!

- Eu tive medo que você quisesse tirar meu filho de mim... - confessa ela, chorando descontroladamente.

- E devia mesmo! Você não podia ter escondido de mim! Esconder meu filho?? Logo você, que sabe que filho é a coisa que mais amo no mundo!!

- Não, não fala assim Esteban... Leon! Se você tirar esse filho de mim eu juro que eu morro! Não faz isso...

- Vai ficar chorando? Não vai nem pedir desculpa?

- Desculpa! Num foi de propósito! Eu escondi o nosso filho porque eu não queria ter de voltar a encontrar com você, e ter de te ver do lado daquela... da Lola... Eu ia sofrer demais tendo de te ver todo o dia com ela... Aí eu achei que seria melhor ficar longe, e ficar com meu filho só pra mim, pra não correr o risco de você querer levar...

- Ele não tem culpa dessa história! Você num pode fazer ele crescer longe do pai só por um capricho seu!

Marisol levanta furiosa quando ouve essas palavras. Ela olha Leon com mágoa.

- Capricho?? Capricho? Cê acha o quê, que pra mim é fácil? Você acha que eu não fico confusa, vendo você aparecer aqui de vez em quando comandado por aquele seu outro lado? Cê acha que eu não sofro com toda essa confusão?

- Eu não tenho culpa...

- Não tem culpa? Nem sei mais!

- Eu num sou responsável pelos actos do outro. Ele é muito diferente de mim. Temos personalidades diferentes, jeitos de andar e falar diferentes, amores diferentes...

- É, bem diferentes!

Ficam os dois sem falar mais nada, durante uns momentos. Finalmente Leon fala:

- Eu não vou tirar seu filho, num tenho esse direito. Mas eu quero ver ele quando eu quiser, levar pra passear, levar na praia...

- Eu sei - interrompe Marisol - Você tem todo o direito de estar com o seu filho. Desde que não leve ele de mim...

Leon fica um tempão olhando pra Esteban no seu colo, com um sorriso enorme. Depois entrega a criança pra Marisol.

- Eu te perdoo Marisol, desde que você cumpra o combinado e me deixe ver meu filho.

- Por favor, não me odeie por isso... - insiste Marisol - Eu não queria te magoar, muito menos esconder seu filho... Mas num teve outro jeito...

- Cê já falou isso, vai repetir tudo de novo? - interrompe Leon, com uma voz fria.

Marisol se surpreende:

- Esteban... essa voz...

Leon sacode a cabeça, confuso.

- É o outro... tá querendo voltar... - fala, nervoso.

Depois percebe que pensou alto e tenta disfarçar:

- Bem, eu vou indo... Venho amanha ver meu filho e levar pra passear...

Ele sai do camarim, e lá fora encontra Johnny.

- Cabeludo!!!!!!!!!! - grita ele, abraçando Leon.

Leon é obrigado a parar.

- Que é isso, me solta...

- Vai já embora?? Vem aqui conversar com a gente!! - continua Johnny, apontando Manolo, que faz um tchauzinho com um sorriso insinuante.

- Não obrigado... eu tenho de sair daqui...

- Ora, ora, porquê essa pressa??

- É... por nada não! Eu tenho de ir...

Nesse momento chega Marisol:

- Seu Manolo, não esquece depois de dar uma olhada no meu filho, enquanto eu tiver fazendo o show... Esteban, você ainda tá aí?...

- É... mas tou indo embora...

- Espera... cê tá machucado! Foram aqueles bandidos que fizeram isso em você, né? Espera que eu te faço um curativo...

- Marisol, é melhor não, eu vou pra casa, a Lola tá me esperando...

- Imagina! É só um curativo, não vou tirar nenhum pedaço seu pra Lola sentir falta.

Ela chega perto e segura o braço dele, examinando o machucado no ombro.

Nesse instante Leon sente Dark mais forte que nunca, querendo tomar conta.

- Não Marisol! Pode deixar, a Lola faz isso lá em casa...

E sai correndo do Copacabana. Marisol fica sem entender nada.

- Nossa, o cabeludo ficou estranho! Parecia o Diabo fugindo da cruz! - fala Johnny.

- Não era da cruz que ele tava fugindo ... - fala Manolo irónico, olhando Marisol - Mas que o diabo tava quase tomando conta dele, isso tava sim...

- Ah... num entendo mais nada! Bom, tá quase na hora de subir no palco. Até já, seu Manolo...

- Até já menina! E tem cuidado, não fica provocando o "diabo", que ele acaba aparecendo por ai...






- Você demorou, meu amor!!

- Eu sei, demorei um pouco. Mas já tava morrendo de saudades suas!

- E resolveu suas coisas lá com a Marisol?

- É, mais ou menos...

Leon encosta Lola no fogão e começa a beijá-la.

- Leon... espera... não pode...

- Num pode porquê? - fala Leon, desesperado.

- Eu sei que eu tou esquecendo alguma coisa...

- Ah, Lolaaaa.... Depois você lembra.

Ele desaperta o vestido dela.

- Ai... Leon... não... espera... não... - pede Lola, cheia de siricutico - Ah, quer saber??!! Não espera nada!!

Ela empurra Esteban para o quarto e os dois ficam se beijando apaixonadamente.

- Ai!! Lembrei!!!

Leon perde a paciência:

- O que foi agora Lola!! Lembrou do quê??

- Não precisa falar assim comigo... - reclama ela, amuando.

- Ah, Lola! É que eu tou ficando louco! Cê provoca e depois fala que num pode??

- É, tou vendo... cê voltou meio doido lá do Copacabana... Foi a Marisol que te deixou assim?

- Que ciúme bobo, Lola! Você que me deixa desse jeito! Fica me agarrando e depois foge!!

- É que eu lembrei que fiquei de ir lá falar com o seu Manolo, por causa daquele comercial que eu vou fazer pra rádio...

- E isso num pode ficar pra depois?...

- Não, meu amor! Tenho de ir lá rápido...

- Lola! Num faz isso comigo, por favor! Eu preciso que você fique aqui comigo!

- Como assim? Porquê essa urgência toda?

- Ah, nem sei... Minha cabeça tá estranha, mesmo!

Lola faz um carinho nele.

- Que coisa feia, Leon! Inventando desculpa pra eu ficar aqui com você! - fala ela, sorrindo - Eu vou falar com seu Manolo rapidinho, e depois venho correndo pra casa. Aí temos a noite toda só pra nós dois! As crianças pediram pra dormir lá na Casa Amarilla, a Rubi ficou tomando conta.

- Mas Lola...

- Tenho de ir, meu amor! Quando eu voltar, tem uma coisa que eu quero contar pra você... Tenho certeza que você vai ficar muito feliz!

Ele sai sem deixar Leon falar mais nada.






Rubi entra na sala e encontra Dagoberto amordaçado e amarrado numa cadeira com uma corda.

- Dago? Que é que cê tá fazendo aí?? Deu pra brincar feito as criança, agora?

- Ah, tia Rubi!! Cê tá atrapalhando tudo! - reclama Gabriel.

- Ué, atrapalhando o quê?

- A gente tá brincando de índio e cowboy!!

- Ahhh... deixa adivinhar, o Dago é o índio, né? - pergunta Rubi, rindo muito.

- É, por isso que a gente amarrou ele aí!

Dagoberto se contorce na cadeira, e tenta falar, mas não consegue por causa da mordaça que tem na boca.

- Mmmmf ira aqui!!!!

- Quê? Que é que cê tá falando? - fala Rubi, ainda rindo e destapando a boca dele.

- Dona presidenta, me tira daqui!!! Por favor, tenha piedade!! Esses monstrinhos, me amarraram aqui!!

- Ah, imagina!! E vou acabar com a brincadeira das crianças?? Nem pensar, cê vai ficar aí mais um pouquinho, índio atrevido!! - depois olha as crianças todas usando um chapéu de cowboy e pergunta - Tem ai mais um chapéu desse pra mim?






Rico entra no Copacabana com o som contagiante de um Mambo. As meninas correm pra ele.

- Oi, gente!! Tudo bem?? Nossa, que saudade de tudo isso aqui!!! Mas não encosta muito em mim não, porque se a Rubi descobre que alguma mulher nesse clube passou a mão em mim, ela me mata!!

- Ai, Rico! Nem parece mais você! - amua uma das meninas.

- É que agora eu sou comprometido! Sabe como é, né! - ele olha em volta e pergunta - Por acaso nenhuma de vocês viu a Marisol por aí, não? Tou querendo falar com ela faz um tempão...

- Não, não vi... - fala a outra das meninas, ofendida.

Rico vai bater na porta do camarim de Marisol. Ela abre, e o cumprimenta com um sorriso.

- Rico! Tudo bem com você?

- Tudo!!... É... posso entrar? O tufo num tá aí não?

- Quem?? - pergunta Marisol, surpreendida.

- Ah... deixa pra lá, nada não. Posso entrar aí?

- Pode, mas num faz muito barulho, porque o Esteban tá dormindo aí no berço!

Rico dá uma espiada no berço e fala:

- Nossa Marisol, seu filho tá lindo, mesmo!!

- É, eu sei! - responde ela, orgulhosa

- E é tão parecido com o lobisomem... Pena que quando crescer vai ter o desgosto de ficar com tufo de pelos por tudo quanto é lado, feito o pai!

Marisol ri:

- Ai, Rico, que exagero!

Rico faz um ar sério:

- É... Marisol... eu vim saber como é que você tá.

- Ué, tou bem, como você queria que eu tivesse?

- Aquele perigosão lá não anda te tratando mal, anda?

- Não! A gente tá se entendendo! Ele não é tão mau quanto ele gosta de parecer. Mas o Leon teve aqui faz pouco tempo... Ele já tá sabendo do filho...

- Mas... cê quer dizer o lobisomem bonzinho mesmo? Nossa! Ele ficou muito bravo?

- É, um pouco...

- Isso é tudo tão complicado pra minha cabeça... Por exemplo, como é que você sabe quando é o perigosão que tá comandando o corpo do lobisomem...

- Ah, é muito fácil perceber! Ele me olha com uma paixão, um desejo, como se o mundo fosse desabar! E fica sempre com aquele jeito orgulhoso feito criança pequena ... Tão ciumento que às vezes dá até medo! - confessa ela.

- Se você precisar de alguma coisa, é só falar, que eu venho correndo te livrar daquele tufo. Amigo é pra essas coisa, né!

- Imagina, Rico!! Deus me livre, de você aparecer aqui pra brigar com ele! Da última vez quase aconteceu uma desgraça! Cê lembra, naquela época em que você tava escondendo de mim que o Esteban se dividia em dois? Ele te deu uma surra lá em minha casa!

- Também não foi assim bem bem uma surra, né Marisol? - fala Rico, tentando disfarçar - É que ele me pegou desprevenido, senão bem que eu tinha acertado uns murro nele... Mas se ele tem assim toda essa coisa doentia de ciúme que você tá falando, porque é que você não foge dele?

- Ah, porque eu amo demais esse homem! Mesmo que eu tentasse não ia conseguir ficar longe dele! E além disso, ele ia me achar nem que fosse no fim do mundo!

- Cê que sabe...

- E como vai seu casamento? Tudo bem com a Rubi?

- Não é pra me gabar não, mas eu sou muito feliz com ela! A gente tá até pensando em ter mais filho...

- É? Que bom que cê tá feliz Rico! Você merece!

Nesse momento alguém bate na porta. Marisol abre e do outro lado aparece Leon, que entra sem dizer nada.

Marisol o olha e percebe que é Dark.

- Esteban... já não esperava você hoje!

Ele não responde e observa Rico fixamente.

- Que é que você tá fazendo aqui? - pergunta, furioso.

- Rico, é melhor você ir embora... - pede Marisol.

- Você fica quieta!!! - ordena Leon. Depois olha Rico mais uma vez - Num falei pra ficar longe dela? Vou ter de acabar com a sua raça pra você perceber??

- Cê não tem nada que ver com isso, tá bom? Eu vim aqui conversar com a Marisol, e não tenho que ficar te dando explicação.

Dark acerta um soco em Rico, que cai no chão.

- Não!!!! - grita Marisol, desesperada - Pára com isso Esteban!!! Vai embora Rico!

Rico levanta do chão, com o nariz sangrando.

- Não vou deixar você aqui sozinha com esse perigosão aí!

Dark tenta bater em Rico novamente mas Marisol se coloca entre os dois.

- Não!!! Se você bater nele, eu juro que não vou olhar nunca mais na sua cara! - fala ela, encarando Leon - Cê tá me ouvindo!!

- SAI DA FRENTE, MARISOL! Eu tou mandando!!

- Não!! Cê ouviu o que eu falei?? Se você encostar um dedo no Rico, eu juro que você nunca mais chega perto de mim!!

Dark fecha os olhos e faz um esforço enorme pra se controlar e não bater no Enrico.

Marisol pede:

- Vai embora, Rico!

- Mas Marisol...

- Vai embora Rico!!!!

Enrico sai, meio humilhado e impressionado.

Leon agarra Marisol:

- Porque é que você defendeu ele, sua vagabunda??!!!

- E eu ia fazer o quê? Por que é que você tinha de bater no coitado do Rico?!!

- Tinha de bater mesmo!! Tá com pena dele??

- O Rico é meu amigo! Que mal é que tem ele vir aqui falar comigo??

- Num quero, e pronto! Entendeu?? Ou vou ter de explicar tudo de novo pra você? Eu acabo com a raça desse cara se eu apanho ele aqui outra vez.

Marisol se desespera e chora.

- Pra quê tanto ciúme? Pra quê tanta raiva? Eu num te trato bem?

Ele agarra ela com mais raiva ainda:

- É que eu num quero ser corno novamente! Vagabundas como você eu trato com rédea curta. Você é só minha Marisol!

- Ai... cê tá machucando o meu braço! Num faz assim!

Dark solta Marisol, e ela quase desmaia. Ele a segura, e fica nervoso.

- Que foi... num tá se sentindo bem?

- Eu tou bem... acho. - fala ela, atordoada - Isso tem me acontecido várias vezes... Aliás, tem uma coisa que eu preciso falar pra você...

- Fala.

- É que eu fui hoje no médico...e... eu tou esperando um filho seu.

- Outro, já? Nossa, eu tou ficando cada vez mais eficiente.

- Vai querer me culpar disso também, é? Eu num fiz nada sozinha! - fala Marisol, recomeçando a chorar.

- Num tou culpando você da nada. - interrompe ele - Que é isso, Marisol, chorando de novo? Você chora demais.

Depois pega ela no colo e a deita no sofá.

- Cê entendeu bem o que eu falei? - insiste ela, insegura.

- Porquê, num era pra entender?

- É que você num falou mais nada...

- E precisa? Você tá grávida, num é isso? Então, já entendi. E vou já avisando que num quero você batendo perna aí pelo clube com um filho meu na barriga, escutou bem o que eu falei?

Ela sorri e responde:

- Sim, escutei.

Depois antes de ela poder falar mais Dark a beija ardentemente.






Lola está sentada na areia da praia, vendo o mar e Rico fazendo companhia pra ela.

- Você está se sentindo melhor?

- Tou sim. Não se preocupa comigo, Rico. Vai lá ter com a Rubi, ela já deve tar preocupada. Cê já fez a sua parte me dando o seu apoio.

- Ah, Lola! Não vou deixar você aqui sozinha, assim triste... Está aí nessa tristeza desde a noite de ontem, e já passou a manhã inteira aqui quieta!

- Num tou triste. Nem lembro mais nada, já esqueci. - mente Lola. Depois confessa: - Como se fosse possível esquecer o Leon entrando lá no camarim da Marisol...

- Lola, veja as coisas assim: não era o lobisomem! Pelo menos não o lobisomem certinho, que fica limpando o chão, consertando as coisa, tratando dos filho. Era o outro.

- E não é a mesma coisa, Rico?! Que interessa se era ele ou o outro, o corpo é o mesmo!

- Imagina se é a mesma coisa!!! O lobisomem parece que aumenta uns dois metro de altura quando o outro assume!! Fica com aquela voz grossa lá, batendo em todo o mundo! O corpo é o mesmo, mas não é a mesma coisa! Eu já apanhei dos dois e sei que não é!

Lola sorri.

- Ai Rico, só você mesmo pra me fazer rir! Maldita a hora em que eu fui lá no Copacabana falar com o seu Manolo... Agora vai, Rico! Você já me ajudou, e eu te agradeço do fundo do meu coração!! Mas eu preciso ficar sozinha...

Rico faz um carinho nela e vai embora.

Lola fica olhando o mar durante um tempo, chorando, até que sente alguém caminhar atrás dela e se aproximar, mas não olha, com medo que seja Leon.

- Cê num vai falar comigo? - pergunta Leon, sem saber o que dizer.

- Teve uma boa noite? O camarim da Marisol tava bom? - responde Lola, magoada.

- Eu encontrei o Rico quando tava vindo pra cá. Ele me contou tudo, inclusive da surra que eu dei nele. Ou melhor, que o outro deu nele. Mas parece que pra você é tudo a mesma coisa.

Ela não responde, e levanta pra ir embora.

Leon se ajoelha e agarra os pés dela, desesperado.

- Lola, num faz isso comigo!! Por favor! Não me deixa assim!

Lola fica quieta, chorando em silêncio.

- Eu sei que deve ser duro pra você sempre que o outro procura a Marisol!... Mas Lola, ele e eu somos diferentes!!! Eu te amo! O que é que eu tenho que fazer pra meter isso na sua cabeça??

- Já falou tudo? É que eu preciso ir andando. Me solta, por favor. - fala Lola, num tom de voz frio.

Leon a solta.

- Você num vai me perdoar nunca, não é? Você prefere ser injusta comigo em vez de me perdoar por uma coisa que eu nem sequer tenho culpa.

Lola explode de indignação:

- Injusta??? Injusta??? Mas eu sou burra mesmo, não devia nem ficar aqui te ouvindo!!

Ela sai correndo mas Leon a agarra e caem os dois na areia. Lola tenta fugir e eles acabam se beijando, apaixonados. Depois ficam abraçados se olhando.

- Eu te amo e você me ama! Será que isso não é suficiente? Porque é que a gente num pode ser feliz?

- E como que vai ser, Leon! Cê já pensou nisso? Você saindo de noite e correndo lá pró Copacabana pra encontrar ela?

- Lolaaa... já falei que num é culpa minha! Eu num controlo o outro! Será que o seu amor num é suficiente pra entender isso?

- Não é uma questão de amor!

- É sim! Você num pode me fazer pagar por uma coisa que é o outro quem faz, não eu! Sempre que você quiser ficar brava por causa disso, você tem ficar brava com ele, não comigo!

Ela não responde, e fica pensando.

- Por favor, Lola! O que não pode acontecer é a gente deixar de viver nosso amor por causa disso! Eu não sei mais viver sem você...

Eles se beijam novamente.

- Fica comigo...

- Bem, também não dava pra ser tudo perfeito, né? Mas não vai ser fácil pra mim...

- Eu sei que não. É pra isso que eu vou tar sempre do teu lado no dia seguinte, pronto pra ouvir suas reclamações, pra aguentar seus ciúmes da Marisol, e pra beijar você o dia inteiro, até você me pedir pra parar.

- Não vou pedir pra você parar nunca!

Ele sorri.

- Imagina se eu posso ficar longe de você... É só ver esse sorrisão lindo que fico tonta... - confessa Lola.

Leon fica fazendo carinho nela, até que ela fala:

- Tem uma coisa que eu quero falar pra você. Eu ia contar ontem, mas ai aconteceu tudo aquilo...

- Pode falar agora! Que foi?

- É que eu descobri faz uns dias... que eu tou esperando um filho seu...

Leon faz um sorriso enorme.

- Um filho? - pergunta ele, rindo de felicidade.

- É, um filho. Nossa, seu olho ficou até brilhando!!...

- E não é pra ficar?? Um filho!!! É bom demais pra ser verdade! Eu te amo...

Eles se abraçam e ficam o resto da manhã se beijando, deitados na areia da praia.






(3 meses depois)

- Dá pra ficarem quietos?????? - grita Dolores pela milésima vez.

As crianças correm ainda mais depressa em volta do sofá, derrubando uma jarra.

- Viu?? Viram o que vocês fizeram?? Bando de índio insolente!!! Devia arrancar o escalpe de todos vocês!

Leon e Lola entram na sala, abraçados.

- Num fui eu pai!!! - fala Gabriel - Foi a Pilar que derrubou a jarra!

- Eu??? - fala Pilar, indignada - Num fui eu não, pai, ele tá mentindo!!

- Então quem foi? - pergunta Leon, fingindo cara de mau.

- Eu não fui! - falam as crianças todas ao mesmo tempo.

Leon ri.

- Vão ficar aí rindo?? Ninguém vai tomar providências??? Tem uma jarra partida aí no chão, esperando um culpado!!! - reclama Dolores.

- Ah, mãe! Cê nem ligava pra essa jarra, falava que era só mais um dos presentes cafonas da tia Cotinha!

- Você fica quieta!! Por acaso eu tenho cara de santa pra ficar perdoando e dando bênção? Eu quero um culpado, pra juntar todos os pedacinhos e colar um por um!!

- Não se preocupe que eu trato disso, dona Dolores! Vou agora mesmo pegar uma vassoura pra varrer tudo... - fala Leon, e vai procurar uma vassoura.

- Acho bom mesmo!

- E aí, mãe! Tá gostando da casa nova? Como tem espaço! A senhora não acha?- pergunta Lola.

- Espaço demais... Quem vai ficar limpando? Vai sobrar pra mim como sempre!

- Ai mãe, que má vontade!!

- E ainda por cima aquela bicha do Manolo lembrou de vir morar com aquele namorado dele que é fã do cabeludo e com a chata da mãe aqui no andar de cima!!! Tanto sítio pra morar e tinham que vir justo para aqui, pra copiar a gente??

- Oi geeente!!! - fala Rubi, que vem entrando, junto com Rico - Até a porta cês deixam aberta! Nossa, é bonita mesmo essa casa!

- Ah... é bonitinha, mas bonita mesmo é lá a nossa Casa Amarilla, né Rubi? - pergunta Rico. Depois chega perto de Lola e fala baixinho:

- Já contou pró lobisomem?

- Já contei o quê, Rico? Desdêmona, minha filha, cê é muito pequena pra ficar correndo assim, os outros vão acabar passando em cima de você!

- Ah... cê sabe Lola! Não é só sua barriga que tá crescendo. A Marisol também tá ficando com um barrigão, e tá sendo difícil pra ela disfarçar sempre que o Leon vai lá pegar o Esteban pra levar pra passear...

- Depois, Rico... depois... num fica me lembrando isso agora!

- Lola! Cê tem que pensar nisso... Ela tá passando o maior sufoco, escondendo essa gravidez do Leon... A Marisol tá até sendo gente boa com você, porque ela só tá fazendo isso porque você pediu pra ela...

- Eu sei... Mas deixa ela passando sufoco só mais um pouquinho... - fala Lola, sorrindo maliciosamente.

- Ah, Lola! Vai que o perigosão deixa um bilhete no bolso pró Leon ficar sabendo, como ele fazia antes...

- Rico, a Marisol e o outro num tão se entendendo, lá do jeito deles?

- É, tão se entendendo sim! Ainda ontem ele...

- Me poupa os detalhes, Rico! Eu sei muito bem onde o Leon foi ontem, num quero falar desse assunto, num fica me lembrando!! Mas então, se ela é feliz assim lá com o outro, ela que me deixe ao menos ser feliz com o MINHA parte do Leon. Quando eu achar que devo falar eu falo.

- Cê tem razão. Mas tem cuidado, tá? - pede Rico, sorrindo.

Leon volta, e dá um beijo em Lola.

- E aí, tavam falando de quê? - pergunta ele.

- Nada meu amor, nada... Me dá outro beijo!

Ele sorri e dá um beijão nela.

- Gente, tenho uma surpresa pra vocês!!! Adivinha quem vai cozinhar hoje?? - pergunta Rubi, entusiasmada.

Todos gritam em conjunto:

- Ai, não! A batata da Rubi não!!



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