POEMAS DE AMOR E SAUDADE

EU TE AMO ( I )

Eu te amo ao despontar de cada dia,

Quando os pássaros despedem-se dos ninhos

E os raios de sol, quentes, dardejam,

Sobre as águas tranqüilas da baia.

Eu te amo quando vejo uma criança

Saltitante, brincando pela rua.

Pois pergunto-me : Quem sabe se outrora,

Quando foste também uma criança,

Não brincaste também na mesma rua ?

Eu te amo qual às pétalas da rosa,

Que a gente roça os lábios, bem de leve,

Com o mais puro e límpido dos beijos.

Eu te amo como à tela mui formosa,

Que a gente para, ve e segue breve,

Sem ousar profaná-la com os dedos.

Eu te amo quando olho para o alto

E me perco no espaço entre as estrêlas.

A procura - quem sabe ? - de outros mundos,

Onde a vida esteja apenas começando

E eu possa sentir ir avançando,

Por caminhos mais vastos, mais profundos...

Eu te amo, enfim, por toda parte,

Eu te amo, enfim, a todo instante,

Quase sempre ao mundo proclamando

Êste amor da forma mais vibrante.

Outras vezes, contudo, é diferente :

Eu te amo, mas ninguém percebe nada.

Não te toco, nada digo, só te vejo.

Se tu sentes é por veres nos meus olhos,

Emergindo das muralhas que me abrigam,

A imagem fugitiva de um desejo...

 

A LUA DENTRE AS NUVENS...

A lua dentre as nuvens se ocultava,

Quando meus lábios teus lábios buscavam.

E a contemplar-te, em êxtase, eu ficava,

Até que as horas vis nos separavam.

Quando meus lábios teus lábios buscavam,

Na fervorosa angústia de um desejo,

Até que as horas vís nos separavam,

A vida era vivida num só beijo.

Na fervorosa angústia de um desejo,

Terra virava céu num só segundo.

A vida era vivida num só beijo

E entre os seus lábios se encerrava o mundo.

Terra virava céu num só segundo.

Tudo eram flores, risos, esperanças.

Entre os seus lábios se encerrava o mundo,

De sonhos povoavam-se as lembranças.

Tudo eram flores, risos, esperanças,

A emoldurar as coisas mais singelas.

De sonhos povoavam-se as lembranças,

Que doces sonhos, que ilusões tão belas.

A emoldurar as coisas mais singelas,

Minhas palavras meu amor diziam.

Que doces sonhos, que ilusões tão belas,

Teus meigos olhos tanto prometiam.

Minhas palavras meu amor diziam.

A chama da paixão se encandecia.

Teus meigos olhos tanto prometiam

E a tua boca rubra se fazia.

A chama da paixão se encandecia,

Ao dar-te o último beijo, o da saudade.

E a tua boca rubra se fazia,

Não sei se por pudor ou por bondade.

Ao dar-te o último beijo, o da saudade,

Discreta, vendo assim quanto eu te amava,

Não sei se por pudor ou por bondade,

A lua dentre as nuvens se ocultava.

 

TER VOCÊ

Entre mil flores há uma rosa diferente.

Entre mil sóis há uma estrela mais brilhante.

Entre mil cegos há de haver algum vidente.

Entre mil pedras há de haver um diamante.

Entre as lágrimas há de haver sempre um sorriso.

Por dentre as trevas uma luz despontará.

E nos desertos há de haver um paraíso,

Para os trôpegos viajantes abrigar.

Eu tenho a rosa e o diamante,

Tenho também aquele paraíso

E ainda aquela estrêla mais brilhante.

Mas nào é só, posto que tenho

Mil outras coisas vitais.

Pois tendo você, eu tenho

Tudo isso e muito mais.

 

A UM AMOR DO PASSADO

Eu te amei tanto, tanto, há tanto tempo,

Que o amor venceu a erosão dos anos,

Ora dormindo, as vezes despertando,

Invadindo meu ser, meu pensamento.

Recordando tristezas, mil enganos,

Mil lembranças, ternura evocando.

Mas, se hoje, meu amor não mais te imponho

Posto que somos rios separados,

Correndo para mares diferentes,

Compenso-me amando-te em meu sonho :

De novo, somos dois apaixonados,

Somos, de novo, dois adolescentes.

 

ENCONTROS

Quando pela primeira vez nos encontramos,

Eu nem sequer imaginar podia,

Que no futuro um dia chegaria,

A atingir o ponto a que chegamos.

Foi uma luta travada dia a dia,

Conquista extenuante que, conquanto,

Mesmo quando ela me causava pranto,

Eram lágrimas de amor e fantasia.

E hoje, longe de tí, minha saudade,

Que de tão forte beira o desatino,

Me diz que ao encontrar-te, na verdade,

Eu estava encontrando o meu destino.

 

PRESENÇA E AUSÊNCIA

Tua presença ocupa tudo diante dos meus olhos,

Infinita como o próprio universo em expansão.

A tua ausência, esta é ainda mais presente,

Pois cria uma muralha de saudade

Que constringe meu inquieto coração.

Mas infinito é também o meu pecado,

Pois quero ver, sacudido de desejos,

Por volúpias criadas por meus beijos,

Teu corpo viciado, ávido e formoso.

E ouvir, enfim, um grito liberado

Pela fúria incontida do teu gozo.

 

SERÁ ?

Será que de amor mesmo eu não entendo ?

Onde ficam a mágica e o segredo ?

Calar ou, na dúvida, ir dizendo

Aquilo que se pensa sem ter medo,

O medo de magoar o sêr amado ?

Se num gesto inconsciente ergo o dedo,

Será isto, por acaso, algum pecado ?

E quanto aos momentos de carinho ?

Não contam ? Vão ficar postos de lado ?

Meu bem, te peço : mostra-me o caminho.

Já te disse : sou só uma criança,

Em matéria de amor não criei ninho.

Se muito, tenho só uma lembrança,

Tão vaga, que eu agora compreendo

Que tudo não passou de uma esperança.

E hoje, quando este sonho estou vivendo,

Confesso : eu me pergunto a todo instante :

Será que de amor mesmo eu não entendo ?

 

O QUE EU SINTO POR VOCÊ

Você sabe o que eu sinto por você ?

Amor, eu vou lhe dizer,

Embora não saiba bem porque.

Mas, afinal, p'ra que saber ?

Eu sinto um imenso carinho

Que vem bem devagarzinho

Do fundo do coração.

E até parece loucura,

Sentir tamanha ternura,

Sentindo tanta tesão.

Você não sabe que delícia

É lhe cobrir de carícia,

Até você delirar.

Olhando você vir vindo,

A gente fica sentindo

Como é gostoso lhe amar.

A excitação vai crescendo

E ouvindo você gemendo,

Dá vontade de gritar.

Fica tudo tão sacana,

Sacana, mas muito bacana :

No fim lhe agarro com gana

E gozo com seu olhar.

 

SEM TI

Sem ti. Como seria a minha vida ?

Um deserto frio, inanimado ?

Uma noite atroz onde, perdida,

Minha alma vagaria, tendo ao lado

A saudade triste do passado ?

Sem ti, como seria o meu futuro ?

Um caminhar eterno pelo espaço ?

Um abismo profundo, um céu escuro,

Vendo surgir-me à frente, a cada passo,

A imagem dolorosa do fracasso ?

Sem ti, como seria o meu destino ?

Uma estrada sem fim, terra vazia ?

Um buraco nas trevas, pequenino,

Onde eu fosse parar, talvez um dia,

À procura da luz que não viria ?

Não amor, sem ti eu não teria nada.

Nem vida, nem destino, nem futuro.

Nada disso p'ra mim existiria.

Porque, meu bem, isto eu te juro :

Sem ti, em um momento eu morreria!

 

A BRASA OCULTA

Devagar, se aquecia a brasa oculta.

Eu a via fulgir, por um segundo,

Oscilante, escondida lá no fundo

De teus olhos, fingindo-se sepulta.

Um dia ousei soprá-la e, de repente,

Eclodiu o mais celestial inferno.

Porque, deste querer, eterno e terno,

Brotou um tal desejo incandescente,

Que cresceu na fogueira da paixão,

Percorrendo-te o corpo em mil sentidos.

Teu olhar disse sim e então, depois,

Eu chamei o teu nome com tesão,

Tú chamastes o meu entre gemidos

E a terra estremeceu sob nós dois.

 

LONGE DE VOCÊ

Eu me sentia só quando chegava a noite

E vinha a saudade trazendo a solidão

Escura, fria, cortante como um açoite,

Chicoteando meu sofrido coração.

Eu me sentia só quando chegava o dia,

Posto que até nem mesmo o sol aparecia.

Porque ? Não sei.

Apenas sei o quanto é que eu sofria

E, a cada instante que passava, eu mais sentia

Que não queria, não devia, não podia,

Continuar vivendo longe de você

 

SE FOR POSSIVEL SONHAR (I)

Se for possível sonhar,

Quero sonhar com seus lábios.

E o erotismo dos seus beijos.

Se for possível sonhar,

Quero sonhar com seus olhos.

E a sedução do seu olhar.

Se for possível sonhar,

Quero sonhar com seu corpo.

E o gemido do seu gozo.

Se for possível sonhar,

Quero sonhar com as estrelas.

E, bem de perto, ao vê-las,

Ver a luz do seu olhar.

Se for possível sonhar,

Quero sonhar com o infinito

Com o cometa mais bonito

Onde nós iremos morar.

Se for possível sonhar,

Quero sonhar que é verdade

Que você, na realidade,

Jamais vai deixar de me amar.

Mas,

Se não for possível sonhar,

Então,

Eu quero ao menos pensar

Que você, minha querida,

Encanto da minha vida,

Vai me aparecer dizendo:

"Meu amor, estou querendo

Para os seus braços voltar

E nunca vou lhe deixar..."

 

 

 

EU TE AMO ( II )

Eu te amo, talvez desde a infância,

Da infância de teus primeiros dias,

Em que eu passava, parava, olhava,

E lá estava tu, toda de branco,

De amarelo, as vezes de azul,

Na janela. Um sorriso de lírio

Bailando numa boca de veludo.

Eu te amei, também, depois.

Mas então estavas mais crescida,

E, no jeitinho de menina-moça,

Desabrochava a rosa da mulher.

A mulher à quem, muito depois,

Eu voltei a amar um certo dia.

E, deste amor, fiz sonho, poesia...

E fui amando, amando, amando,

Ouvindo os cânticos suaves de cupido

Cantando p'ra nós dois e, embevecido,

Assistia o tempo ir passando.

E, cada vez mais e mais ia te amando.

E o amor foi crescendo na esperança.

E hoje, quando adoro a mulher e a quero tanto,

Eu sei que, na verdade, estou amando

Aquela linda e trêfega criança...

 

ADEUS AO DESPONTAR DA AURORA

Adeus eu disse ao despontar da aurora,

Ao afastar-me do teu doce encanto,

Deixando apenas no meu rosto o pranto

De uma saudade atroz que a alma devora.

Ao afastar-me do teu doce encanto,

Eu nem siquer imaginar podia,

Que no futuro chegaria um dia,

A compreender que te queria tanto.

Eu nem siquer imaginar podia,

Que, ao relembrar o teu olhar sereno,

Teu corpo ardente, teu calor moreno,

A te implorar perdão eu voltaria.

Que, ao relembrar o teu olhar sereno,

Viver escravo à dúvida inconfessa,

Seria o meu destino, bem depressa

Eu me afastasse do teu riso ameno.

Viver escravo à dúvida inconfessa,

À indecisão que a mente crucifica.

O meu orgulho aconselhando : fica!

Meu coração a murmurar : regressa!

A indecisão que a mente crucifica,

Fez-me bater de novo a tua porta,

Com todo afeto que a paixão comporta,

Com todo ardor de que a esperança é rica.

Fez-me bater de novo a tua porta,

Mas eu batí em vão : tinhas partido,

Ficando eu só, a amargurar, vencido,

O sofrimento da esperança morta.

Mas eu batí em vão : tinhas partido.

E compreendendo, muito tarde agora.

Toda tristeza que causei-te outrora,

Chorei o pranto desse amor perdido.

E compreendendo, muito tarde agora,

Que o que se perde não se recupera,

Ao ver findar a noite, em vã espera,

Adeus eu disse ao despontar da aurora.

 

AQUELA NUVEM PERDIDA...

Aquela nuvem perdida de outro dia,

Hei de fazê-la minha nem que a Terra,

Contra mim se revolte e se desabe.

Hei de fazê-la minha, nem que acabe

Toda a ilusão de amor que em mim se encerra.

Aquela nuvem perdida de outro dia,

Hei de fazê-la minha, só Deus sabe

Deste desejo atroz que a mim se aferra.

Hei de fazê-la minha, pois aquela

Linda nuvem perdida de outro dia

É bem igual a tí, pois tu e ela

Fogem sempre de quem as assedia.

Ela corre dos ventos que a perseguem,

Se escondendo depressa entre os rochedos.

E tu ,quando beijo-te em meus sonhos,

Esgueirando-se furtiva entre os meus dedos.

 

MARIA

Maria partiu um dia.

Partem sempre as Marias.

Foi um romance tão curto,

Que as vezes fico pensando,

Se havia mesmo Maria

Ou se eu vivia sonhando.

E agora, meu Deus, que sinto ?

Não sei se sinto saudade

Ou desalento profundo.

Só sei que, por este mundo,

Alguém há de ter, um dia,

Os dias que um dia eu tive,

Antes do adeus de Maria

 

IRMGARD

Irmgard, jardim de flores,

Pura deusa germânica de amores,

De olhos claros, lindos e tristonhos,

Relicário de meus eternos sonhos,

Onde estás, onde estás, meu bem, agora ?

Irmgard, eu te amei, não o duvides.

Eu te dei o mais lindo dos amores,

Eu te dei um amor todo de flores,

Que se embala no leito da saudade.

Eu te dei um amor só de renúncias,

Que persiste por toda eternidade.

E tu, o que me deste ? Deste tudo.

Tu me deste todo teu encanto,

Tu me deste a pureza dos teus beijos,

Tu me deste a ternura do teu pranto.

Mas, acima de tudo, tu me deste

Uma existência inteira num momento,

Me fazendo sentir, ao mesmo tempo,

O sofrimento de uma despedida

E a doce sensação de ter vivido

O mais perfeito amor da minha vida...

Adeus, deusa germânica de amores,

Adeus, relicário dos meus sonhos,

Adeus, encantador jardim de flores...

 

UMA ESTRANHA EM MINHA VIDA

Deixaste-me num compasso de espera

Mas à espera de que, de uma quimera ?

Sim, pois nem sabes que, da noite para o dia,

Viraste musa, deusa e fantasia,

De quem mal te conhece, mas, no entanto,

Sonha e faz desse sonho poesia.

Para ser lembrado, ainda que este encanto

Se esvaneça, qual toque de magia.

Pois ele acaba quando a gente sente

Que andou querendo, lamentavelmente,

Alguém por quem querer jamais podia.

 

AOS TEUS OLHOS

Quando tu andas, sigo o movimento

Sedutor e macio dos teus passos.

Se escuto a tua voz, nesse momento

Meu coração desfaz-se em mil pedaços.

Se tu sorrís, alieno-me do mundo.

Nada mais sei. Sou só um vagabundo

Perdido entre ruínas e escolhos.

Se sinto-te excitada, então me afundo

Na imensidão do teu olhar profundo

E morro, em vida, dentro dos teus olhos.

 

TEUS OLHOS SÃO DOIS BRASEIROS...

Teus olhos são dois braseiros,

Lançando fogos brejeiros,

Dizendo do "charme" teu.

Teu riso é rio sereno,

Correndo em vale moreno,

De um rosto que é todo meu

Por teus cabelos luzentes,

Meus dedos correm contentes,

Felizes por te afagar.

E os lábios meus, com ternura,

Na tua boca, o' doçura,

Saudades tentam matar.

 

MEU VÍCIO

Faz pouco que fui embora

Eu fui, mas fui sem vontade.

Podia ainda estar agora,

Te dando amor de verdade.

Eu mergulhei de cabeça

Neste louco precipício.

E mesmo que não pareça,

Tú te tornaste meu vício

Meu vício, minha cachaça.

Esta paixão me sidera.

Por tua mente não passa

Que é duro ficar na espera ?

Espera p'ra te rever,

Espera p'ra te afagar,

Espera p'ra te fazer

Sentir como é bom tranzar.

- - - - - - - - - - - - - - - - - -

Pra de novo te mostrar

Como a gente vai gozar.

 

NOSSA VIDA

Nossa vida decorre como um vento

Que ora é uma brisa a acalentar os dias

E, de outras feitas, vendaval intenso.

A nossa vida é como o pensamento :

Por vezes cheio de ilusões vazias,

Repleto, as vezes, de um calor imenso.

Há momentos de dores e de festa.

É verde, branca, azul, quando estás perto,

Cinza, roxa, negra, se és distante.

Há nela as alternâncias da floresta :

Por dentre os cipoais, um lago aberto,

Dentre os espinhos, a rosa exuberante.

É isto que compõe os mil instantes,

Desta vida que, juntos, de mãos dadas,

Percorreremos com tanta ansiedade.

As vezes, tropeçamos, vacilantes,

Mas logo seguimos e, de mãos dadas,

Caminhamos até à eternidade.

 

QUANDO A NOITE CHEGAR

Quando a noite chegar, quero em meu leito

Encontrar-te e, nas tuas carnes quentes,

Saciar os desejos que, em meu peito,

Latejam como aqueles que tu sentes.

Quando a noite chegar, eu quero vida,

Vida pulsando em tuas carnes claras.

Sentir em tua boca apetecida

O gosto sensual de nossas taras.

Taras de amor que nunca são pecados;

É apenas teu corpo que, desperto,

Ao meu se entrega e os dois, alucinados,

Fazem do mundo inteiro um céu aberto.

Em outras noites tu terás, porém,

Um início suave de carinho,

Que há de levar-te ao êxtase também,

Num crescendo de amor, devagarzinho.

 

SE FOR POSSÍVEL SONHAR (II)

Se for possível sonhar,

Quero sonhar um Brasil novo

Onde a gente do meu povo

Tenha pão, trabalho e lar.

Se for possível sonhar,

Quero sonhar a esperança

De ver que qualquer criança

Pode estudar e brincar.

Mas,

Se não for possível sonhar,

Então

Eu quero apenas pensar

Que o futuro da nossa gente

Vai ser bom, bem diferente...