BREVE HISTORIA DA " VIAGEM " DO BATALHÃO DE CAÇADORES 1916
A nossa " VIAGEM " começou em Março de 1961, com o inicio da luta
armada dos movimentos de libertação e com a convicção de Salazar de manter
"PORTUGAL DO MINHO A TIMOR", consusbstanciado na célebre frase
"PARA ANGOLA RAPIDAMENTE E EM FORÇA".
Estávamos,então, nos anos 60 que foram varridos, por toda
a Europa
Ocidental, por contestações estudantis
a que se juntaram pessoas mais politizadas.Foi, também
neste período, e na década anterior, que
começou em África a indepêndência de alguns
países.
Entretanto, no
nosso cantinho, começou a mobilização geral de
toda uma
juventude, com o único objectivo de formar "carne para canhão", dizendo-nos que defenderiamos
o nosso território.Com esta atitude politica,
toda uma geração foi trocidada, mutilada.
Uns não acabaram os seus cursos, outros foram impedidos de sair do seu país, para trabalharem
nos países que tinham acabado a segunda guerra mundial e que necessitavam de mão de obra,
outros, ainda, sairam clandestinamente.
Foi neste ambiente, que nos
encontrámos pela primeira vêz em CHAVES,
estávamos, entretanto, em 1967. Aqui o nosso batalhão começou a estrutura de corpo e foi
iniciado um novo ciclo de relações
humanas.Com a formação das Companhias e destas em
Pelotões,
começa, na realidade, a constituir-se
uma nova família, com novos anseios, novos desafios e,
também, novas preocupações.
Terminada, em CHAVES, a
formação militar e como a máquina de guerra
não
podia parar, fomos para Vila Real esperar embarque.
Chegado o mês de
Abril - dia 12 - , encaminharam-nos para Lisboa, onde
estáva á nossa espera o navio Niassa,
para a nossa grande viagem rumo a Moçambique.Navegando
pelo Atlãntico,tivemos a primeira paragem em Luanda, onde estivemos cerca de dois dias, e pela
primeira vêz sentimos o " cheiro " de
África.A viagem prosseguiu pelo Atlântico, e todos
nós
nos lembrámos dos nossos antepassados, quando da passagem para o Índico.Finalmente
desembarcámos em Lourenço Marques (
Maputo ), onde todo o Batalhão desfilou na praça
Mac Mahon ( Praça dos trabalhadores ). Foi
aqui que, verdadeiramente, começámos a "
cheirar "
África, pois era aqui que iriamos
dar mais dois anos das nossas vidas. A viagem continou por
Nacala, Porto Amélia ( Pemba ), e Mocimboa da Praia, onde desembarcámos.Desta localidade,
entrámos nas estradas de pó e lama (
picadas ) onde o Batalhão se foi espraiando pelas localidades
de Diaca, Sagal e finalmente a " cabeça da guerra ", Mueda, onde ficaram sediadas a CCS e a Companhia
1710.
Na chamada " terra da guerra " ,
ficámos cerca de um ano. Foi ali, Mueda, que o grupo
ficou mais forte, mais unido e que se forjaram
verdadeiras amizades.Fizemos inúmeras
operações de
combate, vimos populações famintas,
camaradas ficarem feridos e alguns mortos. Através das
adversidades, ficámos mais fortes como homens
e também mais responsáveis.Foi aí, também,
que
começaram as primeiras
interrogações.O que fazemos aqui?. Que causas ?, que
interesses defendemos?.
O tempo ia passando e na mente de
todos só um pensamento - SUL - , o que representáva
descanso fisico e mental e sobretudo ficar longe da guerra.
Ai vamos nós, finalmente,
para a estrada Mueda/Mocimboa da Praia, e então foi com enorme
contentamento que voltámos a passar pela
curva da morte, Sagal, Diaca , Mocimboa e finalmente o tão
esperado navio que nos iria levar para a Beira.A
descompressão de todos nós era notória, já
pareciamos
outros, estávamos mais " leves ".
Embarcámos, numa viagem fantástica, de comboio que durou
cerca de
dois dias, Beira/Moatize, entrando no distrito de
Tete, rumo a Vila Coutinho.Aqui começou uma nova etapa
do nosso destino Africano. Agora, em vêz de
contarmos os dias, passámos a contar os meses.Aqui a
ocupação
do tempo foi muito mais fácil, pois
além das patrulhas para marcar presença territorial,
havia contactos
com as populações e visitas a várias missões de cariz religiosas.
Finalmente chegou o dia 8 de Maio
de 1969 , em que embarcámos no Império, regressando
a Lisboa no dia 31 do mesmo mês.Terminou aqui
a nossa " viagem " , no entanto só em ABRIL de
1974,
se fechou o ciclo da " Grande Viagem " de todos nós.
José Fernando Pascoal Monteiro ( Companhia de
Caçadores 1710 )