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Mire-se no exemplo...
 de uma
BORBOLETA



 

A borboleta, invertebrado da classe dos lepidópteros, deve ter surgido a cerca de
70 milhões de anos atrás. É um bichinho que causa grande fascínio por sua

 capacidade de transformação. Depois de se reconhecerem pelas cores e formatos

das asas, machos e fêmeas flertam, cruzam, e a fêmea deposita seus ovos em uma

 folha, deixando-os lá e indo borboletear em outros cantos por aí. Se as condições

climáticas estiverem favoráveis, a larva ( lagarta ) vai sair do ovo. Senão, ela espera.

E espera, espera, espera... Até conseguir nascer. Isso é uma coisa

interessante para se aprender com os embriões de

borboletas - a espera e a sensibilidade às condições

 do ambiente. Embrião apressado é lagarta morta.
E quando nasce, a lagarta nasce voraz. Devora a própria casca do ovo, e é capaz

de comer uma planta com o triplo de seu tamanho em poucos minutos. Talvez porque

a lagartinha, em sua sábia programação biológica, sabe que a maior responsabilidade

de ser lagarta é a de extrair do ambiente o máximo que conseguir guardar em si

mesma, para que consiga ficar forte depois. A vida da lagarta, que pode durar de

meses até um ano, é andar por aí e se alimentar. Como acontece com todos os

animais, ela está sujeita ao ataque de predadores. Por isso, ela guarda em si uma

substância ácida e fedida que pode queimar, desagradar e afugentar os bichos que

tentarem devorá-la. E não hesita em usá-la quando necessário. Espertinha,

essa menina.
Durante essa fase, a lagarta troca de pele várias vezes.
Imagina o que

aconteceria se ela resistisse em abandonar a velha pele...

Iria explodir apertada dentro de uma casca que já não lhe

serve mais. É que as lagartas, como a gente, crescem muito.

 E quando a gente cresce, deixa pra trás um pedaço de si

mesma, para poder ganhar novas formas e cumprir o

ciclo da vida. A lagarta, mais uma vez espertinha, não perde tempo

quando está de casca nova. Começa a comer mais e mais, até crescer e

 ficar enorme, forte, gordinha e pronta pra virar borboleta. Fiquei pensando,

como a lagarta sabe que é hora de se pendurar, tecer alguns fios de seda e

começar a montar um casulo? Será que ela escuta um sinal, sente alguma

dor, tem alguma alucinação?
O fato é que, na hora certa,
nem antes nem depois, ela procura um lugar

 seguro, muito seguro para iniciar seu processo de reclusão. Nesse momento,

ela perde todas as pernas, e fica incapacitada de andar. Troca de pele uma última

vez, enquanto vai tecendo seus fios. Alguns lepidópteros se enterram, ou constroem

uma espécie de casinha com gravetos e fios. E pronto: ela se fecha lá dentro,

e vira uma pupa ( ou crisálida, ou casulo ).
Lá dentro, não conseguimos descobrir direito o que acontece.
Talvez porque

não seja mesmo da nossa conta. Se a lagarta se fecha em pupa, é porque

quer ficar sozinha e isolada do mundo, em total repouso, trocando seus tecidos

e se preparado para virar uma outra coisa, totalmente diferente da lagarta. E é

uma coisa que ela só pode fazer sozinha, quieta e em segredo.
Será que ela sente dor enquanto se transforma em borboleta?. Não achei a informação

correta, mas sei que: todo processo de transformação costuma ser

dolorido, e quanto maior a mudança, maior a dor e maior

o prazer depois de terminado. E olha que não existe

mudança maior do que, de uma lagarta, um bicho

rastejante, curioso, lento e pesado, virar uma borboleta,

tão leve, tão bonita, tão... Tão.
O lugar onde fica o casulo é fundamental para a sobrevivência da borboleta.

Lá, a borboleta vai ficar reclusa de uma semana a um mês; portanto, ele

tem que estar bem protegido. Em minhas pesquisas vi um casulo ser atacado

por um bando de marimbondos. Fiquei apreensiva, mas, depois de investir

ferozmente contra o casulo, eles foram embora. Não conseguiram derrubá-lo

nem penetrá-lo. Aí que fui entender como realmente é

importante que a lagarta espere o tempo que for necessário

até poder se fechar em pupa. Tudo em sua hora...

Sem ansiedade nem pressa.
Não tive oportunidade de observar um casulo abrindo, e nem os momentos

iniciais da borboleta adulta. Mas li e aprendi que, quando finalmente está pronta

para sair, ela vai abrindo o casulo devagar. Este esforço de abrir o casulo é

fundamental para que ela se fortaleça o suficiente para poder voar depois.

Ela sai com as asas molhadas e envoltas em um líquido gosmento. Por isso,

 precisam ficar no sol secando, esticando as asas. Li que o esforço que elas

fazem para esticar as asas é enorme, mas necessário.
É que nascer, ou renascer, é mesmo difícil.

Depois... As borboletas começam a voar. São bichos bonitos, lindos,

uma pintura em forma de bicho. Causam encantamento imediato.

Dizem algumas crendices que onde a borboleta pousa, leva sorte e sorrisos.

Ao contrário de suas irmãs mariposas, elas têm hábitos diurnos e amam as cores

e sabores das flores. Por suas antenas, conseguem sentir cheiros e gostos. Ajudam

a levar material genético de uma flor para outra, e enfeitam qualquer jardim.
A principal razão da vida da borboleta adulta é se reproduzir para reiniciar o

ciclo - coisa que a lagarta não pode fazer. E, olha só que interessante: a maioria

das borboletas, depois de passar cerca de um

ano ( em alguns casos, bem mais que isso ) se transformando, não vive muito

mais que duas semanas. Duas semaninhas só. Algumas duram apenas três dias.

Pouquíssimas espécies conseguem sobreviver por uns seis meses... Mas não muito

 mais que isso.
Essa última informação deixou-me desolada.
É difícil para nós, seres

humanos perseguidores de ideais de beleza, leveza e

felicidade parecidos com as asas das borboletas adultas,

compreender porque temos que ficar tanto tempo

 lutando com nosso crescimento para depois aproveitar

tão pouco a vida. Mas em seguida pensei - errados somos

nós, certa é a natureza. Aproveita-se a vida sempre,

 inclusive nas fases de lagartas e isolamento. Tudo

é uma questão de ponto de vista.
A verdade é que estudar as borboletas me fez ganhar uma simpatia tremenda

por esse bicho que antes era insignificante para mim - a lagarta. É que

na verdade, o grande barato da coisa não é o final,

mas o durante. O mais divertido, o que mais ensina,

 o que é mais fascinante não é ver uma borboleta

voando, mas acompanhar todas as mudanças pela

qual ela passa para chegar até lá. Todo processo

de transformação envolve alimentar-se; envolve se

 sensibilizar; envolve cautela e percepção do ambiente;

 envolve lidar com pequenas mortes e mudanças;

envolve tomar a decisão de se proteger; envolve

silêncio, reclusão, paciência; envolve espera e envolve

esforço. Sem isso tudo, o prazer de ser borboleta

não se concretiza.
Olhar um casulo aberto é triste e feliz ao mesmo tempo.

Sei lá, dá uma sensação de missão cumprida e sonho

 acabado. Mas é só olhar do lado pra ver uma outra largartinha começando tudo de novo. E aí a gente se dá conta

da maior beleza de todas.
 

Åíne,
*a espera de
condições climáticas favoráveis, para sair do ovo*


 

GUARDAR RESSENTIMENTOS É:...tomar veneno e esperar que o inimigo morra!...
linotur@hotmail.com

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