Evolução (?)
Que evolui
E sofre Que cria
Que sente E trabalha
Homem que pensa E pensa
Cheiro de homem Constrói
Cheiro de leite Que sorri
Cheiro de bichos Pra não chorar
De natureza E vai o dia
Cheiro de pasto E vem a noite
Cheiro de mato Duas estrelas
O Sol nascendo pelas colinas
E o Sol se pondo pela cidade
1998
Flor de Outono
(Feita em homenagem a minha bisavó Nilde)
Ela é linda,
Doce como o néctar das flores de um jardim.
E as borboletas enfeitam tudo o que ela toca.
Com a elegância de um cisne branco,
Cultiva em si a candura de outra era.
Tem mãos cálidas,
Mãos que lecionaram,
Mãos que aplaudiram as belas poesias
E que escreveram belas poesias.
Tantas vezes acalantaram seus filhos.
Vinte e oito vezes fora mãe.
Olhos meigos,
Sempre olhando de um jeito acolhedor.
Mesmo passando por dificuldades,
Esses olhos destruíram barreiras.
E são capazes ainda de aniquilar o mau de quem os procura.
O tempo passa.
E conserva a vitalidade e a cabeça das pessoas especiais.
A cada ano, uma vitória.
Parabéns mãe, avó e bisa...
Guardo em meu coração um espaço para ti.
2001
Fraqueza
Nesse mundo obscuro
Teria eu, num dado momento,
Deteriorado um pedaço de tua alma?
Ou, com frieza, destripado algum de seus membros enquanto
dormias?
Os pensamentos esgotam-se.
A paz foi exterminada.
Nua, pálida, desarmada,
Desalmada, desamada.
Se o tudo é a pequenez do mundo,
De onde provirá esse seu orgulho
Que me faz trepidar
Ao ver seus lábios entreabrirem-se?
Os movimentos calculistas
Ferem quem se encontra ao redor.
Por trás de cada gesto,
A fome de alimentar essa altivez exagerada.
Por sua vida,
Clamei minha morte.
O seu sorrir,
Reflete em minha felicidade.
As calúnias dissecam a mente
Mas o que a destrói,
Sem chances de reanimação
É a soberba enorme em corações pequenos.
Ela é terrível,
Dá prazer em quem a possui
Mesmo que pisando na mais nobre palavra:
“Perdão”.
2000
Inocência
(em homenagem a menina Tiemi)
Uma criança mui doce
Com uma boneca na mão,
Olhou pra mim e me trouxe
Minha mais nobre lição.
-Problemas?- perguntara a menina
O que isso quer dizer?
A mãe não desafina:
-Logo, logo, irá saber!
Foi quando ela viu passando
Um rapaizinho posudo,
Com bola na mão se agitando
E agora para ela era tudo.
Com olhos cheios de amor
A cidade foi iluminada.
Era tanta luz, tanto sabor
E agora para ela era nada.
Pensava nele o tempo todo
Como se nada mais existisse.
A vida seria um jogo
Até que ele a descobrisse.
A boneca caiu de sua mão,
Não precisava mais dela.
A vida com o João,
Era perfeita aquarela.
Porém ele nem a notava
Era uma meiga criança
E como tal ele a tratava,
Sem lhe dar esperança.
A menina então mudou quase tudo,
De boca vermelha e salto alto
Deixou seu papai quase mudo.
-A Barbie é para Mariazinha!
Disse a menina-moça.
E se desfez da bonequinha
Partindo pra lavar louça
A pobre mãe indignada
Depois de muito entendeu:
A garota estava apaixonada,
Rapidamente cresceu.
E todo dia lá ia ela,
De salto alto e batom
Às três horas na janela.
Nesse dia choveu
Ela pensou que não o veria
Mas triste percebeu
Que algo acontecia.
Com os olhos no infinito,
De longe avistou João.
Nada mais era bonito
Quando olhou em sua mão.
Uma linda mocinha
Pode ver pela janela,
E a menina, coitadinha,
Se desfez da aquarela.
Jogou o sapato no chão
Desprezou seu mais belo vestido
Abraçou sua mãe com paixão
Num choro incessante e aflito.
2001
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