CARTAS A MANUEL BANDEIRA

Remetente: Mário de Andrade

Carta a Manuel Bandeira, 1924
Minha mocidade sobe de novo em mim.
Sou moço. Tenho 19 anos.
Depois do Jardim da Luz irei à estreita
escura rua Líbero Badaró.
Rua proibida, lembraste? por causa dumas
luzes macias, sob quebra-luzes vermelhos,
verdes... É dia de farra para mim. Irei gozar
uma dessas fêmeas gordas, mal - vestidas e
polacas. Como aos 19 anos. Sairei depois
muito contente, satisfeito de minha masculi-
nidade. E livre dos desejos, cantando o
Guarani (como é linda a Canção do Aven-
tureiro!) de Carlos Gomes - o maior músico
de todos os tempos, empurrarei para diante
o tílburi, meus queridos tílburis, o tílburi da
minha mocidade, a trabalhar!! Inchaste - me
de otimismo!
Carta a Manuel bandeira, l929
Manu,
três horas duma noite que além de ser
noite de sábado, está de neblina formi
dável. Noite de sábado já é uma das
coisas mais humanas de São Paulo, to
dos os húngaros, tchecos, búlgaros, sí-
rios, austríacos, nordestinos saem pas-
sear, gente dura, no geral tipos horroro
sos, mas me sinto bem no meio deles.
E além disso: a neblina, um fog maravi-
lhoso. No Anhangabaú não se via nada
de nada. Só os anúncios e o farol da Li-
ght circulando. Fui no cinema, vi umas
besteiras, saí no meio e fui andando.
Quando vi estava no Brás. Então voltei
procurando caminhos mais misteriosos
cheguei a ter medo no meio do parque
Pedro II, completamente sem iluminação
e com alguns ruídos nas moitas. Depois a-
travessei o bairro turco e só quando es-
barrei na estrada-de-ferro, vim me encos-
tando nela até esta rua Lopes Chaves.
Elizabeth Theilacker

MAIS SOBRE MÁRIO DE ANDRADE

POESIAS

BIBLIOTECA

ESCOLA

LITERATURA

OFICINA LITERÁRIA

http://www.info.lncc.br/dimas/mario.htm

 

 

 

http://www.vidaslusofonas.pt/mario_de_andrade.htm