Capítulo 13

(...)

Sra. Millus>> O que tem de errado é a falta de respeito, só isso. Se quer fazer, pelo menos seja discreta.

Ange>> Ok, você nunca mais vai ouvir nada... prometo! Desculpa mesmo! - Saiu correndo da cozinha com bandejas cheias de comida.

Ange abriu a porta do quarto, levando a mão à boca, prendendo o riso.

Taylor>> O que foi? - Perguntou, rindo também.

Ange>> A minha mãe ouviu tudo!!!!!! - Taylor arregalou os olhos, ficando vermelho.

Taylor>> Não!!!! - Riu logo em seguida. Ela pulou na cama, ao lado dele.

Ange>> Juro, ai que vergonha!!! Pediu pra gente ser discreto da próxima vez!

Taylor>> Ange, eu vou sair pela janela, ok? Nem quero olhar pra cara da sua mãe!!

Ange>> Deixa de ser bobo! E eu também tô com vergonha, tá..?

Taylor>> Tá.. - Beijou os lábios dela, sorrindo.

Ange>> Seu sorriso é tão lindo.. - Sorrindo também.

Taylor>> Pááára.. - Fechando os olhinhos, de vergonha.

Ange>> Lindo lindo lindo! - Beijando o rosto dele todo.

Taylor e Ange se aprontaram para dormir, o dia tinha sido puxado. Ange acordou no meio da noite e ligou a TV, estava passando um filme legal. "O senhor das armas", com Nicholas Cage. Taylor acabou acordando com o barulho do filme, e ficou assistindo junto com ela. Em seguida, os dois ficaram conversando. Foram dormir bem tarde da noite.

No outro dia, o despertador tocava constantemente, até que Ange abriu os olhos e o jogou no chão. Estava impossível acordar. O olho ardia, aquele peso enorme sobre as costas.

Taylor>> Uhnnnn, vamos dormir até mais tarde hoje. - Abraçando-a, enfiando o rosto no peito dela.

Ange>> Não, Tay. - Empurrando-o de cima dela. - Vamos pra aula.. senão aí que minha mãe vai encher o saco.

Taylor, mesmo revoltado, acabou concordando. Depois da aula, Taylor foi até Sr. Millus. A pedido do psiquiatra, Ange não compareceu a esta sessão.

Taylor olhava para todos os lados, menos para Sr. Millus. Não era uma situação fácil pra ele, não mesmo.

Sr. Millus>> Bom.. como você tá se sentindo hoje, Taylor?

Taylor>> Eu tô bem.. - Sorriu. - Ange me faz me sentir muito bem..

Sr. Millus>> Que bom.. mas você sabe que ela não pode ser única e exclusivamente a sua fonte de bem estar, não é mesmo? - Ele concordou com a cabeça. - Você tem que estar bem com você mesmo.

Taylor>> É, eu sei..

Sr. Millus>> Qual o período da sua vida que você foi mais feliz?

Taylor>> Este. - Sr. Millus franziu as sobrancelhas.

Sr. Millus>> Este? E sua infância. - Taylor fechou o semblante.

Taylor>> Foi a pior de todas..

Sr. Millus>> A pior?

Taylor>> É.. a pior.

Sr. Millus>> O que aconteceu? - Encarou Taylor, que desviou o olhar.

Taylor>> Olha..

Sr. Millus>> Tente se abrir, tente falar.. não se esqueça que você precisa disso pra melhorar.

Taylor>> Não.. - Taylor baixou o olhar.

Sr. Millus>> Se você não consegue fazer isso pro seu bem.. faça pelo bem da Ange.

Taylor concordou com a cabeça.

Taylor>> É que.. é que muitas vezes eu não lembro.

Sr. Millus conversou com ele sobre a possibilidade de fazer uma hipnose, assim ele revelaria seu passado e eles poderiam cuidar melhor do problema. Taylor o olhou meio desconfiado, não sabia se iria dar certo. No fundo, tinha medo.

Taylor>> E se a gente descubrir coisas muito ruins? Sei lá..

Sr. Millus>> Daí eu vou trabalhar remédios apropriados pra você manter tudo sob controle. - Sorriu. Taylor acabou sorrindo de volta.

O psiquiatra pediu que Taylor deitasse numa mesa e relaxasse. Em seguida, sugeriu que ele perguntasse o que quisesse a ele. Principalmente sobre hipnose. E, a medida que o tempo ia passando, Sr. Millus ia explicando o que era hipnose. Desmentindo alguns mitos. Tirando a insegurança que Taylor tinha.

Sr. Millus>> O termo "Hipnose" abrange qualquer procedimento que venha causar, por meio de sugestões, mudanças no estado físico e mental, podendo produzir alterações na percepção, nas sensações, no comportamento, nos sentimentos, nos pensamento e na memória.

Taylor>> E como que a gente vai chegar no meu passado?

Sr. Millus>> Dentro da hipnose, há a "regressão".. onde nós voltaremos alguns anos da sua vida, para você me mostrar o que aconteceu com você. - Ele concordou com a cabeça. Taylor tinha um friozinho esquisito na barriga.

Então, a hipnose começou. Sr. Millus sussurrava algumas coisas no ouvido de Taylor. Disse a ele que ele tinha 10 anos. Taylor concordou com a cabeça.

Sr. Millus>> E o que você vê?

Taylor>> Vazio. - A voz afinou. Parecia mesmo voz de criança.

Sr. Millus>> Onde você está?

Taylor>> Sozinho..

Sr. Millus>> Por quê?

Taylor>> Porque minha mãe tinha morrido.

Sr. Millus>> E você sabe do que ela morreu?

Taylor>> Ela foi morta.

Sr. Millus>> E você lembra a idade que ela morreu?

Taylor>> Tinha 6.

Sr. Millus>> Ok.

E a sessão recomeçou. Sr. Millus foi para o dia da morte da mãe de Taylor.

Sr. Millus>> O que você...--- Foi interrompido por Taylor.

Taylor>> NÃO FAZ ISSO! NÃO FAZ ISSO!! NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!!!!!!!!!!!!!!!!

Sr. Millus>> Você viu o assassinato da sua mãe, Taylor?? - Ele se debatia na mesa, Sr. Millus tentava segurá-lo.

Taylor>> ELA ESTÁ MORTA!! ELA ESTÁ ALI!! POR QUE VOCÊ FEZ ISSO??!?! POR QUÊ??...... NÃO!! NÃO, MESMO ASSIM!! ERA SÓ FUGIR.. FUGIR!! NÃO PRECISAVA DISSO...... - Chorava incontrolavelmente.

Sr. Millus>> Taylor, me conte o que aconteceu!!! - Taylor o empurrou com força, levantando-se da cama. - Taylor, volte. Você está em 2006. Volta.

Taylor sentiu uma dor forte na cabeça, olhou para Sr. Millus. Uma sensação estranha, péssima.

Taylor>> Eu vou embora daqui.. - Pegou suas coisas e saiu, batendo a porta. Precisava encontrar Ange.

Ele andou até a casa dela, perturbado. Bateu na porta, esperou a mãe dela abriu. Agradeceu, subiu até o quarto dela. Ange estava deitada na cama, com um blusão e um short de dormir. Estava vendo televisão, enquanto esperava o esmalte da unha secar.

Ange>> Taylor!! - Sorriu. - Como que foi lá?

Taylor>> Péssimo, Ange.. pior, impossível!

Ange>> Nossa, quê que aconteceu? - Se levantou, indo abraçá-lo.

Ele levantou o rosto dela e a beijou. Um daqueles beijos incríveis, uma mistura de desabafo com desejo.

Taylor>> Baby, me protege? - Deitou o rosto no ombro dela.

Ange>> Claro... se você quiser me contar o que aconteceu... - O levou até a cama.

Taylor>> Ok.. bom, descobri que a minha mãe morreu assassinada.. - Os olhos dele se encheram d´água. - E eu vi a cena toda.. ela no chão, toda ensangüentada. Aquele cheiro de formol.. acho que botaram formol no corpo dela pra ele ficar conservado e não cheirar mal.. não sei.. mas era um cheiro muito forte de formol, sabe? Que misturava com o cheiro do cabelo dela,.. muito formol.. e eu não consigo falar da minha mãe, eu não consigo!!!

Ele começou a ver tudo nublado a sua volta, seus olhos viravam. Parecia que estava drogado.

Ange>> Taylor, você tá legal??

Taylor>> Não, Ange.. não tô!!! - Levantando-se da cama.

Ange>> Taylor.

Taylor>> Sim? - Encarando-a.

Ange>> Você matou a sua mãe?

Taylor>> WHAT??!!?!?! - Ficou enfurecido. - VOCÊ TÁ ME CHAMANDO DE ASSASSINO?? É.. É ISSO QUE VOCÊ ACHA QUE EU SOU, NÃO É MESMO?? - Indo em direção a ela. Ange pulou da cama e foi para a direção contrária, ficando longe dele. Ele continuou indo atrás. - É isso o que você pensa de mim?

Ange>> Não interessa o que eu penso de você!! Interessa que eu quero saber o que aconteceu com você! E independente do que aconteceu, eu vou estar com você! EU TE AMO!

Ele ficou sério, olhando pra ela.

Taylor>> Eu..

A mãe de Ange abriu a porta, assustada com a gritaria. Também, não podia ser diferente. Eles tentaram explicar que não era nada demais, era apenas uma discussão boba. Ela saiu, ainda não satisfeita com a resposta. Mas não iria se intrometer no assunto dos dois.

Taylor>> Olha, nunca mais pergunta pra mim uma coisa dessas, beleza? Você me magoa muito assim.

Ange>> Ok.. - Baixou a cabeça. Tudo indicava que ele era o assassino, o que ela podia fazer?

Taylor>> A minha vida não é fácil, Ange... não do jeito que você disse que seria....... mesmo indo ao psiquiatra.....

Ange>> Shhh.. - Tampou os lábios dele com seus dedos. - Vai ser fácil. Você vai ver.

Taylor baixou o olhar. Deu um sorriso amarelo, só pra não dizer que não havia sorrido.

"E então é isso
Apenas como você disse que seria
A vida é fácil pra mim
Na maior parte do tempo
E então é isso
A breve história
Sem amor, sem glória
Sem herói em seu céu


Não consigo tirar meus olhos de você
Não consigo tirar meus olhos...

E então é isso
Apenas como você disse que deveria ser
Nós dois vamos esquecer a brisa
Na maior parte do tempo
E então é isso
A água mais fria
A filha do vento
A pupila em negação


Não consigo tirar meus olhos de você
Não consigo tirar meus olhos...

Eu disse que te detestava?
Eu disse que eu queria
deixar isso tudo para trás?

Não consigo parar de pensar em você
Não consigo parar de pensar em você
Não consigo parar de pensar em você
Não consigo parar de pensar em você
Não consigo parar de pensar....

A filha do vento, Damien Rice"