Biografia

1909 ~ 1969

Ataulfo Alves

 

Ataulfo Alves de Souza, cantor e compositor. Y 2/5/1909, Miraí, MG ~ V 20/4/1969, Rio de Janeiro, RJ aos 59 anos, devido a uma úlcera no duodeno.

Nasceu na Zona da Mata em Minas Gerais, na Fazenda Cachoeira, no município de Miraí. Um dos sete filhos (Ataulfo, Alaor, Paulinho, Tita, Maria Mercedes, Maria Antonieta e Norina) de Dona Matilde Rita de Jesus e do lavrador, violonista, sanfoneiro e repentista Severino de Souza (conhecido como Capitão Severino, apesar de nunca ter sido militar).

Ataulfo desconhecia a origem de seu sobrenome. Aos oito anos, o futuro compositor já fazia versos para responder aos desafios do pai. Estudou no Grupo Escolar Dr. Justino Pereira. Aos dez anos, tornou-se órfão de pai e precisou trabalhar para ajudar no sustento da casa. Foi leiteiro, condutor de bois, menino de recados, carregador de malas na estação, marceneiro, engraxate e lavrador.

Deixou sua família em 1926, ao mudar para o Rio de Janeiro com o médico recém-formado Dr. Afrânio Moreira Resende. Trabalhou em seu consultório entregando recados e receitas, além de, à noite, fazer a faxina e serviços domésticos na casa do médico. Sem perspectivas nesse trabalho, empregou-se em uma funilaria de automóveis e mais tarde na Farmácia e Drogaria do Povo, onde lavava frascos. Logo aprendeu a decifrar receitas e manipular as drogas, assumindo assim a responsabilidade do laboratório. Em pouco tempo já era prático (manipulador de drogas) de farmácia.

Tocava violão, cavaquinho e bandolim nas rodas de samba do bairro onde residia (Rio Comprido). Ali organizou um conjunto para animar festas. A turma do bairro formou o bloco Fale quem quiser do qual Ataulfo tornou-se diretor de harmonia.

Em 1928, com apenas 19 anos, casou-se com Judite. O casamento durou até a morte do compositor. Tiveram 5 filhos: Adélia, Matilde, Adeílton, Adelino (que morreu muito cedo, ainda criança) e Ataulfo Júnior.

No ano seguinte começou a compor. Em 1933, por intermédio do compositor e percussionista do Estácio, Bide (Alcebíades Barcelos), conheceu Mr. Evans, diretor da Victor, um norte-americano apaixonado pela música brasileira. Este fez com que o cantor Almirante gravasse uma música de Ataulfo, a primeira a ir ao disco: Sexta-feira.

Anos antes, Ataulfo costumava levar recados e fórmulas a uma amiga das filhas do dono da farmácia onde trabalhava, uma tal de Maria do Carmo. Moça alegre, vivaz e que sempre lhe dizia que ainda iria acontecer e tornar-se uma artista. Uma semana depois da gravação de Almirante, Mr. Evans decidiu mostrar as músicas de Ataulfo à nova cantora que acabara de estourar com a marchinha Tahi!, de Joubert de Carvalho. Com o cavaquinho em punho, Ataulfo cantava suas composições e a cantora ouvindo, fitava-lhe os olhos estranhamente:

- Mas você não é aquele rapaz lá da farmácia? - Perfeitamente.

- Mas você não era compositor.

- Você também não era cantora.1

Depois dos dois darem boas risadas, Carmen Miranda resolveu gravar, infelizmente sem sucesso, Tempo perdido (que também fora desclassificada no concurso patrocinado pelo Diário Carioca de músicas carnavalescas daquele ano, 1933) de Ataulfo. Pelo menos foi proveitoso para lançar o nome do compositor. De fato, daí pra frente foi muito mais fácil, sempre tinha um intérprete disposto a gravar suas composições. Seu primeiro grande sucesso só aconteceu em 1935, Saudade do meu barracão, gravado pelo cantor Floriano Belham. Neste mesmo ano o Bando da Lua obteve sucesso com Menina que pinta o sete, marchinha de Ataulfo e Roberto Martins. Em 1936 foi a vez de Sílvio Caldas com Saudade dela, Carlos Galhardo com A você, em parceria com Aldo Cabral, e assim por diante. A obra e a popularidade de Ataulfo foram crescendo e sendo reconhecidas.

Resolveu também seguir a carreira de cantor. Em 1943 convidou três cantoras e, por sugestão do compositor Pedro Caetano, fundou o grupo Ataulfo Alves e suas Pastoras. Foi, de fato, uma boa solução para um cantor de poucos recursos vocais.

General do samba, O diplomata do samba, Embaixador do samba brasileiro ou O mais elegante sambista (chegou a ser eleito um dos 10 mais elegantes pelo "papa" da crônica social Ibrahim Sued), foram estes os "slogans" que recebeu. Ganhou também o título de Carioca Honorário da Assembléia Legislativa da Guanabara, pelos relevantes serviços prestados à nossa música popular.

Em 1961, convidado por Humberto Teixeira, Ataulfo e suas Pastoras participaram de uma caravana na Europa divulgando a M.P.B.. Retornaram ao Rio de Janeiro e por motivos estritamente financeiros Ataulfo despediu-se de suas Pastoras. Fundou a ATA (Ataulfo Alves Edições), tornando-se editor de suas músicas. Hoje estas edições estão aos cuidados da Fermata.

Em 1966, mesmo debilitado por seu problema de úlcera no duodeno, viajou para Dacar, Senegal para representar o Brasil no I Festival de Arte Negra.

A partir de 1959, seu filho Ataulfo Alves Júnior passou a fazer parte dos espetáculos com o pai como passista-ritmista, ganhando assim o título de "herdeiro".

Ataulfo morreu em decorrência do agravamento da úlcera que o incomodava há 20 anos (segundo ele "de estimação"), após uma intervenção cirúrgica.

Foi conselheiro e presidente da UBC e diretor da ADDAF. Compôs mais de 700 músicas.

Em 1962, em Miraí, a Rua do Rosário (que já fora Rua do Buraco) onde morou foi transformada na Rua Ataulfo Alves.

 

1. História da Música Popular Brasileira - Fascículo nº 7 - Ataulfo Alves. São Paulo, Abril Cultural, 1970, p. 6.

 

Principais obras:   

  • A você, Ataulfo Alves e Aldo Cabral (1936)
  • Ai! Que saudade da Amélia, Ataulfo Alves e Mário Lago (1941)
  • Atire a primeira pedra, Ataulfo Alves e Mário Lago (1943)
  • Boêmio, Ataulfo Alves e J. Pereira (1937)
  • Corda e caçamba, Ataulfo Alves (1962)
  • Errei sim, Ataulfo Alves (1950)
  • Errei, erramos, Ataulfo Alves (1938)
  • Fim de comédia, Ataulfo Alves (1952)
  • Infidelidade, Ataulfo Alves e Américo Seixas (1947)
  • Laranja madura, Ataulfo Alves (1966)
  • Leva meu samba (Mensageiro), Ataulfo Alves (1940)
  • Meus tempos de criança, Ataulfo Alves (1956)
  • Mulata assanhada, Ataulfo Alves (1956)
  • Na cadência do samba, Ataulfo Alves e Paulo Gesta (1962)
  • O Bonde São Januário, Ataulfo Alves e Wilson Batista (1940)
  • Oh! Seu Oscar, Ataulfo Alves e Wilson Batista (1939)
  • Pois é, Ataulfo Alves (1954)
  • Saudade dela, Ataulfo Alves (1936)
  • Saudades do meu barracão, Ataulfo Alves (1935)
  • Sei que é covardia...mas, Ataulfo Alves e Claudionor Cruz (1938)Sei que é covardia com Carlos Galhardo (1938)
  • Vai, mas vai mesmo, Ataulfo Alves (1958)
  • Você passa e eu acho graça, Ataulfo Alves e Carlos Imperial (1968)


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