1914 ~ 1974
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Lupicínio
Rodrigues
Lupicínio
Rodrigues, cantor e compositor, nasceu na Ilhota, vila pobre do
bairro Cidade Baixa em Porto Alegre, RS, no dia 16/9/1914 e faleceu,
por insuficiência cardíaca, na mesma cidade no dia 27/8/1974.
Quarto filho
do funcionário público Francisco Rodrigues e da dona-de-casa
Abigail Rodrigues, Lupicínio teve 20 irmãos.
Nunca foi um
bom aluno. Desde criança não prestava atenção nas aulas, só
pensava em cantar, batucar e paquerar as meninas. Precoce, aos 12
anos já fugia de casa para participar das rodas de música de seu
bairro, e aos 14, em 1928, compôs sua primeira música, a marchinha
Carnaval, que nunca foi gravada. Lupicínio explica:
"Três anos depois a marcha conquistou o primeiro lugar num
concurso oficial, executada pelo cordão carnavalesco Prediletos. Um
ano mais tarde, (...) a música foi executada pelo cordão
carnavalesco Rancho Seco e novamente ganhei o primeiro lugar. E
agora o mais interessante: vinte anos depois, quando eu fazia parte
de uma comissão que julgava músicas carnavalescas, me apareceu
novamente a marchinha, desta vez cantada pelo grupo Democratas, e
como sendo de autoria de outros dois compositores. Eu não falei
nada aos outros membros da comissão e a música novamente venceu.
Deixei os meninos receberem o prêmio e até convidei-os para
tomarem uma cerveja comigo." 1
Durante sua
infância, o que mais gostava de fazer era jogar futebol, paixão
essa que o levou, anos depois, em 1959, a compor o hino oficial de
seu time predileto, o Grêmio, de Porto Alegre.
Com certa
dificuldade, completou o curso ginasial e aprendeu o ofício de
mecânico. Sua família era humilde e numerosa, então, desde menino
Lupicínio trabalhava para ajudar nas despesas: "foi fazedor de
parafusos na Fábrica de Cipriano Micheletto, empurrador de roda de
bonde na Cia. Carris Porto-alegrense, baleiro na frente do Cinema
Garibaldi e entregador de pacotes na Livraria do Globo." 2
Toda sua
família tinha talento para a música. Seu pai, astuto, percebeu que
o jovem, boêmio desde garoto, não queria saber de trabalho.
Então, aos 15 anos, com documentos falsificados para 18, S.
Francisco apresentou Lupicínio ao Exército como
"voluntário". Nas horas de folga, Lupi cantava no
conjunto formado pelos soldados de seu batalhão. Em 1932, foi
mandado para São Paulo, mas não chegou até a frente de batalha da
Revolução Constitucionalista. Foi promovido a cabo e transferido
para Santa Maria, RS, onde se apaixonou perdidamente por Inah, para
quem compôs Felicidade, Zé Ponte e Nervos de
aço..
Em 1935, deu
baixa do Exército e retornou a Porto Alegre. Nesse mesmo ano, sua
música Triste história, em parceria com o cantor e
compositor Alcides Gonçalves, venceu o concurso da Prefeitura de
Porto Alegre em comemoração ao Centenário da Revolução
Farroupilha. No ano seguinte Alcides gravou em disco Triste
história e Pergunta aos meus tamancos, também dos dois
compositores e Lupicínio passou a trabalhar como bedel na Faculdade
de Direito. Seu primeiro grande sucesso veio em 1938: Se acaso
você chegasse.
Junto com o
sucesso veio sua primeira desilusão amorosa, o que lhe inspirou a
compor vários sucessos. Inah, seu grande amor, não suportou sua
vida de boêmio e, decidida, no começo de 1939 rompeu o noivado.
"Um dos
poucos casos de projeção nacional fora do eixo Rio-São Paulo,
Lupicínio teve inicialmente dificuldades para gravar suas músicas,
em parte devido ao isolamento em Porto Alegre. A solução
encontrada foi dar co-autoria a alguém encarregado da divulgação,
Felisberto Martins, diretor da Odeon." 3
A partir de
1946 tornou-se representante da SBACEN no Rio Grande do Sul. Ao
contrário do que muitos pensam, Lupicínio não tocava nenhum
instrumento musical. Compunha assobiando e fazendo ritmo com uma
caixa de fósforos. Criador do gênero dor-de-cotovelo, construiu
uma obra rica, com letras que, em sua maioria, falavam dos
relacionamentos amorosos e das mulheres. Compôs cerca de 600
músicas, com aproximadamente 150 gravadas. Foi muito influenciado
em seu modo de cantar por Mário Reis, e seus biógrafos acreditam
que ele foi um dos precursores da bossa-nova.
Em 1947 foi
aposentado por problemas de saúde. Ele costumava dizer que havia
sido aposentado "por amor".
Depois de
Inah Lupicínio ficou seriamente envolvido durante cinco anos com
Mercedes, a Carioca, que o trocou por outro. Para ela o compositor
dedicou Briga de amor, Minha ignorância, Nunca e
Vingança. Nesse ínterim, teve uma filha com Juraci de
Oliveira, que estava à beira da morte. Para legalizar a situação
de sua filha, Tereza, Lupi casou-se com Juraci. Com sua segunda
esposa, Cerenita Quevedo, Lupicínio teve mais um filho, o advogado
Lupicínio Rodrigues Filho. Cerenita, que lhe inspirou uma de suas
músicas mais bonitas, Exemplo, adotou Tereza (Clara Terezinha
Rodrigues4), que deu nove4
netos a Lupicínio.
Boêmio
profissional, teve várias casas noturnas e restaurantes em Porto
Alegre. Dizia que não queria ganhar dinheiro, mas reunir amigos.
Entre eles estavam o Jardim da Saudade, o Clube dos Cozinheiros, O
Batelão, o Galpão do Lupi, Vogue e o Bar Vingança.
Nos anos 60
sua produção diminuiu, e entrou, como vários compositores da MPB,
num período de obscuridade. Suas músicas não tocavam mais nas
rádios, agora invadidas pela bossa-nova e pelo rock. Lupi passou a
escrever uma coluna todos os sábados para o jornal Última Hora
(de 1963 a 1964), onde abordava temas como a boêmia, o ciúme, a
tristeza ou ainda fazia análises de suas composições.
Na década
seguinte, graças à iniciativa da Abril Cultural, que lançou um
disco contendo músicas de Lupi com intérpretes da nova geração,
como Paulinho da Viola, Gal Costa, Gilberto Gil, Elis Regina e
Caetano Veloso, Lupicínio foi redescoberto. "Na última grande
entrevista que deu à imprensa, para o Pasquim, em 1973,
perguntado sobre o que estava achando do panorama musical
brasileiro, se não se sentia meio deslocado, respondeu com uma
ponta de amargura (ainda não havia sido redescoberto) e outra de
orgulho: ‘Eu não tenho nada com o ambiente musical brasileiro. Eu
não sou músico, não sou compositor, não sou cantor. Não sou
nada. Eu sou um boêmio" 5. A gravação de Felicidade
tornou-se conhecida em todo o Brasil. Lupicínio ficou muito
honrado com isso. Mas pouco tempo depois, no dia 27 de agosto de
1974, Lupicínio faleceu, deixando Cerenita e "todas as
mulheres" desamparadas. Morreu o homem, nasceu o mito.
1.
RODRIGUES FILHO, Lupicínio (Org.). Foi assim: o cronista
Lupicínio Rodrigues. Porto Alegre, L&PM, 1995 p. 83.
2.
GONZALEZ, Demosthenes. Roteiro de um boêmio: vida e obra de
Lupicínio Rodrigues . Porto Alegre, Sulina, 1986 p. 15.
3.
MATOS, Maria Izilda S. de e FARIA, Fernando A. Melodia e sintonia
em Lupicínio Rodrigues: o feminino, o masculino e suas relações.
Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1996, p. 42.
4.
Informação dada em 21/9/2004, via e-mail, pelo neto de Lupicínio,
David Jorge Rodrigues Hatsek.
5.
RODRIGUES FILHO, Lupicínio (Org.). Foi assim: o cronista
Lupicínio Rodrigues. Porto Alegre, L&PM, 1995 p. 15.
Principais
sucessos:
-
Aves
daninhas, Lupicínio Rodrigues (1954)
-
Brasa,
Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins (1945)
-
Briga
de amor, Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins
(1940)
-
Cadeira
vazia, Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves (1949)
-
Castigo,
Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves (1953)
-
Cevando
o amargo, Lupicínio Rodrigues e Piratini (1953)
-
Dona
Divergência, Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins (1939)
-
Ela
disse-me assim, Lupicínio Rodrigues (1959)
-
Esses
moços (Pobres moços), Lupicínio Rodrigues (1948)
-
Eu
não sou louco, Lupicínio Rodrigues e Evaldo Ruy (1949)
-
Exemplo,
Lupicínio Rodrigues (1960)
-
Felicidade,
Lupicínio Rodrigues (1933)
-
Foi
assim, Lupicínio Rodrigues (1952)
-
Judiaria,
Lupicínio Rodrigues (1973)
-
Loucura,
Lupicínio Rodrigues (1973)
-
Maria
Rosa, Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves (1949)
-
Não
conte pra ninguém, L. Rodrigues e Rubens Santos
(1962)
-
Nervos
de aço, Lupicínio Rodrigues (1947)
-
Nunca,
Lupicínio Rodrigues (1952)
-
O
morro está de luto, Lupicínio Rodrigues (1953)
-
Paciência
(Vou brigar com ela), Lupicínio Rodrigues (1961)
-
Pergunta
a meus tamancos, L. Rodrigues e A. Gonçalves (1936)
-
Pra
São João decidir, Lupicínio Rodrigues e Francisco
Alves (1952)
-
Que
baixo, Lupicínio Rodrigues e Caco Velho (1945)
-
Quem
há de dizer, Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves
(1948)
-
Rosário
de esperança, Lupicínio Rodrigues (1973)
-
Se
acaso você chegasse, L. Rodrigues e Felisberto Martins (1938)
-
Se é
verdade, Lupicínio Rodrigues (1954)
-
Torre
de Babel, Lupicínio Rodrigues (1963)
-
Vingança,
Lupicínio Rodrigues (1951)
-
Volta,
Lupicínio Rodrigues (1957)
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