1887 ~ 1945
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Pepa
Delgado
(Biografia
e foto cedidas por Marcelo Bonavides de Castro)
Maria Pepa
Delgado nasceu em Piracicaba, São Paulo, a 21 de julho de 1887.
Era filha do toureiro espanhol Lourenço Delgado e de Ana Alves,
paulista de Sorocaba. Em 1902, aos 15 anos, foi para o Rio de Janeiro
com seu pai.
Logo se tornou
atriz e cantora. Nesse mesmo ano, gravou, com o cantor Mário Pinheiro,
a música de Chiquinha Gonzaga Corta Jaca, tendo os versos do
ator Machado Careca.
A revista musical
Cá e Lá, da autoria de Tito Martins e B. de Gouvêa, estreou no Theatro Recreio a 15 de março de 1904, obtendo muito
sucesso.
Pepa gravou algumas músicas que fizeram êxito na revista, como o
maxixe Café Ideal e a cançoneta, com melodia de Chiquinha Gonzaga e
letra de Tito Martins, O Abacate. A música fazia parte do Coro
das Frutas e seus versos possuem um delicioso duplo sentido:
Tem
mui preciosas propriedades
Artes possui misteriosas
Pra corrigir até da idade
Os descalabros... e outras coisas!
Levanta um morto e se nos vivos
Produz desejos... de morrer
É pra de novo e mais ativos
Breve tornarem-se a erguer!
Assim num moribundo
Que é caso sabido
Já de todo perdido
Não dava uma palavra...
Tal efeito profundo
Fez o abacate
Em suma, em suma
Até que fez
Que o homem em vez duma...
Deu duas?
...deu três palavras, sim senhor!
Desta mesma revista, a atriz gravou, com o ator Alfredo Silva, Maxixe
Aristocrático. A música garantia que a dança em moda, o
maxixe, havia chegado para desbancar valsas, polcas e quadrilhas. E terminava seus
versos concluindo que "se o próprio Padre Santo sabendo o gosto que tem.
Virá de Roma ao Brasil dançar o maxixe, também!"...
Nesse mesmo ano,
a 7 de outubro, apareceria ao lado de Lucília Peres e Alfredo Silva na revista
Avança. Lançou e gravou as músicas Um samba na Penha e A
recomendação que, segundo
a imprensa da época, "permitia à endiabrada senhorita Delgado pintar o sete na interpretação".
O maxixe alcançava,
cada vez mais, o gosto popular. Nos Clubes Carnavalescos, nos cafés-concerto, nos Teatros, todos dançavam o
maxixe. Pepa destacou-se, também, como exímia maxixeira. Seu nome figurava nos
cartazes dos teatros do Rio e São Paulo em anúncios de "apresentação
da popularíssima Pepa Delgado em maxixes nacionais". Em 1906, a atriz
Maria Lino, que havia levado o maxixe ao exterior, com o dançarino Duque, lançou
na revista musical O Maxixe o tango-chula Vem cá,
mulata!. A letra exalta uma das três mais antigas sociedades carnavalescas, o Clube dos
Democráticos:
Vem
cá, mulata
Não vou lá não
Sou democrata
Sou democrata
Sou democrata
De coração Os
Democráticos
Gente jovial
Somos fanáticos
Do carnaval
Do povo vivas
Nós recolhemos
De nós cativas
Almas fazemos Foi
gravada por Pepa e o cantor Mário Pinheiro, antes da dupla Os Geraldos
fazerem um registro desta música. Entre
as muitas peças feitas por Pepa, encontra-se a burleta Forrobodó,
de Luís Peixoto e Carlos Bittencourt, com música de Chiquinha Gonzaga.
Nela, interpretava o papel de Rita, atuando ao lado de Cinira Polônio,
Cecília Porto e Alfredo Silva, entre outros. O espetáculo, estreado a
11 de junho de 1912, obteve grande sucesso, alcançando um mil e
quinhentas apresentações consecutivas, além de ser remontado
incontáveis vezes nos anos seguintes. Foi
uma das primeiras pessoas a reconhecer o talento de Vicente Celestino e
a ajudá-lo. Solicitou
a Fred Figner, diretor da gravadora Casa Edison, que doasse seu terreno
de Jacarepaguá para a construção do Retiro dos Artistas, no Rio de
Janeiro. Em
1920, Pepa casou-se com o oficial do Exército Almerindo Álvaro de
Morais, também tesoureiro do Clube dos Democráticos. Abandonou a
carreira em 1924, dedicando-se ao lar. No ano seguinte, nasceu seu
único filho, Heitor. A família morou em vários lugares, inclusive no
Encantado, onde Pepa ligou-se à irmandade da Igreja de São Pedro.
Gostava de festejar o São João, confeccionando roupas, licores,
balões... Em 1945, Pepa contraiu hepatite. No
dia 11 de março, faleceu, aos 58 anos. Pepa foi uma das cantoras
pioneiras que mais gravaram nas duas primeiras décadas do século XX.
Em seu repertório há pérolas, como Rasga o coração, bonita
canção de Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense, também
conhecida por "Yara"."
Principais
sucessos:
-
A
cozinheira,
Paulino do Sacramento
-
Aristocrático,
autor desconhecido, em dueto com Alfredo Silva
-
Café
ideal,
autor desconhecido
-
Corta
Jaca, Chiquinha
Gonzaga e Machado Careca,
em dueto com Mário Pinheiro (1902)
Neste
mundo de misérias quem impera
É
quem é mais folgazão
É
quem sabe cortar jaca nos requebros
De
suprema perfeição, perfeição
Ai,
ai, como é bom dançar, ai!
Corta-jaca
assim, assim, assim
Mexe
com o pé!
Ai,
ai, tem feitiço tem ai!
Corta
meu benzinho assim, assim!
Esta
dança é buliçosa, tão
dengosa,
Que
todos querem dançar
Não
há ricas baronesas, nem
marquesas,
Que
não saibam requebrar, requebrar
Este
passo tem feitiço, tal ouriço
Faz
qualquer homem coió
Não
há velho carrancudo, nem
sisudo,
Que
não caia em trololó, trololó
Quem
me vir assim alegre no Flamengo
Por
certo se há de render
Não
resiste com certeza, com
certeza
Este
jeito de mexer
Um
flamengo tão gostoso, tão
ruidoso,
Vale
bem meia-pataca
Dizem
todos que na ponta, está
na ponta
Nossa
dança corta-jaca, corta-jaca!
-
O
abacate,
Chiquinha Gonzaga, Tito Martins e Bandeira de Gouvêa (1904)
-
O
leque,
autor desconhecido
-
O
Vatapá,
Paulino do Sacramento, em dueto com Mário Pinheiro
-
O
vendeiro e a mulata,
autor desconhecido, em dueto com Mário Pinheiro (1904 a 1909)
-
Rasga
o coração (Yara),
Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense
-
A
recomendação,
Assis Pacheco
-
Um
samba na Penha,
autor desconhecido
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