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QUE CANTORES E DANÇARINOS 
SÃO ERRONEAMENTE CONSIDERADOS "BANDAS"?
As pessoas acham absolutamente normal considerar grupos de meros cantores ou dançarinos como se fossem "bandas". Mesmo jornalistas com alguma competência cometem tal gafe, mesmo sem saber. Mas, se tal denominação é errônea, por que ela ocorre?
Na mídia da dance music, em todo o mundo, seus detentores desenvolveram uma linguagem modernosa, para a qual foram tomados emprestados alguns estereótipos roqueiros. Os roqueiros valorizam muito a estrutura de bandas, principalmente quando comentam sobre concertos ao vivo. Daí a dance music, um segmento cuja razão de ser está somente nas casas noturnas e academias de ginástica, quis criar uma "nova estética", denominando seus intérpretes como "bandas", pouco importando se são meros dançarinos ou cantores, que, com frequência, são controlados por DJs e produtores.
Vale lembrar que, na música tradicional, era comum, por generalização, denominar grupos ou cantores solo como "artistas". Às vezes a generalização usava a denominação "cantores", mesmo no caso de conjuntos. Este hábito se massificou e atingiu o âmbito da música brega.
Com o novo costume da dance music em usar jargões mais "radicais", numa construção ideológica que tenta sugerir que um fã de dance music usa tatuagens, vai à praia ver torneios de surfe e aproveita os feriados para praticar o ciclismo na montanha. Com isso, o discurso dance, ao invés de evocar "todos os cantores do sucesso", agora cita "todas as bandas iradas". Foi uma tentativa moderna e pretensamente radical, mas que favoreceu a burrice generalizada que atinge até a mídia.
Na música brasileira, uma outra estratégia partiu da Bahia, que nos últimos anos influiu na expansão do chamado "popularesco" (axé e pagode). A Bahia tem uma música fortemente associada ao Carnaval, com seus trios elétricos e uma platéia de foliões. A ideologia turística cria uma ilusão de que a chamada "música baiana" (axé e pagode) é uma "rica mistura de ritmos", escondendo uma realidade dura, em que o comercialismo desenfreado dita as regras do que será sucesso na Bahia e no Brasil.
A dita "música baiana" revela, na verdade, muitos conjuntos musicalmente parecidos, sem uma real identidade, cujos vocalistas não compõem e por isso recorrem à compra de músicas compostas pelos chamados "compositores de aluguel", pessoas com algum prestígio, às vezes um prestígio discutível, que em sua maioria apenas reproduzem clichês melódicos já consagrados por Dorival Caymmi, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Isso dá um crédito menor ao termo "bandas", que só não se anula, neste caso, porque há vários músicos como integrantes. Isso se refere à chamada "axé-music", uma estereotipada e pasteurizada mistura de reggae, frevo e ritmos caribenhos. No pagode, o termo "banda" anula completamente seu sentido.
Os grupos de pagode, como É O Tchan e muitos outros, mostram apenas um ou dois vocalistas, e dois ou três dançarinos. Só em alguns casos há músicos como integrantes, mas na maioria se juntam várias pessoas que apenas cantam ou dançam. No pagode romântico de São Paulo, cujo formato melódico é diferente do pagode baiano (este dilui o célebre "samba de roda") por se apegar ao estilo dos compositores Michael Sullivan e Paulo Massadas, também é notório o hábito dos vários membros de não tocarem instrumento algum e fazerem a mesma coreografia lenta de "mexer o pezinho", conforme muitos comentam. Aqui o termo "banda" também tem seu sentido anulado.
Na Bahia, seja no pagode local ou na axé-music, é prática da indústria vender os artistas comerciais como se fossem "usinas de criatividade", usando o termo "bandas" para elevar o mérito de meros agrupamentos de empregados, tentando nos fazer crer que são músicos espontâneos e atuantes em busca de uma "salada rítmica". A realidade desfaz tais ilusões e, no caso do É O Tchan, a "banda" que está por trás desses cantores e dançarinos nem sequer é mencionada. Portanto, como considerar um grupo como "banda" se não se conhece seus músicos? A burrice faz das suas para iludir a opinião pública.